Conhecendo Intervales

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Situado entre os vales dos rios Paranapanema e Ribeira do Iguape, o Parque Estadual Intervales reserva mais do que a biodiversidade da Mata Atlântica, sítios históricos e cavernas a seus visitantes. Assim como outras unidades de conservação vizinhas, o Intervales possui caminhos pra andarilho nenhum botar defeito, que levam tanto a ptos culminantes cênicos como a belas cascatas escondidas na mata. E foi num breve rolê com acampamento de fds que pudemos palmilhar algumas das trilhas oficiais (e outras nem tanto) pra constatar que apenas nem arranhamos a superfície desta outrora fazenda cujo tamanho atual equivale a “Quatro Itatiaias”! Contudo, é uma unidade de conservação q precisa ser descoberta na marra pelo excursionismo independente, pois sua frequência é exclusivamente composta por gringos e grupos escolares. Motivo? A exigência de guia até pra programas simples e prosaicos.

Após rodar um tanto pela Rod. Castelo Branco (SP-280), eu e o Gil tomamos a SP-127 durante um bom tempo até chegar em Capão Bonito. Cidadezinha aparentemente sem atrativos (e até meio feinha pelos trocentos caminhões q ali circulam) onde tocamos por uma estrada municipal secundária bem sinalizada até Ribeirão Grande, onde finalmente esticamos as canelas e molhamos o gogó com breja gelada após rodados quase 250kms de Sampa. Mas ainda faltavam 25km trépidos de estrada de chão, tão empoeirada qto esburacada, cujo maior atrativo era sinceramente a mudança drástica da paisagem ao redor: a onipresente horizontalidade de cultivos e plantios dava lugar a colinas mais abaulada forradas da mais densa e verdejante mata.

Resumindo, chegamos no Parque Estadual Intervales por volta das 13hrs, onde passamos pelas formalidades de praxe e td mais, pra depois zarpar no pouco (ou nada) conhecido "Camping do Junior". Este, por sua vez, está situado numa ramificação já logo no início da estrada pra Guapiara, em direção a 2ª portaria do parque, logo após a pousada “Esquilo”. Explico: o parque bordeja o limite de 5 municípios e, em tese, o camping fica fora do parque, mesmo havendo q entrar nele pra acessar o camping.
Pois bem, lugar é recente, está na cota dos 800m de altitude e ainda está em fase de implementação, motivo pelo qual não nos incomodamos com a falta de energia elétrica. Tendo água e banheiro pra gente tava mais q suficiente. O lugar é um pequeno paraíso, e consiste numa enorme clareira em meio ao arvoredo no fundo dum vale. Ali, o gramado divide espaço com um banheiro bem rústico e uma choupaninha com um forno de barro onde é possível assar uma carninha de forma igualmente simples. O lugar contrasta fortemente com a hospedagem e conforto q o Parque oferece a seus visitantes, formada por 4 pousadas chiquérrimas (uma com piscina), com td infra necessária pra vários pernoites seguidos. Ah, o parque tb tem um restaurante q serve ótima comida caseira. Vale a pena experimentar.

Após mastigar uma pizza fria como almoço tardio decidimos aproveitar o restante do dia, que por sinal estava limpo e isento de qq vestígio de nebulosidade. Pra descansar e fazer a digestão, pouco antes, nos pirulitamos por uma breve picada q deu no alto do morrote, coroado por uma simpática e rústica igrejinha de madeira, a Capela de Santo Ignácio de Loyola. Construída na década de 70 durante o regime militar, sua arquitetura é inspirada em construções europeias e onde são celebrados eventos sob a imagem de Sto Inácio, datada do século 18. Mas o q me chamou mesmo não foi o charme do lugar e sim a natureza bruta e pulsante do entorno, ainda mais qdo na entrada da igrejinha me deparei com uma pele ressequida de cobra forrando o gramado.

