A Trilha das Bikes de Paranapiacaba

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Paranapiacaba é um local q agrada a gregos e troianos, e isso vale tb pros praticantes de esportes outdoor. Por ser um local q agrega as mais diversas tribos, é natural q existam roteiros q incluam a galera das &ldquo,duas rodas&ldquo,, seja ela motorizada ou não. Foi assim q percorremos na sola a lendária &ldquo,Trilha das Motos&ldquo,. Como não poderia deixar de ser, existe tb uma versão reservada às magrelas q atende pelo nome óbvio de &ldquo,Trilha das Bikes&ldquo,, picada q sempre ignorei em minhas andanças. Até agora. A vereda fora uma antiga (e precária) estrada em desuso q corta a cumeada de reflorestamentos do serrote paralelo à Estrada do Taquarussu. De extensão relativamente curta (6km), é possível esticar o programa emendando outra árdua trilha próxima, a da Pedra Grande. O resultado foi um puxado circuitão intermunicipal q percorre altas paisagens q vão além dos limites e atrativos tradicionais da pitoresca vila inglesa.


Com uma garoa fina fustigando o rosto e envoltos por um denso e espesso nevoeiro fomos recebidos pelos elementos assim q pisamos na tradicional vila inglesa, as 8:15. Tempo totalmente diferente dos dias anteriores, reverenciados por céu limpo e azul impar, mas q mesmo assim não foi suficiente pra demover o entusiasmo do nosso programa sabatino. Dessa forma lá estávamos eu, a Laureci e a Débora atravessando a vila totalmente tomada de tons opacos onde mal se enxergava um palmo à frente.

A frustração da Débora&nbsp, – q pisava ali pela 1ª vez -&nbsp, era evidente ao não conseguir sequer visualizar gdes vedetes dali como o “Big-Ben”, o Castelinho, a Estação Ferroviária, etc.. Tá certo q o gde charme da vila é seu habitual “fog londrino”, mas àquele nevoeiro em especial era atípico pois simplesmente não se enxergava além da ponta do nariz. Bem, o jeito era torcer pro tempo limpar no decorrer do dia e clicar Paranapiacaba na volta, pois o programa previa um circuito q iniciava e findava na vila inglesa. Até então a Débora teria de se conformar com a influencia inglesa da vila, escancarada tanto na nomenclatura das ruas como na arquitetura do casario q surgia à nossa frente, a medida em q avançávamos nevoeiro adentro.

Atravessamos despreocupadamente então o vilarejo q recém acordava até pisar na Estrada do Taquarussu, já na cota dos 800m e pto de partida de várias outras aventuras pela região. O burburinho matinal da vila deu então lugar ao silêncio pautado pelos sons da mata e dos córregos a nossa volta, com direito até a uma visitada no cano despejando água q atende pelo nome de “Cachu dos Namorados” e um curto vara-mato úmido até interceptar novamente a estrada.

A pernada se mantém no mesmo compasso até q após 3,5km percorridos sem gdes dificuldades, as 9:10, abandonamos a bucólica estrada de terra em favor de uma evidente entrada pela esquerda, logo após o discreto marco intermunicipal q divide Sto André de Mogi das Cruzes e um pouco antes da picada (à direita) q leva à “Comunidade” e Vale do Quilombo. Estamos enfim da “Trilha das Bikes”, picada q sempre ignorei, mas tinha curiosidade em conhecer. Pois bem, a vereda leva jeitão de pequena e precária estrada em desuso. Claro, em desuso pra veículos maiores ou sem tração pq marcas de pneus de motos e bikes estão presentes ao longo de td trajeto pelo seu chão de terra vermelho, erodido, enlameado e bastante irregular. Na verdade o emaranhado de picadas daquele serrote pertence a uma área de reflorestamentos q levam a setores provavelmente de corte de madeira, aonde a “Trilha das Motos” vem ser a espinha dorsal de tds as demais.

Iniciada a pernada pela dita cuja, sempre bordejando em nível a encosta da serra sentido NE, constatamos a pouca variação de altitude. A vegetação inicial é um misto de primaria com secundaria, mas depois passa a ser predominantemente de bosques de eucaliptos e de pinnus. A preocupação inicial de água logo se dilui ao toparmos com uma bica encravada na encosta, despejando seu borbulhante e refrescante liquido. A caminhada então prossegue de forma desimpedida, embalada pelo som de nossa conversa e do vento remexendo o arvoredo em volta. Pequenas frestas na vegetação permitem visualizar alguma coisa, o tempo enevoado até deu uma limpada e nos brinda com visus dos verdejantes contrafortes serranos do vale q acompanhamos, embora os cumes das montanhas ainda permaneçam escondidos pelas brumas.]

