Breve biografia de Francisco Pascasio Moreno

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Francisco Pascasio Moreno nasceu em 31 de maio de 1852 em Buenos Aires e foi um cientista, naturalista e explorador argentino. Filho de Francisco Facundo e de Juana Thwaites, teve uma irmã e três irmãos. Este texto é parte de nossa série sobre as breves biografias de pessoas importantes cujo nome acabou em algum lugar ou montanha pelo mundo por homenagem. Um pouco sobre a vida de Moreno…

Francisco Pascasio Moreno

Desde menino, assim como Ameghino (outro grande estudioso naturalista Argentino), mostrou interesse por excursões paleontológicas, onde aprendeu a amar a natureza. Moreno conciliava seus estudos com caminhadas pelas laterais de rios procurando ossos pré-históricos. Em 1866, com seus irmãos, montou um pequeno e simples museu na casa paterna. Estimulado pela leitura de livros de viagens, se interessou pela paleontologia e pela arqueologia.

Em 1871 recolheu fósseis na laguna de Vitel. Em 1872 fundou, em colaboração com um grupo de engenheiros, a Sociedade Científica Argentina. Foi seu primeiro grande passo. No decorrer de mais doze meses explorou o território de Río Negro e, em 1875, chegou ao Lago Nahuel Huapi, navegou por lá, continuou rumando ao sul até que chegou a Santa Cruz, alcançando o lago que batizou com o nome de Argentino, maior lago do país. Nestas primeiras viagens a Patagônia, passou por regiões até então desconhecidas, recolheu uma série de materiais que iriam alavancar os estudos sul-americanos.

Em 1875 o governo da Província de Buenos Aires e a Sociedade Científica Argentina patrocinaram uma nova viagem a Patagonia com a finalidade de cruzar os Andes através do lago Nahuel Huapi e tentar chegar ao Chile pelo passo “Pérez Rosales”. Em janeiro de 1876, com 23 anos de idade, é o primeiro homem branco que chega ao Lago Nahuel Huapi desde o Oceano Atlântico, onde fixou a  bandeira argentina.

Moreno conseguiu a façanha de atravessar a Patagônia de oceano à oceano, entrando em contato direto com as nações indígenas da patagônia, estudando seu passado e suas origens. Os dados e materiais recolhidos nesta expedição abriram novos horizontes para a antropologia sul-americana e impulsionaram vários cientistas europeus a tomar as etnias indígenas da América do Sul como objeto de estudo de foco internacional. Moreno ficou fortemente impressionado pelo drama daquelas etnias escravizadas e despojadas de suas terras ancestrais. Tratou então de humanizar as relações entre o Estado Argentino e as etnias indígenas exigindo terras e escolas, protestando contra os métodos que haviam sido empregados para “civilizá-las”. Nota-se evidentemente além de espírito aventureiro e naturalista de respeito aos verdadeiros donos da terra.

Em fevereiro de 1877 chegou até o Lago Argentino, e descobre um imponente glaciar que posteriormente foi batizado em sua homenagem, o mundialmente famoso Glaciar Perito Moreno.

Em novembro de 1877 o Governo da Província de Buenos Aires nomeia Moreno Diretor do “Museu Arqueológico e Antropológico de Buenos Aires”, e também aceita a doação das peças dele que estavam conservadas no Museu de sua casa fundado em 1866. Estas peças ficariam em poder de Moreno devido à falta de condições de logística do Museu em recebê-las.

Em 1879 explorou as montanhas da Cordilheira dos Andes, e doou toda a sua coleção arqueológica, antropológica e paleontológica pessoal, consistindo mais de 15.000 exemplares de peças ósseas e objetos industriais, à Província de Buenos Aires, que fundou com elas o “Museu Antropológico e Etnográfico de Buenos Aires”.

Em 1878, foi designado Doutor Honoris Causa pela Universidade de Córdoba em reconhecimento por suas contribuições ao mundo acadêmico sul americano. Em 1879, ao terminar a Conquista do Deserto, e sendo Presidente o Dr. Nicolás Avellaneda e Ministro do Interior Domingo Sarmiento, foi nomeado Chefe da Comissão Exploradora dos Territórios do Sul Argentino, para estudar a possibilidade de estabelecer Colônias na região entre os Rio Negro e Deseado. Moreno pediu como única compensação incorporar ao seu Museu as peças que achasse no local.

