Patricia Mattos fala das dificuldades de organizar competições de escalada

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Patricia Mattos junto com Luís Alves, são os responsáveis pela realização de campeonatos de Escalada no Estado do Rio de Janeiro. Recentemente eles divulgaram, em nota oficial, um comunicado que o ranking Fluminense poderia não ocorrer em 2010 se até Março a FEMERJ não conseguisse viabilizar patrocínios. O colunista do AltaMontanha, Luciano Fernandes, entrevistou Patricia, onde ela fala da dificuldade de organizar e a importância que as competições têm para a escalada.

Por Luciano Fernandes

1 – Patricia, em um Estado com tantos atrativos naturais de escalada em rocha, como é administrar um ginásio?

Bem, o ginásio fica em Niterói, no bairro de Icaraí, zona sul.

Icaraí tem as rochas à uma distância praticamente igual para quem quer escalar tanto em Niterói (refiro-me a Itacoatiara), quanto para quem quer escalar na cidade do Rio de Janeiro.

Quem frequenta o ginásio, na maioria, são pessoas que trabalham ou estudam e que só tem o horário da noite para treinar durante a semana, tanto para escalar em rocha nos finais de semana, quanto para manter a forma e também para competir.

O ginásio acaba sendo um lugar onde o pessoal se encontra e marca escaladas em rocha e até mesmo levam, com muito carinho e cuidado, aqueles que nunca viram o Reino Mineral para conhecê-lo pela 1ª vez.

Eu trabalho com ginásios de escalada há uns 15 anos, eu me baseio no tempo pela Casa de Pedra, foi um pouco antes dela abrir, e é muito gratificante. Vi alunos crescerem e se tornarem excelentes escaladores e vejo muita gente boa chegando até hoje, com muito potencial. Eu chamo todos de meus “filhos”, sim, porque como minha presença é diária no ginásio nós somos uma grande família.

Claro que existem os “filhos” mais antigos e os que até pararam de escalar, pois formaram família e seguiram a vida, mas eu nunca perdi o contato com eles.
O meu método de ensino é simples e de rápida compreensão.Eu me baseio na minha experiência, em quando aprendi a escalar e em todos os medos e apreensões que tive no início e tento assim minimizar isso ao máximo quando um aluno chega totalmente leigo.

Eu acredito que com carinho, respeito, paciência e humildade por essa pessoa que chega sem nenhum conhecimento eu consigo fazer com que ela relaxe e pense só nos movimentos de escalada tendo assim uma performance cada dia mais animadora.
Depois esses novos alunos automaticamente se interessam pela rocha.

Eu falo muito sobre o quanto é importante um curso básico de escalada e sempre indico os profissionais da AGUIPERJ ou do Clube Niteroiense de Montanhismo o CNM.

2 – Como surgiu a oportunidade de ser a responsável por todos os campeonatos do Estado do Rio de Janeiro?

Eu aprendi a organizar campeonatos em 1994 pela Federation Française de la Montagne et de L´Escalade.

Nessa época ainda não existiam as Federações nem a Confederação, então uma agência de São Paulo ofereceu esse curso e a FFME nos enviou o Olivier Fouber, um escalador de ponta, na época, muito experiente e excelente professor.

Eu saí então formada pela FFME como Organizadora de Eventos à Nivel Nacional.
Foi muito legal a experiência, foram 15 dias no SESC Ipiranga que resultou no Open de Escalada Esportiva Brasil nos dias 20 e 21 de agosto de 1994 no próprio muro do Sesc Ipiranga.

Eram vários cursos na verdade, tínhamos que escolher um para receber o diploma, mas podíamos assistir aos outros cursos também, então eu saí de lá sabendo ser juíza, “route-setter”, treinadora e organizadora. Depois desse curso, eu que já tinha o meu 1º ginásio com Alexandre Galvão, fiz vários campeonatos.

