Travessia Alpha-Crucis, dia 3

0

30 de Junho de 2012, sábado 5h – O ventou soprou forte a noite toda. Talvez o barulho que fazia, tivesse acobertado os gemidos de dor do Jurandir. Ou talvez a dor tivesse passado. Em meio a estas hipóteses, ainda havia um medo maior que era melhor nem cogitar. Na tenda de bivaque, condensou água de ambos os lados, e cada vez que dava uma rajada de vento, sacudia toda ela em cima de mim. Estava com a boca seca, e muita sede. Decidi tirar proveito de situação, lambendo a lona. O resultado do procedimento acabou superando as expectativas. Ao ver que até a vegetação estava completamente seca, conclui que pelo menos pra alguma coisa serviu aquela tenda, alem de me molhar a noite toda.

Escuto o Sexta se mexer em seu mocó. O bicho responde de imediato quando chamo. Tento o Jurandir, também responde – Aleluia – Ao menos está vivo. E a dor? Perguntei. Passou! Respondeu. Mal podia acreditar. A esperança renascia das cinzas. O animo estava tão aflorado, que convoco os amigos a arrumar tudo e partir, o que é bem aceito de imediato. Pulamos e iniciamos a desmontagem do bivaque, ainda noite. As 6h, uma tímida claridade desponta no leste, quando três fachos de luz rasgam a escuridão descendo as encostas do Ferraria rumo ao Taipabuçu.
Aos poucos a luz dum novo e prospero dia inundam a selva, até por fim superar as luzes das lanternas. Em uma hora chegamos ao fundo do vale, junto com o sol e o céu azul. Como parte da rotina em fundos de vales e cumes, nova marcação Acrux é fixada num tronco saudável. Agora era subir a encosta ingrata e objetiva de Taipabuçu, torcendo para que houvesse água no córrego no meio do caminho.
No bambuzal medonho, onde normalmente só passa rastejando, tivemos a felicidade de passar sem enroscar em nada, fazendo com que valesse a pena o árduo trabalho de muitas horas que tivemos alguns meses antes, quando passamos ali fazendo pela primeira vez a travessia Terra Boa / Bairro alto via Crista dos 500 anos. Apenas num ponto os bambus ameaçavam cair no rasgo de 2 metros que abrimos. Comuniquei aos amigos que seguissem, enquanto sacava a ferramenta pra resolver o problema.
Continuando, em pouco tempo chegamos ao córrego. Corria pouca água, mas corria. Decidimos que ali seria o local do nosso café da manhã. Muito suco, salgadinho, bolacha, e barra de cereal. Exigi desta vez, ver as garrafas cheias antes de partir, pois água novamente, somente no A1. Seguimos rumo ao cume, agora com as baterias recarregadas.
A trilha se apresentava seca, e muito agradável de trafegar. Em pouco tempo chegamos ao mirante do terceiro cume, e sem perda de tempo, fomos pro segundo, que é o mais alto. Às 8:30 lagarteávamos no cume, enquanto registrávamos no livro a nossa passagem. A 4ª montanha da travessia estava conquistada.

Pico Paraná visto do Taipabuçu

Partimos rumo ao badalado Caratuva, pela trilha clássica. Marcamos o fundo do vale e seguimos firmes. Num determinado ponto, perdemos a trilha, mas encontramos logo em seguida. Rapidamente emergimos da mata para escalar as pedras. Quando isto acontece, é porque o cume está muito próximo. De certa forma foi prazeroso chegar num lugar turístico como o Caratuva, pois nos fez esquecer por um momento tudo o que tinha pela frente ainda. Mas estava tudo silencioso por lá. Havia uma barraca no camping abaixo do cume. Estava com a porta aberta, e numa rápida olhada, vi que uma japonesa cara de bolacha e seu namorado loiro dormiam profundamente sob o sol das 10:30h. Na outra área de camping, pouco abaixo, outro sujeito também em coma, embrulhado num saco de dormir cor de rosa. Logicamente que o Sexta não perdeu a oportunidade pra fazer piada.
Já o cume, estava vazio e ausente de vento, e tudo que se ouvia era o zumbido de moscas de tempos em tempos. Fizemos o registro da 5ª montanha no livro de cume, mas havia algo que começava me incomodar. As vezes, encontrar a ponta do papel contact pra destacar o adesivo, se tornava uma missão quase impossível, e extremamente irritante. Saber quantas vezes ainda teria que fazer aquilo, me traumatizava.
Mas assustador mesmo, foi ver o Ciririca ao longe, o Morro do Sete muito mais, o Marumbi inalcançável, e o Morro do Canal… Bom, melhor nem pensar nele agora. É tanto mato e tanto morro, que não sei se eu mato ou se eu morro. O melhor mesmo era tentar acabar o quanto antes com isso, e a melhor forma, era se mandar dali. Lá se fomos rumo ao 1º abrigo (A1) do Pico Paraná.

