Travessia da Serra da Anta Gorda: O berço da Serra Geral

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“Toda gde saga tem um começo” é o clichê habitual q blockbusters do cinemão se valem p/ divulgar não seqüências e sim prequels, isto é, filmes predecessores àqueles q lhe deu origem. Da mesma forma, os 250km da enorme Serra Geral – q não se limita apenas ao mirrado trecho final, em Aparados – tb tem um começo. Td aquela extensa muralha rochosa q se espicha perpendicularmente de SC ate RS, separando o planalto da planície litorânea, inicia na Serra da Anta Gorda, situada entre Bom Retiro e Urubici, e diferentemente do relevo suave de Aparados, este trecho de 60km é predominantemente fragmentado, acidentado e selvagem.

Entrentanto, àqueles + ousados é o preço justo p/ se aventurar por 4 dias numa Serra Geral desconhecida, q alem de oferecer obvias pernadas por borda de penhascos, largos visus de cachus despencando dos campos-de-cima e verdejantes capões de araucarias, nos brinda tb a oportunidade de subir o majestoso cânion formado pela imponente Pda Branca.
 

Rumo às falésias da Pedra Branca


Não fosse um inconveniente torcicolo por ter dormido de mau jeito, afirmaria q as quase 11hrs de viagem num busao vazio ate Lages teriam sido boas. De qq forma, desembarquei junto c/ Guto & Marcia as 6:30 na rodô desta pacata cidadezinha do interior catarinense, conhecida como “Capital Nacional do Turismo Rural”. Apesar da promessa de ceu azul fazia mto frio e, garantidas nossa passagens p/ Alfredo Wagner, fomos tomar um demorado café-da-manha numa padoca (lancheria, como aqui chamam!) próxima. As 9:30 nosso bus partiu rumo A.Wagner, cidade distante quase 100km, atravessando sinuosamente a suave morraria característica deste trecho do planalto catarinense. Após breve parada, as 10:50, em Bom Retiro (cidadezinha horizontal, auto-intitulada “O Portal da Serra”), já há de se ficar atento onde tem q saltar do coletivo. E assim, as 11:10, o motora nos deixa após uma ponte, num pto conhecido por Lomba Alta.


Não voltamos nem poucos metros pelo asfalto e já entramos numa estrada de terra à esquerda, onde uma placa sinaliza, laconicamente,“Pedra Branca”, nosso destino daquele dia. Assim, comeca oficialmente nossa pernada, bordejando encostas de morros sentido leste/sudeste, inicialmente acompanhando a estrada mas separada do vale do Rio São João, p/ depois seguir p/ sul, subindo e descendo por terreno bem acidentado, já tendo uma visao ao longe dos paredões rochosos q nos aguardam mas, principalmente, das imponentes muralhas da Pedra Branca, antecedida por dois morrotes não menos grandiosos. Mas ate lá ainda é um belo chão! Caminhada esta q seria facilmente modorrenta não fosse o visual tipicamente alpino daqui, diferente de qq uma da região sudeste: morros forrados de pastos c/ vaquinhas robustas, entremeados de eucaliptos, pinheiros e mtos bosques de araucárias. No caminho, o odor forte de cebola atenta ao nosso desodorante vencido, mas é ledo engano: na beira da estrada muitas sacas do legume apodrecem ao sol do meio-dia, p/ desespero do gavião q dá um rasante sob nossas cabeças. O calor e o cansaço começam a pegar e, após passar um punhado de casas q sinaliza o bairro da Pda Branca, as 13hrs, fazemos uma parada p/ lanchar à sombra de enormes eucaliptos, onde nos fartamos c/ varios pé-de-mexirica à beira da estrada.