Na sequência retornamos pelo mesmo caminho e nos mandamos de carro pra estrada de chão q toca na direção da “sede de pesquisa”. Serpenteando sinuosamente a sequência de colinas verdejantes, onde uma delas se destaca como se fosse uma corcova proeminente no horizonte. Seu nome, “Monte Rosa”, gera tanto espanto qto dúvidas em relação aos motivos desta nomenclatura. Mas o chacoalho no veículo termina qdo a via finda numa larga clareira, marcada pelas ruínas de alguma construção atualmente engolida pela mata.

A partir daqui deixamos o veículo e nos deparamos com duas veredas, mas o conhecimento do Gil do lugar faz com q tomemos o ramo da esquerda, q mergulha de vez no frescor da mata fechada. Visivelmente adentrando num pequeno vale, a sinuosa picada margeia o córrego Água Comprida, q marulha calmamente nalgum canto no fundo, a nossa esquerda. A vereda (aqui chamada de “Caçadinha”) se alarga e estreita, eventualmente ancorada por tora de madeira pra conter a erosão nos trechos mais inclinados. Mas após ladear a encosta a picada finalmente começa a descer ao fundo do vale em curtos ziguezagues íngremes, onde o som de água correndo aumenta consideravelmente.

Num piscar de olhos caímos ao sopé da grandiosa “Cachu do Mirante”, lá pelas 15hrs, uma cascata de mais de 20m de altura formando duas quedas sucessivas. Um pequeno poço em sua base é a deixa pro Gil dar um breve tchibum, coisa q eu declino em virtude da baixa temperatura da água e da profusão de pedras escorregadias no entorno. Naturalmente o nome desta queda se deve ao fato dela se situar na base do morro onde se situa o “Mirante Velho”, por sua vez um dos ptos culminantes do parque. E então permanecemos ali numa boa, curtindo aquele belo remanso natureba situado nos cafundós de Intervales.

Retornamos então pelo mesmo caminho até o veículo, onde retrocedemos pela mesma sinuosa estrada anterior e nos mandamos em direção do restaurante da unidade de conservação, apropriadamente chamado de “Restaurante do Continuum” em homenagem a uma extensa vereda local. No trajeto não pude deixar de me espantar com a ótima infra q o lugar oferece ao visitante, inclusive bem sinalizado e repleto de placas indicativas. Há várias picadas (bem roçadas) q servem de atalhos e abreviam boa parte dos inúmeros trajetos feitos por suas longas estradas de terra.

Pois bem, em frente ao restaurante está uma das pousadas do parque mais “tchans”, a “Pica-Pau”, e do lado dela parte uma das principais veredas autoguiadas do lugar, a do “Mirante da Anta”, de apenas 2kms onde o baixo desnível de 100m é vencido em bem menos de 1hr (só ida). Esta trilha é bem fácil e simples, e começa subindo o morro através de degraus até outra vereda mais larga e batida. Ali tomamos a vertente da esquerda, q margeia o morro pela sua encosta, devidamente sinalizada, rumo sudeste. Esta é a antiga “Estrada do Mirante Velho”, atualmente em desuso e bem perceptível pelo corte vertical na encosta, a semelhança das picadas de Paranapiacaba. Tem início então um largo ziguezague q galga a encosta de forma imperceptível, onde a mata torna-se cada vez mais fechada! É a tal “floresta atlântica de encosta”, com direito até túnel de bambus!

