A Justiça argentina investiga a morte do guia abandonado no Aconcagua

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A Justiça argentina tenta estabelecer responsáveis pela morte do guia que foi abandonado enquanto estava com vida, após uma tentativa de resgate no Aconcagua.


Campanini faleceu em 8 de janeiro deste ano depois de uma tentativa de operação de resgate. No vídeo que gravaram os encarregados do resgate se pode compreender que Campanini não tinha forças para se mover enquanto cinco pessoas tentavam arrastá-lo com uma corda atada em torno de seu corpo.

“Não se pode parar, estamos nos congelando, nos faltam 400 metros até o cume e ele não se move. Se está morrendo, não aguenta mais de 40 minutos”, se ouve dizendo um dos socorristas por rádio enquanto as imagens mostram Campanini estendido na neve.

Inclusive num momento da trágica cena, um dos membros da patrulha insulta o guia tentando encoraja-lo a reagir, enquanto este permanece no solo gelado.

Finalmente, o guia foi abandonado ao ficar comprovada a impossibilidade do resgate. O cadáver de Campanini foi resgatado somente 20 dias depois de sua morte, e até há poucos dias atrás não se conhecia o conteúdo da gravação. Um escalador italiano membro desta expedição também faleceu.

Forte polêmica na Argentina
A difusão do vídeo iniciou uma forte polêmica na Argentina, sobretudo depois de que Carlos Campanini, pai do guia, denunciou publicamente que seu filho havia sido “abandonado como um cachorro” no Aconcagua. Carlos está disposto a levar sua denúncia “até a Corte Interamericana de Direitos Humanos”.

Como consequência da polêmica, o Governo da província argentina de Mendoza destituiu o chefe da patrulha de resgate do Aconcagua, o comissário Armando Párraga, com 30 anos de experiência na montanha.

“O dia de minha retirada tinha que chegar, mas não queria sair assim, em meio a um caso tão penoso. Me sinto mal, mas parece que alguma cabeça tinha que rolar e começaram pela minha”, comentou Párraga em declarações à imprensa de Mendoza.

Os dois policiais e os três andinistas que se encontravam no cerro e atuaram como voluntários na operação de resgate de Campanini serão citados para depor ao juiz, que abriu uma investigação por “averiguação de morte”.

No vídeo “não se ve os socorristas tão cansados, estão erguidos e podem se comunicar sem dificuldade. Alguém deverá explicar porque não continuaram com a operação”, afirma o advogado da família do guia, Gianni Vannier.

Os sobreviventes do grupo de montanhistas italianos acidentados no Aconcagua disseram que só conseguiram sair com vida graças a “destreza e colaboração” de Campanini, que morreu poucas horas depois que a escaladora italiana Elena Senín, de 38 anos.

O vídeo não é definitivo
O objetivo agora é estabelecer a responsabilidade dos integrantes da patrulha de resgate na morte de Campanini. Segundo assegurou o fiscal de Delitos Complexos, Luis Correa, em declarações que prestou ao diário Los Andes, o vídeo não esclarece se o guia foi abandonado ou não com vida.

Correa afirma que este vídeo inclui “três minutos de filmagem sobre um trabalho de resgate que durou seis horas, e a partir de sua projeção não se pode estabelecer como ocorreram os fatos”.

Uma opinião similar é a do vice-presidente do Clube Andinista Mendoza, Ricardo Jurado, que assegura no diário La Gaceta que “com um vídeo de dois minutos não se pode julgar um resgate que durou três dias”.

Outro aspecto polêmico deste assunto é saber se existiu ou não ordem judicial para abandonar Federico Campanini com vida na montanha. Na filmagem se escuta o chefe da expedição, José Luis Altamirano, solicitar “autorização à juiza para deixá-lo” ante a impossibilidade de efetuar o resgate.

O diário Clarín assegura que a funcionária não deu a ordem de abandonar o guia e que a decisão corresponderia ao próprio Altamirano como responsável da expedição.

Hoje dois agentes de resgate poderão ser indiciados pela morte do guia no Aconcagua
São os policiais de montanha José Altamirano e Diego D’Angelo, que não puderam salvar com vida Federico Campanini no cume do cerro. Poderão ser indiciados por “abandono de pessoa” e “omissão de socorro”.

Os dois policiais que participaram da operação de resgate do instrutor andinista, José Luis Altamirano e Diego D’Angelo (os outros quatro membros da expedição eram voluntários) declararão hoje diante do fiscal de Delitos Complexos Luis Correa Llano na capital mendocina, segundo informou o portal de notícias Mdzonline.

Eles deverão justificar a ação mostrada nos quase três minutos de vídeo dentro da operação que levou seis horas sabendo que podem ser indiciados por “abandono de pessoa e omissão de socorro”. No caso da justiça determinar que atuaram como corresponderia, seus testemunhos só passarão a fazer parte do inquérito.

Por sua vez, ontem prestou depoimento o doutor Ignacio Rogé, médico do Parque Aconcagua, que é andinista e embora estivesse na base em Plaza de Mulas, na ocasião do resgate, subiu até Nido de Cóndores para prestar assistência aos acidentados.
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A testemunha só comentou que o grupo que foi buscar os andinistas perdidos (três italianos e Campanini) empregou um procedimento convencional chamado “triagem” que prioriza a vida dos agentes de resgate e as possibilidades que possuem os resgatados de sobreviver ou não.

Quando consultado se houve negligência de pessoas que subiram voluntariamente para fazer o resgate. “É preciso estabelecer primeiro se houve ou não a ocorrência de um delito. Se alguém assume o papel de agente de resgate como voluntário, assume a tarefa com todas as obrigações. Muito mais ainda os policiais porque é sua função”, respondeu o fiscal.

Ainda, o fiscal confirmou que o guia de montanha faleceu no dia 8 de janeiro às 18h40m devido a um edema pulmonar produzido por um estado de congelamento.

Com informações de InfoBAE.com, Mdzonline, Clarín, RTVE.es/AGÊNCIAS DE BUENOS AIRES

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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