A pernada prossegue, inipterrupta, pela estradinha de terra; eventualmente aparece uma saída ou bifurcacao, mas basta se manter na principal. A impressão q se tem é q vamos descer ao enorme e profundo vale à nossa frente, mas q na verdade é um dos primeiros (e pequenos) canions da região porem coberto de vegetação, e q devemos contornar. Antes de chegar no seu vertice, passamos uma rústica ponte de madeira, da qual despenca uma bela cachoeira (Rio Águas Frias, segundo a carta). Numa bifurcacao tomamos a direita e continuamos adiante (sul), onde claramente ladeamos pela direita (leste) aqueles 2 enormes morros mencionados anteriormente, passamos por uma velha igrejinha e um rustico cemitério (a direita), cruzamos algumas porteiras e pequenos córregos ate q, após um riachinho marcado por nova ponte, chegamos noutra bifurcacao ao lado de uma casa, à direita. O roteiro original mostrou-se extremamente desatualizado e aqui deveria constar uma escolinha; perguntamos à dona-da-casa q realmente confirmou q ali já fora uma escolinha, mas não era mais. Faz tempo! Portanto na casinha tomamos a estradinha (quase trilho) à direita, adentrando no verdejante vale do Rio Sta Bárbara, inicialmente sentido sul, mas q aos poucos vamos virando p/ esquerda (leste) sendo lentamente espremidos pela muralha rochosa perpendicular a nossa direita e pela Pda Branca propriamente dita, q vamos bordejando pela esquerda. Este vale é muito bonito e seu visual lembra bastante qq Pq canadense; muito verde, grama por td canto e tds as arvores, principalmente araucárias, forradas com barba-de-bode, um liquem q pende de td e qq galho ou saliência de suas extremidades.


Passando algumas rústicas porteiras, ganhamos altitude suavemente ate q ignoramos uma bifurcacao (à esquerda) q deveríamos ter tomado. Ao notar o erro – logo após cruzar outra ponte sobre um riachinho e dar numa casa abadonada mais acima – cortamos caminho descendo por um barranco, pular o mesmo rio pelas pedras e subir o barranco ate alcançar o trilho ignorado, visível de onde estávamos sem ter de retornar td novamente. No caminho certo, continuamos cada vez mais por  terreno ingreme (p/ sufoco da Márcia!), com o vale cada vez se afunilando mais. Ate aqui o horario estava bem avançado (16:30hrs) e fomos já atentando aos diversos (e ótimos) gramados p/ pernoite, pq em tese essa trilha deveria subir efetivamente a serra ate ganhar a crista, o q estava fora de cogitação naquele dia. Dito e feito, largamos as mochilas num enorme gramado ao lado do rio q descia o vale, e enqto a Márcia descansava, eu e o Guto subimos a trilha apenas p/ voltar hora depois seguros de q estávamos no rumo certo. Montamos as barracas proximo de poços gelados (banho? no way!) enqto a temperatura caia rapidamente e o sol recolhia seus raios q incidiam por trás da Pda Branca, realçando seus detalhes rochosos. Jantamos ao escurecer e em seguida caímos no sono dos justos, apenas pra curtir, alem de uma noite fria, um ceu tremendamente estrelado.

Subindo o Cânion ate os Campos-de-Cima


Revigorados, levantamos assim q clareou naquela manha de sexta ao som de alguns passaros, as 6hrs, pra tomar café e desmontar acampamento hora e meia depois. A pernada prossegue íngreme, sempre acompanhando o rio à nossa direita, passa por algumas porteiras, um casebre abandonado e um curral (à direita), e cruzamos o rio diversas ocasiões, ora andando de um lado dele ora do outro, afastados ou não dele, mas c/ o ruído borbulhante de suas águas sempre audível. Ate aqui já ganhamos bastante altitude e a temperatura esta + quente e agradável; o caminho deu lugar a um trilho precário, porem ainda tem muito pela frente. Entramos brevemente na mata, cruzamos o rio outra vez p/ sair num descampado de pasto, onde a trilha sobe em curva levemente p/ esquerda (e ignoramos um trilho q vai p/ esquerda, subindo), indo de encontro na mata densa quase aos pés dos paredões cinza-claros, à leste.


Na mata, descemos um pouco p/ depois subir suavemente, sempre por trilh/sulco de vaca, q as vezes some mas logo adiante reaparece. Obstáculos naturais como troncos caídos e riachinhos são facilmente transpostos, ora simplesmente desviando ou saltando por cima das pedras, ate q chegamos num pto onde a trilha parece subir em definitivo, em curtos e penosos  ziguezagues bastante ingremes, atraves da encosta forrada de samambaias e, mais acima, de bambus. Logicamente q aqui nos distanciamos, cada um subindo de acordo com seu ritmo. Este trecho é bem hard e lembra vagamente a Ladeira do Império (no Pati, Chap. Diamantina), onde cada degrau requer uma pausa pra retomada de folego onde respiramos aliviados contemplando o visu privilegiado do vale nas varias janelas da vegetação, q aos poucos parece sumir p/ permitir melhor visualização daquele belo local e, principalmente, dos paredões verticais à oeste, destacados pela iluminação matinal. Assim, as 9:45 alcanço os quase 600m de crista acima, o topo da serra, finalmente. Enqto descanso, c/ o vento frio soprando no rosto, dou uma rápida explorada nos arredores apenas p/ ter um visu interessante da meseta (ou platô) do topo da Pda Branca, ao norte, e já ir estudando acessos p/ campos ao sul.