Na metade do trajeto, mais precisamente qdo alcançamos uma espécie de selado, nos deparamos com uma bifurcação bastante significativa, porém sinalizada, onde tomamos a vertente da esquerda (q dá continuidade a ascensão do morro) ao invés de seguir direto pro sul. A partir dali a picada fica mais íngreme, estreita, sinuosa e fechada, até q percebo q num piscar de olhos ganhei a crista ascendente da serra, com mato caindo de ambos lados. A vegetação reduz seu tamanho e volume e se torna a velha conhecida mata de altitude, onde musgos e liquens dividem espaço com matinha retorcida e muitas reluzentes bromélias. Dali até o topo propriamente dito foi questão de minutos, e do alto dos seus 970m temos uma fantástica paisagem, peculiar pelas feições de mares de morros q compõem o Vale do Paranapanema e o Ribeira do Iguape, assim como uma panorâmica da sede do parque, o espelho d’água do lago e td sua infraestrutura. As tonalidades alaranjadas do entardecer se fundiam a da silhueta serrilhada das montanhas ao redor, completando o cenário daquele horário. Em tempo, do mirante só não há vista pro quadrante sul em virtude de matinha espessa mais alta naquele setor.

Voltamos ao “Restaurante do Continuum”, onde tomamos uma cerveja antes de retornar ao camping. Como era fds o lugar estava bombando e serviu de termômetro pra medir a frequência do parque, e foi lá q nos deparamos basicamente estrangeiros  (europeus, principalmente) observadores de aves e praticantes de “geocashing”, atividade q já já explico. De idioma tupiniquim vimos apenas uma família hospedada numa das pousadas, um pequeno grupo escolar visitando cavernas, e um casal q trabalhava no mapeamento de novas grutas. Trilheiros independentes como nós? Nenhum.

Quase escurecendo, retornamos ao camping onde preparamos nossa janta na penumbra enqto os sons da mata inundavam o ambiente a nossa volta. A sensação de isolamento naquele fundo de vale é completa, pois éramos donos absolutos daquele pequeno recanto natureba. Um macarrão engrossado duma seleta de legumes e besuntado de molho é a refeição mais q bem-vinda naquele lugar, onde o restaurante do parque está apenas a algo de 3 ou 4km de distância. Na sequência nos enfurnamos em nossas respectivas barracas afim de descansar, uma vez q o dia sgte seria bem mais exigente no quesito pernada. E assim a noite fria se coalhou de trocentas estrelas q cintilavam no bréu noturno, enqto inúmeros vagalumes, por sua vez, faiscavam rentes ao gramado q recebia confortavelmente nossas habitações provisórias.

Na manhã sgte levantamos ao som das arapongas q se empoleiravam no arvoredo ao redor. O firmamento, por sua vez, apresentava-se quinem a semana td, ou seja, com tempo estupidamente limpo. Tomamos nosso farto desjejum e nos pirulitamos em direção a longa jornada proposta praquele dia: a “Trilha do Divisor de Águas”, q basicamente é um circuitão de 15km q se vale de estrada e trilhas em meio a mata, e percorre trechos com afluentes dos rios Ribeira do Iguape e Paranapanema, passando por cavernas, cachus e uma figueira centenária. Como nossa ideia era estar de volta no horário de almoço, fomos leves e sem mochila alguma de ataque. Então vamos lá!

Tomamos então a sinuosa estrada pra Guapiara e rumamos na direção sul, tranquila e ininterruptamente. A mata em volta pulsava pelo piado de trocentas aves, q não raramente davam as caras! Já após andarilhar algo em torno de 4km uma surpresa a beira de estrada, na margem esquerda duma curva, sob a forma dum rochedo plano disposto como se fosse uma mesa. “Essa ai é a Pedra do Sacrifício”, falou Gil. Perguntei o motivo e ele explicou o q um senhor do parque ali outra vez lhe dissera, q se tratava dum rochedo onde antigamente os índios da região faziam cerimonias q não raramente envolviam sacrifícios. Se esta info procede não sei, mas q a pedra parece muito uma mesa rochosa, parece!

Mas logo adiante após cruzar um laguinho a gente abandona a estrada, q desvia pra sudoeste, por outra secundaria q tangencia a primeira e dá continuidade a rota sentido sul. Começa então uma sutil descida de vale em largos e espaçosos ziguezagues, onde ignoramos uma vereda a margem da estrada mas a memorizamos pq será nossa rota de volta. E logo mais adiante, numa curva, observamos outra vereda q nasce na mesma margem (esquerda, no caso) e mergulha na mata, vale abaixo. Tomando então esta picada a gente desce suavemente a encosta do vale em questão, perdendo rapidamente altitude.

