O Lagarto de Mogi

0

Assim como sua vizinha Paranapiacaba, Mogi das Cruzes está repleta de trilhas situadas tanto nas montanhas da Serra do Mar dos arredores como tb nos morros q cercam o perímetro urbano da cidade. Destas elevações destaca-se a Serra de Itapety, por sua vez detentora de belos mirantes como o tradicional Pico do Urubu e a pitoresca Pedra do Lagarto, esta última situada no extremo leste desta serra q se espicha quase q paralela à cidade. De fácil acesso, a Pedra do Lagarto é mais um destes lugares pouco conhecidos ideais prum bate-volta dominical em meio à matas próximas da urbe.


As chuvas freqüentes e o tempo instável deste inicio de ano infelizmente tem proporcionado poucas brechas razoáveis pra pernadas nos arredores da capital paulistana. Por sorte antes tive programas de virada de ano menos úmidos em serras mineiras (Cipó) e bate-voltas calorosos e secos no interior norte-paranaense (Serra dos Agudos). Mas agora estava de volta à “paulicéia desvairada” outra vez e – já quase pirando por permanecer uma semana sedentário em casa – ao vislumbrar a possibilidade de ter um fds minimamente sem água na cabeça não tive duvidas em reascender o velho e salutar hábito das trips dominicais deste novo ano. Pra começar pegando leve, optei por um rolezinho sussa pelas proximidades, e nada melhor do q isto q voltando pra Serra de Itapety, respeitável cadeia montanhosa q guarda Mogi das Cruzes à seus pés.

Dessa forma e sem pressa alguma, eu a Laure saltamos do trem em Mogi às 9:30, mais precisamente na Estação Estudantes. O domingo amanhecera nublado, mas os tons cinza-claros q forravam o céu se dissiparia gradualmente no decorrer do período. Mal chegamos ao nosso destino tomamos rumo à serra, ao norte, cujos cumes ainda encontravam-se encobertos por uma fina camada de nuvens baixas. Passamos pela rodoviária da cidade ate tomar a Av. Yoshiteru Onishi por um ou dois quarteirões, cortar através de uma praçinha e cair na Av. Antonio de Almeida, e dali seguir ate o final uma vez q é através dela q temos acesso à Via Perimetral e ao Bairro Rodeio, local onde inicia a pernada.

Após passar uma ponte sob as nascentes do Rio Tietê e uma rotatória, adentramos num pacato Bairro Rodeio ainda com seus moradores recém despertando pras suas caminhadas matinais. Passamos pelo simpático conjunto de prédios chamado de Residencial Topazio ate q finalmente o asfalto termina, no exato momento em q topamos com uma placa anunciando começar agora a “Estrada Velha do Lambari”, as 10:15. Uma vez na precária, escorregadia e estreita estrada de terra basta acompanhá-la ate o final, sempre indo em direção à serra e subindo suavemente.

&nbsp,O sol começava a dar as caras com força total e o calor já fazia escorrer suor em nossos rostos, mas felizmente a pernada se dá em meio ao frescor da alta mata q forra o caminho, um misto de mata nativa, secundaria e reflorestamentos. Mas logo a estrada se estreita e o terreno aumenta declividade, exigindo fôlego extra de nossos pulmões. É preciso atenção ao caminhar tb, uma vez q o caminho é feito de terra, pedra e lama lisa feito sabão, onde naturalmente os tombos serão garantidos ao menor descuido.

Pois bem, as infos q eu tinha pra chegar à tal Pedra do Lagarto eram imprecisas, mas como chegar à dita cuja era em tese um passeio tradicional curto, se tivesse perdidos certamente eles seriam sanados na base da tradicional esquema de “tentativa-e-erro”, afinal tínhamos o dia inteiro pra isso. Prosseguindo a subida serpenteando morro acima, ignoramos uma entrada à esquerda q certamente leva àlguma chácara, e um pouco mais adiante ignoramos uma segunda bifurcação (tb à esquerda) dominada pelos restos de uma porteira. Agora a pernada aperta com um aumento considerável de inclinação, mas felizmente as pedras no tortuoso caminho fornecem apoio aos pés nos trechos escorregadios e pirambeiros.

Na seqüência o terreno novamente arrefece e torna-se agradável em meio a um simpático reflorestamento do eucaliptos. Sempre nos mantendo no caminho principal, agora topamos com uma curta e óbvia trilha saindo pela direita q leva a uma refrescante e bem-vinda bica despejando água pura cristalina, último pto pra se abastecer do precioso liquido. A partir daqui q começaram nossos perdidos q nos tomaram quase q duas horas desnecessárias de vai-vem e q resumirei brevemente.

Primeiro demos continuidade á pernada pelo caminho principal durante um tempão ate ganhar uma crista bem florestada e repleta de brejo, porém sem sinal da tal pedra. E depois retrocedemos ate a segunda bifurcação à esquerda pra subir fortemente por íngreme encosta de reflorestamentos ate dar na larga trilha anterior, so q através de outro caminho, isto é, a tal crista florestada. Em ambos casos, a trilha ou segue pela crista sentido oeste ou desce vertiginosamente pro outro lado, já tomando rumo da Rodovia dos Trabalhadores, mais ao nortes. Wrong way!