As 9:30 nos deparamos com uma bifurcação q gera duvidas, mas basta se manter na “principal”. Mas nem sempre alguém sabe reconhecer uma via “principal”, principalmente qdo as trilhas são bem parecidas e a navegação visual é impossibilitada pela nebulosidade. Pra matar a duvida de vez, bastou consultar a bússola e tomar o ramo q fosse no sentido desejado, ou seja, pra NE. No caso, é o ramo da direita. Contudo, no caminho surgem mais 3 bifurcações similares, mas daí basta apenas repetir o processo acima. Neste trecho tb topamos com a única dupla de ciclistas q vimos, estes por sinal fazendo jus ao nome da trilha além de estarem indo e vindo, buscando desesperadamente o óculos q um deles deixou cair no caminho.

A partir das bifurcações sucessivas a caminhada se dá por encostas mais abertas, com margens ornadas por voçorocas de samambaias secas e bosques de eucaliptos mais espaçados entre si. Os horizontes ameaçam se abrir mas a visão não vai além dos contrafortes serranos próximos com seus cumes ocluídos pela opaca nebulosidade. Mas as 9:45 a pernada deixa as altas encostas pra embicar pra baixo, e bem forte. Assim começa uma descida bem íngreme. A trilha se divide mas logo se junta mais adiante e logo nos vemos andando por uma enorme e inclinada vala, onde tentamos nos equilibrar bem no vértice daquele “V” escarlate cavado no chão escorregadio.

A pernada finalmente suaviza e estabiliza no q parece ser o fundo do vale, as 10hrs, onde tropeçamos com um lugar conhecido como “Rancho”. Uma casinha simples às margens de um pequeno córrego abastecido por uma bela queda d´água (Cachu do Rancho?) é moivo pra uma rápida parada pra descanso e alguns cliques. A tal cachu não é ta majestosa qto as enormes do Rio Quilombo ou Anhangabaú, mas não deixa de ter seu charme semi-selvagem ao nos brindar com uma seqüência mini-cachus despejando através de pequenas lajotas vindas do alto da serra. Uma trilha leva ao alto dela, onde se tem uma bela vista de td conjunto. Fica a dica de numa próxima ocasião subir o córrego desta cachu por completo ate sua nascentes, sabe-se lá onde deve ser. Este sim deve ser um programa selvagem q promete.

A caminhada tem continuidade em nível, atravessa um vasto pinheiral onde várias pilhas de madeira se acomodam na margem da trilha, e finalmente desembocamos no final da “trilha”, as 10:30. O local é marcado por um portão q delimita alguma propriedade, onde uma lacônica placa indica estarmos nos limites noroeste do Sitio Cachoeira.

Pois bem, novamente na agora empoeirada Estrada do Taquarussú basta tomar o ramo da esquerda, de modo a acompanhar as linhas de alta tensão à distância. Não demora pra mudar de direção no solitário orelhão do caminho, agora tomando rumo leste, indo pro centro do setor rural do Bairro das Pedrinhas, marcado por uma casinha ali e outro sitio acolá. Daqui já poderíamos avistar a serra q abriga a Pedra Grande, elevando-se elegantemente à nossa frente na forma de um enorme domo rochoso de granito. Contudo, vestígios de nebulosidade clara ainda permeiam o alto do firmamento permitindo somente vislumbres de tons foscos e opacos dos cumes das montanhas à leste. Os três acessos á Pedra Gde já descrevi noutras ocasiões portanto serei breve nesta aqui.

Tomando o acesso via “Pesqueiro de Trutas Pedrinhas” logo nos vemos subindo suavemente uma precária estrada de pedras q adentra um vale através de sua encosta, ganhando altura aos poucos, indo de encontro ao sopé da montanha derradeira. Mas as 11:15 abandonamos a estrada por uma discreta picada em meio a mata, à direita, onde rapidamente ganhamos altitude através de uma íngreme e estreita vala erodida. Em pouco tempo damos numa clareira na frente do portão de uma fazenda. É aqui onde está o inicio “oficial” da trilha à Pda Gde, onde topamos com uma galera numerosa alongando com a mesma intenção nossa. Claro q apressamos o passo de modo a nos distanciarmos e chegar antes no cume deles de forma a poder curtir um pouco do silencio aprazível do topo da montanha.