Assim q o Guto e a Márcia chegaram, antes das 10:30, retomamos a pernada após breve pit-stop, tomando um trilho obvio q seguia / sul, logo após uma muretinha de pedras e subindo suavemente pela crista em meio aos arbustos. Chegamos, enfim, ao alto dos campos ao sul, marcado apenas por um pequeno morro e muito, muito pasto. Alias, pastagens queimadas, o q tornava o caminhar bastante “crocante”, alem de deixar nossas canelas imundas de fuligem. Alem disso, as onipresentes turfeiras (aquelas esponjas típicas daqui) estavam bem ressequidas e, portanto, igualmente quebradiças, facilitando em parte a caminhada, desde q não fossem mto volumosas. Assim, contornamos um 1º morro pela direita e subimos o seguinte, ganhando os enormes descampados dourados p/ sul, sob o forte sol do 12:30. Agora a navegacao é visual, sempre acompanhando a beirada dos penhascos e mini-canions à nossa esquerda, ora próximos ou não. À oeste, por sua vez, campos de perder a vista salpicados por capões de mata em terreno suavemente recortado, tornando o visual menos monótono. A nossa frente, um enorme campo ou platô é trasnposto, ora chafurdando pé na lama, ora pisando nas turfeiras ou capim crocante.


Chegamos, enfim, a um morro maior parcialmente coberto de vegetação queimada, e proximo de uma bela escarpa obstruindo nosso avanço pela esquerda. Após um breve descanso e alguns cliques, decidimos contorna-lo pela direita p/ dar de cara com mata fechada e mais um abismo se espichando em pasto p/ oeste.

Contudo, procurando em meio os arbustos, encontrei o discreto trilho de vaca q bordejava o morro ate a crista de ligação seguinte e, conseqüentemente, ao proximo platô. Beleza. Dose mesmo era q a medida q avançávamos a mata ia se tornando cada vez + fechada, e aos poucos tínhamos q afastar galhos e arbustos vigorosamente p/ poder seguir adiante. Sem contar numas inconvenientes mutucas, q não nos deixavam permanecer parados um instante sequer. Sinceramente, este vara-mato foi o estresse do dia, q nos tomou um bom tempo e algumas discussões entre o casal G&M. Sem opção, prosseguimos com determinação contornando o morro agora do outro lado, sem perder altitude e sempre nos mantendo no nível dos platôs sgtes.

A mata agora torna-se menos densa, entremeada de samambaias e bambuzinhos, permitindo ser razoavelmnte contornada em meio aos sulcos no brejo, ate q esbarramos c/ uma trilha obvia q seguia no sentido desejado! Alegria impar tomou conta da gente ao saber q poderíamos ter evitado td essa perda de tempo apenas subindo o morro e procurado pela tal trilha do outro lado. Enfim, agora na trilha estávamos mais ágeis e facilmente contornamos o resto do morro, passando pelo selado ate a base do morro sgte antes de cair definitivamente no descampado a seguir, novamente caminhando desimpedidamente. A paisagem consistia numa meseta dourada q terminava ao pé de vários morros obstruindo novamente o avanço, dos quais um se destacava pelo formato peculiar e achatado, daí ter o nome de Morro do Chapéu (na carta, erronamente marcado como Morro da Bela Vista do Guizoni).

Com o dia já findando, apressamos o paso pelo enorme descampado, pulamos + uma muretinha e varamos um estreito trecho de mata nebular, ate q estacionamos definitivamente no platô de capim sgte, bem proximo das colinas avistadas, sob o olhar cirscunspecto das vaquinhas q ali pastavam. Felizmente ali havia um pequeno córrego q aliviou nossa sede e nossa preocupação em obter o precioso liquido, q não víamos desde inicio do dia. Montamos as barracas pontualemente as 18hrs, enqto o sol rapidamente pousou no horizonte, tingindo de rubro as nuvens de fumaça q pairavam à beira dos escarpas a sudoeste, oriundas de mais uma queimada. Na sequencia jantamos e rapidamente nos recolhemos, exaustos. Apesar de termos acampado numa meseta exposta, não ventou nada naquela noite fria, novamente agraciada c/ uma lua impar e um ceu estupidamente estrelado.