O caminho então desemboca numa trifurcação bem óbvia onde surgem formações geológicas de carste, típicas de cavernas de calcáreo, aflorando na superfície. Tomando então o ramo da direita a vereda se estreita e desce de fato ao fundo do vale, onde o som de água farta correndo se faz presente. Ali e visivelmente na base do vértice dum cânion rochoso reparamos em duas evidentes bocas de caverna. Uma delas, é a “Gruta da Mãozinha”, de extensão baixa e cujo atrativo e um espeleotema com o formato duma mão. A outra fenda possuía uma precária escadaria e levava a um estreito e úmido salão subterrâneo, por onde corria um rio relativamente cheio. Logicamente q nossa intenção não era explorar grutas, ou seja, dar uma de espeleólogo pois sequer estávamos preparados pra isso (sem capacete ainda, item imprescindível pra atividade!), portanto nos limitamos a apreciar apenas a boca das cavernas.

No entanto, o entorno daquele enorme cânion estava repleto de atrativos q passam desapercebidos ao olhar mais atento. Escalaminhando a outra encosta das cavernas alcançamos as nascentes do córrego Mansfield, q em seu caminho formava vários poços e caldeirões represados entre os rochedos salientes do desfiladeiro, com direito até a uma linda pequena cachu q certamente não tá catalogada pelo parque. Dizem q aqui tb há uma figueira gigante, mas decerto está nos passou desapercebida ou nem atentamos a ela.

Retornamos então a trifurcação e tomamos a vertente da esquerda, q prosseguia pela fenda do vale na direção sul, ininterruptamente. No caminho, muitas formações rochosas e muitas gretas já eram sinal q a região é literalmente um queijo suíço, com chão repleto de buracos e furos! Por isso, as ressurgências dos rios aqui são constantes, com os cursos d’água aparecendo e sumindo frequentemente entre as rochas e o solo.
A pernada findou na “Gruta do Fendão”, q cujo próprio nome sugere sua abertura é uma imensa fenda  inclinada de aproximadamente 20m. A caverna é cortada em td sua extensão pelo Córrego da Bocaina onde é possível andarilhar no seu interior com agua até quase o pescoço, pra depois emergir na gruta ao lado da Mãozinha (lembra? Aquela da escadinha?). Logicamente q deste programa radical adrenado abrimos mão por carecer de equipo necessário, principalmente capacete. No entanto, estar ali na boca da gruta já é algo q nos deixou bem satisfeitos. O Gil inclusive encontrou um “geocash” escondido sob uma pedra. Explico: “geocash” é uma atividade q consiste numa “gincana com uso de GPS” na busca de brindes espalhados pelo mundo td, do qual o Nando faz parte e o Intervales tá repleto desses mimos, q a gringaiada faz questão de tentar encontrar!

Após descansar, retornamos então pelo mesmo caminho de modo a abandonar o vale, e num piscar de olhos estávamos novamente no velho estradão de terra. Ali, retrocedemos apenas coisa de uns 300 ou 500m q nos deparamos com uma discreta picada q nascia da margem direta da estrada. Aquela q memorizamos na ida, lembra? Tomamos essa vereda e por ela seguimos durante um bom tempão, descendo e subindo pequenos vales, bordejando suaves encostas e desviando de eventuais matas tombadas. Visivelmente retornando na direção norte, a vereda apresenta-se mto bem conservada e bem perceptível, não demonstrando nenhuma dificuldade de navegação.

Após um tempão a vereda desembocou noutra mais larga e mto mais batida, onde bastou acompanhá-la pro lado da direita. E assim, em questão de poucos minutos chegamos na “Gruta da Santa”, q no alto do pórtico de entrada tem uma imagem de Nossa Sra de Lourdes, q dizem ser “protetora das cavernas”. A gruta é pequena e não há formações ou espeleotemas no interior. O q chama mesmo a atenção é um rústico altar rochoso onde provavelmente se celebram cultos. Tem tb um córreguinho q circula ao pé da gruta onde matamos a sede, cujo fantasma já nos assombrava desde a última gruta visitada.