Cume do Caratuva

Seguimos pela quase invisível trilha clássica, usada na conquista. Vinte minutos descendo, chega num ponto, onde alguns farofeiros incompetentes que se aventuram por ali, passam reto num caminho de água, e acabam tendo de descer na marra pelo acidentado rio até encontrar a trilha, bem antes do A1. Isso acaba reforçando o rasto no caminho errado, e então temos que ficar muito atentos no momento em que o traçado correto fica quase invisível, e deriva pra esquerda. Isso sempre gera confusão e perda de tempo, mas também, sempre se resolve em alguns minutos de atenção redobrada. Depois deste ponto, sem mais problemas.

Rumo ao Pico Paraná

Pouco antes de sair no descampado, Jurandir que vem logo atrás me pergunta se fui eu quem perdeu o dinheiro. Achei que ele devia estar de brincadeira. Mas ele insiste, então paro pra saber o que se passa. Ele olha pra mim e pergunta:
– Você deixou cair R$107,00?
– Eu não! Está louco? Não tenho toda essa grana nem no banco!
– É que achei isso caído na trilha! Não é teu mesmo?
Ele queria por toda lei que eu dissesse que perdi aquilo. Mas a verdade, é que o cara simplesmente achou uma nota de R$100, uma de R$5,00, e uma de R$2,00, no lugar mais absurdo e improvável desse mundo, e pior, eu havia passado por cima e não havia visto. Que situação mais inusitada aquela. Rimos atoa da nossa boa sorte. Realmente alguém lá em cima parecia blindar nossa travessia. Tiramos até fotos com a fortuna nas mãos. Durante a festa, Jurandir se compromete em patrocinar o rodízio de pizza pra comemorar o sucesso da Alpha Crucis.

Encontrando R$107,00 no meio do nada

Deslumbrados com o visual, e o achado, seguimos animados pelos campos, e o assunto virou a atração principal das horas seguintes, e seria lembrado diversas vezes durante toda a travessia. Jurandir então nos conta outras historias da sua boa sorte. Disse que sempre acha dinheiro na rua, e nunca menos de R$50,00. Conta também que nem sempre foi assim. A boa sorte foi adquirida a partir duma certa vez que andava na rua num dia ensolarado, e que observava alguns pontos negros no céu, voando em círculos, e muito alto. Inesperadamente, é atingido no ombro por algo pastoso, pegajoso, e extremamente nojento e fedido. Xingou aos céus por aqueles urubus terem cagado nele, sem imaginar a boa sorte que isso lhe traria. A partir dali, passei a olhar com outros olhos as pessoas que se dizem cagadas de urubu. Mas abaixo, tivemos visual pro A1. Havia uma pessoa lá, estática. Não se mexeu durante todo o tempo que tivemos visão. Seria o dono do dinheiro esperando pra nos cobrar?

Crista dos 500 anos do Ferraria

Adentramos a matinha nebular, e pouco antes de chegar ao carreirão pro Pico Paraná, decidimos parar para mocar as mochilas antes de empreender o ataque as montanhas do conjunto, pois afinal se teríamos que passar ali na volta, não havia por que carregar todo aquele material pra cima. Preparamos apenas uma única mochila com tudo que precisaríamos, a qual eu levaria. Todas as demais tranqueiras ficariam escondidas ali no mato, inclusive toda nossa comida.
Na mochila foi apenas algumas barrinhas de cereal, minha garrafa de 1 litro de água, câmera fotográfica, lanterna, GPS, e material de marcação da travessia. Aproveitamos também que era meio dia, para fazer uma boa refeição, pois íamos voltar ali somente a noite, provavelmente. Enquanto comíamos ali no meio do mato, ouvimos passos e vozes de muitas pessoas que passavam na trilha do PP, vinte metros abaixo donde estávamos.

