O Salto do Apucaraninha

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Foi durante uma monótona e tediosa viagem pela PR-445, vulgo Rodovia Celso Garcia, q alguém no carro sugeriu um breve desvio. O tempo acizentado, porém quente, repousava sobre a horizontalidade do terceiro planalto norte parananese, qdo surgiu essa proposta tentadora de esticada prum atrativo natureba próximo dali, segundo a Claudia Melatti, mais conhecida como Cacau pelos amigos e q lecionara numa escola da região. E mais q em comum acordo – ainda mais pelo fato da maioria dos presentes no veiculo desconhecer tal atrativo – foi q então topamos essa parada q revelou-se uma mais q grata surpresa de percurso. Era um tal de Salto do Apucaraninha.

Deixamos então a PR-445 na altura do km 55 pra adentrar no distrito de Lerroville, próximo a divisa com município de Tamarana. Placas indicativas estão presentes em td trajeto, não tem erro. Lerroville, por sua vez, é uma minúscula cidadezinha de faroeste onde não se via nenhuma vivalma, e td sua simplória arquitetura se limita a pequenos estabelecimentos repousando na horizontalidade daquela região q nasceu basicamente da agricultura do café. Atravessado o pacato distrito de cabo a rabo basta acompanhar o emplacamento apontando como ”Usina Hidreletrica Apucaraninha”.
 
E assim o asfalto finalmente dá lugar a uma precária e empoeirada estrada de chão pelos 25kms sgtes, que rasga a horizontalidade abaulada daquela zona agrícola basicamente permeada de cultivo sazonal de trigo, soja e café. Mas sem nenhum esforço, é possível identificar algumas elevações maiores destoando daquela enorme planície ressequida, como a Serra do Arreio e dos Agudos, ao sul, assim como a Serra do Cadeado, a sudoeste. O resto da trupe, eu, Lau, Greici e o motora Marcio trocamos algumas impressões mas a monotonia da estrada se encarrega apenas de silenciar qq comentário. Imaginamos alguém viver naquele fim de mundo, sem sinal algum de casa ou transporte publico regular. Eu, pra variar, adormeco naquele cenário entediante, q basicamente toma rumo leste, indefinidamente.
 
Aos poucos, os tons dourados do campo vão lentamente se tomando uma coloração mais vivida, de tonalidade esverdeada. Sinal da aproximidade dalgum gde curso dagua. Ao longe é possível observar uma enorme fenda rochosa separando os campos dourados percorridos. Era o majestuoso Rio Tibaji. Mas subitamente o planalto termina e a estrada quase que se debruca num enorme abismo. São 14hrs. É hora de parar.
 
Estacionamos no acostamento gramado, rente uma cerca da Copel  – Cia Parananse de Energia – por sinal pretensa dona daquelas terras. A estrada continua, serra abaixo, ate dar na Usina Apucaraninha. Mais adiante, coisa de 2km, esta a Reserva Indigena Apucarana de etnia Kaigang, donos legítimos da região q recebem atualmente indenização da Copel pela construção da usina  em suas terras e cujo impacto ambiental foi fruto de mtos conflitos recentes, alguns bem tensos.
 
Uma pequena ponte de concreto passa sobre o Rio Apucaraninha, ali afunilado por uma pequena barragem q o represa num enorme lago antes de se despejar canion abaixo numa queda de gde imponência, q já já comento. Inumeras placas proibindo td qto é coisa estão espalhados pelo local.. proibindo nadar, proibindo acampar, proibindo isso, proibindo aquilo e blábláblá, sempre sujeito as infracoes cabíveis por lei, claro. Logo após a ponte há um pequeno alambrado q da acesso a um minúsculo mirante, de onde é possível avistar td imponência da queda do Rio Apucaraninha no salto do qual toma emprestado seu nome e onde o rugido de suas aguas se faz cada vez mais alto. São exatos 116m de queda livre onde as aguas de 50m de largura do Apucaraninha despencam num enorme lago, pra depois singrarem sinuosamente o canion cavado pelo caudaloso rio pra finalmente desaguar no não menos majestuoso Rio Tibaji, 1km logo a frente.
 
Pausa pra fotos, muitas, claro. Busco me arriscar na beirada do mirante, após o parapeito pra tentar um ângulo mais privilegiado daquele salto incrivel, mas termino recebendo apenas uma bronca da Lau. O resto do povo fica empoleirado numa rocha, apenas curtindo o visual daquele belo espetáculo natureba. E após mais uma leva de fotos resolvemos nos mandar dali. Mas eis que perto do alambrado há um outro acesso que leva pro outro lado da cachu. 
 
Uma breve trilha mergulha em meio a trechos de brejo e alguns bambuzinhos  mais rebeldes, mas q terminam nos deixando nos escorregadios lajedos da margem esquerda do Rio Apucaraninha. Caminhando cuidadosamente é possível chegar na beirada queda, onde não há proteção, alambrado ou cerca alguma dando apoio, a diferença do mirante oficial. Pausa pra mais fotos, claro. Ver a queda deste ângulo tem um quê de Cachu do Tabuleiro, em Minas Gerais, q foi a primeira referencia q tive na hora. O cânion avermelhado acompando o rio é algo mais q parecido com a famosa queda mineira do Espinhaco. A única diferença é q daqui é possível avistar a Usina Apucaraninha, logo abaixo, o q a aproxima mais das cachus do Marumbi, como Salto do Ipiranga ou Rosario. Após muitas fotos e, principalmente, contemplacao nos pirulitamos dando continuidade a nossa trip rodoviária. Ainda tínhamos um tanto ate chegar no Cadeado mas ate ai pelo menos já havíamos nos deliciado com aquele gde, senão o maior, atrativo natureba de Londrina.
 
Em tempo, o acesso ao lugar é restrito não apenas por estar situado dentro de área da Copel, mas principalmente inserido dentro da reserva Kaigang. Mas a gente chegou lá de boa, sem autorização alguma da Funai. E pra quem pensa q o interior norte parananese não tem nada em termos trekkeiros, aqui tb existe a possibilidade de fazer um trajeto q desce o canion bordejando o Apucaraninha, ate dar nas margens do Tibaji em coisa de meio dia – q so não fizemos por falta de tempo mesmo –  assim como tb palmilhar uma secular trilha Kaigang q ainda esta em processo de ser consolidada. Bem, quem sabe isso fique pruma próxima ocasião. Mas por ora, esse simplório desvio de rota certamente já atiçou novas e vindouras explorações por esta pouco conhecida região do Terceiro Planalto Parananense.
 
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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