Finalmente, na Serra da Anta Gorda.

Sabado amanheceu c/ uma nebulosidade clara diferente dos dias anteriores, mas isso não nos intimidou; pelo contrario, nos apressou no café e em arrumar as coisas, pra deixarmos aquele belo local pontualmente as 8hrs. Contornamos a mata ao pe das colinas a seguir, galgando altitude p/ sudoeste, rumo a base do Morro do Chapéu. Era sempre essa a nossa tática: ir pro alto dos morros p/ dali estudar qual rumo seguir sem maiores obstáculos. No entanto, ao chegar no alto daquele descampado eis q um nevoeiro tomou conta de td, impedindo td e qq visual a nossa frente. Bem, nessa hora confiamos na bússola, caminhando a esmo  p/ sudoeste, bordejando o Morro do Chapéu, ate chegar num trecho onde a mata fechava, obstruindo nosso avanço.

E agora, José? Bem, voltamos um tanto crentes de q uma crista de ligação p/ vale (ou platô) sgte nos tivesse passado desapercebida. Felizmente, nessa hora houve uma brecha de bom tempo q limpou a paisagem a nossa frente, permitindo avaliar a rota a ser tomada e, por incrivel q pareça, a q havíamos tomado às cegas estava certa! Retornamos à mata q obstruía o avanço, p/ mais à direita percebermos uma estreita língua de pasto q ligava os vastos platôs do belo e enorme vale (do Rio Campo Novo do Sul) logo abaixo, limitado ao sul pela morraria de crista do inicio da Serra da Anta Gorda, finalmente! Uma vastidão de planicies douradas encaixotada por gdes colinas ao sul e por escarpas recortadas caracteristicas da “península” rochosa, à leste! Por estarmos c/ cronograma atrasado, a Márcia cogita a hipotese de findar a pernada aqui (daqui dava p/ ver uma casinha e uma estrada q supostamente daria nalgum vilarejo), mas a possibilidade de se perder dilui essa ideia, p/ alegria do Guto, q fatalmente teria q acompanha-la.

As 11hrs chegamos ao 1º degrau do platô avistado e depois, por uma precária estradinha pedregosa, chegamos ao vale parcialmetne descampado. Pra não contornar o dito cujo pela esquerda e tomar a crista ao sul, resolvemos atravessar o vale diretamente (sudoeste) e ganhar a mesma crista de serra, assim compensando o tempo perdido c/ o nevoeiro, agora totalmente dissipado.  Ao atravessar uma cerca aparece a 1ª alma viva q vimos ali, Seu Nivaldo, q nos avisou q não era permitido passar por essas terras sem autorização, q devia ser obtida em Bom Retiro(!?) “E agora, como q a gente faz, já q tamo aqui?”, perguntei p/ ele. “Agora passa, né? Já ta aqui mesmo!”, responde o tiozinho de rosto-cor-de-rosa e desdentado, c/ sotaque sulista inconfundível. Assim, passamos mais um descampado, descemos uma matinha ate finalmente alcançar o fundo plano do vale, cortado pelo cristalino Rio Campo Novo do Sul, q corre p/ oeste em meio a muitas cachus e poços bastante convidativos, mas terrivelmente gelados. Neste local bucolico lanchamos, as 12:30, c/ um pouco de sol nos agraciando!!

Retomamos a pernada contornando o restante de mata do fundo do vale e, sob olhar curioso de alguns cavalinhos, ganhamos altitude atraves de uma língua de pasto q nos dá aceso aos morros sgtes, numa subida árdua e vigorosa q nos toma um tempinho razoável. Ao chegar no alto da crista, o forte e frio vento nos obriga a vestir anorakes, mas a vista do mesmo vale sob outra perspectiva é um grato presente. Dali agora basta seguir p/ sudoeste livremente pelos descampados do alto da serra, sem muita variação de altitude, ladeamos o verdadeiro Morro da Boa Vista (pto mais alto de SC) pela esquerda e atingimos novo selado, de onde vemos a crista se estender inconfundivelmente p/ sul e depois p/ sudoeste novamente.

