Rio Sertãozinho:Rumo à Cachu da Pedra Furada

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A Serra do Mar q circunda os arredores de Mogi das Cruzes (SP) realmente esta cheia de belas surpresas. O Rio Sertãozinho, por exemplo, nasce em Biritiba-Mirim, desce a serra formando varias quedas até desaguar no Rio Guacá, q por sua vez é + um tributário do majestoso Rio Itapanhaú. Contudo, antes de singrar td este trajeto, o Rio Sertãozinho oferece um raro espetáculo natural, a Cachu da Pedra Furada, possível de ser apreciado mediante breve caminhada em meio à exuberante Mata Atlântica. E lá me vejo novamente topando + um irrecusável convite da animada galerinha “Pé na Lama“ afim de conferir de perto + este belo show natureba, neste recanto escondido da serra mogiana.
Fotos: Milena Rabello, Barbara Pereira e Claudio Luciano


O tempo havia virado subitamente c/ uma forte frente fria dando às caras na região sudeste, anunciando tempo cinzento, chuva e mto, mas mto frio. Entretanto, isso não bastou p/ povo desanimar do bate-volta de sábado e tds compareceram no horário estipulado, na Est. da Luz. Ou quase tds. O frio segurara no berço 1/3 do pessoal confirmado. A previsão meteorológica anunciava “frio c/ tempo encoberto porem s/ precipitação”, o q já era ótimo. Dito e feito, o dia amanhecera bastante animador, inclusive c/ eventuais janelas de sol e céu azul. Só não contávamos q essa previsão otimista não vale na Serra do Mar.

Assim, após zarpar de Sampa e fazer a respectiva baldeação em Guaianazes, saltamos em Mogi das Cruzes as 8:30. Os remanescentes da lista eram dignamente representados pela Báh, Nei, Fernando, Vanessa, Milena, Karina, Eddy e Claudio 1 e Claudio 2 – A Missão. Na seqüência, não tardou mto até tomar o busão q nos deixaria em seu pto final, isto é, o rústico boteco no meio do nada q atende pelo nome de “Balança”, a meio-caminho de Bertioga (km77), onde chegamos as 9:40.

Após + uma sessão de comilança, onde coxinhas, pasteis e tortas deram conta dos protestos de nossas lombrigas, pusemos pé-na-trilha, finalmente, as 10hrs. Ou melhor, pé-no-asfalto. Mas não sem antes o Claudio tomar seu Redbull matinal. Marchamos pelo acostamento esquerdo da estrada e fomos avançando, sentido litoral. Nos primeiros 500m ignoramos a entrada (à direita) q nos leva pra “Trilha das Antas”, sempre em frente, até sair do município de Mogi pra adentrar no de Biritiba-Mirim. Porem, lentamente brumas úmidas começavam a encobrir o alto da serra ao redor, fustigando uma fina garoa sob nossos rostos, o q nos obrigou irremediavelmente a trajar anorakes. “O tempo já já abre!”, pensei. Sonho meu.

Após cruzar com a placa “Você está entrando no Pque Est. Serra do Mar”, mais precisamente um pouco depois do km80, as 10:40 adentramos numa discreta picada em meio a capinzal e brejo, à esquerda (leste). Dali foi só prosseguir desimpedidamente, s/ mta variação de altitude, chapinhando por trilha, brejo, lama e capim, durante um bom tempo, sempre nos mantendo na principal. Mas logo mergulhamos na mata fechada e úmida, onde o silencio sepulcral da floresta só era rompido pela nossa presença e pelos respingos no solo da garoa acumulada na densa vegetação, marcada por vistosas bromélias, touceiras de altos bambus e muito cipó batendo no rosto.

Mas após sair brevemente no aberto surge uma bifurcação, e instintivamente tomamos à esquerda. Na verdade, íamos guiados pelo Fernando, Nei e Claudio 1, q conhecem estas bandas como ninguém, tendo como co-pilota a Milena, q já havia estado na Pda Furada noutra ocasião. Entretanto, a mata havia crescido mto (e em pouco tempo) a pto de mudar&nbsp, algumas referencias básicas da picada principal. A trilha fechar de vez foi a deixa p/ perceber q estávamos na bifurcação equivocada, mas q seria oportuna apenas na nossa volta. No trajeto, um bambuzinho + ousado tascou um violento “beijo” no rosto da Karine a pto de deixar evidente marca rubra dessa irresistível paixão. Pra acudi-la, Claudio 1 e seus trocentos apetrechos incluíam uma pomada q – à base de algum elemento “psicotrópico” -&nbsp, deixaram a incauta trilheira na dependência total do mimo.

