A travessia da serra do Marumbi – AO – Parte II

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O aventureiro Jorge Soto termina seu relato sobre a temida travessia Alpha Omega

O dia amanheceu radiante mas quando levantei já havia gente prostrada com câmera em punho faz tempo. Gente bem disposta a encarar o frio matinal como o Paulo, que flagrava uma das mais lindas alvoradas que já vi. O Astro-Rei elevava-se lentamente sobre a serra, tingindo o firmamento com belíssimos degradês q iam de tons rubros até finalmente estacionar no azul profundo. Me sentindo bem mais revigorado, tomei meu desjejum com os amigos ao mesmo tempo em q me maravilhava com a paisagem ao meu redor, mais clara e nitida. Montanhas e montanhas surgiam majestuosamente por tds os lados, em especial a nossa frente, onde o Chapéu, Chapeuzinho e Espinhento dominavam o primeiro plano. Atrás, a silhueta do Pelado, Leão e Angelo serviam apenas como pano de fundo.
Começamos a andar pontualmente as 8:40hr descendo suavemente a campina, passar pelos 1443m do Alvorada 2 e, após um trecho tenso de quiçaça e bromélias gigantes, mergulhamos de vez vale abaixo. Ali a floresta espessa nos abraçou por horas. Contudo, não demorou pro caminho se tornar mais confuso e o rastro sumir de vez. Fomos e voltamos várias vezes, rasgando mato no peito além de singrar uma zona de pedras empilhadas, cobertas de limo verde, raízes e galhos podres. Mas sempre azimutando sempre na direção desejada, na esperança de reencontrar a picada ou, na melhor das hipóteses, alguma bendita fita. Atravessamos então um bosque sombrio, entrelaçado de taquara fina, galhos e cipós q agarravam-se nas saliências da mochila, atrasando o avanço e gerando desgaste redobrado. Por isso tivemos várias paradas de descanso. Mas estes perdidos não foi exclusividade nossa, uma vez q tds os grupos pastaram bastante neste fundo de vale medonho.
Bem, o fato é q após mais um descanso (e beliscada de lanche) num colo serrano onde conseguimos água fresca, reencontramos a maledita fita numa encosta acima do vale entre o Chapeu e Chapeuzinho. Alegria total, claro! E após cruzar um trecho de enormes bromélias e enrijecida macega, finalmente despontamos nos agradáveis 1380m dos campos do Espinhento, onde a brisa varria suavemente o capim espalhado a nossa volta e refrescava nossos rostos suados. Logo adiante, o maciço granítico do Espinhento elevava-se imponentemente do selado então palmilhado, e em sua base a turma de engenheiros lagarteava, mesmerizada pelo elegante rochedo. De fato, aquela pedra mostrava personalidade e impunha até certo respeito.
O sol do meio dia já fritava os miolos e meu único desejo era encostar á sombra dum arbusto e descansar. Mas q nada, o Fiori tava resoluto a subir o Espinhento, motivo principal q o levara a refazer a “AO” e não voltaria pra casa de mão abanando.  Claro q td mundo largou as cargueiras e o seguiu caninamente pro ataque, pois o cabra ia bem munido das infos passadas por ninguém mais q o lendário Paulo”Vitamina” Schimidlin. Assim, em fila índia nos enfiamos na mata ao pé do monolito e começamos a buscar algum acesso viável. A turminha de engenheiros florestais, mais cheia de energia, se embrenhou por frestas e escalou indiscriminadamente as primeiras lajes, apenas pra dar com os burros nágua. “Não é por ai..sigam-me!”, ordenou o Fiori, num tom gutural q deixaria o Cid Moreira orgulhoso. E assim foi.
Bordejamos o sopé da pedra de modo a avaliar minuciosamente a íngreme encosta q a firmava, até q encontramos uma florestinha q subia uma canaleta na face norte da pedra. “Uma fita!”, alguém gritou. Pronto, tínhamos descoberto o acesso. Dali em diante bastou escalaminhar a canaletinha tranquilamente, galgar algumas lajes, rasgar um curto trecho de macega, pra finalmente emergir quase no alto dos 1430m da pedra. Foi ali q descobrimos dolorosamente a razão do pico ter o oportuno nome de Espinhento. O topo era todo forrado por um sem número de caraguatás e ninguém saiu ileso dos afiados espetos. Mas a camelagem teve sua recompensa, pois num dos poucos afloramentos isentos da maledita planta nos empoleiramos pra ter um vislumbre impar da paisagem ao redor, privilegio de poucos. Ali, o maciço do Espinhento serve como sentinela do miolo da Serra do Marumbi, onde se tem uma panorâmica de tds as montanhas mais significativas! Pausa pra muitos cliques!