Passamos por 2 riachinhos  nos vértices de mini-cânions consecutivos, p/ continuar pelas encostas de capim (mesma curva de nível) dos 2 altos morros sgtes, s/ perder altitude porem apreciando outro belo vale q se descortina  à nossa esquerda (norte). Assim, chegamos ate outro enorme descampado de capim esponjoso, q parece atrasar nosso avanço segurando nossas botas, mas nosso destino é claro: o morrao inconfundivel q o limita o platô à sudoeste, ainda na crista. Chegando ao pé do dito cujo, pausa p/ descanso pq a subida agora é árdua e íngreme, mas c/ vários pit-stops durante o trajeto vamos ganhando altitude aos poucos. Nossa ideia era avançar o maximo possível, mas ai o tempo virou subitamente: um grosso nevoeiro tomou conta de td, e p/ piorar veio seguido de uma pancada de chuva fria, muito fria. Mesmo vestindo capas apropriadas, o forte vento aumentava a sensação térmica de frio e não tardou pra não sentirmos as mãos, o q nos obrigou a nos mexermos e aquecer rapidamente. Sem visibilidade alguma justamente no alto do morro, nossa intuição nos obrigou a seguir p/ sul, descendo o dito cujo pro outro lado ate o suposto descampado sgte.

Antes, porem, tivemos q cruzar uma mata nos valendo dos sulcos em meio a brejos na mata nebular, q foi transposto sem mta dificuldade.

Já no descampado, porem visivelmente cansados e s/ condições p/ continuar, nossa prioridade foi a de buscar um lugar decente p/ acampar, de preferência perto da mata de forma a não ficar mto exposto as rajadas súbitas de vento. Contudo, custou a encontrar local decente pq boa parte do pasto disponivel tava encharcado, úmido ou c/ brejo. As 17:15 novamente garoava mas já estávamos devidamente instalados; o local não era dos melhores, mas quebrava o galho principalemente por estar perto de um córrego. E de nossas tocas não saimos mais, ficamos avaliando estragos, secando as coisas e, claro, jantamos! Não demorou p/ cairmos no sono e não arredar pé de nossos acolhedores sacos-de-dormir, mesmo com o vento acoitando a barraca, trepidando td sua armação. De madrugada acordei com uma forte chuva q caiu, e minha preocupação não foram nem as poucas goteiras dentro da barraca (pra isso dormi com um enorme plástico em cima!) mas sim c/ a possibilidade de empoçar o chão da barraca mesmo, tendo em vista o local onde haviamos ficado, ligeiramente inclinado. Por sorte, so empoçou nos meus pés e, com saco-de-dormir úmido apenas na parte inferior, dormi o resto da noite despreocupado. E imagino q o casal G&M tb..

Chuva, frio e perrrengue.


O domingo amanheceu ainda nublado, porem com visibilidade e constatamos q não pernoitamos num descampado sgte (q supúnhamos) e sim num degrau de pasto da encosta de morro. A nossa frente ainda havia um enorme vale q deveríamos contornar pela crista da serra, q continuava à nossa esquerda, isto é, à sudoeste. Dessa forma, retomamos a pernada as 8:30 descendo a encosta do morro atraves do mato q se interpunha a nossa frente sem mta dificuldade e empouco tempo chegamos no fundo do vale, q pela carta era de um afluente do gde Rio Canoas. Na verdade, eu preferia nem ter descido e teria me mantido na crista, apenas contornando a mesma p/ chegar do outro lado, uma vez q a carta indicava seguir rumo sudoeste, sempre; mas o Guto tava resoluto em seguir ao pé-da-letra um roteiro q já havia se mostrado furado (e desatualizado), sendo q nessas regiões a navegação é puramente visual e intuitiva, enqto o tempo permitisse, claro! Dito e feito, no fundo do vale seguimos as instruções e o suposto caminho levava noutra direção (oeste?), o q nos obrigou a retornar e subir p/ outro lado do vale por uma precária estradinha de terra q havíamos visto (e ignorado, a principio).


