Circuitão Norte pela Serra de Itapetinga

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A Serra de Itapetinga é um braço desgarrado da Mantiqueira cuja maior atração é a Pedra Grande, que por sua vez se situa na cidade de Atibaia, a 60km de SP. Composta de duas cristas paralelas q se espicham no sentido norte-sul, esta serra doméstica proporciona passeios diferentes do tradicional sobe-desce-Pedra como por exemplo a travessia Atibaia-Bom Jesus dos Perdões ou Pda Gde-Pda Vermelha. Dentro desse leque de novas possibilidades, segue aqui mais uma nova pernada q, em formato de &ldquo,U&ldquo, ou &ldquo,ferradura&ldquo,, começa e finda em Atibaia, percorre parte de ambas as cristas, alem de passar pela sua mais ilustre e notória atração.


O sábado q antecedeu a pernada fora frio, nublado, garoento e nada promissor a pto de desestimular o resto da trupe no tradicional bate-volta dominical. No entanto, fui irredutível em manter de pé a trip na qual tive apenas a cia da simpática Myrna. Assim, zarpamos domingo cedo rumo Atibaia numa manhã q ameaçava ser idêntica ao medonho sábado anterior, mas q no decorrer do dia nos brindou com um dia maravilhoso q deve ter feito os “furões” de ultima hora reconsiderar futuras “amareladas”.

Chegamos em Atibaia (” lugar de muitas frutas”, em tupi) por volta das 9hrs e estacionamos o veiculo próximo da rodoviária, em frente a Igreja do Rosário. Isto pra facilitar a logistica da volta, q seria de ônibus ou lotação. Mochila nos ombros, rasgamos a cidade rumo a Serra de Itapetinga, q se elevava imponente a horizontalidade da planície, à sudeste, e cujos cumes ainda encontravam-se envoltos em brumas incertas. Contudo, a nebulosidade inicial foi dando brechas de um tímido sol q cismava em nos espiar através de pequenas janelas no céu.

Após passar pelo “Pque das Águas” e pelo “Teleférico”, atrativos da cidade, ganhamos a Av.Lucas C. Garcez seguindo por ela ate o final, sempre acompanhando o emplacamento “Pouso Livre”. Antes, porem, uma parada pra tomar um delicioso desjejum na forma de goles de café fresco e bocados de pão-de-queijo numa padoca local. Após uma pernada tranquila deixamos a avenida e tocamos pra esquerda e na seqüência pra direita, onde logo caímos no portal ao lado do Campo de Pouso q dá acesso ao condomínio residencial ao pé-da-serra. Daqui já se tem uma vista geral da enorme Serra de Itapetinga, ainda tomada por nuvens em seu cume. Brumas q logo se dispersariam em virtude do forte (e frio) vento q soprava do norte, q nos fez trajar anorakes antes mesmo de começar a ascensão à Pedra.

Uma vez no interior do condomínio bastou tomar a rua da esquerda e tocar pra cima ate o final da rua, passando pelas chiques residências do local. Na seqüência chegamos na base da Pedra e local onde partem as trilhas ao alto as 10:30. Pra minha surpresa, um gde e recente incêndio havia tomado boa parte da serra deixando a superfície da montanha totalmente de aspecto estéril, nua, escura e desprovida de vegetação! Dava ate pra avistar de longe tds as trilhas serpenteando a montanha acima, alem de deixar evidente td lixo ate então escondido na mata! Tanto q da tradicional placa indicando a distancia, tempo e saída das 3 trilhas só restava um naco de madeira carbonizado!! O pouco de verde q havia na serra se limitava aos vales mais úmidos onde havia algum vestígio de água. Uma pena.

Dentro desse aspecto desolador, após descansar e ajeitar as coisas iniciamos a ascensão sem pressa pela “Minha Deusa”, subindo suavemente ate dar nas primeiros enormes blocos rochosos do trajeto, onde a declividade parece apertar e a demanda das mãos é tão importante qto os pés. Mas é nos trechos de maior declividade, de valas erodidas, nus e desprovidos de rochas q se faz sentir a necessidade de vegetação, uma vez q a tradicional trilha arenosa/pedregosa fica mais escorregadia sem qq vegetação pra se firmar! Dessa forma fomos lentamente ganhando altitude ate a pernada começar a bordejar a encosta serrana em nível, sentido norte, onde terminamos dando as 11:15 na “Cachu dos Duendes”, uma bica de água onde dá pra molhar a goela e abastecer o cantil.