Voltamos aos campos, descansamos coisa de apenas 5min e nos pirulitamos pro fundo vale sgte, onde repousava a base do paredão frontal do Pelado dominando todo o quadrante norte. Após um trecho de campina nos enfiamos no frescor da mata fechada pra descer forte quase 250m, o maior desnível até então! No fundo do vale tropeçamos com aquele caos de pedras e gretas já bem conhecido, e coube ao Paulo se enfiar num buraco pra garantir nosso estoque do precioso liquido vertendo num córrego subterrâneo.
Até ali já era coisa das 15hr e havia ainda muita piramba pela frente! E tome aclive interminável, onde nos topamos de frente com dois paredões rochosos. O primeiro desviamos pela esquerda enqto o segundo evitamos caindo pra direita. Uma corda oferece segurança num trecho vertical, mas sem apoio o jeito é ir se arrastando de joelhos, com auxilio da mata em volta. Vencido o primeiro antecume segue um trecho aberto e relativamente tranquilo até afundar outra vez na mata fechada. Claro q emergimos desta através de penosas escaladas verticais, nos firmando no capim e raízes em volta. O vento q sopra do norte refresca o suor farto q escorre do rosto, e as vistas acima do ombro revelam o Espinhento e td trajeto percorrido. “Nossa, a gente andou tudo isso!”, pensei comigo mesmo, quase não acreditando na distancia total feita até então.
Após ganhar uma encosta de capim tão íngreme qto exposta, as 17:15hr finalmente damos nos 1500m do cume do Pelado. Descendo um pouco em meio a macega caímos num descampado, onde pra variar os engenheiros já tinha seu acampamento montado e onde tb repousa uma asa de avião em meio a capim ralo. É, a Serra do Marumbi tem ficha corrida neste tipo de tragédias. No caso, aquela era a asa dum Seneca q se estatelou no Bandeirantes e lancou destroços pela região. Fora estas divagações mórbidas, so sei q eu estava bastante esgotado e agradeci aos céus pela pernada do dia findar ali, sem necessidade de caminhar noite adentro. Com um pouco de disposição até deu pra apreciar o sol sumir atrás do cume do Pelado e clicar os tons alaranjados debruçando-se sobre as montanhas ao norte.
Mas agora tínhamos outro problema q praticamente ignorei. Sem árvores ou mato mais compacto pra montar toldo, o jeito foi bivacar ao relento, como desse. Sorte q não havia previsão alguma de chuva. Eu nem esperei a janta desta vez, aliás parece q ninguém escondia seu cansaço. Moises fez apenas alguns petiscos e capotou. Fiori conversou com os engenheiros e capotou. Paulo se enfiou na barraca (sim, só ele levou sua tenda) e capotou. Mas este q vos aqui escreve jogou plástico no capim fofo, isolante por cima e me encasulei saco-de-dormir pra não sair mais. E capotei antes de tds eles juntos!  A noite, a semelhança da anterior, foi agraciada com uma enorme lua cheia q dispensou headlamps na hora de “regar a moita”. Mas, diferente do outro pernoite, não ventou nadicas e isso possibilitou o acúmulo duma fina camada de umidade no meu leito. Resultado, dormi parcialmente ensopado mas este detalhe passou despercebido perante o nível de exaustão física no qual me encontrava. Dane-se! Capotei e dormi feito neném td noite.
No dia sgte levantamos assim q os braços do Astro-Rei tocaram nossos bivaques umedecidos, ao mesmo tempo q iluminava td a nossa volta tornando mais nítida a belíssima paisagem de gigantes da natureza. Hora de cliques, vários! Deu até pra avistar outro grupo na nossa rabeira, acampado no Espinhento, q depois soubemos ser os Montanhistas de Cristo. Assim q o fogareiro ronronou e providenciou um saboroso café-da-manhã, as cargueiras devoraram  nossas tralhas q já se mostravam parcialmente secas. Mas antes da galerinha engenheira zarpar, claro, uma foto em conjunto pra eternizar em pixels o momento. E logicamente q a deixa pra “tirar uma foto com o Pelado nas costas” foi motivo pra mais de uma infame tiração de zarro entre todos os presentes, assumidamente másculos e viris.