Subimos vagarosamete (arfando bastante!) ate atingir o alto da serra novamente apenas p/ constatar q o tempo de fato não estava do nosso lado. Novamente um nevoeiro tomou conta de td impedindo td e qq visibilidade ao nosso redor, e mto menos de q rumo tomar. E agora? Em tese, deveríamos nos manter na crista e seguir p/ sudoeste rumo o asfalto na Serra do Corvo Branco, avaliando os melhores acesos atraves dos próximos morros, evitando maiores vara-matos ou gdes desniveis; entretanto, como era nosso ultimo dia e devíamos retornar impreterivelmente p/ sampa, declinamos deste ultimo trecho de crista (na base de “achismos” incertos) e optamos por nos manter na segurança da estradinha em q estavamos, q descia pro sul e certamente daria nalguma estrada ou povoado.


E ai começou uma caminhada por estrada interminável, subindo e descendo suavemente, bordejando encostas de morros e mais morros em meio a muito nevoeiro, impedindo qq visual ao nosso redor e mto menos da onde ela nos levava. A única certeza era a vegetação q nos rodeava, q ora se mostrava densa e exuberante, ora se mostrava escassa limitada a meras pastagens. No caminho, muitos boizinhos e ate uma família de quatis serviram pra tirar o tédio e monotonia daquele trecho q parecia não ter fim. As 11hrs chegamos num local chamado Campo dos Padres, onde havia uma pequena fazendinha e cujo descobfiado dono nos deu infos imprecisas de qto faltava p/ vilarejo proximo (16km?). Bem de qq maneira bastava continuar na estrada.. Fizemos um breve lanche e continuamos a pernada, pra logo depois começar a chover novamente. Não bastasse estarmos imundos e molhados, a chuva vinha acompanhada de vento, aumentando a friaca daquele perrengue de final de travessia. E assim continuamos por horas e horas, andando numa estrada q parecia não dar em lugar algum.

Francamente, tava c/ o saco na lua e não via hora de chegar nalgum local decente p/ comer e descansar, mas nada, e qdo a chuva parecia dar uma breve trégua, ela retornava logo a seguir, redobrada.. Ninguém merece!

Por volta das 16hrs cruzamos com 2 legitimos gaúchos (trajados a caráter) tocando uma boiada q nos deram infos q não eram mto diferente das q tínhamos, mas q eram consensuais em dizer a inda faltava muuito p/ Urubici, nosso destino. Bem, pelo menos agora aparentava ter mais civilização, o q se mostrava tb na presença de cercas e algumas fazendinhas visíveis. A esta altura a chuva parecia parar permitindo um visu de onde estávamos, na verdade, descíamos a serra rumo  ao Vale do Rio dos Bugres, um local muito bonito, com visual alpino e repleto de montanhas forradas de araucárias! Ao chegar no fundo do vale, conseguimos 2 caronas seguidas num trator(!?) o q abreviou bastante nosso cansaço, mas ainda assim faltava bastante ainda; por aqui parece q td dista 4 km, pois essa era a resposta comum recebida de todos, independentemente de onde se esteja..vai entender.. Fazendo uso do ultimo pingo de folego q nos restava (andamos quase 25km naquele dia!), conseguimos carona à força pro ultimo interminavel km restante c/ um tiozinho q nos deixou na rodoviaria de Urubici, as 18hrs, q não passa de um estabelecimento adaptado. La trocamos de roupa e eu mandei ver uma cerveja p/ aliviar a dor dos meus calcanhares esfolados e em carne viva  por conta da areia (e lama) entre a meia e a bota. As 18:40 tomamos o bus p/ Floripa, e mal chegando la pegamos o busao p/ Curitiba, as 23:15, onde no dia sgte fizemos a baldeação imediata p/ Sampa, as 6hrs. Chegamos na Terra da Garoa quase meio-dia de segunda.

Desta forma, mesmo com os imprevistos e mudanças repentinas de planos deste ultimo trecho, há sempre de se contar com o bom (ou mau) humor do tempo p/ saber tomar decisoes q podem ser fundamentais e necessarias na hora certa. Faz parte. Mesmo assim, no nosso caso, isso não alterou muito nossa expectativa em relação aquela região êrma, desolada e menos conhecida da Serra Geral, q pelo constatado ainda tem opções interessantes pelas escarpas à oeste. Enfim, peregrinar descompromissadamente por estas gargantas de pedra sempre vai nos surpreender a cada visita feita, seja em qual trecho for, inicio ou final. Basta meter as caras c/ uma carta e disposição de sobra, q sempre há de surgir um novo roteiro "quente" de 4 dias em pleno inverno por estes rincões do sul.

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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