Dali bastou retornar pela vereda principal em q havíamos caído, ininterruptamente, e logo desembocamos num estradão maior. Nele, caminhamos não mais de 10min na direção norte pra abandoná-lo em favor duma vereda q surge de forma bem discreta, quase imperceptível, pela esquerda. Esta inicialmente sobe a encosta mas despois desce fortemente o vale ao lado. E em questão de poucos minutos, e alguns íngremes ziguezagues, alcançamos a “Gruta do Fogo”, q recebe este nome devido ao seu chão ser repleto de calcitas brilhantes. Pequena, a caverninha tb não tem formações ou espeleotemas, mas tem rochedos q serviram de poltrona confortável naquele horário avançado da tarde. Relativamente exaustos por quase 12km percorridos, nos brindamos ali com um merecido pit-stop pra retomar o fôlego e empreender a volta definitiva pra camping.

Voltamos pela mesma vereda, só q ao invés de cair novamente no estradão, optamos por acompanhar uma picada paralela a este q tocava pela cumieira dos morrotes e ia no sentido desejado, isto é, sempre pro norte! Dito e feito, após um tempo de chão a trilha desembocou na estrada de Guapiara, a poucas dezenas de metros da entrada pro camping, onde finalizamos assim o circuitinho proposto praquele dia. Esfomeados e morrendo de sede, não pensamos duas vezes em pegar o carro e sair um pouco daquele recanto natureba sem vivalma. E assim fomos “encher um pouco a cara” nalgum botequinho no bairro de Boa Vista, único vilarejo civilizado próximo de Intervales, distante coisa de 15kms da entrada do parque. Lá comemos um lanche e bebericamos brejas a preços bem mais em conta q no parque, cujos valores eram mais salgados q os quitutes q ali mastigávamos.  Tinha até wi-fi naquele cafundó de Ribeirão Grande!

Retornamos de Boa Vista pouco antes de escurecer, ainda com tempo de fazer mais alguma coisa. Optamos pelo tranquilo e sussa “Circuito das Grutas do Cipó, Tatu e Colorida”, q tem início perto da “Pousada Lontra”. Dali em diante a picada é bem batida em meio a mata fechada e basicamente desce suavemente o tempo td. No caminho, uma ramificação a esquerda leva a entrada da “Gruta Colorida”, de onde não sei arrumou esse nome, mas q fica na base dum enorme rochedo. Descendo ainda pela vereda principal logo desembocamos na estrada q leva ao Monte Rosa, mas a continuidade da vereda ta na outra margem da via. É ali q está a “Gruta do Tatu”, cuja entrada é irregular e é, no geral, uma cave úmida e pequena, com córreguinho passando bem do lado. Seguindo em frente cruzamos com várias outras picadas (geralmente de pesquisa) mas o sentido é meio q obvio. No fundo do vale tem início uma breve subida, onde degraus auxiliam a cesso e pronto, chega-se a “Gruta do Cipó”, cuja entrada é estreita e é preciso se arrastar pra entrar. Dali há uma ramificação pra “Gruta dos Fósseis” e até pra “Capela Sto Inácio”, mas pelo fato de já estra escurecendo resolvemos voltar ao acamps, onde beliscamos alguma coisa e imediatamente nos enfurnamos em nossas aconchegantes barracas. A noite correu fresquinha e sem nenhuma intercedência, embalada nos ruídos hipnóticos da mata e o remexer do arvoredo ao redor.

