Brasileiros nos Sete Cumes

0

Neste artigo, o historiador de montanhismo Rodrigo Granzotto Peron levanta dados sobre todos os brasileiros que já tentaram ou realizaram o projeto de escalar a montanha mais alta de cada continente.

: Atenção, há uma atualização para este artigo – Brasileiros nos sete cumes – Take Quatro

Por Rodrigo Granzotto Peron
I – OS SETE CUMES

Sete Cumes (Seven Summits) é a aventura que, para ser completada, faz com que o escalador tenha que culminar o ponto mais elevado de cada um dos sete continentes, a saber:

África – Kilimanjaro (5891m), na Tanzânia
América do Sul – Aconcágua (6962m), na Argentina
América do Norte – Denali (6194m), nos Estados Unidos
Antártica – Vinson (4892m)
Ásia – Everest (8850m), entre Nepal e China
Europa – Elbrus (5642m), na Rússia
Oceania – Carstensz (4882m), na Indonésia, ou Kosciuszko (2228m), na Austrália

A aventura foi idealizada por Dick Bass (EUA), que concluiu a versão Kosciuszko em 30.04.1985, tornando-se o primeiro a percorrer todos os 7 Cumes. Até os dias de hoje, mais de 200 pessoas concluíram alguma das versões. E, nos últimos tempos, surgiram outras aventuras nela inspiradas: 7 Segundos Cumes (o 2º pico mais elevado de cada continente); 7 Vulcões (o vulcão mais alto de cada um); 7 Paredões (o maior big wall de cada continente); etc.

II – UMA LISTA POLÊMICA

Carlos Morey

A primeira polêmica é com relação ao ponto mais alto das Américas. Topograficamente, o continente americano é um só, e as divisões são meramente políticas e sociais, de tal modo que os puristas entendem que o Denali não faz parte dos 7 Cumes, mas apenas o Aconcágua, que é o ponto mais elevado de todas as Américas. Na opinião deles, o McKinley entrou na lista apenas porque o idealizador foi um norte-americano, que quis que o ponto mais alto de seu país integrasse a lista.

A segunda polêmica é no Velho Continente. Os mais tradicionalistas entendem que os limites continentais são mais estritos, e que o Mont Blanc, na França, é o teto da Europa. Outros, maximalistas, estendem os limites geográficos do continente europeu para o território russo, fazendo com que o Elbrus seja o ponto máximo da Europa.

E a pior das polêmicas é no tocante à Oceania. Não há consenso sobre os limites geográficos do menor dos continentes. Há, aqui, várias opiniões: Carstensz Pyramid (4882m, Indonésia); Kosciuszko (2228m, Austrália); Wilhelm (4509m, Papua-Nova Guiné); Mauna Kea (4147m, Hawaii); Mt Cook (3754m, Nova Zelândia). Conforme se entenda que as ilhas de Bornéu, Java, Papua e Hawaii fazem ou não parte da Oceania, muda o ponto dominante. Uma coisa, porém, é certa: em hipótese alguma o Kosciuszko é o ponto dominante da Oceania, embora sua inclusão na lista tenha se perpetuado ao longo dos tempos.

Como se percebe, a escolha das sete montanhas não adotou critérios puramente científicos, mas foi fruto de uma opção por parte do seu criador. Longe de ser algo geograficamente correto, trata-se de uma chance de viajar por todos os continentes, conhecer diversos países e escalar sete montanhas interessantes ao redor do planeta.

III – OS BRASILEIROS NOS 7 CUMES

1 – Waldemar Niclevicz vs Mozart Catão:

Waldemar Niclevicz

Os brasileiros foram “introduzidos” ao tema Sete Cumes por conta da rivalidade acirrada entre o paranaense Waldemar Niclevicz e o carioca Mozart Catão, que batalharam ferozmente em meados dos anos 90 para ver quem seria o primeiro a concluir a saga.

Quando fizeram cume juntos no Everest, em 1995, Mozart já havia angariado cumes no Aconcágua (1991) e no Kilimanjaro (1993, um speed ascent em 17 horas). Waldemar, por sua vez, tinha feito apenas o Aconcágua (1988). Não se sabe ao certo quem teve a ideia primeiro, mas ambos começaram uma vertiginosa corrida em busca das sete etapas. Em 1996, Mozart fez o Elbrus; e Waldemar o Elbrus, o Vinson e o Kilimanjaro. Em 1997, Catão ascendeu o Denali e o Vinson, e Niclevicz culminou o Denali (solo). Na metade do ano de 1997 os dois estavam rigorosamente empatados, faltando-lhes apenas o Carstensz, na Indonésia.