Vazamos logo após eles, por volta das 9hrs, ignorando a “Freeway” e ganhando as campinas q forram o ombro montanhoso a nordeste, tendo como fundo o paredão íngreme e imponente formado pelo Bandeirantes, Angelo e Leão. Em tempo, “Freeway” é uma trilha aberta pelo marumbinista Toninho Palmiteiro q serve de atalho do Pelado á Estação Marumbi, e é a vereda utilizada numa versão reduzida da “AO”. Claro q abrimos mão desta versão pois ela ignora o Leão e o Boa Vista, picos q necessariamente desejávamos palmilhar.
Voltando á pernada, após o ombro serrano começou uma forte piramba vale abaixo, cujo desnível de 200m  foi bravamente vencido, pra então encostar na primeira fonte de água encontrada, as 10hr. Dali em diante, em fila indiana com a molecada, comecamos a ganhar altitude suavemente acompanhando o correguinho em questão, pra depois penetrar num vale formado por gdes pedras e pequenas gretas cobertas de musgo. Até q finalmente as 11:30hr chegamos no selado q separa o Angelo do Bandeirantes, na cota dos 1442m. Aqui a engenheirada se pirulitou pro Bandeirante, cume q abrimos mão por ser menor q o Angelo, claro.
Após uma retomada de ar e consumir mais uma das inúmeras balinhas q o Paulo oferecia pra gente, iniciamos a subida íngreme e derradeira  do Angelo, montanha batizada em homenagem a Angelo Pilotto, rebelde federalista e ex-prefeito de Porto de Cima. Desta vez, a ascensão pareceu bem mais amigável e menos perrengosa q a do Pelado, por exemplo. Fomos enfim recebidos por ventos de furacão nos afloramentos rochosos no cume , as 12:30hr, assim como por um bando de urubus q planava sob nossas cabeças sem sair do lugar. A exatos 1550m abria-se um panorama aparentemente bem mais ameno na continuidade de nossa jornada, q se limitava a palmilhar a suave e larga crista de capim dançante até o Leão.
E em coisa de meia hora, finalmente damos nos 1554m do pto culminante da Serra do Marumbi, o Leão, onde uma rochedo serve de mirante de todo entorno como também guarda mocado entre suas frestas um livro de cume, q tds assinaram. Livro de cume é modo de dizer, pois era um pequeno bloco de notas do Hello Kitty envolto num saco impermeável. Isto pq o Fiori pegou a caixa metálica (velha e enferrujada) q o envolvia afim de devolvê-la ao seu dono, o Vitamina. Eu me joguei no chão e fiquei apenas curtindo o belo visual descortinado ao norte, onde o Boa Vista erguia seu domo em primeiro plano, seguido pelo Cjto Marumbi logo atrás. A titulo de curiosidade, a montanha ganha este nome em homenagem a Bento Manuel Leão companheiro de primeira hora do Carmeliano na conquista do Olimpo.
Após breve momento de descanso na relva e com o sol cozinhando os neuronios decidimos q era hora de partir. Até ali a galera do Brotto estava mais turbinada q o “The Flash” e já havia nos alcançado, pra variar. Alias, foi aqui q tivemos ajuda deles na busca da continuidade da vereda, q se perdia facilmente entre a quiçaça e o capim alto das encostas. Claro q em cjto td fica mais fácil, pois td mundo se espalhou pra td qto é lado até q finalmente alguém gritou: “É por aqui!”. Ufaaaa!
Teve inicio um ziguezague íngreme pela encosta de pasto até finalmente td trupe sumir no vale sgte, e onde só paramos as 14:30hr, após um forte declive de 150m. Ali tivemos nosso ultimo encontro com os engenheiros, as margens duma vala q vertia o precioso liquido e onde beliscamos alguma coisa antes de empreender a subida derradeira ao Boa Vista. Bem mais disposta e de invejável vigor adolescente, a molecada se mandou piramba acima, enqto a gente ainda teve mais alguns minutos pra tomar folego antes de começar a subir. Diferente deles íamos sem pressa, seguindo apenas nosso ritmo.
