Cumes secundários, os oito mil desprezados

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São elevações com mais de 8.000 metros de altura, mas não são reconhecidas como cumes principais. Enquanto centenas de montanhistas lutam para chegar ao cume vizinho, estes ficam geralmente relegados ao ostracismo. Vamos relembrar de todos.

A recente publicação de um estudo chinês em que supostamente se descobriu três novos cumes principais com mais de 8.000 metros e vão constar na próxima edição de um Atlas de montanhas naquele país que ameaça incomodar os atuais quatorzemilistas que teriam que se reciclar para superarem os agora dezessete 8.000 mil. Na realidade é do conhecimento geral que são apenas quatorze os 8.000 mil conforme inúmeras referencias, mas também sabemos que esta afirmação não é totalmente exata. Mais de uma dezena de cumes secundários ultrapassa a barreira dos 8.000 e são relegados ao ostracismo por parte dos montanhistas que se definem como oitomilistas.

De todo modo, algumas destas montanhas tem grande interesse esportivo e já protagonizaram importantes momentos da história do esporte. Nomes como Yalung Kang, Lhotse Shar, Annapurna Este, Broad Peak Central o Shisha Pangma Central tem lugar garantido na imaginação dos montanhistas.

Uma questão de proeminência

Segundo esta argumentação só existem quatorze elevações com mais de 8.000 metros de altura com uma proeminência superior a 300 metros do cume vizinho. O Everest com a maior proeminência (8.848 m), seguido pelo Nanga Parbat (4.608 m) e o K2 (4.017 m); e com o Lhotse no outro extremo (610 m de proeminência), seguido pelo Gasherbrum II (1.523 m) e o Broad Peak (1.701 m), segundo os dados recopilados por Eberhard Jurgalski em sua enciclopédia digital 8000ers.com. A mesma fonte indica que existem outras 16 elevações que superam os 8.000 metros com proeminência entre 30 e 300 metros, o que as classifica como cumes secundários ou subsidiários. São os nossos oito mil relegados.

Mais hierarquia de montanha

Porém nem todos estes oito mil secundários tem a mesma importância. Seis deles tem uma proeminência de mais de 60 metros e os 10 restantes não superam a 50 metros. O mais proeminente dos oito mil secundários é o Broad Peak Central (8.011 m de altura e 181 m de proeminência), um cume atingido pela primeira vez por uma expedição polonesa em 1975 que foi cenário para importantes realizações do alpinismo, como a abertura da rota Fem Tarragona por Oscar Cadiach em 1992 ou a nova via aberta por Alberto Iñurrategi, Juan Vallejo e Mikel Zabalza em sua travessia pelos 3 cumes do Broad Peak em 2010.

O Kangchenjunga concentra os 3 cumes subsidiários seguintes em proeminência. O maior deles, Yalung Kang  (o Kangchenjunga Oeste, 8.505 m e 135 m de proeminência), cuja primeira escalada pertence a uma expedição japonesa em 1973 com oxigênio. O mexicano Hugo Saldaña realiza a primeira sem oxigênio em em 1980 e em 2006  Juanito Oiarzabal decide retirar-se temporariamente dos oito mil.  O Kangchenjunga Sul (8.476 m de altura e 116 m de proeminência) valeu o Piolet d’Or 1991 para Marko Prezelj e Andrej Stremfelj. O Kangchenjunga Central (8.473 m de altura e 63 m de proeminência) completa os cumes secundários desta montanha. Estes últimos cumes foram escalados com três dias de diferença em 1978 por alpinistas poloneses com oxigênio.

O Lhotse é outra montanha com importantes cumes secundários. O Lhotse Shar (8.382 m de altura e 72 m de proeminência) é a montanha que presenciou as maiores tragédias do himalaismo espanhol, com o desaparecimento de Toni Sors, Francisco Porras, Sergi Escalera e Toni Quiñónez em 1987, sepultados por uma avalanche. Por outro lado, o Lhotse Central (o Lhotse Medio, 8.410 m de altura e 65 m de proeminência) foi o último cume de 8.000 metros a ser conquistado, proeza de uma expedição russa em 2001.

Pontos Notáveis Maiores

A classificação dos cumes e elevações (mediante um complexo cálculo que leva em conta outro conceito, a de dominância) situa o resto dos cumes com mais de 30 metros de proeminência no subgrupo dos Pontos Notáveis Maiores. Nest grupo se destacam cumes secundários com grande tradição e relevância esportiva,  como o Annapurna Este (8.013 m de altura y 50 m de proeminência), o Annapurna Central (8.051 m de altura e 30 m de proeminência) e o Shisha Pangma Central (8.008 m de altura e 30 m de proeminência), que recebe mais escaladas do que o cume principal uma vez que está no caminho da rota normal. Junto a estas, surpreende a inclusão de outras elevações pouco – ou nada – consideradas como cumes, porém que tecnicamente até poderiam ser consideradas como tal: o Ombro do Yalung Kang (8.200 m / 40 m), Lhotse Central II (8.372 m / 37 m), a Aresta Sudoeste do K2 (8.134 m / 35 m), K2 Sudoeste (8.580 m / 30 m), Everest Oeste (8.296 m / 30 m), Kangchenjunga Sudeste (8.150 m / 30 m), Nanga Parbat Sul (8.042 m / 30 m).

Cumes Secundários com mais de 8.000 m

Broad Peak (8.051 m)

  • Broad Peak Central (8.011 m altura / 181 m proeminência)

Kangchenjunga (8.586 m)

  • Yalung Kang o Kangchenjunga Oeste (8.505 m / 135 m)
  • Kangchenjunga Sul (8.476 m / 116 m)
  • Kangchenjunga Central (8.473 m / 63 m)
  • Ombro del Yalung Kang (8.200 m / 40 m)
  • Kangchenjunga Sudeste (8.150 m / 30 m)

Lhotse (8.516 m)

  • Lhotse Central (8.410 m / 65 m)
  • Lhotse Shar (8.382 m / 72 m)
  • Lhotse Central II (8.372 m / 37 m)

K2 (8.611 m)

  • K2 Sudoeste (8.580 m / 30 m)
  • Aresta Sudoeste do K2 (8.134 m / 35 m)

Everest (8.848 m)

  • Everest Oeste (8.296 m / 30 m)

Annapurna (8.091 m)

  • Annapurna Central (8.051 m / 30 m)
  • Annapurna Leste (8.013 m / 50 m)

Nanga Parbat (8.125 m)

  • Nanga Parbat Sul (8.042 m / 30 m)

Shisha Pangma (8.027 m)

  • Shisha Pangma Central (8.008 m / 30
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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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