O parque Usina Três Bocas

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Parque Três Bocas é o nome pelo qual é popularmente conhecido o Pque Ecológico Municipal Doutor Daisaku Ikeda, situado a 13km de Londrina (norte do PR). Criado na virada do milênio, esta unidade de conservação localizada na instalação da antiga Usina Três Bocas e cujo nome oficial homenageia um líder budista é mais uma das gratas surpresas do terceiro planalto parananense. A margem do Ribeirão Três Bocas e ideal prum bate-volta descompromissado, este minúsculo e desconhecido parque urbano q guarda um pouco da história de Londrina é infelizmente mais uma das unidades de conservação q paga pelo descaso das autoridades locais.

Já se tornou hábito q cada vez q visito Londrina me informar de lugares naturebas próximos pra bisbilhotar de modo a otimizar minha estadia. Claro q minha principal fonte é a Lau, residente da “Pequena Londres” desde q se conhece por gente, q já me passou valiosas dicas como a Mata dos Godoy, Pq Arthur Tomas, Serra do Cadeado, Pico Agudo, Salto Apucaraninha, Cachus de Sapopema, entre outros atrativos próximos e totalmente desconhecidos fora do PR. Contudo, a Lau incrivelmente nunca havia pisado no Pque Usina Três Bocas, mesmo com a dita cuja distar apenas 13km da cidade. Motivo mais q suficiente pra q lá me acompanhasse sem pestanejar.

Dessa forma desembarcamos no Terminal Acapulco, um dos vários espalhados pela cidade, onde não deu coisa de 15min e tomamos o coletivo da linha 260, de inscrição inconfundível de “Usina Três Bocas”. Por desconhecer o trajeto deixamos o motora (eventualmente o cobrador) de sobreaviso do nos avisar a hora de desembarcar. E assim zarpamos pela horizontalidade cinza da cidade naquele dia de semana limpo, quente e seco. Não demorou pro latão tocar em linha reta pelo asfalto da Rod. João Alves da Rocha Loures (PR-218), sempre na direção sul. Da mesma forma q deixávamos a cidade, a paisagem emoldurada pela janela do coletivo passou a exibir o verde ao invés do cinza. Plantações e fazendas assinalavam os domínios da zona rural londrinense, onde o único destaque do caminho foi a passagem por um presídio. E por falar nele, é após ele q já deve se prestar atenção a hora de desembarcar.

Saltamos então no asfalto pontualmente às 13hrs no pto de ônibus situado bem à frente a unidade de conservação, onde um belo portal com os dizeres “Pque Ecológico Doutor Daisaku Ikeda” nos recebia, enqto o busão seguia seu rumo em direção ao distrito de Maravilha, ao sul. Por ser dia de semana imediatamente percebemos q estávamos sozinhos e q o pque era praticamente nosso. Logo de cara está a administração, onde não havia sinais de vivalma. A única exceção foi a presença dum guardinha, q por sinal estava em horário supostamente de almoço.

Pequeno em tamanho se considerar sua área de apenas 51 alqueires, o pque é bem sinalizado e não apresenta maiores problemas de “navegação”. O único porém foram as vias de acesso aos atrativos, pois aparentemente tds caminhos concretados estavam tds largados ao “Deus dará”, já sendo tomados parcialmente pelo mato por falta de carpinagem. E mato alto, sinal de descaso. “E eu q pensava q não ia varar-mato desta vez..”, brinquei. Não era por menos, pois era só dar uns cinco passos em meio aquele capinzinho fino alto q o calçado (e a meia) se forraram de carrapichos e outros matinhos grudentos. Pena, descaso mesmo. No caso, do SEMA (Secr. de meio ambiente do Mun. de Londrina), órgão q não apenas administra o local como é responsável pelo projeto de revitalização da área, pelo monitoramento da fauna/flora e pelo desenvolvimento de programas de educação ambiental.

Logo adiante o caminho (aquele tomado pelo mato) bordeja mata nativa a nossa direita enqto a nossa esquerda cruzamos um rústico playground infantil com alguns quiosques desertos, q tirando o mato alto em volta devem se lotar de visitantes em piquenique nos finais de semana. “Poxa, uma área tão bonita pra lazer assim largada..”, lamentou a Lau. No caminho tb há algumas mudas de diversas espécies de ipê ornando as margens, assim como uma placa explicativa acompanhada dum busto metálico do oriental q nomina a unidade de conservação, o tal Dr. Daisaku Ikeda. Nascido no Japão em 1928, além de líder budista o tiozinho era filósofo, membro da ABL, poeta, educador e presidente da ONG Soka Gakkai Internacional, filiada à ONU.