A subida q veio a seguir começou envolta na mais densa mata pra depois ganhar trechos abertos e expostos da face sul da montanha. Ambas com mesmo nível de dificuldade pela alta declividade. A impressão era de q ascendíamos pelo pior e mais ingreme lugar, mas não tinha como escapar dela. E tome escalaminhada forte o tempo td, com muitas paradas pra ganhar fôlego, remover o mato em volta ou apenas pra apreciar a paisagem por sobre o ombro. Teve dois trechos verticais onde uma corrente fincada na pedra ajuda a vencer o desnível num paredão, trechos onde pensei ter dificuldades mas q felizmente tirei de letra. Se bem q no primeiro o Fiori teve q subir antes e puxar as cargueiras (com a corrente) pra só depois o resto ascender com mais segurança e mais equilíbrio naquela laje pra lá de exposta.
E depois de  escalar mais mato morro acima, emergimos da encosta pra desfalecer nos 1480m  do alto do Boa Vista, cujo nome faz jus a vista q se descortina a nossa frente: o Cjto Marumbi em primeiro plano, numa perspectiva privilegiada, tendo o Olimpo apontando seu dedo rochoso pro céu. Eram 15:30hr e ficamos ali, jogados no capim duma aprazível clareira, o suficiente pra descansar e ponderar a rota a seguir. Havia a opção de vitaminar a “AO” estendendo o rolê até o alto do cjto Marumbi, opção descartada pelo Fiori por vários fatores: cansaço generalizado; indisponibilidade de mais um pernoite pela urgência de uns de voltar pra casa; e até daquele setor já ser de conhecimento de todos os integrantes de outros carnavais, além de ser turístico á beça. Claro q não reclamei da decisão, pois ela omitiu a ardilosa Pedra da Lagartixa, único lugar onde certamente teria, literalmente, travado. Afinal, sou apenas trilheiro e não escalador. Mas parece q essa decisão foi daqueles casos onde a emenda sai pior do q o soneto, pois nada me havia calçado por estaria por vir, mas já já toco nesse assunto.
Pois bem, após acionar o Luciano pra ir nos buscar na sede do IAP dentro de 5hrs, do Boa Vista iniciamos a íngreme descida montanha abaixo, inicialmente atraves de lajotas verticalizadas em meio ao mato rasteiro. Ali tivemos não apenas o penúltimo vislumbre do belíssimo conjunto Marumbi como tb dos engenheiros florestais, q praticamente já quase beijavam os paredões do majestuoso Olimpo, por sinal repleto de turistas! Imediatamente lembrei da última vez q ali estivera, mais de década atrás, onde subi ao alto daquele maciço pela via Frontal e descera pela Noroeste. É, pra mim a missão já tava mais cumprida e não precisava esticar mais nada mesmo! Os cumes selvagens da “AO” já haviam sido vencidos…
Pois bem, mergulhamos então na mata fechada sempre na mesma forte declividade do inicio pelo Vale dos Ovos, onde perdemos altitude num piscar de olhos. Afinal, tínhamos pela frente um desnível superior a mil metros! Uma vez na famosa “Trilha do Pau Maneco” não tardou a interceptar o comecinho da “Freeway”, onde fizemos questão de ter nossa primeira parada num aprazível correguinho q vertia água deliciosa por lajes sucessivas. E tome pirambeira montanha abaixo q não termina mais, pra suplicio dos nossas já combalidos joelhos! Logicamente q não me fiz de rogado e mantive minha posição q assumi desde o inicio do rolê, isto é, a última da fila. E não me incomodei nem um pouco com isso. Diferente dos meus colegas q, mais ágeis e rápidos, preferia tatear cautelosamente o terreno q pisava, repleto de buracos escondidos, atrasando meu avanço já lento pelo visível cansaço acumulado. Logo abaixo, numa fresta de vegetação avistei pela última vez o maciço do Marumbi, agora banhado de tons alaranjados do final do dia.