Foto clássica do Pico Paraná

Por volta de 12:45h, seguimos rumo ao Pico Paraná. Cumprir todos os objetivos no conjunto não ia ser tarefa simples, afinal só ali, seriam quatro cumes. Ao chegar à sela, fitamos o fundo de vale. Sem duvida ali seria a marcação onde mais pessoas passariam, e sendo assim, não podíamos esperar que tivesse uma vida muito longa. Logo a frente, ultrapassamos as pessoas que ouvimos passando pelo A1. No A2, barracas armadas e mais gente. Sexta vem lá atrás, mas Jurandir dispara na frente. Do falso cume, o vejo no cume, e às 14h, chego lá também. Fixamos o adesivo e escrevemos o relato, meio a outras pessoas espalhadas pelo cume. Logo chega o Sexta, e sem muita demora, partimos pro Tupipiá.

Pico Paraná – 1877m

A precária trilha já começa tensa: Na latrina do Pico Paraná! Mas o que vem a seguir, nos faz sentir saudades da privada. A inclinação média é de 60º, em alguns pontos, mais. O único apoio são as macegas, que nem sempre são confiáveis, e que ficam menos ainda cada vez que alguém passa. Quanto ao visual, é de tirar o fôlego, assim como fará a escalada de retorno, literalmente.
No precipício de quase dois mil metros de desnível que se finda na planície litorânea, pudemos observar cenas interessantes. Uma delas, o trajeto completo da Face Leste do Pico Paraná, que descemos em setembro de 2003 e 2004, que desemboca na antena da Copel, localizada na cota 800m do que chamávamos na época de Morro da Antena, recentemente batizado de Jacutinga. De lá, um charmoso calçamento ladeado por grama leva até a Usina Parigot de Souza, próximo da cota zero.
Outra coisa que chamou a atenção, foi um distante objeto retangular, brilhante, metálico. Estava numa colina, relativamente distante da usina. Nas duas vezes que desci a face leste, já tinha me deparado com tal visão. Trata-se duma terceira placa, idêntica as duas instaladas no Ciririca. Há meses atrás, havia comentado com o Jurandir sobre sua existência, e quando ele viu, impressionado disse: “Mas não é que ela existe mesmo!”. Usei o máximo de zoom da câmera pra capturá-la o mais aproximado possível. Após muita pirambeira brava, finalmente chegamos num mirante plano pendurado na encosta. Ali fizemos planos de encontrar o caminho para aquela que chamamos de: “A 3ª placa do Ciririca”. Decidimos também por um marco da travessia nesse descanso, e deixar por ali a mochila antes de finalizar a subida do Tupipiá.