O dia sgte amanheceu preguiçoso e bem diferente dos anteriores, pois a frente fria anunciada se refletia claramente no alto, coberto em grande parte por uma opacidade clara. O Gil ainda dormia e já tinha deixado claro q desejava ficar na tranquilidade até a hora da gente partir, lá pelo meio-dia. Como não ia ficar largado até lá, resolvi dar continuidade a minhas andanças sozinho e fui me embrenhar nas veredas das proximidades. Antes, porém, mandei ver um farto desjejum onde dei cabo a td q sobrara nos dias anteriores.

Tomei então a estrada pra Guapiara sentido o restaurante, onde tropecei com as funcionárias q iam recém preparar o café da manhã aos poucos visitantes q ainda restavam ali. Como estava no caminho, resolvi tomar a vereda autoguiada (e bem sinalizada) q margeia o lagão da Sede, q totaliza pouco mais de 4,5km. Ela inicia no centro de visitantes e sobe um pouco, onde logo alcanço o alto do Morro do Cruzeiro, onde não raramente são realizadas missas campais. Na frente desemboco num lagão q reflete o acinzentado firmamento daquela manhã, q deve ser contornado. No final, cruzo com uma espécie de “bangalôs” e me mantenho na vereda, cada vez mais fechada. O caminho alterna chão batido com terreno argiloso e cascalhado, onde eventualmente alguns degraus oferecem suporte nos trechos mais inclinados. Sempre acompanhando a sinalização, não demora pra me deparar com os arcos remanescentes do “Castelo de Pedras”, q nada mais é o q sobrou dum antigo alojamento pra autoridades q sequer foi concluído. Ainda no mesmo caminho, mais adiante chego na “Espia”, uma torre de madeira de mais de 10m de altura (com escada e td), onde a vereda começa q a retornar e me deixar no local do início. Ali perto tb está a “Trilha do Palmito”, q não fiz mas dizem q leva as ruinas duma antiga fábrica de conserva do produto. Pronto, final de circuitinho. Dali mesmo da estrada, olho pro sul e posso já avistar meu próximo destino, elevando-se na forma de dois respeitáveis, sendo um deles coroado por uma significativa antena espetando o firmamento. É o “Mirante Velho de Intervales”.
Novamente na estrada pra Guapiara, me pirulitei na direção do restaurante pois desejava finalizar minha breve estadia no parque indo pro seu aparente pto culminante, o tal “Mirante Velho”. Pra isso bastou tomar a mesma picada do “Mirante da Anta”, pois ela deriva desta vereda oficial. Pois bem, o caminho se mantém idêntico até quase sua metade, na hora em q surge um bifurcação evidente e devidamente sinalizada. Ao invés de acompanhar o emplacamento q indica “Mirante da Anta” pra esquerda, basta me manter na vereda principal e seguir reto, ou seja, tomando o selado q interliga os serrotes, bordeja e abandona o “Mirante da Anta”, deixando-o pra trás. O caminho sempre se mantém largo e bem batido, denunciando de fato de se tratar duma antiga estrada desativada.

Nossa rota se mantém inalterada e passa a descer suavemente em direção a um suposto vale intermediário, onde surge uma bifurcação q pode confundir. Mas não tem erro, pois basta se manter sempre na via principal e ignorar esta saída pela direita. Como dispunha de tempo, resolvi dar uma fuxicada nessa saída, q desce mais um pouco, cruza um belo laguinho represado e passa a bordejar o morro do Mirante Velho, ladeando sua base. A vereda segue então um bom trecho praticamente reto, cruza tuneis de bambus e não raramente se vê forrada por um tapete de folhas. A minha direita um fundo vale se faz bem audível, com muita água correndo nalgum cafundó, provavelmente o vale do Córrego Caçadinha. Mas não tarda a desembocar numa estrada maior q logo reconheço como sendo a q leva pra Sede de Pesquisa, pois logo adiante me deparo com a clareira com a vereda q leva a “Cachu do Mirante”!

