Anabolizando a Ferradura da Fumaça

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Estes dias de calor infernal retornei prum local q andava ausente faz tempo, Paranapiacaba, já tendo em mente o roteiro ideal: a“Ferradura da Fumaca”! Tb conhecida por “Trilha do Lamaçal” ou “Das Sete Quedas”, esse rolê particularmente considero como a “Peterê” local pelos altos visus q descortina. Seu desafio consiste em palmilhar o Rio Areias até a grandiosa Cachu Fumaça, pra dali se debruçar vale abaixo e ganhar novamente o planalto através do não menos encachoeirado Rio da Solvay, num trajeto em formato de “U”. Pra variar este roteiro decidi iniciar pernada não pelas veredas oficiais e sim pela nascente do próprio Rio Areias, em Campo Grande, passando pela pouco conhecida Cachu Rawnet. Disso resultou um adrenado bate-volta de 15kms acidentados, onde não apenas nos refrescamos nas incontáveis piscinas naturais como tb enumeramos mudanças significativas em td seu percurso.

>O domingo amanheceu limpo, calorento e ensolarado (assim como durante td semana) e a necessidade dum rolê adrenado com banhos refrescantes tornou-se prioridade  pra maioria da galera. Foi com este pensamento q saltei em Rio Grande da Serra na cia da Priscila e sua galerinha do “Nahu Hostel”, a Bruna, Lu, Daniel, Diogo e Dadá. Ali tomamos nosso desjejum na padoca  Barcelona, pto tradicional de encontro dos “trilheiros paranapiacabanos”, enqto aguardávamos um casal oriundo de Mogi. Fazia tempo q não pisava ali e me surpreendi com a qtidade de moçada mochilada q ia se acumulando no estabelecimento. “Tomara q este povo não vá pra onde a gente vai, senão a cachu vai  ferver..”, pensei comigo mesmo.
 
Qdo o Ricardo e a Elaine chegaram, imediatamente embarcamos no latão q em questão de poucos minutos nos levaria na direção da conhecida vila inglesa. Claro q fomos  em pé. Pra variar, o coletivo deixou Rio Gde da Serra apinhado de gente e tomou o asfalto da SP-122, onde a janela passou a emoldurar uma paisagem predominantemente  verde pra onde quer q fosse direcionado o olhar. No caminho fomos observando o latão desovando, aos poucos, a galera q se embrenhava através dos caminhos mais tradicionais em direção as quedas mais próximas. No caso, os extremos da nossa pernada proposta, ou seja, a rota rumo a Cachu Fumaça e a do Lago Cristal. Mas como não desejava trombar, a princípio, com td aquela muvuca decidi começar por outro local pouco(ou nada) visado: a Cachuzinha Rawnet.
 
Após o ponto do Dallanezze Park e faltando algo de 5km antes de chegar a Paranapiacaba, saltamos em Campo Grande sob o olhar altivo da Capela do Bom Jesus da Boa Viagem. Dali bastou tocar pela larga via de chão batido apelidada de “Estrada do Rio Claro”, onde voçorocas de lírios-do-brejo ornando suas margens só davam lugar a uma ou outra casa aqui e ali. Mas logo depois de começar a fazer a curva (pra seguir sentido oeste), adentramos no vão gramado entre duas das residências a nossa esquerda.  Ali, discretamente , parte uma vereda q ruma na direção sul.
 
Uma vez nessa vereda não há mais erro, pois não demora pra mergulhar de vez no frescor da mata fechada  de forma quase q permanente. Na bifurcação q vem a seguir ignoramos a via principal (q desvia pra leste) e nos pirulitamos pela q segue sempre sentido sul, ganhando lentamente a encosta do morrote a nossa frente. Trilha agradável e tranquila, a suave subida logo nivela no alto do morro e assim prossegue por um bom tempo, quase q sempre em linha reta. Marcos de concreto reforçam  alguma espécie de divisa até q a vereda  começa a perder altitude suavemente, emergindo brevemente num terreno descampado. Foi ali q cruzamos com dois caçadores, pois ao lado deles havia várias gaiolas com aves. Apesar de não concordar com a prática, acenamos cordialmente apenas por questões de "boa vizinhança" e demos continuidade a nossa pernada.
 