Uma vez na vereda não tem mais erro, ela se enfia na mata e sobe uma crista florestada através de vários cocorutos. Na primeira bifurcação tomamos à esquerda, onde a pernada inicialmente aperta ao bordejar a montanha pela sua íngreme encosta esquerda, alternando vários e escorregadios sobes e desces. Após a segunda bifurcação a caminhada estabiliza através da estreita trilha em nível em meio a uma agradável floresta. Nossa decisão de levar 2L de água a tiracolo revelou-se certeira pois o suposto ultimo pto do precioso liquido no trajeto, na cota dos 950m, estava totalmente seco!

Porem é a partir daqui q a subida aperta de fato. E como aperta! Começou uma piramba quase vertical q so foi vencida com ajuda das mãos, nos firmando no arvoredo e pedras ao redor. A trilha íngreme, o chão escorregadio e vários trechos de escalaminhada se sucedem em ritmo intenso, q invariavelmente nos afasta uns dos outros. A Lau fica no final, se queixando de uma inconveniente dor no joelho. Mas não tem problema pq a trilha é bem obvia e evidente. Pelas frestas do arvoredo já podemos avistar o domo cinza de puro granito, atestando q estamos já na base da enorme rocha q nomina a montanha.

Finalmente ao meio-dia, após um árduo trecho de escalaminhada hard através de raízes e rochas, emergimos no alto dos 1100m do amplo cume descampado da Pedra Grande de Quatinga. Felizmente o tempo fora generoso dispersando a nebulosidade bem naquele horário. Um vasto capinzal e alguns pequenos trechos lajotados dominam o topo, cuja soberba panorâmica permite um vislumbre geral em 360 graus, seja da Represa de Taiacupeba, das Cabeceiras do Quilombo, de Cubatão, inclusive de td caminho feito desde Paranapiacaba até ali. O espigão serrano se espicha tb à NE e culmina no Pico Itaguacira, q se eleva 100m acima da gente forrado de puro verde e fora palco de outra travessia recente. Enfim, uma vista realmente deslumbrante. E assim, ficamos ali descansando ao relento, donos absolutos do cume,&nbsp, tendo o vento soprando nossos rostos suados enqto mastigávamos nosso lanche. Ao mesmo tempo uns urubus ficavam nos paquerando planando no céu.

Nosso sossego termina meia hora depois com a chegada da esbaforida galera q viramos no inicio da trilha. “Você não é o Jorjão? O trilheiro q ta sempre com latinha de cerveja na mão?”, o guia me dirige a palavra assim q pisa no cume. Aceno positivamente e assim pusemo-nos a conversar enqto seus jovens clientes surgiam aos poucos tomando conta do alto da montanha, arrastando a língua no chão. Seu nome era Nei Rodrigues, da Ecocultural Viagens, uma agencia de São Bernardo q além de alcançar o topo iria rapelar a face norte da pedra. Entre outras coisas, troca de infos e td mais, tb lamentava a ação dos farofeiros irresponsáveis q infelizmente largam lixo no local, o q não é difícil de constatar. Nessa hora fui bater umas fotos do enorme rochedo vertical pela qual seria montado o rapel e uma maldita abelha (ou marimbondo furioso, sei lá) “carimbou” meu pescoço, deixando uma dorzinha incomoda pelo resto do dia.

Retomamos a pernada um tempão depois, as 13:30, no exato momento em q a animada galerinha começava a rapelar pedra abaixo. Nos despedimos do Nei e assim pusemos outra vez pé-na-trilha. Descansados, partimos pra borda oeste do amplo topo onde há vestígios de fogueira. Pois bem, daqui parte uma estreita picada q mergulha por entre arbustos, bambuzinhos q se agarram à pele e alguma mata caída, e prossegue por uma crista sempre pra sudoeste sem gde variação de altitude, de forma bem suave. A pernada é tranqüila, agradável e desimpedida, bem diferente de sua íngreme face norte. Uma aprazível florestinha baixa proporciona refrescante sombra naquele calor sufocante do inicio de tarde e algumas brechas na mata possibilitam belas paisagens do entorno da serra.