Satisfeito pela breve exploração e sanada minha dúvida, em menos de 15min retrocedo até a bifurcação e prossigo sempre pela larga vereda principal, agora subindo a encosta serrana suavemente. Pelas frestas da mata observo perfeitamente a antena apontada pro céu me esperando, sem maior problema de orientação, coroando aquele alto cafundó serrano. Por ser menos utilizada e ser caminho não-oficial, esta trilha não esta tão batida como as demais, no entanto é bem óbvia pra quem traquejo de mato. Quiçá nalguns trechos se alargue ou estreite, tenha um mato caído ou voçorocas da bambus se interpondo, mas no final ela é sempre bem evidente. Neste trecho menos visado é q tive mais contato com a fauna local, pois no trajeto cruzei com galinhas-do-mato, um enorme teiuzão e inúmeros passarinhos multi-coloridos cantando a margem da vereda, sem se importar com quem circulava nela. Ali tb observei, nos trechos enlameados, inconfundíveis pegadas de antas q, pelo formato e profundidade no chão, deviam ser bem pesadas e enormes.

Pois bem, a picada então começa a ganhar a encosta em largos ziguezagues, sempre atravessando túneis espessos de bambus, até começar a contornar o contraforte leste do morro. No final da larga vereda, já atrás do morro, a pernada se torna bem mais íngreme e a subida se dá por meio duma picada bem mais estreita, q inicia a ascensão em curtos ziguezagues com forte declividade q vencem o restante do morro. É neste trecho q o caminho se pontua pela variação de vegetação conforme a altitude, pois abandono a mata fechada pra dar nos campos q forram o alto do morro, coroado por uma gde clareira onde uma torre de rádio amador (do parque) divide espaço com um minúsculo casebre de madeira q mais parece “banheiro de roça”. Um estreito selado forrado de samambaias interliga o cume com o morro vizinho, um poço mais baixo, onde algumas samambaias se debruçam na estreita trilha deixando seus carrapatos felizes com quem esbarre com elas. No entanto, a deslumbrante paisagem q se tem aqui do alto dos 1100m do pto mais alto das proximidades da Sede do Pque realmente compensa qq esforço ou até a “carrapatagem” fácil q se pega nestas bandas. A paisagem deslumbrante é infinitamente superior a do “Mirante da Anta” (visivelmente mais baixo, a nossa frente) pois aqui ela é panorâmica e em 360 graus contempla td ao redor. Serras e morros de perder a vista salpicando num mar verdejante, onde apenas os manacás floridos conferem um colorido td especial a tonalidade esmeralda predominante.

Retorno pelo mesmo caminho e me reencontro com o Gil no restaurante, por volta do meio-dia, onde bebericamos uma cerveja e comemos alguns petiscos antes de partir. Era segunda-feira e o aparente silencio de ausência de visitantes foi logo rompido pela chegada de dois ônibus de excursão repleto de escolares, q deixaram o único holandês em busca de tranquilidade puto da vida. E assim, após breve descanso pós-rango nos despedimos daquela bela unidade de conservação e zarpamos em direção ao asfalto q nos levaria de vola a “Paulicéia Desvairada” em torno de 4hrs. Isso com o Gil pisando no acelerador, claro!

Sim, nesta minha primeira incursão ao Intervales (e enésima do Nando) não arranhamos nem de leve as possibilidades trekkeiras do lugar e mto menos sentimos o cheiro de desafio. Agora q incorporou a Estação Ecologica Xitué e integrar a porção central do Continuo Ecológico de Paranapiacaba (ao lado do Petar, Carlos Botelho, Nascentes do Paranapanema), este ótimo parque que se espalha por cinco municípios possui 120 mil há de florestas preservadas, o q equivale a quatro parques de Itatiaia! Há outros tantos caminhos a desvendar, como o da Cachu Água Comprida e da Roda D´água; a Vereda da Cachu do Quilombo; a Trilha do Maneco e da Bocaina; o circuito q interliga a Gruta dos Paiva, Luminosa e Cachu Arcão; a picada da Cachu das Pedrinhas e Barra Grande, etc. E até outros programas selvagens mais exigentes, como a rota q leva á Cascata Bulha D´água, Cachu das Mortes e até a “Trilha do Continuum”, q interliga o parque ao Petar e Carlos Botelho. Enfim, opções é q não faltam.