Pois bem, a vereda perdeu altitude rapidamente e outra vez nos vimos no meio dum belo e aprazível bosque, serpenteando sinuosamente na direção dum vale a sudoeste.  Altas voçorocas de lírios-do-brejo denunciavam estarmos num local úmido e, naturalmente, repleto de água. E logo o som da mesma se traduziu num belo  e generoso  poço dourado, onde a nascente do Ribeirão Areias era represada ao sopé duma pequena  e simpática cascatinha. Enfim, estávamos na "Cachu Rawnet" (não me pergunte o  motivo desse nome pq não sei) e ficamos o suficiente pra bater algumas fotos e sair dali. Afinal, nossa jornada mal havia começado.
 
A trilha bordejou a piscina natureba e não demorou a deixar o curso do riacho e seguir pra oeste. Num piscar de olhos desembocamos numa via maior q imediatamente  reconheci como sendo a "Estrada do Mirante", q faz parte do Dallanezze Park e leva até a borda serrana, e outras trilhas mais. Aqui tivemos q ter cautela e ser bem rápidos, pois ali circula um segurança q faz a ronda na propriedade, q por sinal é particular.  Momento de tensão e peraltice, claro! Mas não andamos menos de 100m estrada abaixo q interceptamos o pontilhão de concreto por onde passa um manso Rio Areias, q agora devemos acompanhar até o final. Na  surdina e sem até respirar, pulamos da ponte e descemos a breve encosta pra pisar, enfim, nas frias águas do Areias, e por onde chapinharíamos por quase uma hora.
 
A assim fomos avançando pelos sinuosos e estreitos meandros deste simpático rio do modo mais prático possível, ora pelo seu leito pedregoso seco, através dos onipresentes  bancos de areia na margem ou simplesmente chapinhando pela água gelada, pra total desgosto de quem quisesse manter os pés secos e úmidos durante mto tempo.  Pra variar, o inicio do "aquatrekking" demandou jogo de cintura pros não habituados à prática, mas um tempinho depois td mundo já sabia onde pisar ou não. Mas as paradas foram constantes por outro motivo q não a dificuldade de andar, e sim por conta das lindas bromélias q ornavam a margem do rio, clicadas à exaustão pela Priscila e Bruna.
 
E lá fomos nós, chapinhando os tênis e botas rio abaixo, com água até a altura das canelas a maior parte do tempo. Os destaques do trajeto ficaram por conta – fora da explosão de verde exuberante ao redor – das inúmeras pegadas de pequenos mamíferos e aves nos bancos de areia das prainhas fluviais, do aspecto místico q a floresta ganhava qdo filtrava o sol através do espesso arvoredo, das elevadas encostas dos barrancos q nalguns trechos mais  lembravam mini-cânions e das onipresentes piscinas de água translúcida q surgiam a cada curva do rio. Os únicos obstáculos de fato desta descida sussa e desimpedida de rio foram um ou outro gigante da floresta tombado a meio-caminho, e algum poço mais fundo aqui e acolá. Em ambos casos bastava simplesmente contornar o obstáculo em questão, sem maior dificuldade.
 
O tempo passou no mesmo compasso em q o rio se alargou, ganhando volume de seus inúmeros tributários do trajeto, e assim, após hora e meia de muita chapinhação, q finalmente interceptamos a vereda oficial q dá acesso a "Cachu da Fumaça". Uma outra galera (q tb estava no mesmo ônibus da ida) já descansava ali, e nos olhou perplexo quiçá se indagando de onde diabos havíamos saído. Removemos tds as pedras e areia excedente no calçado e continuamos nossa pernada. Agora era só alegria, pois bastava apenas acompanhar um caminho firme e bem batido, q corria paralela ao curso d’água até então palmilhado na base do "aquatrekking”. 
Pois bem, a vereda cruza o rio e o segue pela sua margem esquerda, q logo nos leva a um enorme e bucólico poção, cercado de uma aprazível e simpática prainha arenosa onde havia até uma barraca montada. Eram apenas 10:30hr e aqui temos uma breve pausa unicamente pra fotos, nada mais. A pernada então prossegue sempre no mesmo compasso por trilha óbvia, acompanhando o rio pela esquerda em suaves sobe-desces, ora próximo ora afastado dele, porém sempre audível. Uma saída pela esquerda nos leva a um pequeno mirante onde infelizmente não temos vislumbre parcial da bela paisagem por conta da opaca e fina nebulosidade q paira sobre a serra, mas q nos prepara pro q vinha a seguir. Agora já não havia como fugir da presença de outros trilheiros pq aqui tropeçamos com incontáveis deles indo na mesma direção.
 