As 13:40 atingimos um selado marcado por um bambuzal seco, onde a picada aparentemente se bifurca em “T”. No entanto, o sentido é obvio, sempre pra oeste, ou seja, á direita. A pernada então prossegue em meio à mata, sem dificuldade alguma e com trilha mais larga, onde mtas teias de aranha no meio do caminho sugerem ninguém passar por ali a algum tempo. A caminhada enfim através daquela encosta é bem suave, gostosa e desimpedida. O inconfundível som de água abundante correndo nalgum fundo vale soa como musica aos ouvidos, mas felizmente os cantis estão cheios. A proximidade com a civilização é tb sentida ao ouvir o borburinho de um reggae em alto e bom tom vindo de algum lugar. Seria do Camping Simplão?

Pois bem, a agradável descida pelo trilho largo parece interminável, porem é constante apesar de eventual mata tombada no caminho, ate q as 14hrs cruzamos um bem-vindo córrego despejando seu cristalino liquido em pequenos pocinhos cristalinos bem convidativos. Dando continuidade a pernada sentido o outro extremo da serra, a direção muda abruptamente pra noroeste pra não sair mais desse rumo. O fato é q as 14:15&nbsp, acabamos desembocando nos fundos de uma gde fazenda onde haviam varias casas e um galpão aparentemente vazio. Tentamos em vão passar despercebidos, mas os estridentes cães do local nos denunciaram bem antes de ali pisar. Torcendo pra q não fossem bravos, acabei encontrando um tiozinho q, incrédulo, nos informou estarmos nas dependências da Fazenda da Pólvora, q segundo ele é propriedade do Exercito, além de ser reticente em nos apontar a direção da saída. Pois bem, deu pra sacar q gente de fora não é bem recebida (algo q o Nei, da agencia, tb já havia me dito) e acho q só não jogou os vira-latas pra cima de mim por conta das meninas. Portanto fica a dica de não começar a trilha por aqui, pois é mais fácil sair dali do q entrar.

Novamente&nbsp, na estrada sob clima agradável naquele inicio de tarde, acabamos nos situando ao passar pela Cachu da Macumba, próximo do camping&nbsp, Simplão. Essa cachu seria um local idílico não fosse emporcalhada de trocentos despachos e frangos farofados em sua margem. Mas voltando à pernada ainda tinha o longo e modorrento caminho da volta, algo de mais de 8km na sola!!! Paciência.. Assim, respiramos fundo e pusemo-nos a encarar o longo retorno pra vila. Mas felizmente e graças à divina providencia mal pisamos na Estrada do Taquarussu, as 15hrs, q um simpático casal nos ofereceu carona, cortesia q não recusamos, é claro! Seus nomes eram Bento e Camila, estavam alojados no Simplão e naquela hora iam prestigiar os finalmentes do Festival de Inverno. E com paradinha básica na vila-presépio do Taquarussú pra fotos!! Melhor, impossível!

Enfim, chegamos em Paranapiacaba com tempo aberto e bem antes do previsto, as 15hrs. Sem pestanejar estacionamos nossos cansados traseiros no Largo dos Padeiros afim de algo básico e fundamental em td fim de trip: bebemorar. E lá se foram goela abaixo 3 pacotes de Torcida apimentado, uma suculenta porção de calabreza e 8 latões de Itaipava gelada, enqto observávamos a muvuca da vila (e atipicamente repleta de policiais) se formando naquele ultimo fds de Festival. Só zarpamos assim q o sol repousou lentamente atrás da serra e as luzes da vila começaram a pipocar aqui e ali. Até lá a Débora já estava satisfeita de tantos cliques do local, á diferença daquela manhã enevoada.

Apesar de já ter percorrido Paranapiacaba de tds as formas possíveis e impossíveis, conhecer boa parte de seus caminhos e descaminhos como a palma da minha mão, existe sempre algo sempre algo “novo” a cada visita q lá faço. Variações de trilhas conhecidas com outras nem tanto rendem sempre bons programas diferenciados pra quem quer sair da rotina ou do lugar comum. É bem verdade q a “Trilha das Bikes” é um roteiro q faz jus ao nome, pois é altamente recomendada a quem pratica o esporte uma vez q se vale de antigas estradas sucessivas de terra, à diferença da “Trilha das Motos”.

Mas tb é boa pedida pra quem vai atrás de uma simplória caminhada em meio à mata secundaria, alem de possibilitar opções de conferir novas rotas por suas trocentas bifurcações ao longo de td seu trajeto. Ou até mesmo emendá-la com veredas menos conhecidos, como a “Trilha da Pedra Grande”. Ou quiçá com outros rochosos próximos q pudemos constatar, ainda esperando pra serem legitimamente conquistados. Só assim pra Paranapiacaba proporcionar sempre um fds diferente do outro.

Texto e fotos: Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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