A Trilha das Sete Quedas

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Situada ao sul de Sorocaba (100km de SP), a Cachu da Escadaria é mais um dos atrativos naturebas escondidos nos vales encravados no miolo da Serra de São Francisco. No caso, o vale do Ribeirão Cubatão. Situada na APA Votorantim e acessível pela picada popularmente conhecida como “Trilha das Sete Quedas”, a Cachu da Escadaria é um roteiro refrescante e cênico, ideal pra td família por ser tb breve e sussa, que pode ser emendado, se quiser, com outras quedas urbanóides próximas, como a Cachu da Chave e a Cascata Votocel. Programa de meio período perfeito prum dia quente de verão. Ou até de comecinho frio de outono.

Com a previsão horrível deste ultimo fds escancarando as boas-vindas do outono, resolvi me despedir do verão com a visitação duma ultima cachoeira. De preferência sussa, tranqüila e trilha breve. A eleita da vez foram umas quedas q ficaram pendentes da ultima vez q estivemos em Votorantim, vizinha de Sorocaba. Dessa forma eu, o Alê, a Carol e a espoleta Chiara zarpamos pro rolê sussa proposto. Saímos então relativamente cedo de Sampa e tomamos a Rod. Castelo Branco q por sinal estava bem transitável e sem a muvuca habitual.


Embalados na conversa, mal demos conta qdo chegamos em Votorantim, por volta das 8hrs. Cidadezinha organizada e q transpira ar interiorano, Votorantim nasceu orbitando a empresa q lhe empresta o nome,por sinal a maior produtora de cimento do pais. Bem sinalizada, não tivemos gde dificuldade em encontrar o rumo pra Cachoeira da Chave, nosso primeira parada, pois trocentas placas indicam a direção da mesma rumo o centro da cidade.


As 8:40 hrs estacionávamos num descampado situado as margens do Rio Sorocaba, mais precisamente um local situado no Bairro da Chave. A origem deste nome é bastante curiosa. No passado, a utilização do trem na nossa região era muito grande, principalmente pelos operários das indústrias que vinham de toda a região para aqui trabalhar. Os trens que vinham do bairro de Santa Helena, quando estavam carregados de minério, iam direto para Sorocaba. Quando o trem era de passageiros, a parada na estação era obrigatória. Para que os trens de carga não passassem pela estação, foi criado um desvio. Em horários determinados, um operário, com a utilização de uma alavanca, chamada de chave, mudava a posição dos trilhos de acordo com o programado. Dali a cachoeira herdou o nome do bairro, q por sua vez foi o local onde se originou o nome da cidade, uma vez q “Vuturaty” (em tupi) significa “cascata branca”.


Pois bem, ali ao lado do estacionamento há um gde lago q sugere ali ser balneário local em dias quentes e calorentos. Não é o caso. O dia amanhecera cinza e garoento, mas naquele momento pairavam ainda brumas no firmamento envoltas numa brisa fresca. Visivelmente é perceptível q ali fora uma antiga olaria dadas umas ruínas remanescentes. Dali basta tocar por uma picada bem batida q acompanha o rio entre alguns arbustos e em menos dum minuto desembocamos nos rochedos intermediários da tal Cachu da Chave, q de fato faz jus a “cascata branca” do nome da cidade., onde uma queda não vertical, mas inclinada em vários niveis faz suas águas borbulhantes despencarem furiosamente pelas pedras até se depositarem, mansas e calmas, no enorme lago ao lado do estacionamento. Imagino q num dia chuvoso esta cachu fique realmente bem impressionante, dado o volume e força de suas águas naquele instante, época de estiagem.


Após alguns cliques, continuamos na trilha q nos deixou a beira duma estradinha de terra a beira do q restou da ferrovia, tomada pelo alto capinzal. São observados vestígios antigos do q devia ser uma mini-barragem ou caixa d’água cimentada, igualmente engolida pela vegetação. Daqui bastou andar menos de 5min por este caminho  – sempre acompanhando o rio Sorocaba e com a elétrica Chiara fungando o caminho na dianteira – q chegamos na tal Cascata Votocel, q nada mais são umas belas corredeiras borbulhantes em meio a caldeirões e rochedos curiosos. Acredito q aqui fique um inferno de farofado em dias quentes, dada a semelhança do lugar com o “Complexo da Hidro”, no Vale do Rio Sororocaba.


Voltamos ao veiculo pelo mesmo caminho apenas pra encontrar um mutirão promovido por escoteiros da cidade em prol da Cachoeira, recolhendo lixo e plantando mudas no entorno. E não era pra menos, o único porém daquele belo balneário natureba era a gde quantidade de lixo, infelizmente. Dali então zarpamos pro próximo atrativo local, a Cachu da Escadaria, situada a quase 15km dali. Na verdade ela se situa em Brigadeiro Tobias, mas seu melhor acesso se dá por Votorantim, já na divisa com a supracitada cidade.