A premiação era muuuuuito boa na época: muita corda Beal, sapatilhas 5.10, muita ferragem, premiação em dinheiro (R$ 1.000,00) e até passagens para a Europa, para o feminino e para o masculino (quem ganhou na época já foi a Janine e o Guile).

Realizei até hoje cerca de 18 campeonatos ou mais, e participei como atleta de uns 50 campeonatos pelo Brasil.

Tivemos no Estado do Rio de Janeiro uma Associação que realizou algumas etapas do Ranking Estadual, não me lembro muito bem as datas mas foi em torno de 1999, eu participava do staff pois estava grávida, era locutora e juíza.

Com o surgimento da FEMERJ, vieram os Rankings Estaduais nos anos de 2002, 2003 e 2004, sob a batuta do Alexandre Diniz, atualmente responsável pelo BANFF.

Depois que o Diniz saiu ficamos 3 anos sem ranking, foi quando o Presidente da FEMERJ, Bernardo Collares me chamou para tentar fazer um campeonato na ATM, mas começar assim com um Brasileiro não rolou, então reativei o ranking estadual para além de me acostumar a trabalhar com uma Federação tentar trazer ao Estado do Rio de Janeiro uma competição à nível Brasileiro.

E cá estou eu com as dificuldades atuais, mas tentando ainda, claro!!

Eu não sou fácil de desanimar, eu posso recuar, mas desanimar nunca.

3 – Em um e-mail muito comentado na lista da FEMERJ você esclareceu a situação dos campenatos no Estado do Rio de Janeiro. Como a situação da escalada de campeonatos chegou a este ponto?

Não sei explicar muito bem, mas que a coisa tá difícil tá!

Veja no meu e-mail que a idéia é justamente não pedir um valor absurdo para realizar uma etapa.

São cotas de Apoio de R$ 250,00 e de Patrocínio de R$ 500,00.

O Deptº de Competições quer ser justo e pensou em pequenas cotas, pois se os lojistas e empresários se juntarem o Ranking Estadual sai.

Tem também a hipótese de uma empresa maior comprar todas as cotas e ter o nome do evento.Tudo é possível!!

É só uma questão de conversa, para isso sempre disponibilizo meus celulares, o telefone de minha residência e meu MSN. Sou uma pessoa super acessível e simples de lidar.

Só não suporto: enrolação (gosto de respostas diretas), pessoas malandras que querem se dar bem e voluntários que se oferecem e depois não trabalham direito.

Eu sou uma voluntária da FEMERJ e respondo à todos sempre! Nunca deixei de dar uma resposta justamente por que não gosto que façam isso comigo.

Mas voltando……eu ainda tenho muita fé de que consigo realizar senão todas, pelo menos duas das etapas estaduais. Esse é o momento em que os atletas de competição tem como mostrar o resultado de seus treinos não só para eles mesmos mas também para um possível patrocinador.

É muito importante fomentar a competição no meio da escalada esportiva!!
É uma das formas dos atletas conseguirem “Bolsa Atleta”, uma ajuda de custo dada pelo Ministério dos Esportes.

4 – Sempre que há a espectativa de uma etapa do brasileiro no Estado do Rio de Janeiro, algo acontece para cancelar. A que se deve este cancelamento?

São vários os motivos. Vamos lá!!

Patrocínios, é sem dúvida um dos maiores problemas.

Voluntários, não me refiro aos de um “staff” de competição, esses não tem que ser mais voluntários, eles tem que ser pagos. Em 2008 não consegui realizar a etapa do Brasileiro na ATM por falta de estrutura.

Em 2009 nem tentamos. Para esse ano de 2010 ainda não está finalizado o Regulamento Brasileiro de Boulder, que não depende de mim. Sou muito organizada, é da minha natureza, então se eu vou fazer uma etapa de um Brasileiro gosto de seguir o regulamento, sem ele, sem campeonato.

5 – Qual as maiores dificuldades que apareceram para tentativas de organizar campeonatos de grande envergadura?