Entre 1882 e 1884 viajou para o centro do país percorrendo as províncias de Córdoba, San Luis, San Juan e Mendoza, em busca de peças fósseis e de elementos pertencentes a períodos anteriores a conquista espanhola. Com a fundação da cidade de La Plata, o governo províncial decidiu transferir em 1884 o Museu Antropológico e Arqueológico de Buenos Aires para a nova capital provincial, recebendo o nome de Museu de História Natural de La Plata. Por prover todo o Museu (inclusive dois mil livros de sua biblioteca particular) e pelo reconhecimento geral a sua pessoa, foi nomeado Diretor Vitalício do Museu. Moreno dirigiu pessoalmente a construção do edifício e a distribuição de seus materiais, de acordo com um plano que havia criado. Neste projeto opinaram e colaboraram diversos naturalistas estrangeiros na organização das secções de geologia e mineralogia, zoologia, botânica, antropologia, arqueologia, etnografia e cartografia. A instituição converteu-se rapidamente num centro de estudos superiores que chamou a atenção dos grandes especialistas internacionais. Multiplicaram-se as coleções, os trabalhos publicados solucionaram velhos problemas americanos, e começaram a publicar os Anais e a Revista do Museu de La Plata, tornando rapidamente o Museu de La Plata a instituição científica mais importante do país. Em 1889 foi inaugurado o atual edifício, continuando Perito Moreno como Diretor até 1905.

Seguiu realizando suas viagens exploratórias e, em 1896, chegou até o Lago Buenos Aires. Entre 1892 e 1897 começou a intervir nas questões de fronteiras com o Chile e aceitou o cargo de Perito Argentino na negociação convencendo seus pares chilenos que a melhor solução era por via diplomática. O tratado de 20 de agosto de 1881 estabelecia os limites entre o Chile e a Argentina, porém o Chile reclamava a posse de 42.000 quilômetros quadrados e a demarcação efetiva da fronteira estava submetida ao laudo arbitral do governo britânico.

Em 1897, Moreno retornou a Patagônia designado oficialmente como perito para determinar os limites com o Chile. Em poucos meses preparou sua obra “Frontera argentino-chilena”, na qual expunha uma síntese das fronteiras argentinas e, em 1896 viajou à Londres para apresentar o laudo arbitral da Rainha Vitória e gerir uma exposição sobre o conflito.

Em 1902 o perito inglês Thomas Holdich, acompanhado por Moreno, inspecionou a região limitada e reconheceu publicamente sua admiração pelo traçado. Por seus trabalhos de perito, a Royal Geographic Society lhe conferiu a medalha do rei Jorge IV. Que reconhecimento!

Além disso, levou a cabo expedições à Cordilheira dos Andes desde Mendoza até a Puna de Atacama para observar as fronteiras, como também um relevante topográfico e geológico da Província de Buenos Aires. Foi eleito deputado nacional em 1910 durante a Presidência de Roque Sáenz Peña e, em 1911 renuciou para aceitar o oferecimento da vice-presidência do Conselho Nacional de Educação.

Sua última viagem ao sul realizou em companhia do ex-presidente norte-americano Theodore Roosevelt, em 1912. A importância de Moreno agora chamou a atenção até mesmo dos yankees.

Em seus últimos anos fez parte da Liga Patriótica Argentina junto com Manuel Carlés, Martinez de Hoz e Anchorena. Por suas contribuições à ciência a Universidade de Córdoba lhe concedeu o título de Doutor Honoris Causa em 1887. Além disso, recebeu múltiplos reconhecimentos das mais célebres instituições científicas e prestigiosas universidades, que lhe outorgaram diplomas e medalhas.

Em 1902, recebeu a Medalha do Rei Jorge IV e 25 léguas quadradas de terras na Patagônia por seus serviços prestados à nação. Em 1903 doou uma parte destas terras para criar o Parque Nacional Nahuel Huapi, primeiro parque nacional da Argentina.

Seu nome é recordado de várias formas na Argentina: Glaciar Perito Moreno, a localidade Perito Moreno e o Parque Nacional Perito Moreno; dentro da região da Patagônia na maioria das localidades existe uma rua que leva seu nome. Morreu em 22 de novembro de 1919. Originalmente seus restos foram enterrados no Cemitério de la Recoleta, em Buenos Aires.

Em 1944 seus restos mortais foram transferidos e repousam na Ilha Centinela, no Lago Nahuel Huapi, junto com sua esposa, dentro do parque nacional que fundou. Por uma disposição da Prefeitura Naval Argentina, cada embarcação que passa frente à ilha deve soar três vezes a sirene para render-lhe homenagens.

Mais uma interessante vida, mais um sul americano visionário, amante da natureza e que fez de tudo para catalogar, documentar, e expor ao mundo as belezas que possuíamos aqui.

O Glaciar Perito Moreno

Salve Perito Moreno!

Texto e pesquisa: Parofes

Fontes:
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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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