Voltamos então à bifurcação anterior pra tomar o ramo da direita, q num piscar de olhos tb se enfiou na densa e exuberante mata. Após passar por 2 córregos cristalinos por meio de pequenas pinguelinhas de troncos carcomidos, eis q surge nova bifurcação q intuitivamente nos obriga a tomar a direita ainda bordejando a encosta, pois a outra ramificação aparentemente descia a um vale. Mas acredito q ambas picadas dessem no mesmo local, pois logo a trilha q palmilhávamos – após suave sobe-desce – perdeu altitude respeitável bordejando uma encosta, p/ depois nos despejar às margens de um pequeno riozinho, cujas águas marulhando já eram audíveis faz tempo. Daqui bastou acompanhar o rio, ora pela trilha na encosta de sua margem direita ou pelas pedras coalhadas sobre seu leito, ate dar na origem do som ensurdecedor de alguma cachu próxima, cujo rugido aumentava conforme nossa aproximação.

As 12:30 caímos na confluência do riachinho c/ o largo e manso Rio Sertãozinho, q após serpentear a morraria despencava furiosa e ruidosamente numa seqüência de cachus consecutivas em meio as pedras e declividade do terreno, serra abaixo. E justamente a 1ª delas era a Cachu da Pda Furada, da qual tínhamos vista privilegiada do alto dos seus 20m. Seu topo só foi alcançado tateando cautelosamente lajotas e pedras, escorregadias feito sabão devido ao limo e a umidade da garoa, q por sua vez não nos deu trégua desde inicio de trilha. Estávamos bem molhados e c/ frio, mas a recompensa de estar ali c/ as cachus c/ volume redobrado despencando já havia valido a pena. Eu, Báh e Eddy ate nos arriscamos andando (irresponsavelmente, diga-se de passagem) sobre as ardilosas pedras do topo da cachu ate o meio da mesma, onde haviam ate grampos de rapel. Cachu, ok.. mas pq Pda Furada? Bastou descer ate a base da mesma pra saber o porque…

Do alto da cachu, cuidadosamente, desescalaminhamos o paredão esquerdo. Inicialmente acreditávamos haver necessidade de rapel, e o Fernando ate já posicionara corda p/ povo descer, mas isso foi desnecessário, pois estudando bem a muralha de pedra vi q era possível descê-la através de uma oportuna e firme raiz q ia ate embaixo, fornecendo agarras e apoios seguros junto à rocha besuntada de limo. E lá fomos desescalando, aos poucos, ate dar nos amplos lajedos e piscinões da base da cachu. Ou quase tds, pois o Nei teve q acompanhar a novata andarilha Vanessa e dar uma volta (enorme) pela encosta ate ali, pois ela não sentiu firmeza em descer pela “raiz-escada”.

Uma vez tds lá embaixo, pudemos constatar de fato o motivo do nome da Cachu da Pedra Furada. No alto da cachu, o Rio Sertãozinho é represado por uma enorme rocha perpendicular a ele, e a água, por fendas entre as rochas submersas, sai em forma de jatos paralelos mais abaixo. Isto é, a cachu despenca pelo “furos” da pedra. Um espetáculo da natureza. Queda d´água diferenciada é isso aí, merecedora de vários cliques e nenhum tchibum, claro, devido ao frio e à correnteza redobrada!

Pois bem, após um tempo de contemplação e de beliscar alguma coisa, percebemos q era necessário começar a andar logo. Encharcados ate a alma naquela friaca, ficar parado por mto tempo esfriava o sangue e congelava os ossos, razão pela qual insistimos em prosseguir a pernada. Como a trip ate a cachu era relativamente curta, havíamos decidido na volta esticar ate a “Pedra do Sapo”, um belo mirante próximo. Mas tendo em vista o péssimo tempo, o despreparo de alguns e a impossibilidade qq visu na “pedra anfíbia”, optamos por começar a volta p/ casa, ainda com luz natural. De qq maneira, chegar ate aquela bela cachu já havia valido o dia.