Bem, Campeonatos de Dificuldade são os mais difíceis aqui por não possuirmos um grande ginásio. Montar uma grande estrutura só para uma competição é muito mais caro, mas não é impossível.

Por isso optamos por Campeonatos de Boulder. E aqui estamos nós tendo dificuldades até com essa modalidade.

6 – Como foi, e como está sendo a procura por patrocinadores de campeonatos?

Quem é o responsável por essa busca, é o secretário do Deptº de Competições, Luiz Alves. São enviados muitos e-mails e feitas muitas ligações telefônicas.

Já até nos pediram o projeto das competições manuscrito e enviado pelo correio, dá para acreditar? E eu tento através dos meus conhecimentos falar com os empresários ligados ao meio da escalada.

Atualmente estou tendo uma conversa com a Secretaria de Esportes de Niterói, vamos ficar na torcida!

7 – Como a comunidade escaladora do estado do Rio de Janeiro tem respondido aos eventos realizados e organizados?

Nós inovamos ano passado!

Todos os atletas tinham que ser federados, mas não pagavam taxa de inscrição.

Então foi bem legal, pois isso se estendeu aos Clubes filados à FEMERJ, então vieram atletas filiados à FEMERJ e atletas filiados aos Clubes que integram a FEMERJ.

O nosso Campeonato Fluminense e não carioca como muitos erroneamente o chamam tem um grande diferencial que é a sua divulgação. São produzidas pela Plural Mix, vídeos chamadas, para cada etapa, bem irreverentes e após as etapas são produzidos vídeos com o desempenho dos atletas.

Nesses vídeos são veiculadas as logomarcas do patrocinadores e apoiadores. Para esse ano o Luiz Alves aumentou a contrapartida para as empresas com a inclusção no plano de mídia de spots de rádio na OI FM, que só seriam veiculados caso todas as cotas fossem compradas. Em 2009 foi muito legal e cansativo também, pois sustentar 4 etapas no mesmo ginásio e quase sem voluntários……UFA!!!

Eu ganhei uma tendinite no dedo anelar da mão direita de tanto usar a chave alen.
Fora a manutenção do ginásio que ficou 100% por conta do ginásio.

Eu só tenho a agradecer aos meus alunos que aguentaram algumas sextas-feiras com o ginásio fechado e segundas-feiras quase sem agarras no muro.

Dos atletas que participaram, alguns estenderam a participação até os Brasileiros, e tivemos bons resultados. Esse ano eles continuarão indo aos Brasileiros, e eu também, acabei voltando a competir junto com eles.

Tudo isso é muito incentivador para eles!

8 – Existe alguma possibilidade de haver alguma etapa de Campeonato Brasileiro no Estado do Rio de Janeiro?

Pergunta difícil, mas pelo planejamento do Deptº de Competições acredito que sim, em 2011. Aliás estamos com a idéia de fundarmos uma associação voltada apenas para a competição.

hahahaha

Daqui a pouco vai ser no ano das Olimpíadas no Brasil!!

hahahaha

9 – Como você visualiza os campeonatos de escalada com este ritmo de apoio?

Nada bem!

Temos uma dificuldade muito maior no Estado do Rio de Janeiro.

As grandes empresas não ficam aqui, o dinheiro não está aqui.

Eu espero algum empenho das Secretarias de Esportes locais.

10 – Hoje em um país que não possui uma revista de escalada, e até
mesmo alguns líderes sequer leêm sites de notícias ou blogs de escalada, existe alguma outra mídia para a divulgação dos patrocinadores?

Sim. Temos o rádio, a televisão e o jornal.

Infelizmente os empresários e lojistas quase não leêm blogs e sites, eu já presenciei isso, não todos mas alguns.

Eles ouvem muito rádio, veêm muita televisão e é também através desses meios de comunicação que temos que alcançar eles.

Como??

Com mais verba!!

Luciano Fernandes é escalador de São Paulo, ele é colunista do AltaMontanha e autor do Blog de Escalada

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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