Logo adiante tem o “Mirante”, uma estrutura metálica de porte médio e traços orientais q – através de  seis lances de escadas com 9 degraus cada – acede o topo com vista panorâmica privilegiada de td entorno: desde o sinuoso e manso Ribeirão Três Bocas sendo represado pela barragem de concreto do mesmo nome, até a furiosa queda de onde despenca da mesma, pra suas águas seguirem seu curso rio abaixo, indo de encontro ao centro de Londrina, ao norte.
Na sequência vem propriamente dita a barragem da usina, onde uma passarela metálica permite travessia até o outro lado do rio, onde terminam os limites do parque. Como já foi dito, o parque é mesmo de pequeno porte dentro dos seus 51 alqueires. Contudo, é o espaço necessário q preserva um pouco da história de Londrina, uma vez q a Usina Três Bocas foi a segunda hidrelétrica q abasteceu a cidade. Implantada em 1943 pela COPEL (Cia Paranaense de Energia Elétrica), serviu pra complementar a produção da Usina do Pque Arthur Thomas, a primeira de Londrina, pra terminar sendo desativada em 1983. E o q restou de suas enferrujadas instalações compõe atualmente o cenário do parque, q tem bela vista das águas do Ribeirão Três Bocas. Enfim, o parque se resume a isso. Eu avisei q o lugar era minúsculo. Mas pra não dizer q não teve pernada o lugar oferece uma trilha de exatos 1km q percorre vestígio remanescente da mata nativa do lugar, e sua entrada está bem na frente do playground infantil, antes do Mirante. É a “Trilha da Curimba”, um peixe abundante no Ribeirão Três Bocas. A picada ao menos é aparentemene mais roçada q o próprio calçamento do parque, ou pelo menos tem menos mato obstruindo o caminho. Começa percorrendo um simpático bosque (e seguindo rio acima) onde é possível sentir o cheiro agridoce dos frutos do arvoredo ao redor, dos quais só reconheci abundancia de goiaba (pra alegria da Lau) além duma espécie de “ciriguela” e outro q parecia uma versão reduzida duma maçã. Curiosos cupinzeiros aéreos ornam altos galhos da mata, cada vez mais baixa, ao chegar na metade do trajeto num lugar chamado de “Espaço Irerê”, um remanso com bela vista do Ribeirão Três Bocas.

A vereda prossegue dando uma meia-volta através dum caminho q acompanha paralelamente o anterior, o q resulta um circuito em forma de ferradura (ou “U”). A rota desta vez é mais aberta e com menos sombra, motivo q o sol martelou bravamente nossas cacholas nos deixando com saudades dos 500m iniciais da vereda. Contudo, a presença de vida neste pedaço aparentemente é maior q o anterior, além de mais florido. Isso se confirmou ao tropeçar com cascas de ovos eclodidos a beira da trilha, além de diversos pequenos habitantes da floresta, como calangos, galinhas d’água, garças. Qq semelhança das espécies daqui com as encontradas no Rio Tibagi e a Mata dos Godoy não será mera coincidência. A picada finalmente termina alguns metros perto da entrada, num agradável sombreado proporcionado por goiabeiras repletas do fruto.

Na saída conversamos rapidamente com o único guardinha q fazia a vigilância daquele exíguo espaço natureba. Simpático e prestativo, tb se queixava da falta de verbas da prefeitura por conta do gramado mal cuidado e outras coisas mais. Terceirizado, nunca havia pisado no interior da trilha com “receio de onça” e se limitava a ficar nos arredores da sede administrativa. Mas qdo aparecia alguém não perdia tempo em ter um dedo de prosa com visitantes, quiçá pra matar o tédio de permanecer ali sozinho durante a semana, já q nos fds o movimento era maior. Incrivelmente não sabia dar maiores informações (históricas ou técnicas) do próprio lugar em q trabalhava, sendo q uma das máximas conservacionistas diz q pra preservar é preciso conhecer. É, realmente a prefeitura não ta dando verba alguma pro meio ambiente em Londrina. Pena.

Fomos embora na sequência, após descansar a sombra dum dos vários quiosques e de remover o mato no calçado e na meia. Não ficamos nem duas horas naquela unidade de conservação e tivemos impressões tão ambivalentes diante daquele belo espaço natureba q guarda um pedaço da história de Londrina. Contentes pelo lugar ser mais uma boa opção de agradável passeio nos arredores da cidades. Mas lamentando o fato de q o eminente Doutor Daisaku Ikeda dificilmente teria emprestado seu nome prum local atualmente largado e cuja infra deixa a desejar, onde sequer tem uma vendinha pra descolar um simplório refri.
 

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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