Novamente subindo forte a encosta íngreme em meio a mato ressequido ou queimado, vamos passando por vários blocos rochosos q servem de belos mirantes, onde temos algumas breves paradas pra retomada de fôlego e apreciação da cidade, pequenina la embaixo. Mas não demora a vegetação típica da montanha dar as cara, na forma de túneis de arbustos e voçorocas de samambaias, locais onde o fogo parece ter sido clemente para com a serra.

Nesse ritmo compassado damos finalmente na crista as 11:45, onde somos recebidos por um bosque de pinheiros q nos despeja numa suave lombada rochosa com bela vista q basta acompanhar, sem gde dificuldade de orientação. A partir daqui já temos uma bela vista da Pedra Grande, um enorme cume rochoso q tb serve de rampa natural p/ praticantes de vôo livre, alem da “Pedra do Café” (ou “Pedras Gêmeas”) , q é o topo de fato da serra. O tempo e o forte vento faziam com q o numero de turistas aqui (motorizados ou não) fosse contado numa mão.

Daqui o acesso à Pedra Grande se dá mediante sucessivas e enormes rampas rochosas com boa aderência, sem maiores dificuldades. E após passar a laje principal, tomar a trilha cascalhada e novas rampas lajotadas alcançamos os 1450m do alto da serra, as 12:30. Ali, do topo das “Pedras Gêmeas”, tem-se tanto uma vista privilegiada da rampa de vôo como de td trajeto feito desde o pinheiral. Aproveito p/ sondar terreno ao mesmo tempo em q o tempo parece melhorar definitivamente, permitindo um belo visu do entorno, c/ as cidades de Bragança Paulista, Piracaia, Nazaré e Jundiaí destacando sua geometria acizentada na retidão esmeralda da paisagem. Pausa básica pra lanche e descanso, claro, protegidos no espaço forrado de capim atrás de uma enorme pedra.

Bem, aqui td mundo chega mas ninguém vai alem. Após descansar, as 13hrs, a partir daqui temos de descer sentido sul de modo a buscar algum acesso à crista paralela (leste) aparentemente forrada de mata. Pois bem, das “Pedras Gêmeas” tomamos uma discreta picada no capim q serpenteando rochas mais embaixo atraves dos arbustos e alto capinzal, e assim fomos descendo alternando sucessivos (e largos) ombros de serra lajotados no aberto e muitos túneis de bambus. Mas não tardou pra picada adentrar de vez no frescor da mata fechada em definitivo, onde fomos perdendo altitude em ritmo mais ágil. Ao mesmo tempo buscávamos alguma saída p/ esquerda q nos levasse à outra crista (leste), mas nada, alem da mata terrivelmente fechada e hostil, estávamos descendo muito p/ sul e, portanto, fora do nosso roteiro.

Mas foi ai q a picada desembocou noutra maior, já onde a vegetação era bem mais alta e exuberante, o q evidenciava o quase fundo de vale. Tomamos a direção da esquerda, q ia no sentido desejado, onde fomos subindo suavemente pra nordeste. Visivelmente constatamos q esta trilha é utilizada por motos, dado o numero de valas erodidas e rastros de carenagens no chão. E la fomos nos, atravessamos uma vasta floresta de pinheiros ate alcançar o selado de ligação de ambas cristas.

Ótimo! Agora a picada começou a descer, enqto buscávamos alguma saída p/ direita, rumo a crista desejada. Nisso, as 13:50 acabamos passando por um riachinho e caímos numa precária estrada de terra, q nada mais é a estrada de acesso à Pda Gde de carro. Logo nos vimos na estradinha-mor, a “Estrada Municipal da Pedra Grande”, q atravessa de norte a sul este “planalto”. Como não vimos trilha e as encostas eram relativamente hostis p/ subir, decidimos descer pela estradinha ate encontrar melhor acesso à bendita crista, q agora acompanhávamos paralelamente pro norte.

A estradinha tem ate seu charme bucólico. Varando florestas de eucaliptos e pinus q pareciam uivar e ranger ao forte vento, desce sinuosamente a serra, sempre tendo audível à esquerda o marulhar do Córrego Laranja-Azeda. Passamos por uma pequena casinha e até por ruínas do q parecem ser antigas casas coloniais tomadas pela mata, mas logo a natureza e o silencio se impõem na paisagem outra vez.

Destaque deste trecho foi uma colorida e lustrosa cobra coral atravessando tranquilamente a estrada!! Porém, as 14:10 finalmente encontramos uma encosta razoável e não mto íngreme à nossa direita, e melhor, c/ o q parecia ser uma precária trilha q começamos a subir desimpedidamente! Entretanto, logo a presença de muito mato queimado confundiu bastante a continuidade da trilha onde mal deu 10min de subida tivemos q retornar, ainda mais qdo tivemos q apressar o passo após ser ambos picados por um marimbondo enfurecido!!! Não vai ser por ai mesmo!