Retomamos a pernada no sentido inverso as 14hrs, refazendo td percurso c/ + rapidez. Quica pq agora já não tínhamos preocupação em desviar de poças ou de nos molharmos. Afinal, já “q tamo no inferno vamo abraça o capeta”, enfiando o pé td na lama e td mais. À diferença da ida, onde a trilha td foi feita em meio a mta animação e descontração, na volta estavam tds imersos em seus próprios pensamentos, cada um matutando sobre alguma coisa. Os meus, particularmente, giravam em torno da iminência de ter aconchegante roupa seca e meias quentes pros meus pés gelados! Bem, p/ não voltar necessariamente pelo mesmo caminho, ao alcançar a 1ª bifurcação, tomamos o ramo da esquerda, afim de cair numa estrada de terra secundaria próxima. Sim, aquele mesmo no qual o mato fechado havia nos barrado. Pois bastou avançar + um pouco q a trilha outra vez surgia, limpa e desimpedida. Sempre indo em frente, logo percebemos q estávamos no q outrora foi uma estrada, agora tomada parcialmente pelo mato, q desce suavemente a encosta da serra.

Após dar brevemente no aberto (pra constatar ainda o péssimo tempo) mergulhamos outra vez num bucólico bosque&nbsp, e cruzamos c/ 2 bifurcações quase q consecutivas, a primeira saindo p/ direita e outra p/ esquerda, q ignoramos. Mas continuando pela principal percebemos q não íamos no sentido desejado, de acordo o gps do Claudio. Voltamos então&nbsp, à ultima bifurcação e tocamos pra frente. Mas logo a picada se estreita ate dar num riozinho, q é cruzado c/ água cristalina e gelada ate o joelho. Na outra margem, o trilho envereda em meio à mata, cada vez + precário e incerto, ate ser tomado por mato caído. Duvida: voltar td ou seguir em frente, sendo q a tal estradinha distava apenas 400m em linha reta? Eu e o Eddy nos enfiamos na vegetação apenas pra constatar q bastava contornar o trecho de mata tombada q a picada novamente surgia discreta + adiante.

Dito e feito, as 16hrs desembocamos na tal estrada de terra e cascalho, q foi só tomar pra esquerda, pra oeste, isto é, o asfalto. Esta estrada esta inserida dentro de uma propriedade particular q aparenta ser de produção de celulose. E tome pernada bordejando morraria forrada de verde s/ gdes desníveis, ainda c/ rosto fustigado pela fina garoa daquele final de tarde. O tom opaco típico de densa serração tomava conta de td visu acima da linha do arvoredo, cunhando de vez nossa decisão de retornar. Apos contornar uns enormes rochedos (a direita) q poderiam servir de eventual proteção pra tempestade maior, saltar um ultimo riozinho por sobre as pedras e cruzar c/ a casa vazia de Seu Geraldo (o caseiro dali), caímos no km79 do asfalto.

O resto da pernada é extremamente monótono e parece interminável. Sob frios respingos no corpo e buzinas impertinentes no ouvido, chegamos finalmente no boteco da “Balança”, tiritando, as 17:15. Eu já tava c/ as mãos entorpecidas pelo frio faz tempo, tanto&nbsp, q demorou pra traduzir os garranchos de minhas anotações pra este relato. Enqto aguardávamos o bus, trocamos nossa úmida indumentária por roupa seca e quente, comemos (e bebemos) alguma coisa q revigorasse nosso corpo, alem de prosear animadamente c/ Seu Geraldo, q lá estava de bobeira.

Tomamos o busão somente as 6hrs, viagem q só não foi imersa no mundo dos sonhos em função de outros passageiros promovendo uma sessão cover&nbsp, “acústico-brega” do grupo forrozeiro “Deja Vu”. Em Mogi, nem paramos no boteco da vez anterior pra celebrar a trip. Em contrapartida, embarcamos imediatamente no trem pra “Terra da Garoa”, onde saltamos somente as 20hrs. Ironicamente, consegui o impossível após td cautela e cuidados redobrados na trilha daquele dia: me estatelar no chão da forma + estúpida e imaginável, na calçada da Av. Ipiranga, após devorar um delicioso churrasquinho grego (c/ direito a um suco grátis!). Mas isto fica apenas entre nós, ta?

E assim chegamos tds em casa, por volta das 21hrs. Cansados, imundos e levemente úmidos, ansiosos por um chuveiro quente. Mas com + um bom perrengue pra contar. Eis a trilha da Pedra Furada, um programa relativamente fácil e passível de um simplório bate-volta num fds qq. E a Pedra do Sapo? Pois é, ela continua lá e não vai fugir tão facilmente seja da serra, como tb de nossas futuras investidas à região q a incluam num circuitão mais amplo. Assim como outras belas surpresas q a serra mogiana tem a oferecer em termos de visual. Surpresas e atrativos, de preferência, a serem explorados com bom tempo e sem chuva, claro!

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
Fotos: Milena Rabello, Barbara Pereira e Claudio Luciano

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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