Naqueles idos, a montanha estava fechada para estrangeiros por conta de problemas políticos e insurreição popular. Waldemar, em um passo ousado e ambicioso, conseguiu entrar clandestinamente na Indonésia e coroou o Carstensz em 20.09.1997, encerrando a disputa e tornando-se o primeiro brasileiro a completar os 7 Cumes – Versão Carstensz.

Mozart Catão

Mozart abandonou temporariamente essa saga e se concentrou na tentativa de escalar a poderosa Face Sul do Aconcágua, em 1998. Colhido por uma avalanche, veio a óbito, e deixou saudade sem ter conseguido completar os 7 Cumes.

Niclevicz continuou focado nos 7 Cumes, e em 25.01.2006 angariou também o Kosciuszko, na Austrália, concluindo os 7 Cumes – Versão Kosciuszko. Além de ser o primeiro brasileiro a completar cada uma das versões, é também o primeiro a completar os chamados 8 Cumes (que engloba ambos os pontos dominantes da Oceania).

2 – Helena Artmann:

Tendo o Brasil já conhecido o primeiro homem a conquistar os 7 Cumes, faltava a primeira mulher. E a carioca Helena Artmann foi a pioneira nesse sentido. Iniciou o seu projeto em 1998, com cumes no Aconcágua, Kilimanjaro, Elbrus e Denali, fechando o ano com uma sequência incrível. A quinta etapa seria o Carstensz, em 2003, que ela faria na companhia do alpinista italiano Alberto Magliano, mas a volatilidade política na Indonésia (irrompeu nova guerra armada), fez Helena adiar seus planos. Depois, segundo suas palavras, “a vida mudou” e ela desistiu da empreitada.

A segunda mulher a declaradamente tentar os 7 Cumes foi Ana Elisa Boscarioli, que tem cumes no Aconcágua e no Everest. Após tentar, sem sucesso, o Denali, aparentemente abandonou seu projeto.

3 – Outras tentativas nos Anos 90:

Lançaram-se aos Sete Cumes, nos últimos anos da década de 90, vários alpinistas, como, por exemplo, Guilherme Rocha (RJ), que culminou 4; Lucas Tejero (SP), que culminou 3; Heron Teixeira (SP), que culminou 3; e Vinícius Nery (RJ), que culminou 2.

O maior problema, e que dificultou a vida desses alpinistas, é a falta de recursos financeiros, uma vez que expedições ao Everest e Carstensz são bem caras.

4 – Aqueles que quase estão lá:

Três montanhistas estão muito próximos de concluir os 7 Cumes.

O primeiro é Carlos Morey (SP), para quem falta apenas o Everest. Morey chegou a tentar o Everest em 2009, mas retornou de 8550 metros por problema na lente de contato.

Manoel Morgado

Outro é Manoel Morgado (RS), que acaba de retornar de triunfo no Everest, seu 6º cume. Fica faltando apenas o Vinson, que será tentado ainda em 2011.

Também há Eduardo Keppke (SP), que já cumpriu cinco etapas e depende apenas do Vinson e do Carstensz para registrar seu nome na lista.

5 – Força nova:

Há vários alpinistas brasileiros entre 2 e 4 dos 7 Cumes conquistados. Daqueles que, abertamente, possuem projeto de angariar todos, o cearense Rosier Alexandre parece ser o que mais tem se empenhado. Após o Aconcágua e o Denali, Rosier vai se dirigir para o Kilimanjaro agora em fevereiro, e já tem planos inclusive para o Everest.

6 – Situação dos Brasileiros nos 7 Cumes:

07    Waldemar Niclevicz [concluiu Carstensz em 97 e Kosciuszko em 06] 06    Mozart Catão [falecido] 06    Manoel Morgado [falta Vinson] 06    Carlos Morey [falta Everest] 05    Eduardo Keppke [falta Vinson e Carstensz] 04    Guilherme Rocha (desistiu em 2004)
04    Helena Artman (desistiu em 2003)
03    Lucas Tejero (desistiu em 2001)
03    Heron Teixeira (desistiu em 2001)
02    Rosier Alexandre [culminou 2, indo para o Kilimanjaro] 02    Ana Elisa Boscarioli (desistiu em 2008)
02    Vinícius Nery (desistiu em 2005)

Observação final: A lista acima não é exaustiva, podendo haver outros escaladores que estejam almejando os 7 Cumes, mas dos quais o autor não teve ainda ciência.

Compartilhar

Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

Comments are closed.