Continuamos então pela estrada ate adentrar noutro trecho mais abaixo, desta vez mais roçado e largo, q subiu suavemente a encosta da montanha sgte. Mas à semelhança da picada anterior, o inicial trecho de verdejante mato logo foi tomado por vegetação queimada. No entanto, o caminho era visível e bastava seguir por ele, mesmo com a ausência de vegetação. Era ate melhor pois não haveria mato a varar, ou se isso tivesse q ser feito seria mínimo. E dessa forma fomos ganhando altitude de modo a ter uma vista privilegiada da Pedra Grande e todo vale a seus pés sob outra perspectiva, isto é, do nordeste. Alem, claro, dos inúmeros imponentes rochedos q coroavam td extensão daquela crista nada visitada da Serra de Itapetinga.

Pois bem, uma vez já quase no alto da crista, fomos nos norteando por uma gigantesca pedra q certamente deve ter algum nome pois ela é bem peculiar e chamativa! A partir daqui o aceiro calcinado da crista dá lugar novamente à verdejante e espessa vegetação. Ainda assim o caminho não tem muito segredo e por ele seguimos um tempo, as vezes tendo q desviar de mato caído ou voçorocas de denso bambuzal se interpondo no caminho. Enfim, a caminhada pela crista estava sendo tranqüila e agradável. E o melhor, sem sol causticante e vento forte congelante!

Pois bem, aqui tive a idéia de sair da crista e prosseguir explorando vale abaixo pra ver onde ia dar, rumo leste, e começou um vara-mato razoável mas de pouco avanço, sentido Bom Jesus dos Perdões. Mas ai q caiu a ficha do horário avançado q eram, quase 16:20, e não nos podíamos dar o luxo de entrar em explorações incertas sob risco da noite nos surpreender no meio do nada, cansados e não devidamente preparados. Meia volta. Dessa forma retornamos à crista principal e demos continuidade á pernada razoável, q por sua vez não tardou a emergir da mata, sentido norte, e a descer a encosta aos ziguezagues, no aberto.

Desembocamos novamente na Estrada Municipal da Pedra Grande as 17hrs e por ela seguimos ate o fim. Havia a opção de tentar um acesso q cruzasse a serra diretamente pra Atibaia mas não havia tempo hábil pra isso, por esse motivo nos mantivemos na certeza q a estrada nos levaria ao asfalto da Rod. Dom Pedro (BR-065). Mas a caminhada pela dita cuja confesso q foi um teste de paciência de tão sacal, alem de comer a poeira dos veículos q passavam, meus pés estavam pedindo arrego já faz tempo. Bem q tentamos carona, infelizmente sem sucesso. Tb pudera, nossa aparência com pó dos pés à cabeça não devia ajudar muito. O consolo era q o caminho era suave e puramente descida.

E assim após andar quase 6 tediosos kms passando por varias pousadas e haras, caímos no asfalto as 18hrs. Sem pto de bus visível, tivemos q avançar sentido Atibaia ainda algo de 2km ate achar um, abaixo de uma passarela, já qdo o manto da noite nos cobriu por completo. Felizmente nossa espera não durou muito e, as 18:40, conseguimos uma lotação q nos deixou na rodoviária de Atibaia 20min depois. Dali ate o veiculo foi um piscar de olhos, pra felicidade de nossos pés enormemente calejados.

Claro q antes de voltar estacionamos num boteco pra bebemorar a empreitada. Sujos de poeira, negros pelo atrito com mato queimado e bem ralados de bambus, nosso aspecto não devia causar assim boa impressão. Dane-se. Na seqüência retornamos pra Sampa por uma Fernão Dias com um certo trânsito, viagem esta q fiz num estado de catatonia considerável em virtude das duas brejas e do dogão q mandei ver sozinho. Nada mais q merecido. Chegamos em fim á Terra da Garoa la pelas 22hrs.

Dessa forma atípica, descolada e com um pouco mais de emoção e exploração, este é mais um roteirinho básico de bate-volta diferenciado pras bandas de Atibaia. Relativamente tranqüila, sem dificuldades maiores de navegação e com poucos lances de vara-mato, é uma pernada q pode ganhar futuramente as mais diversas variantes, com certeza. Por exemplo, ao invés de retornar pelo asfalto, fica a sugestão de encontrar um acesso mais fácil e direto pela montanha, via Córrego Laranja-Azeda, pelas pedreiras da região ou pelo Oleoduto da Petrobras, q cortam a serra perpendicularmente. Dica dada. E essa é a Serra de Itapetinga. E depois ainda tem quem reclame q Atibaia so tem como programa montanhista a subida até a Pedra Grande…

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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