A titulo de curiosidade, o parque integra a antiga área da Fazenda Intervales, q até 1987 pertenceu ao Banespa. A região   ganhou fama pelo ouro de aluvião q brotava de seus cursos dágua, atividade q depois deu lugar a de extração de calcário e palmito. Apesar destas atividades pouco louváveis, o legado bom deixado foi a experiência e conhecimento q os ex-funcionários da fazenda ganharam da mata, e por isso mesmo foram agregados ao parque como guias com grande consciência ecológica. Se antes eles caçavam, cortavam palmito ou detonavam pedreiras, hj dão verdadeiras aulas na mata, reconhecem pegadas, o canto de vários pássaros e apontam pras plantas de uso medicinal. Um trabalho realmente q merece aplausos q ao mesmo tempo serve de remanejamento de pessoal e gera distribuição de renda.

Contudo, nem td são rosas nesta grata e bem-vinda unidade de conservação, portanto aqui vai meu pitaco! A obrigatoriedade de guia/monitor é sintoma do comodismo de como as coisas no Brasil se nivelam por baixo. Sim, ter guia tem vantagens q vão além de simples discurso de banalidades cientifico-ecológicas, ainda mais qdo a aventura em questão requer alguma técnica especial q, no caso do Intervales, seria espeleologia e “caving”. Mas o excursionista independente e bem informado sabe bem suas limitações, além de q seus sonhos não são assim tããão sobre-humanos; só deseja descobrir caminhos por conta própria, ter uma experiência intensa e genuína, sem necessariamente ser levado da mão por alguém. Sim, existem trilhas auto-guiadas em Intervales mas estas não passam de três!!! Até pra programas facílimos (“Gruta da Santa”,“Cachu do Mirante” e” Mirante Velho”, por exemplo) existe essa obrigatoriedade, sendo q o parque poderia muito bem sinalizar estas veredas, mas convenientemente não o faz pro visitante criar dependência dos guias, q somente te ajudam a superar a própria ignorância. Claro, é mais vantajoso faturar em cima dos visitantes do q ensiná-los a se virar por conta! É mais fácil proibir do que ensinar; dá menos trabalho. Ainda mais sob ótima desculpa de remanejamento do antigo pessoal e distribuição de renda. Portanto vá e descubra o parque, como eu e meu amigo fizemos num emocionante fds! Saimos vivos, satisfeitos e ainda por cima recolhemos o lixo q encontramos no caminho, prestando inclusive um serviço ao parque!

Existem visitantes e visitantes, assim gente que realmente precisa (e faz questão) de guia por comodidade, inexperiência, segurança e conforto. Mas tem muita gente q não precisa. É isso q o muitas unidades de conservação parecem não entender. Como não existe opção e sim há apenas uma inquestionável imposição criou-se um círculo vicioso difícil de ser quebrado, q restringe o excursionismo independente e, indiretamente, estagna o ecoturismo consciente. Logo, não me estranha q o maior fluxo de visitantes de Intervales seja não apenas de grupos escolares ou famílias q usam as pousadas feito clube de campo. A impressão que tive foi a de que fluxo é principalmente de gringos, entre eles “birdwatchers” e praticantes de “geocashing”, q não vem problema algum em pagar horrores prum monitor q os leve onde for. Trilheiros independentes? Nenhum. Sim, um parque brasileiro (re)conhecido mais por gente de fora q pelos seus próprios habitantes. Inclusive aqueles conscientes e responsáveis. E um parque cuja livre visitação é proibida, perde automaticamente sua razão de ser. Uma estupenda unidade de conservação que necessita apenas repensar essa obrigatoriedade nem sempre necessária, nada mais.

 

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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