A primeira montanha a gente não esquece…

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Dessa vez, vou contar a história da minha primeira montanha. Para isso, vamos voltar um pouco no tempo, ao ano 2000, mais exatamente ao mês de julho, quando eu participei de um encontro estudantil na Ilha Grande – RJ. Durante o dia havia cursos e oficinas, os quais eram substituídos à noite pelos tradicionais forrós ou luaus, regados a muita cerveja e cachaça artesanal.

E então, numa noite de sábado, o tal luau só acabou com o sol nascente. Ao retornar para o camping, já de dia, encontrei uma dupla de amigos que saíam para um passeio. Perguntei aonde eles iam àquela hora da manhã, e me responderam que pretendiam subir o Pico do Papagaio, um dos pontos mais altos da ilha, com 982 m. Eles me convidaram para ir junto e eu não resisti. Fiz com que esperassem um pouco até que eu pegasse minhas coisas. Juntei um pacote de biscoito e fui encher uma garrafa de água. Foi então que começou o problema: eles me disseram que não havia necessidade de carregar peso extra, pois havia muitos córregos ao longo do caminho. Além disso, o plano era ir e voltar em duas horas. Inexperiente, acreditei neles.

E assim, emendando a noitada, parti para minha primeira montanha. Seguimos a estradinha que une a vila onde estávamos com outra, até o ponto onde uma placa indica o início da trilha. Entramos no mato, e pouco depois, cruzamos o primeiro riacho, que estava SECO…

Com a garganta também seca, continuamos andando, na esperança de achar água mais a frente. Fomos ganhando altitude, e passamos vários córregos, um mais seco que o outro! Já bem alto, num ponto onde a trilha cruza o que seria um rio de maiores proporções, corria um fio de água. Não tivemos dúvida e nos pusemos a lamber a rocha! Mas a água era pouca e não foi suficiente para saciar nossa sede. O local era impressionante, um profundo vale lá no alto da montanha, algo que nunca imaginara existir.

Mais adiante, passamos por um bambuzal. Como todo mundo sabe, o bambu armazena água em seu interior. Estes tinham um diâmetro considerável, muito maior que os encontrados aqui pelo Paraná, resolvemos saciar nossa sede. O problema foi abri-los, já que tínhamos só um pequeno canivete Victorinox de bolso. Depois de concluída a operação, pudemos degustar da água, que tinha um gosto horrível de mofo!

Matada a sede, continuamos nossa marcha rumo ao topo, e em pouco tempo conseguimos ver a grande rocha que existe no cume desta montanha. Ou pelo menos achamos que era ela que nós víamos, pois para nossa decepção, quando a alcançamos, percebemos que era apenas um bloco desmoronado, e que a montanha continuava. Como desistir no caminho não era nosso objetivo, tocamos adiante. E de repente, surgiu no meio às copas de árvores a imagem da grande rocha! Tínhamos conseguido!

Porém, por um pequeno descuido, não vimos uma bifurcação e fomos sair no pé dessa rocha, de onde, para continuar, era preciso escalar. Como não conhecíamos o lugar, ficamos por ali mesmo. Obviamente o nome desta montanha vem deste rochedo, que se destaca de longe no alto da crista, e que lembra a forma de um papagaio. Se bem que para nós, ali de pertinho, parecia mais um cachorro!

O tempo lá em cima nos fazia sentir em casa, pois havia fechado uma neblina e estava bem frio. Porém, em meio às nuvens, às vezes era possível ver a vila de onde saímos, pequena lá em baixo!

O sol saiu um pouco e permitiu que tirássemos umas fotos da pedra do cume. O problema da sede, fome e cansaço atrapalhava um pouco o momento. E para piorar, comecei a sentir um sono terrível! Sentia que a energia estava acabando. Alguém tirou da mochila uma lata de ervilhas em conserva, que foi devorada rapidamente. Só que isso piorou nossa sede. Por isso, e também porque estava muito frio, não ficamos muito tempo lá.

A descida foi bem mais tranqüila, e pudemos andar muito mais rápido, chegando mesmo a correr em alguns trechos. Porém passamos ainda por um susto: o amigo que seguia a frente, em certo ponto saiu da trilha e nós seguimos atrás, sem perceber. De repente, o que parecia ser a trilha terminava num abismo! Por muito pouco não caímos os três penhasco abaixo. Voltamos um pouco atrás e logo achamos a trilha perdida.

Em pouco tempo estávamos de volta à vila, e pudemos saciar a sede com uma merecida cerveja bem gelada!!!

O mais interessante foi que apesar de toda a provação que passamos no caminho, a lembrança dos breves momentos que estive no alto da montanha ficou como uma coisa boa, uma experiência que não via a hora para poder repetir. Porém, muito tempo iria passar até que pudesse pôr meus pés no alto de uma serra novamente. Mas isso é assunto para outro dia…

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