Mas não há nada ruim q não possa ficar pior, claro! Não demorou pro manto negro da noite cair sobre aquela encosta e a desescalaminhada constante passar a ser feita no escuro, à luz de lanternas! E se já era o último da fila este detalhe apenas terminou me distanciando mais dos meus colegas. Juro q nunca suei tão frio na vida. O corpo estava cansado, tenso, clamando por aquele perrengue terminar o qto antes, só se mantinha ainda em pé devido à adrenalina correndo farta pelo corpo! E o pensamento inevitável de “q diabos to fazendo ali?” nunca fez tanto sentido como naquele momento. Foi qdo de repente reparei q não andávamos por mais trilha alguma e, feito macacos com headlamps, nos vimos no epicentro dum mega deslizamento q trouxera meio morro abaixo. Paramos pra descansar e pensar direito, pois ali no escuro, em meio a toneladas de entulhos de pedra, árvores e terra, andar naquelas condições era sinônimo de sumir numa grota ou abismo. Nessa hora dei graças a Deus por não enxergar com clareza a declividade a minha frente e dos medonhos buracos q nos envolviam, pq senão simplesmente teria empacado ali e aguardado o dia nascer. Só sosseguei qdo alguém gritou a palavra mágica: “Fita!”. Benzadeus!
A descida então prosseguiu em segurança, porém no mesmo compasso anterior, isto é, no limiar do último pingo de energia q ainda restava nos meus músculos e joelhos, estes já em frangalhos. É, não fui concebido mesmo pra andar a noite! Meu único consolo era o da proximidade dum curso dágua próximo e q sempre acompanhámos a distancia, rio este q uma hora teríamos q cruzar. E após um sufoco q não recomendo a ninguém o terreno enfim amansou, a trilha se alargou, cruzamos a entrada da Frontal (e da Cachu dos Marumbinistas) e paramos pra descansar na confluência do Rio Taquaral. Descanso breve mas q nunca foi tão delicioso pra td mundo, pois ate ali todos caminhavamos zumbificados unicamente sob efeito da inércia. Uns até dopados na base de analgésicos.
As 20hr chegamos na Estação Marumbi, já na cota dos 440m, onde passamos discretamente por trás da sede do parque pra dali alcançar a Est. Engº Lange e ainda nos arrastar por quase 4km intermináveis por estrada de chão até o posto do IAP. O joelho latejava de tanta dor, mas imediatamente regozijou-se de alegria ao avistar enfim o Luciano a nossa espera. Felicidade total, claro! Na sequência nos pirulitamos pra casa do Moisés, onde nos fartamos de breja, refris e um delicioso empadão de frango preparado pela Berê, esposa do anfitrião. E após as devidas despedidas dos companheiros de trilha, finalmente pude me regozijar com um merecido banho na casa do Fiori, pra depois cair nos braços de Morpheus e ter a impressão de q td aquele perrengue de 3 dias não passou unicamente dum sonho. Um sonho perrengosamente saudável, claro! Missão cumprida!
Pois é, e essa foi minha experiência pela famigerada “Alpha-Omega”, batizada desse nome chique pelo histórico marumbinista Paulo Henrique Schimidlin, o Vitamina. Mais conhecida q a “Farinha Seca” e menos que a “Ciri-Graciosa”, a “Alpha Omega” tem algo em comum: forma com ambas a trinca de travessias super-selvagens do estado do Paraná q exigem o máximo do andarilho da vez. À diferença de qq pernada no conjunto Ibitiraquire, aqui a trilha se resume a mero rastro (isso qdo tem) e o avanço se dá na raça por gargantas e gretas sinuosas, chão instável, encostas forradas de mato e cumes raramente com visual. Sim, escassos de visu mas repletos de quiçaça e macega, arbusto lenhoso equivalente ao lendário capim-elefante da Serra Fina. Isso sem contar nos trechos verticais e pra lá de expostos, q demandam não apenas escalada técnica como tb condicionamento físico impar além de muito, muito sangue frio. Isso já basta cunhar a “AO” como uma das travessias selvagens mais casca-grossa do país, sem sombra de dúvidas. E independente de percorrê-la na sua variante abreviada  ou completa, o fato de conclui-la já vale o sacrifício. Sim, comi o pão-q-o-tinhoso-amassou-com-o-próprio-rabo, mas no final consegui riscar mais essa pendência do caderninho. Afinal, o prazer de cumprir velhos objetivos realmente é algo que não tem preço.
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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