Mas após o mirante a picada cruza o rio pra a partir dali acompanhá-lo o tempo td através duma breve picada q desconhecia e depois pelo seu leito pedregoso, ora chapinhando pela água ou saltando pelas pedras. O compasso da caminhada diminui ao ladear as pedras duma bela cachu, mas não devido ao cansaço e sim a fila de gente q ali se acumulava pra passar pelas pedras escorregadias. Logo adiante, e descendo ainda mais o rio emergimos da mata e andamos em terreno mais aberto. Um vento sopra nossos rostos e o rugido duma queda próxima anuncia a proximidade da beirada de serra. Reparei q uma galera levava pesados isopores onde não foi difícil deduzir seu conteúdo. “Meldels! O topo da queda vai está um inferno!”, pensei.
 
Dito e feito, subitamente a caminhada termina e não há mais pra onde avançar. A partir dali o manso rio se debruça serra abaixo verticalmente numa impressionante queda. Estávamos na “Cachoeira da Fumaça”. O visual é digno de nota, mesmo ligeiramente envolto num fino véu opaco: o rio despenca de mais de 100m numa sucessão de quedas por paredões verticais em vários níveis, c/ poços em cada um deles, ao redor picos se levantam cobertos de mato por td extensão da Serra do Mar p/ depois tombarem abruptamente numa sucessão de escarpas menores ou gargantas rochosas sulcadas pra depois se perderem na planície q forma a baixada santista. Contudo, nem td eram flores das recordações da minha última visita. Impressionou-me não apenas a presença de pichações nalgumas pedras, como a enorme qtidade de gente q se espremendo naquele exíguo espaço, desde trocentos visitantes ocasionais até o povo duma agencia q rapelava a primeira queda. “Onde pega a senha?”, brincou o Ricardo. “Não sei, mas aqui só vamos ficar o suficiente pra descansar, bater algumas fotos e zarpar imediatamente!”, avisei pra td mundo. Decisão esta q td mundo concordou. Farofa? Tô fora!
 
Assim então retomamos nossa jornada q agora consistia em acompanhar o rio, cachu abaixo. Do alto da Fumaça tomamos uma picada q sai pelo capim à esquerda da mesma, sobe um pouco pra depois despencar piramba abaixo, quase vertical. E tome descida íngreme, exposta e bem escorregadia! O chão de terra estava ligeiramente úmido e os apoios eram escassos, razão pela qual o único jeito era descer sentado, se agarrando no capim em volta. Apesar das dificuldades, a galera avançou obedecendo seu próprio ritmo, sem gdes atrasos. Mas após alguns ziguezagues o terreno arrefece até dar no 1º poção ao sopé da queda q despencava do topo, onde paramos apenas pra alguns cliques. 
 
Ao desembocar na 2º queda o bom senso no fez passar, cuidadosamente por cima de lajotas úmidas, pra margem direita do rio onde a picada se enfia na mata. O rio aqui despencava vertical afunilado por um imponente paredão, e naturalmente a encosta pela qual perdíamos altitude só foi vencida na base de pura desescalaminhada, nos agarrando fortemente em galhos, pedras e raízes no caminho. Neste trecho faltou perna pra muitas integrantes da trupe alcançar apoios, mas a ajuda coletiva contornou facilmente estes pequenos contratempos, q nada mais selecionavam naturalmente os visitantes q acessam o fundo do vale.
 
Caímos então no 3º poção, onde descortinou-se uma bela vista do qto ainda faltava e do vale do Rio Solvay, igualmente encachoeirado nos contrafortes opostos. A bela piscina natureba ao sopé duma queda completava o panorama do qual não nos fizemos de rogados, e ali nos brindamos com um merecido descanso mais demorado, por volta das 11:30hrs. Donos absolutos daquele pequeno paraíso nos refrescamos na água, tiramos um cochilo e beliscamos o lanche das mochilas. Afinal, a idéia era curtir e não apenas camelar durante o dia.
 
