Seminário abre precedente na luta contra proibição de escalada em MG

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O Seminário sobre a atuação do montanhismo dentro das Unidades de Conservação (UC´s) aconteceu com sucesso em Ouro Preto-MG. Entretanto, as ações esperadas ainda vão demorar em surtir efeitos contra as proibições impostas ao desenvolvimento da escalada no Estado de Minas.


O Estado de Minas Gerais possui alguns dos melhores locais de escalada no Brasil. O diferencial para isso é que lá afloram rochas calcárias pertencentes à formação Bambuí. O calcário apresenta um tipo de erosão que favorece o aparecimento de paredes negativas com grandes agarras e tetos, é esta a rocha que mais faz sucesso na escalada esportiva mundial, como é o caso das escalada na Espanha.

O grande problema é que os afloramentos de calcário em Minas ou estão sendo explorados (e destruídos) por empresas mineradoras, como as de cimento, ou estão dentro de Unidades de Conservação administradas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF). Órgão ligado à Secretaria de Meio Ambiente que proibiu a escalada em várias UC´s, como a Gruta da Lapinha, Gruta do Rei do Mato, Gruta do Baú, Serra do Intendente, entre outras.

O evento abre um precedente na luta dos escaladores pelo acesso livre à rocha. De acordo com Bernardo Collares, vice presidente da CBME, que foi voluntariamente ao seminário, perdendo dois dias de trabalho para tal, o encontro foi positivo, pois ele acredita que conseguiu romper com alguns paradigmas reinantes no IEF.

Durante a exposição, foi mostrado os bons exemplos que vem do Estado do Rio de Janeiro, onde André Ilha coordena a diretoria de Biodiversidade e Unidades de Conservação do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), permitindo que parques como o dos Três Picos possa ter escaladas sem problemas de degradação ambiental.

Collares diz que os argumentos a favor dos escaladores convenceram os funcionários do IEF presentes, mas que ainda precisaria convencer a alta cúpula do Instituto. Ele disse que irá escrever suas observações sobre o evento assim que tiver tempo.

Um dos problemas contra a escalada nestas UC´s mineiras, é que o IEF acha que a escalada está causando grandes impactos no relevo cárstico, que é o relevo típico da região de calcário, onde se desenvolvem cavernas. De acordo com o presidente da Federação Mineira de Montanhismo e Escalada (FEMEMG), Leandro Antônio do Reis, o IEF quer convencer os escaladores que o ambiente onde se desenvolve as escaladas é frágil. “Eles estão tentando fazer que os escaladores reflitam sobre o dano que está causando a ele (meio ambiente)”.

Será montado um Grupo de Trabalho em conjunto da Associação Mineira de Escalada/ FEMEMG e IEF para dar prosseguimento às negociações do seminário e elaboração de estudos.

Turismo e Aventura x Esporte de aventura

Também esteve presente no evento representante das empresas de turismo de aventura, através da pessoa de Gustavo Timo da ABETA, que demonstrou o interesse comercial em desenvolver a atividade de turismo de aventura e natural nas UC´s administradas pelo IEF.

Durante todo o evento, Bernardo Collares enfocou na diferença entre quem pratica turismo e quem pratica escalada. Entretanto, a notícia publicada pela acessoria de imprensa da secretaria de Meio Ambiente de Minas Gerais, mostra que eles deram enfoque à atividade e econômica do Turismo.

Uma das exigências principais dos escaladores é uma diferenciação entre a prática de escalada e o turismo de aventura, sobretudo para que não se repita a obrigatoriedade de contratação de guia como já ocorreram em outras UC´s federais.

Sem desanimar

Mesmo com tantas dificuldades, Bernardo Collares acha que foi dado um importante passo no encontro, pois até então a CBME nunca havia sido ouvida pelo IEF. “Imaginando que o IEF fosse uma casa, até agora a gente&nbsp, tocava a campainha e ninguém atendia. Agora atenderam e nos convidaram pra entrar. Não temos acesso a todos os cômodos da casa, mas já estamos na sala de entrada.” Disse na lista de discussões da FEMEMG.

Era esperado que as demandas dos escaladores não fossem atendidas de imediato. De resultado prático, fora que agora o IEF já reconhece oficialmente a demanda e os argumentos dos escaladores, ainda não houve nenhum avanço, pois o próprio IEF precisa fazer sua “lição de casa”.

Para garantir a visitação dos parques, o IEF precisa correr atrás dos Planos de Manejo de suas UC´s. Estes são documentos que fazem mapeamentos e definem as regras de uso de cada unidade. Parques como o do Sumidouro, onde fica a gruta da Lapinha, ainda não tem Plano de Manejo e o local permanece fechado para a prática de escalada esportiva há 8 anos!

A situação de outros locais também não vai mudar tão cedo, pois como ainda não existe gestão em muitas UC´s, considera-se que nenhuma atividade pode ser autorizada, pois necessitaria de autorização do IPHAN, CECAV etc..

No Parque Estadual da Serra do Intendente onde fica a cachoeira do Tabuleiro, UC fora da região cárstica do Grupo Bambuí, o gestor atual está saindo, deixando uma esperança. Já as escaladas de Sete Lagoas (Gruta do Rei do Mato) e também na Gruta do Baú não têm nem mesmo previsão de quando será novamente liberada.

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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