O que seria de São Paulo sem São Bento?

0

Isso não é duelo de santos, mas sim uma constatação. Todos já sabem que o Estado de São Paulo, por uma questão geomorfológica, é desprovido de locais de escalada em quantidade, entretanto, ao se falar de qualidade, a cidade de São Bento do Sapucaí concentra as melhores escaladas paulistas, desde o boulder até o big wall.


São Bento de Sapucaí fica a cerca de 180 Km de São Paulo, no meio da Serra da Mantiqueira e no limite com Minas Gerais. A cidade é pequena e a maior parte da população vive no meio rural. Nem de longe parece com o badalado vizinho Campos do Jordão, cidade produzida para o paulistano rico se sentir na Europa. São Bento é uma típica cidade caipira aos moldes das cidades descritas por Monteiro Lobato, com a diferença que não é nem um pouco morta, pelo contrário…

Em São Bento fica a famosa Pedra do Baú com seus dois picos adjacentes, a Ana Chata e o Bauzinho. Neste conjunto ficam as maiores vias do Estado de São Paulo e lá têm escaladas pra todos os níveis. Na Ana Chata é onde há as vias mais fáceis, como a Lixeiros, a Peter Pan. Vias em estilo tradicional, mas bem protegidas para iniciantes. Lá mesmo há vias um pouco mais completas, com colocações mistas e um pouco maiores, como a Elektra, uma das clássicas do morro.

No Bauzinho há vias maiores, como a “V de Vingança” que tem cerca de 200 metros de altura. Ao lado desta via já há outras mais exigentes, como a “Neurônios Fritos” que tem um enorme teto em A3 seguido por uma enfiada em livre de sétimo grau. Apesar da dificuldade, por ser uma via curta demora-se somente um dia inteiro para escalá-la, ao contrário das vias do Baú.

No Baú ficam os únicos big walls de São Paulo. O primeiro deles foi a via “Domingos Giobbi”, conquistada em 1989 que tem lances de A3 em cliffs de agarra podre, assim como a “Distraídos venceremos” a maior via do morro com enfiada crux igualmente difícil. Estas são escaladas que se realizam quase sempre em dois dias, pois a parede é demasiadamente grande e os lances em artificial demasiadamente delicados para serem escalados mais rápidos. Há ainda outra via recentemente conquistada por Bito Meyer e Karina Filgueiras que seguem a mesma sina de via longa e exigente, a “Cães e Caravanas”.

Engana-se, no entanto, que o Baú só tenha vias difíceis de big wall. Um dos melhores acessos ao cume é pelo col entre este morro e o Bauzinho. Lá é onde fica a normal do Baú, uma via de terceiro grau acessível e com um lindo visual. Esta linha termina embaixo do “teto” do baú, que é uma das possibilidades de escalada, realizada obviamente apenas em artificial.

No Baú também têm vias esportivas, isso porque em seu acesso pela parede norte, passa-se por diversas “falésias” mais curtas. Lá há vias fáceis, como no Campo Escola, e também por outras mais perto do cume de sexto e quinto grau. Do outro lado, perto da normal do Baú, há outras vias bem esportivas realizadas em um estilo mais arrojado, como a “Perereca de Lúcifer” e a “Learning to fly” que mistura dificuldade com lances em móveis. Há ainda vias super esportivas, como a Bagulho ignorante, 9c.

Na “traseira” do Baú há duas vias tradicionais de grande dificuldade, são elas a “Marvada Bunda” e “Parque dos Dinossauros”. Nelas você terá que escalar lances de sétimo grau e usar colocação em móvel em uma das faces mais bonitas e empinadas do morro.

A escalada em São Bento não se resume apenas no complexo do Baú. Há ainda diversas “Falésias” para escalada e a mais popular delas é a “Divisa” que tem vias excelentes, na maioria, esportivas, com dificuldade de até 9c. Há também uma via de 5 enfiadas bem fácil que é a “lacas voadoras”.

Ao se falar em escalada esportiva, uma das falésias mais populares e que fica na verdade na vizinha Paraísopolis, em Minas, é a “Falésia dos Olhos”. Lá estão concentradas as vias de maior dificuldade da região e de grande beleza, mas que é para poucos, só quem manda oitavo e nono grau embora haja um sétimo para “aquecer”.

No caminho para Paraisópolis ainda há outras falésias, como a do “Lagarto”, que fica ao lado da rodovia e que concentra diversas vias do 6sup até o oitavo grau em um granito bom, aderente e de regletes impiedosos. Há ainda a “Vista Aérea”, com muitas vias boas em um local bem acessível.

Por falar de boulder, em São Bento fica a linha mais difícil do Brasil, “O dia Santo” que foi recentemente escalado pelo André Berezosky e o escalador local “Leandro Pardal”. Os principais locais de boulder em São Bento são os Blocos do Serrano e do Lagarto.

São Bento sempre reuniu escaladores, sendo que alguns até deixaram a vida da cidade grande para se dedicar somente à escalada e a abertura de novos locais. Um deles é o Eliseu Frechou, que conquistou cerca de 200 vias na região e fez de São Bento sua escola para escalar em Yosemite e conquistar big walls até mesmo na África. Eliseu hoje gerencia uma escola de escalada que já formou centenas de escaladores e um refúgio de montanha, o “Montanhismus“.

Nem tudo é boa notícia em São Bento. Infelizmente alguns locais foram fechados por proprietários devido à conflitos com os escaladores, como a Falésia do Serrano e os Boulderes do Aranha. Muitas vezes a relação entre os sitiantes e os escaladores não são das melhores, pois os locais sempre prezaram pela paz e tranqüilidade dentro de suas propriedades, por isso pede-se sempre a manutenção da cordialidade e respeito para que os novos locais de escalada na região mantenha-se sempre aberto, pois a região de São Bento do Sapucaí é a mais importante para a escalada do Estado de São Paulo e por todos estes motivos, seja pela qualidade e quantidade, São Bento do Sapucaí é um local bem eclético quando o assunto é escalada. Conheça, preserve e curta!


Visualizar São Bento do Sapucaí em um mapa maior

Compartilhar

Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

Deixe seu comentário