Colo entre Pico Paraná e Tupipiá

Durante esse tempo, o Jurandir olha pro fundo da minha mochila e comenta sobre a capa que acompanhava ela. Disse que nunca me viu usando. Não tinha a menor idéia do que ele estava falando. Então ele abre um compartimento de velcro, e como um mágico que tira o coelho da cartola, puxa aquela capa da mochila novinha em folha, cheirando nova. Ainda pasmo, não podia acreditar que a mochila já estraçalhada por 5 anos de uso, estava a ponto de ir pro lixo, e eu não tinha visto aquilo. Quanta e quantas vezes, passei raiva por entrar água, e aquela capa ali, zombando da minha cara. Enquanto tentava entender isso, os amigos queriam se jogar da parede sul do Pico Paraná, de tanto rir. Quando finalmente pararam, seguimos descendo, e logo chegamos ao divisor de águas as duas montanhas. Logo que começamos subir, noto que esqueci o GPS, e pergunto pro Jurandir que vinha atrás se podia ir pegá-lo. Sempre com boa vontade, atendeu meu pedido e logo estava de volta. Apesar de ser a quinta vez que estava ali, das outras que vim nem existia GPS, e portanto, não tinha o registro da trilha, e essa era a oportunidade.
Em poucos minutos chegamos aos campos, repletos de bromélias espinhentas, semelhantes a planta do abacaxi, só que sem a fruta. Ainda tinha que cruzar uma macega pra ir até a pedra onde instalei o tubo do livro de registro em 1997, quando fiz a travessia Pico Paraná/Graciosa pela primeira vez. Chegando lá, encontramos um novo caderno com a foto do Inri Cristo na capa (?). Junto dele, a tal surpresa que o pessoal dos “Cachorrões da Serra” haviam deixado. Era uma POWERBAR, a qual devoramos com o Jurandir, causando revolta no Sexta, que chegou atrasado. Jogou até praga na gente, dizendo que torcia pra que estivesse envenenada, e que se não nos matasse, pelo menos causasse um revertério, por não ter dividido com ele. Riamos a toa de tudo. Após o rotineiro registro de passagem, vazamos daquele lugar gelado e já tomado pela sombra.
De volta na mochila, usamos a água pra preparar um isotônico, e comemos barrainhas de cereais (pra variar). Estar cientes da encosta que tinha a subir nos causava desanimo e preguiça, então nos estendemos ao máximo por ali. Mas como isso não ia resolver o problema, decidimos romper montanha acima. O cansaço já nos fazia companhia, e aquelas encostas íngremes pareciam não ter fim. Já bem altos, olhamos pra trás e vimos a sombra perfeita do PP na planície. A terceira placa, refletia os sol como um holofote. Ou seria um convite?
Muita subida depois, atingimos de volta à latrina. Que felicidade estar ali. O sol que já estava baixo, ainda batia no topo, e enquanto tomava fôlego, troquei idéia com o pessoal que estava acampado por lá. Bateu até um desanimo em saber que tinha que descer pro União, e depois pro Ibitirati. Mas como diz o capitão Nascimento, missão dada, é missão cumprida, e não se fala mais nisso. O Sexta não quis enfrentar o abacaxi, alegando que como não ia terminar a travessia mesmo, não tinha porque cumprir metas.

Por do sol visto do União

A noite chegava, e quando perguntei pro Jurandir se havia trazido a lanterna, a resposta foi negativa. Pretende fazer tudo isso que falta e ainda voltar até o A1 no escuro? Perguntei ao vagalume. Antes que ele tivesse tempo de responder, o Sexta se propôs em emprestar a sua.
Quase no por do sol, às 17:30, despencamos ladeira abaixo rumo ao União. Ainda com claridade, chegamos lá. Fizemos a identificação em caratuvas devido a ausência de algo mais sólido e proeminente. Sem perder tempo, seguimos pro Ibitirati. Conseguimos chegar ao topo sem lanternas, às 18:30h, mas já bem escuro. Mesmo procedimento de marcação anterior, e após breve pausa, sacamos as lanternas e retornamos. Logo no inicio da descida, perdemos a trilha e enveredamos pro abismo. Opa… Aqui a encrenca é feia! Digo pro Jurandir. Corrigimos o curso e voltamos pra senda correta. De volta ao União, fotografei a identificação, pois havia esquecido ao colocar.
Finalmente encaramos a encosta empinada pra chegar novamente ao Pico Paraná, que foi às 19:30. Que alegria saber que estava feito, e que agora seria apenas descida até a sela, por trilha super batida. Dali já não havia mais pressa, e então um merecido descanso pra curtir a noite estrelada. Todos que estavam no cume já haviam se recolhido, e aquilo estava uma paz só. Tudo que se via era as luzes de Curitiba ao longe, e lanternas piscando dos cumes em volta. Não resisti em entrar na festa. Saquei o famoso “fura zóio”. Um laser verde 200mW que sempre carrego como sinalizador de emergência, mas que normalmente vai junto, é pra fazer bagunça mesmo. O raio daquilo ultrapassa 8km, e linha é tão visível e “sólida”, que a impressão que da, é que é possível fazer uma tirolesa nela. Alvorocei todo mundo pelos cumes do Caratuva, Itapiroca, Tucum, e outros.