Tomamos então a Estrada Municipal Votorantim-Piratuba sentido Represa de Itupararanga (sul) e la fomos nos, guiados aí sempre pela boa sinalização. No entanto, a diferença da Cachu da Chave, a da Escadaria não tem emplacamento algum o q nos fez perguntar aqui e ali (há muitos bikers na região!) embora já fizesse uma vaga idéia de sua localização. Pois bem, após alguns perdidos abandonamos a via citada no inicio do parágrafo em prol duma precária estrada de terra, cuja referencia é uma placa escrito “Capela Nossa Senhora da Penha”. Uma vez nela é so seguir por ela um tanto rumo leste, acompanhando a linha de torres de alta tensão. Ao nos deparar numa cruzamento onde a linha intercepta outra linha de alta tensão, é preciso tocar pra esquerda, ou seja, norte. E tome mais um chão, sempre acompanhando a sinalização da histórica capela.


Pois bem, após comer muita poeira e sacolejar um tanto no veiculo, as 10:30hrs a estrada desemboca no q aparenta ser um pequeno estacionamento a sombra dum eucaliptal. Daqui já se avista a “Prainha da Represa Santa Helena”, cujas águas refletem o céu parcialmente nublado daquela manhã. Apesar da estrada seguir até a represa, o caminho daqui é a pé em virtude da precariedade da via q, erodida e repleta de enormes valas, só é recomendável transitar num possante veiculo tracionado.


Fomos andando então ate a margem da represa, constatando a brava estiagem q tem assolado Sampa como um todo. O nível da água estava baixíssimo e era possivel caminhar pelo leito seco da mesma, q alternava trechos duros e compactos, com outros enlameados e craquejantes. Marcas de fogueira e algumas boas clareiras indicam q aqui realmetne deve ser um ótimo lugar pra passar um fds acampado, embora o único problema seja água potável. Lógico q a água da represa é imprópria pro consumo por “n”  fatores (lixo, principalmente), mas acredito q o precioso liquido q escorre dos dois pequenos afluentes q abastecem a mesma já tenha qualidade melhor.


Dali fomos caminhando pela mureta da barragem, passamos pro outro lado e ali tomamos um dos vários caminhos bem batidos q acompanham o rio vale abaixo. Tendo o rio a nossa esquerda escondido na mata, porém bem audível, começamos descendo suavemente uma larga vereda pela encosta direita da montanha. Mas logo de cara é preciso atentar pruma trilha bem discreta q nasce da via principal, pela esquerda. Uma vez nela não tem erro, pois ela mergulha na mata arbustiva, atravessa largos lajedos coroados por belos exemplares de cactos – numa paisagem tipicamente de sertão! – e desemboca nos rochedos da primeira queda da picada. Um minúsculo laguinho recebe as águas da simpática cachuzinha inclinada, pra depois devolvê-las ao seu curso natural, vale abaixo.


Do rochedos a picada mergulha novamente em meio a voçorocas de samambaias, serpenteia arbustos  ressequidos e num piscar de olhos nos leva a um patamar logo abaixo, mais precisamente as margens da segunda gde queda. Aqui há uma pequena muretinha q represa o rio p/ depois despejá-lo através duma enorme laje de aclive considerável, mas com boa e porosa aderência q facilita a descida pela lateral. Da represinha tb nasce um cano de ferro (de captação) q acompanha o córrego, vale abaixo, onde é possível arriscar utilizá-lo como apoio ou “corda”, embora eu não recomende isso. Prefira ir pela lateral direita da pedra, com boas agarras e apoios, evitando os trechos úmidos. O Alê se impressionou com a vitalidade e energia da estabanada basset, q disparava na frente da trilha. “Caraca, aposto q essa ´doguinha´ tem mais quilometragem de trilha do q eu!”, brincou Alê. “Pior q tem mesmo!”, respondi.


Pois bem, uma vez na base da laje rochosa é preciso passar pro outro lado do córrego, pois a continuidade da trilha está na outra margem. Mas felizmente a estiagem deixou o riozinho raso, estreito e fácil de transpor, e assim ele é vencido chapinhando com água ate o calcanhar, embora a gente preferisse retirar o calçado pra manter os pés secos. Claro q a Chiara não queria se molhar, e com sua carinha de coitada conseguiu q naquela ridícula travessia fosse confortavelmente carregada no colo, folgada. Mas essa moleza não teve na volta, pois foi forçada a molhar suas minúsculas patinhas e parte da barriguinha. Aqui tb reparamos minúsculos peixes mortos a beira do curso d’água, confirmando a má qualidade da água.