Apesar dos perdidos – onde eu me adiantava na frente enqto a Lau ficava atrás, descansando -&nbsp, estes serviram ao menos pra dar novas dicas e sugestões de novas pernadas pela região, uma vez q essas picadas sugerem boas opções de circuitos de crista pelo Itapety. Sombreados e com belos visus de Mogi. Mas como nosso destino daquele dia não eram explorações às cegas e sim a maldita Pedra do Lagarto, após idas e vindas na serra finalmente tomamos o rumo certo da bodega, principalmente qdo conseguimos infos mais precisas da única alma viva q vimos no mato naquela manhã de domingo, um local passeando de moto com duas crianças e dois estridentes vira-latas á tiracolo. Alias, a Serra de Itapety é palco ideal pra trilhas de moto e bike, tanto q as marcas de pneus eram uma constante na lama.

Voltando então à pernada certa, após a bifurcação da bica ainda prosseguimos pela picada principal mas logo caímos noutra bifurcação, esta de relativa importância. Aqui vemos claramente q a vereda pela qual andamos toma o ramo da esquerda, subindo sinuosamente morro acima, acompanhando umas marcações de plástico deixadas por alguma competição de mountain-bike. Mas aqui ao invés de seguir esse caminho q seria o obvio vamos pelo ramo da esquerda, isto é, o q segue reto e se enfia na mata. Esta trilha é bem batida e igualmente óbvia, embora não tão larga qto a anterior, e acompanha a encosta do morro durante um tempo tendo um gde charco e brejo à nossa direita, onde o som de água correndo nalgum canto é constante. Nosso ritmo é forte, embora parar não seja mto recomendável em virtude das nuvens de pernilongos ávidos por sangue fresco.

A caminhada se mantém em nível por um tempo mas logo a declividade aumenta e assim permanece o restante do tempo, quase q em linha reta inclinada! O avanço é cuidadoso tendo em vista o risco de escorregões naquele chão de lama seca e limo visguento. Algo de menos de meia hora depois e sempre naquele mesmo compasso, chegamos no q parece ser um colo serrano onde a vegetação se abre um pouco e permite a passagem do vento como algo de visu. Uma discreta picada sai pela esquerda e sobe ate a crista ao lado, mas nos mantemos sempre na principal e após uma breve descida segue-se uma ultima curta subida, de onde já podemos avistar os tons acizentados de uma gde pedra à esquerda, através da mata. Ufaaa, chegamos enfim na Pedra do Lagarto!

Deixamos a picada principal por uma curta trilha saindo pela esquerda, segue-se uma curta e facil escalaminhada e pronto, damos no lajedão principal do topo da Pedra do Lagarto, as 12:45! Alguns grampos fincados na rocha denunciam o local ser freqüentado por escaladores assim como por farofeiros, dadas algumas poucas pixações. Mas apesar disso o local realmente é bem bonito, e o visu do alto descortina boa parte do quadrante norte de td regiao, emoldurado por uma morraria de reflorestamentos de eucaliptos e pinnus. Local pra acampar? Nenhum, a não ser bivaque sobre a rocha dura e porosa.

Por sua vez, a picada principal pela qual viemos continuava pela crista pra depois descer vertiginosamente serra abaixo, sentido o bairro rural Beija-Flor, programa pruma próxima ocasião. Pausa pra fotos, descanso lanche e até breve cochilo, apesar de inconvenientes mutucas. E lá ficamos prostrados um tempão, literalmente lagarteando, donos absolutos daquele belo mirante ate o momento em q o sol escaldante deu lugar a um repentino e denso negrume no céu se aproximando pelo norte. A decisão de ir embora o mais rápido foi corroborada pelos trovões q começaram a se ouvir. E convenhamos, retornar com chuva numa trilha q já era bem escorregadia estando seca era o q menos desejávamos ate então.

Voltamos cuidadosamente pelo mesmo caminho e sem pressa, claro. O terrível aguaceiro anunciado sequer passou de um leve chuvisco q nos surpreendeu apenas qdo chegamos à estação ferroviária, as 14:30. Após uma rápida bebemoracao no bar da chinesa mal encarada ao lado, retornamos pra “paulicéia desvairada” embalados no mundo dos sonhos, refeitos mas principalmente satisfeitos pelo simplório bate-volta proposto.

E assim transcorreu nosso inicio de ano sem gdes pretensões ou emocionantes aventuras perrengueiras na nada selvagem porem bastante acessível Serra de Itapety. Mas como td experiência no mato é valida de alguma forma ou outra, já vamos vislumbrando novas possibilidades de circuitos mais adrenados e pauleiras pela região. Quem sabe uma travessia Lagarto-Urubu, unindo os dois mirantes ilustres do Itapety? Pois é, quem sabe. Mas claro, q td tem seu devido tempo. Não há pressa alguma, pois a serra não irá mudar de lugar. Até lá Mogi das Cruzes vai se firmando cada vez mais como um lugar cheio de trilhas no mato e serras “pernaveis” q vão alem da Serra do Mar.

Texto e Fotos: Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

Compartilhar

Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

Deixe seu comentário