De volta ao Pico Paraná

Às 20h, decidimos baixar, pois ainda tinha chão até esse dia acabar. Sorte que era uma descida tranqüila e por terreno dominado. Coisa rara nessa travessia. No A2, a festa estava bombando. De longe já ouvíamos a algazarra. Chegando lá, Jurandir vai pegar água na bica enquanto converso com a galera. Perguntam se éramos amigos do Cesar. Ao confirmar, me informam que ele partiu a cerca de 30 minutos pro A1. O cara era conhecido dele, e o reconheceu depois de longa data sem se ver. O Sexta por sua vez, chegou até lembrar que estava com um livro de xadrez do cara, e que nunca mais devolveu por ter perdido o contato. Jurandir volta com a água e seguimos viagem.
Na crista de ligação, a subida até o A1 só foi suportável porque havia uma brisa deliciosa, e a mato estava seco. Pisamos no acampamento às 21:30h. Havia apenas uma barraca e silencio era total. Encontramos o Sexta cozinhando onde mocamos as coisas. Nos esperava com uma deliciosa sopa de macarrão, na temperatura perfeita pra degustação. Preparo um suco pra acompanhar. Apesar de todos estarem bem cansados, num dia sem trégua, decidimos que o melhor a fazer apesar disso, era seguir até o Itapiroca, cumprindo a meta do dia. Até porque é sempre bom começar um novo dia num cume, pois motiva.
Quando vou pegar as coisas onde deixei escondido, noto uma espécie e papel picado embaixo da sacola de comida, mas nem dei importância para aquilo, já que parecia tudo certo. Havia deixado o saco de dormir que estava úmido, estendido pra secar. Funcionou. Enquanto terminava de guardar, sugeri aos amigos que fossem indo, e que nos encontraríamos no rio. Minutos depois sigo no encalço.
No rio aproveitamos pra nos lavar um pouco e reabastecer com água. Seguimos lentamente e sem pressa alguma pro Itapiroca, onde chegamos por volta de meia noite. Perto da pedra do acampamento, um tripé armado. Decidi desviar pra não estragar a foto. Mas acontece que a lente estava virada por Caratuva, e não pro PP como imaginei. Então, ao fazer o desvio pro lado errado, dai sim estragamos a foto. Logo aparece o fotografo, que devia estar xingando mentalmente a gente.
Surpresa mesmo foi constatar que o cara era o Hilton Benke, camarada manjado, grande amigo. É sempre bom encontrar gente de casa nas montanhas. Estava acampado com uma piazada, que já estavam dormindo. Ficamos falando alto ali, do lado de outra barraca, sem nos importar muito com o importunismo. Perguntei se viu o facho do “fura zóio”, e esse caiu na gargalhada, dizendo que não viu, mas aqueles que estavam ali na barraca viram, e ficaram impressionados com forte luz verde que atingiu a acampamento, iluminando tudo. Claro que Hilton ficou doido pra por as mãos no brinquedinho. Até tentamos com suas pilhas, mas não foi. Coloquei as minhas, mas disse pra brincar pouco, pois havia a travessia toda pela frente, e aquela carga poderia fazer muita falta lá pra frente.
Bom, já estava tarde, e o dia foi desgastante. Já passava da hora de repousar. Havia espaço de sobra na área de acampamento, porem como é normal no Itapiroca, estava um charco só. Depois de tanto esforço, a gente merecia uma noite seca e agradável, e sendo assim, não nos contentamos com o lugar. Seguimos pra matinha na direção do cume, mas no carreiro, o lodo parecia dum chiqueiro. Me enfiei pela macega tentando achar uma entrada melhor. Os amigos caem na gargalha ao me ver quebrando quiçaça. – Não varou mato suficiente hoje ainda, Elcio? (risos) – Mas a ralação valeu à pena, e logo cheguei num lugar seco e aconchegante para bivaque, e as piadinhas acabaram.
Ali, cada um se arranjou da melhor forma, onde quis. Sexta dormiu em sua rede de selva, Jurandir embrulhado feito um sonho de valsa em seus plásticos, e eu, no relento simplesmente. Já era mais de 1h da manhã, e combinamos que sairíamos bem tarde no dia seguinte, lá por 8h da manha, pra compensar o dia exaustivo que tivemos….
Compartilhar

Sobre o autor

Elcio Douglas Ferreira é um dos maiores personagens do montanhismo paranaense. Experiente, frequenta nossas serras há mais de 35 anos, sendo responsável pela abertura de inúmeras trilhas e travessias. Foi um mentores da Travessia Alpha Crucis, considerada como a maior e mais difícil travessia entre montanhas no Brasil, que ele fez pela primeira vez em 2012. Possui experiência em alta montanha, já tendo escalado O Illimani na Bolívia e o Aconcágua na Argentina em poucos dias num esquema non stop impressionante.

Deixe seu comentário