Redescobrindo a escalada em Santa Maria Madalena

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Os escaladores cariocas Felipe Dallorto, Flávia dos Anjos contam como tem desvendado e conquistado diversas vias e points inteiros de escalada na pequena cidade do interior fluminense. Confira o relato:


Por Felipe Dallorto

Capítulo 1: Em busca do desconhecido

Nossa trip em busca de montanhas e lugares desconhecidos começou no dia 21/08/2010 numa pequena e aconchegante cidade chamada Santa Maria Madalena, interior do Rio de Janeiro. Lugar de grande beleza e muitas montanhas virgens para todos os gostos.

No mesmo dia, marcamos com nosso amigo Luiz Felipe Temperine, escalador que conhece a região e que aguardava a nossa chegada na cidade para nos apresentar o potencial das montanhas. Chegamos à cidade por volta das 09h00 na pousada Verbicaro, local do ponto de encontro com o Luiz Felipe, onde fizemos o check in e guardamos nossas roupas e etc…

Após um bate papo e café da manhã com o Mário, dono da pousada Verbicaro, fomos em direção a Terras Frias um pequeno distrito da cidade, onde se encontra a Cachoeira do Escorrega, que por sinal é diversão garantida, e à Árvore do Arco um marco da cidade.

Pegamos a estrada de terra e nos 20 minutos de percurso nos deparamos com uma imensa montanha chamada Pedra Verde, nossos olhos brilhavam de ver a imponência daquela montanha, imaginem um capacete de Salinas virgem! Mas decidimos optar em conhecer melhor as montanhas que estavam por vir naquele distrito, até porque conquistar essa montanha em um dia não ia ser tarefa fácil.

Continuamos pela estrada de terra e logo após a cachoeira avistamos uma bela montanha positiva e de fácil acesso. Essa montanha fica dentro da fazenda Barra do Peixe, pedimos autorização ao proprietário da mesma e logo partimos para a montanha com as tralhas de conquista.

Montanha da Barra do Peixe

Chegando à base da montanha partimos em direção ao grande diedro que havíamos avistado. Mal começamos a arrumar nosso equipamento e já começou o primeiro crux da via: um pequeno enxame de abelhas veio em nossa direção zunindo em nossos ouvidos e logo vieram às ferroadas. Desesperadamente saímos correndo no mais puro instinto de sobrevivência deixando as mochilas na base, grande erro. Como voltaríamos para pegá-las com as abelhas de prontidão alí? Esperamos uma hora para nos recuperar das ferroadas e lá fomos nós, munidos de galhos com folhas debatendo para todos os lados que nem o Bruce Li e mesmo assim tomamos várias ferroadas, mas conseguimos recuperar as nossas mochilas e partimos para o carro, resumindo, abelhas 1 escaladores 0.

Pegamos a estrada novamente e 5 minutos depois avistamos outra montanha com um belíssimo diedro. Paramos o carro, pedimos licença ao proprietário da outra fazenda e partimos rumo à montanha. Felipe Dallorto começou a conquista rumo ao grande diedro, a conquista foi sequenciada por Flavia. Por muito pouco não saiu a via naquele dia, só o nome que foi pré-determinado: “Dança da Formigas” em homenagem aos pulos dados para fugir da picadas no primeiro platô… segundo round de picadas do dia, rsrsrs.

No dia seguinte, continuamos pela saga de explorar outros distritos da cidade onde encontramos diversas montanhas e falésias espalhadas pela região.

Após alguns minutos pela estrada de terra no sentido oposto de Terras Frias, encontramos uma belíssima falésia e lá fomos nós conferir o potencial que logo saiu à primeira via esportiva da cidade “O Buraco é mais em Baixo” um possível 7c de 15 metros, com lances de entalamento de dedo e regletes.

Antes que o dia acabasse voltamos para a montanha das abelhas e decidimos abrir uma linha no lado direito da montanha. Saiu a “Noite sem Fim” 3 V grau de pura aderência com 180 metros de extensão. Essa montanha tem um visual incrível do vale que possui um rio passando quase na base da mesma. Conquistamos ouvindo o barulho das águas.

