Alê Silva fala do inevitável fechamento da Casa de Pedra

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A Casa de Pedra é um sinônimo de qualidade quando o assunto é ginásio de escalada no Brasil. A grife já possuiu três endereços em São Paulo e agora irá ficar com somente um. Por que a escalada em São Paulo está em decadência? Confira a entrevista que Alê Silva, o proprietário do ginásio, deu a Luciano Fernandes


Há exatamente um ano atrás, a mesma notícia foi veiculada aqui no AltaMontanha, com grande comoção por parte dos escaladores, que se uniram para juntar forças e manter este importante ginásio aberto ao público. Passado um ano, nada adiantou e a Casa de Pedra finalizou, novamente, o ano no vermelho. Desta vez não haverá mais discussão, a Casa de Pedra da Chácara Santo Antonio vai encerrar suas atividades.

Ginásios de escalada são fundamentais para o desenvolvimento da atividade, tanto como esporte, como cultura.

Primeiramente eles são locais muito didáticos para os principiantes e porta de entrada para muitos escaladores. Segundo, eles são locais para treinamento e evolução de escaladores mais experientes, Terceiro, eles são pontos de encontro da comunidade, locais para realização de eventos e campeonatos. Em uma cidade como São Paulo, que a rocha de qualidade dista mais de cem quilômetros de distância, percorridos com muito trânsito, a importância dos ginásios eleva-se ao quadrado.

Para se ter uma idéia da importância da Casa de Pedra em um cenário nacional, lá treinaram vários campeões brasileiros de escalada esportiva, como o próprio dono do ginásio, Alê Silva, Alexandre “Linha” Paranhos, André Berezoski e Cesar Grosso, além de Janine e Paloma Cardoso, totalizando cerca de 20 títulos brasileiros somente com estes nomes.

Com 11 anos de existência, a Casa de Pedra da Chácara Santo Antonio, foi o primeiro ginásio do grupo e é considerado pelos escaladores o que tem a melhor estrutura para treino, mas já teve dias melhores. Em épocas em que a escalada tinha maior visibilidade, campeonatos eram cheios de participantes e de premiações. O cenário da escalada em São Paulo é muito diferente daquele de dez anos atrás, o que mostra que por lá a escalada teve um ápice influenciado por uma moda, que passou.

Hoje, por mais que haja atletas com nível elevadíssimo e que a escalada tenha amadurecido muito, falta, pelo menos em São Paulo, uma massa volumosa de pessoas que consiga mantém funcionando uma estrutura completa (e cara) como a Casa de Pedra.

Confira a entrevista que Alê Silva (proprietário da Casa de Pedra) deu à Luciano Fernandes, colunista do AltaMontanha e dono do Blog de Escalada, sobre o fechamento do ginásio:

1 – Sei que é doloroso entrar em detalhes do fechamento da unidade Morumbi, desde as tomadas administrativas que foram tomadas no início deste ano, não surtiram o efeito e alcance planejado?

Cara, investimos um pouco nas reforminhas que você mesmo viu, deixamos o preço mais adequado à estrutura daquela unidade e tal…

Tivémos uma melhora boa no número de alunos e conseguimos pagar as contas por alguns meses, mas no balanço do ano, veio mais uma vez um buraco.

Cara, se fosse alguns anos atrás eu ainda tentava, mas são 12 anos agora, já não tenho mais 90% coração e 10% razão e sim o contrário.

2 – Havia o rumor de que depois do quase fechamento o movimento e fluxo de alunos na unidade Morumbi tinha aumentado, foi abaixo do esperado?

O número de alunos quase dobrou, durante a semana dava gosto de ver aquela galera toda treinando, porém os alunos sempre representaram quando muito 50% do faturamento, o restante vem de diaristas, festinhas e eventos, e esse fluxo já não é mais o mesmo há anos…

A “moda” da escalada passou, e infelizmente não há hoje uma massa crítica de escaladores para fazer o ginásio rodar.

3 – Acredita que está ocorrendo uma grande diminuição dos escaladores na cidade de São Paulo?

Sem dúvida alguma.

4 – Houve uma grande movimentação e comoção de muitos que frequentam a unidade Morumbi ano passado, estas mesmas pessoas já entraram em contato com você sobre a decisão?

Já recebi muitos emails de pessoas que sentem muito pela perda, se mostraram solidárias ou mesmo perguntaram o que podiam fazer para ajudar.

Eu respondo pessoalmente cada um dos emails agradecendo muito pelas palavras, fico muito feliz com o carinho que todos tem pela CP, mas desta vez é pra valer.

Por mais que todos amem aquele lugar o preju no final do mês é só meu…

5 – Acredita que algum dia poderá reabrir normalmente a unidade Morumbi?

Cara, o espaço estará lá aberto para festas, eventos e campeonatos por enquanto. Vamos adequar melhor o espaço para receber festas, deixar mesas montadas onde hoje é a musculação, tirolesa para criançada, etc.

Porém já tenho um possível comprador que só está aguardando a papelada do financiamento sair. De qualquer forma terão corretores trabalhando o imóvel.

Enquanto isso quem sabe agente não junta uma galera e faz um evento a cada 2 ou 3 meses.

6 – A unidade morumbi é considerada a academia mais completa do Brasil com todos os aparelhos necessários para todos os tipos de treinamentos, estes aparelhos serão transferidos para a unidade Perdizes?

Faremos um apanhado do que há de melhor nas duas academias, juntaremos as agarras, etc, porém algumas coisas como o System Wall que é um puta trambolho… não sei se conseguiremos encaixar em Perdizes!

7 – Um problema crônico e impossível de se contornar na cidade de São Paulo é o trânsito. Acredita que os alunos que frequentam a unidade Morumbi irão se deslocar para Perdizes?

Minha perspectiva pessimista é que 1/3 dos alunos passem a escalar em Perdizes o que representa hoje pouco mais de 30 alunos novos nesta unidade. O que seria muito bom também pra dar um gás por lá!

Estamos oferecendo gratuitamente um plano trimestral pra todos os alunos da Chácara, para que eles criem o hábito de ir até lá, descubram o melhor horário, o melhor caminho pra fugir do trânsito e tal…

8 – Em números relativos O que faz perdizes ser mais rentável do que a Morumbi?

Perdizes tem mais alunos e ponto. É mais bem localizada, está numa área de maior densidade populacional, tem acesso mais fácil e é maior. E não é só isso, tem o fato de dividir além do público, a minha atenção.

9 – Com a unidade perdizes reunindo todos mensalistas da casa de pedra, haverá eventos internos como no passado?

Isso é um circulo vicioso ou virtuoso, se a coisa vai mal, todos ficam desmotivados, não realizamos eventos e assim a coisa gira.

Eu espero juntar os clientes numa única unidade, dar um gáz pra valer, melhorar a estrutura e com um maior número de alunos e todos motivados, os eventos acabam surgindo!

10 – haverá uma festa de encerramento daquele que foi o principal endereço da Casa de Pedra?

Estou pensando numa mensalidade promocional para este último mês e quem sabe faremos uma festa de encerramento…

Mas sei lá, pra mim é meio como dar uma festa num funeral… fica estranho comemorar o encerramento de uma empresa, vc não acha?

Veja mais:

Fechamento da Casa de Pedra e o cenário dos ginásios no Brasil

O que fez a Casa de Pedra fechar?

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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