Revigorados, retomamos nossa jornada coisa de 1hr depois tocando pela íngreme encosta do mesmo lado, isto é, em meio à mata pela margem direita. Foi aqui q reparei na maior diferença em relação a minha última visita ao circuito. Um deslizamento enorme jogou metade da montanha abaixo descaracterizando td trilha q antes havia ali. Íngreme e bem exposto, aquele trecho seria agora vencido através duma corda oportunamente ancorada no arvoredo remanescente. E assim fomos nós, em filinha índia, descendo aos poucos com muita cautela e adrenalina. A desescalaminhada vertical aqui teve ajuda inclusive do "quinto apoio", principalmente na ausência de agarras ou vegetação nos finalmentes. Ricardo deu suporte a Elaine, Daniel ajudou a Lu e o Diogo assistiu a Dadá, enqto o restante conseguiu se virar feito calango profissional.
 
Desembocamos no 4º poção, aos pés de uma enorme cachu. Mais fotos num mirante rochoso tão espetacular qto o anterior, onde a Priscila e Bruna se esbaldaram de fotos e mais fotos. Pois bem, a partir daqui não há mais trilha (ou se havia, ela foi sepultada) e a perda de altitude se dá através da desescalaminhada das enormes rochas e lajedos do lado direito do rio. A declividade é considerável e as pedras, escorregadias, portanto a desescalada é efetuada nos locais mais aderência e com algum apoio mais confiável pra ganhar um degrau mais abaixo. E lá vamos nos espremendo através de fendas, gretas e quebra-corpos rio abaixo. Pra variar, vou na dianteira buscando o caminho mais seguro enqto o resto apenas me acompanha, pisando exatamente nos mesmos lugares deste q vos aqui escreve. O processo é demorado, porém compassado e confiável, onde minha coxa serviu até de degrau pros demais.
 
Após o 5º poção e mais um lance de desescalaminhada através de enormes pedras desmoronadas, segue um trecho onde não há jeito de descer senão através de uma enorme lajota inclinada. Aqui é preciso descer sentado até certo pto pra depois se deixar levar escorregando feito tobogã e frear apoiando os pés numa pedra, no final da laje. Apesar de simples este trecho é meio tenso. Cada um venceu este trecho no seu ritmo, onde não me importei em oferecer apoio pra quem não sentisse mta segurança em se deixar levar laje abaixo. Mas no final de contas td correu bem, ainda bem.
 
Passado este trecho adrenado a escalaminhada arrefece de tal forma q nem nos damos conta dos 6º e 7º poção, q se sucedem quase q consecutivamente logo depois. Outros poços e cachus se sucedem posteriormente, mas pelo visto os mais representativos já foram vencidos, justificando provavelmente o nome de "Trilha das 7 cachus". Mas não demora a tropeçarmos com a confluência do Rio Vermelho e, logo depois, com o Rio da Solvay. Neste primeiro, porém, nos presenteamos com mais um pit-stop de descanso e tchibum, uma vez q a galerinha escancara no rosto o desgaste devido ao trecho adrenante anterior. “Minha perna está tremendo..”, entrega a Lu. Contudo, esta nova e refrescante parada revigora td mundo e tds estão prontos pra  dar continuidade a pernada.
 
Daqui em diante nossa rota deixa o fundo do vale, se esgueira por um curto trecho na mata e passa a se dar pelo leito pedregoso do Rio da Solvay. Menos íngreme q a descida da Fumaça, este trecho foi bem mais fácil q o anterior pq demansou pouca escalaminhada, bastando apenas costurar o rio através das pedras mais adentes e expostas. Saltando de pedra em pedra nos acomodamos no alto de uma imponente pedra onde tínhamos uma privilegiada panorâmica daquele anfiteatro rochoso no qual estávamos bem no miolo: o rio seguia vale abaixo num estreito cânion q se afunilava cada vez mais, culminando na “Garganta do Diabo” e “Vale da Morte”, poucos kms adiante, à esquerda tínhamos um visu privilegiado de toda trajeto percorrido, emoldurado pelo verde sombrio da serra, e atrás nosso, vindo de uma pequena garganta rochosa c/ formato em "V", víamos perfeitamente td o q teríamos q subir ate alcançar novamente o alto da serra, 300m acima!
 
Ziguezagueando as margens conforme dava, ganhamos altitude rapidamente em meio a uma sucessão de belas cachus e gdes poços, onde o Diogo não se fez de rogado em cair. Algumas poucas paradas foram efetuadas, mas apenas pra olhar pra trás e apreciar o terreno q ficou lá embaixo, no caso, uma enorme parede avermelhada cortada a prumo separando os vales da confluência de rio do “Vale da Morte”, o tal de “Portal”. O tempo passou e logo deixamos o trecho aberto do vale pra trás, pra então adentrar num encachoeirado rio em meio a farta vegetação. Costurando as margens não tardou a ter de escalaminhar uma encosta íngreme pra depois cair num setor onde a declividade arrefece e o rio amansa. 
 