Capítulo 2: Feriado de 7 de Setembro

Desta vez convidamos nossos amigos Hillo Santana e Daniel Virgínio para a viagem. Saímos do Rio sábado de manhã e chegamos em Madalena pouco antes do meio dia. Desta vez procuramos um local para acampar e foi quando conhecemos o senhor Ranulfo pela primeira vez. Ele permitiu que acampássemos na Barra do Peixe, quase na base da montanha. Felipe, Hillo e Daniel partiram, já no fim da tarde para iniciar uma via no diedro onde fomos atacados por abelhas no mês anterior, por sorte elas já não estavam mais lá. Enquanto isso Flavia ficou no acampamento. A noite caiu, e a via ficou pela metade.

No dia seguinte decidimos tentar um projeto numa montanha bem mais afastada, um outro diedro que já havíamos avistado antes, quase em frente a falésia da via “O Buraco é Mais Embaixo”. Com o sol fortíssimo que fez nesses quatro dias, foi muito difícil escalar ou conquistar. Deixávamos sempre para entrar na parede após as 15:00, dando preferência para banhos de cachoeira e passeios exploratórios. Novamente o projeto ficou pela metade. Voltamos para a barra do peixe e repetimos a via “Noite Sem Fim” já de noite.

Na segunda-feira, Flavia e Hillo terminaram a via do pequeno diedro na “Barra do Peixe”. A via foi batizada de “Na Natureza Selvagem” sua graduação é 3 IV, 240m.

Na terça fomos até a base da Pedra Verde fazer reconhecimento, mas não havia tempo de conquistar, tínhamos que voltar pro Rio.

Capítulo 3: Du Bois

As próximas investidas, à Madalena, ocorreram em outubro, novembro e dezembro quando investimos na Du Bois com nosso amigo Claudney. Essa história é contada no&nbsp, relato da via “Reino Mágico”. Antes, porém, de terminarmos a Reino Mágico em junho, Felipe e Flavia ainda foram a Madalena mais uma vez.

Capítulo 4: Semana Santa 2011

Fomos com nossos amigos de Jacarepaguá, Gilmar Selva, Luciana, e a pequena Clarinha além dos amigos Marcus César e Jonathas Scott. Era o feriado de Páscoa.

Novamente acampamos na fazenda do senhor Ranulfo. Acampamento de luxo, com a ajuda do Selva, escoteiro, militar e um pouco hiperativo, tivemos um feriado excepcional, com direito até a balsa de bambu e fogão de selva, muito churrasco, muita confraternização e muita cachoeira.

Nesse feriado, repetimos mais uma vez a “Noite Sem Fim” e terminamos a via “Dança das Formigas”. Essa ficou com 160 metros de lances de fendas de dedo, diedro, fenda frontal, fenda larga, paradas e rapéis em árvores, etc. Eram fendas que não acabavam mais, resultado: apenas 2 chapas na via de 160m. A graduação sugerida é 4 IVsup.

Aproveitamos que estávamos acampados na Barra do Peixe decidimos colocar ali mais uma via nesse feriado. Essa ficou com o nome Big Hard Sun, os primeiros lances em cristaleiras e agarras bonitas, o fim em aderência.

Capitulo 5: Ainda tem futuro

Santa Maria Madalena sem dúvida entrou em nossos corações e o potencial do lugar não sai de nossa mente. A cada mês que passa, cada final de semana livre é certo uma investida. Em agosto de 2011 ainda tentamos mais uma vez. Infelizmente a chuva nos atrapalhou. Com nossos amigos Artur Estevez e Michelle Bouhid só conseguimos escalar na falésia do buraco. A única rocha seca da cidade. Para não dizer que não rolou conquista a via ganhou uma extensão de um grampo e a base da falésia ganhou vários boulderes de travessia.

Voltamos deixando a chuva pra trás apenas com a certeza que que voltaríamos em breve.

À todos desejamos boas escaladas e esperamos que gostem do lugar como nós gostamos,
grandes abraços,

Relação de vias conquistadas:

Fazenda Barra do Peixe:
&nbsp,-&nbsp, Na Natureza Selvagem
&nbsp,-&nbsp, Big Hard Sun
&nbsp,-&nbsp, Noite sem Fim

Falésia do Buraco:
&nbsp,-&nbsp, O Buraco é Mais Embaixo

Montanha do Diedro em frente à falésia:
&nbsp,-&nbsp, Projeto

Montanha sem nome de fendas em Terras Frias:
&nbsp,-&nbsp, Dança das Formigas

Pedra Dubois
&nbsp,-&nbsp, Reino Mágico

CROQUIS:&nbsp, clique aqui para baixar
obs: Não há croqui da via Na Natureza Selvagem. Esta via possui 4 enfiadas e o rapel só é possível com 2 cordas de 60m

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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