Do outro lado, agora com o rio a nossa direita, a picada mergulha num curto trecho de mata pra emergir num belo mirante rochoso. O lugar é mto bonito pois alem de se situar ao lado do topo da terceira gde queda, revela uma maravilhosa vista do verdejante vale do Rio Cubatão se abrindo, descortinando a cidade de Sorocaba ao fundo, reluzindo seus tons alvos no horizonte. Cliques e cliques, claro. Dali a picada desce bem forte á base daquela queda, em meio a rochedos e picada estreita na encosta, q foi o único trecho q demandou escalaminhada moderada. Um alto degrau rochoso tb fez com q nossa trilheira canina fosse levada no colo (pela segunda e ultima vez), pra depois prosseguir seu curso em caráter independente, trilha abaixo. Neste trecho q tropeçamos com as únicas pessoas q vimos naquele domingo, no caso, uma família com crianças a tiracolo, sinal da facilidade do passeio.


Uma vez na base da queda nos deparamos com uma passarela concretada q nos levou a dita cuja. A cachu deve ter uns 20m verticais e suas águas se derramam em meio a rochedos pra depois tomarem seu curso sinuoso, em meio a mata, pras demais quedas rio abaixo. Após mais cliques da bela cascata, nossa pernada prossegue pela passarela concretada, q acompanha o rio pela sua margem esquerda e logo se torna a íngreme escadaria q nomina a cachu principal! Estávamos indo finalmente pra Cachu da Escadaria, cujo rugido já era bem audível durante a descida!


E assim, após descer os quase 190 degraus de cimento no meio duma florestinha da íngreme encosta, desembocamos ao sopé duma larga e gde queda de 30m verticais, a Cachu da Escadaria! Claro q não se compara as enormes quedas da Serra do Mar, mas seu porte é considerável tendo em vista q é uma queda de serra interiorana. Um banco cimentado divide o espaço entre as pedras da base, a margem dum pocinho bem raso e com algum lixo, infelizmente. Dizem q o banco e a escadaria foram construídas pelos primeiros proprietários do Grupo Votorantim pra q suas famílias pudessem desfrutar daquele belo lugar.


Logo abaixo tem uma última queda, menor q a anterior, q despeja as águas do Rio Cubatão num gde lago represado q reflete o céu opaco-claro daquele dia. Uma última barragem de pedra sinaliza o final da seqüência de quedas, pois dali em diante o ribeirão segue seu curso praticamente em nível, rumo sul. Da barragem tb é possível avistar um caminho batido de terra q vem de algum canto. Esse ai nada mais é o outro acesso a cachu , q vem pela Estrada Santa Maria (outra travessa da Est. Mun. Votorantim-Piratuba), pela Faz. Sta Maria, situada ao sopé do Vale do Rio Cubatão. É um acesso q já cai direto na parte baixa da queda. No entanto, pelo fato deste acesso distar quase 7km do atrativo, em meio a enfadonhas estradas de terra e pouca trilha, esta rota é bem mais recomendável a quem ta montado numa magrela.


Dessa forma, ao exato meio-dia temos nosso merecido pit-stop ao sopé da Cachu da Escadaria. Sentados nos rochedos e tendo como trilha sonora o estrondo da queda, nos brindamos com um merecido descanso e mastigamos um delicioso lanche, sob o olhar “pidão” da Chiara, q comia qq coisa q lhe dessem. Banho q é bom infelizmente não rolou por conta da temperatura fresca e clima pouco propicio pra tchibum. Donos absolutos dali, o único porém foi constatar a pouca preservação do lugar devido a abundância de lixo e, incrivelmente, ausência dum latão ou container pra recebê-lo. “O homem achou o caminho da lua, mas não achou o caminho do cesto de lixo!”, filosofei.

Retornamos pelo mesmo caminho, onde tentei identificar tds as quedas e só contabilizei seis! “Ué, ta faltando uma?!”, pensei, afinal a picada se chama “Trilha das Sete Quedas”, não? “Dane-se, deve ta escondida no mato ou me passou desapercebida!”, conclui. De td modo a volta foi mais rápida q a ida e pontualmente as 13:30hrs já estávamos no veiculo. Zarpamos dali na hora certa pois um negrume tomou conta do céu, q começou a mandar respingos de fina e fria garoa sob nossas cacholas. Antes de retornar pra Sampa passamos rapidamente na Represa de Itupararanga e tivemos algumas compras (de vinho e queijos) em São Roque, fechando assim um domingo outonal q começou pouco promissor. Sim, é com triste pesar q dou o adeus aos refrescantes banhos de cachus, típicos de verão. Mas ao mesmo tempo fico contente pq a estação dá as boas vindas á iminência de outra gde esperada temporada. A de montanha.

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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