Subitamente notamos um rio desaguando no principal, por volta das 15hrs, onde tropeçamos com mais e mais gente. Cansados, fazemos neste entroncamento mais um merecido pit-stop. Aqui percebo mais uma gde diferença pois esta ramificação é onde o Rio da Cachu Escondida desagua no principal. Contudo, a “Cachu Escondida” já não esta mais fazendo jus ao nome, ou seja, se apresentar” escondida”, uma vez q outro deslizamento enorme removeu boa parte da vegetação q antes bloqueava a vista em direção a queda. Agora a cachu era visível do rio principal sem gdes problemas, com direito até outra agncia rapelando do topo dela.
 
Dali em diante seguiu-se uma subida íngreme subida através duma picada bem batida pela margem esquerda do rio principal e após bordejar a encosta da serra desembocamos no famoso Mirante da cachu do Vale (ou dos Cristais). Ali paramos pra retomar o fôlego e nos limpar da lama tanto nas mãos como nos traseiros. O Mirante assinala o marco divisor onde o rio se debruça furioso serra abaixo, portanto a partir daqui a caminhada transcorreu tranqüila e desimpedida, costurando as margens do mesmo.  Uma rápida visita ao Lago Cristal marcou nossa última parada de tchibum, na cia de mtos ripongas e bicho grilos ali acampados, próximos de decrépitas zonas de acampamento infelizmente repletas de lixo.
 
Após costurar o manso Rio da Solvay pra então abandoná-lo de vez, emergimos na planície de arbustos tomada pelo zunido eletrostático de altivas torres de alta tensão. E assim, devagar e quase parando, pisamos no asfalto novamente pouco antes das 15hrs onde desabamos (na cia de trocentos outros trilheiros) no meio-fio por um tempão a espera do busão, q só passou cerca de meia hora depois. Viagem rápida esta, saltamos em Rio Grande da Serra onde fizemos questão de encostar num boteco antes de tomar o caminho de volta pra Sampa. O semblante da galera não enganava ninguém. Estavam tds detonados, cansados e doloridos. Contudo, o olhar igualmente não escondia a satisfação da pequena grande aventura q haviam recém-vivenciado. E foi a essa sensação q brindamos com merecido regozijo, uma vez q o dia sgte seria regado a mto Dorflex. Particularmente, este rolê anabolizado dum roteiro batido já valia a pena pelo simples fato de ter deixado Sampa e ter revisitado aquela bela e selvagem região equivocadamente associada a Paranapiacaba, pois é limítrofe de Santo André e Rio Grande da Serra.
 
Com relação as mudanças significativas do trajeto apenas duas considerações. A descida da Cachu Fumaça ficou bem mais emocionante por conta do mega deslizamento ocorrido, o q não deixa de dar novo tempero a aventura. O detalhe negativo fica somente do fato da própria queda se tornar popular demais. Tá na boca do povo. O fácil acesso aumenta o impacto ambiental sob a forma daquela multidão de gente no alto da queda, q não raramente deixa lixo e, infelizmente, “inscrições burrestres” desnecessárias. E é nessa falta de consciência eco-ambiental q não raramente me vejo torcendo pela criação duma guarita ou almejando até uma fiscalização mais rigorosa. É a triste e eterna sina dos paraísos selvagens que já deixaram de ser exclusividade de andarilhos privilegiados.
 
Ali já não se encontra mais a paz, a tranquilidade e a sensação de isolamento agreste de outrora. Justamente aquela q a gente procura qdo se embrenha em qq atividade outdoor. A Cachu Fumaça pode ter sido ótimo destino década atrás, assim como o Pico dos Marins e até a Serra Fina. Hoje infelizmente já não é. Contudo, a idéia não é desistir da Fumaça (pois ela é realmente bonita e vale a pena conhecê-la), mas aprender a respeitá-la o lugar e ensinar este respeito aos outros. É aí q a “Ferradura da Fumaça” se presta útil ao fazer da queda apenas parte do trajeto, uma vez q ao fundo do vale só vai realmente quem tem condições. E dispersando o excursionismo consciente se dilui o impacto, sem abrir necessariamente mão do nosso merecido quinhão de aventurina dominical.
 
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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