Primavera de 2014 no Himalaia: Notas Preliminares

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Está começando a temporada de primavera no Himalaia, e centenas de expedições estão a caminho dos grandes cumes do Nepal e da China. É hora de darmos uma pinçada no que de principal pode vir a ocorrer na temporada.

BRASILEIROS NO HIMALAIA

a) EVEREST:

Como amplamente divulgado, são seis os brasileiros no Everest na presente temporada.

ANDRÉ FREITAS, de tradicional família de Criciúma/SC, integra a equipe híbrida (guiada/independente) da empresa de montanhismo IMG. Em aclimatação, fez cume no Lobuje East (6119m) em 11 de abril. Se obtiver sucesso, será o primeiro catarinense a culminar o Everest.

CARLOS SANTALENA, guiando para a Grade VI, tentará fazer o seu segundo cume no Everest (fez cume em 2011; em 2013, não obteve sucesso). Se tudo der certo, Santalena será – juntamente com Waldemar Niclevicz e Rodrigo Raineri – um dos raros brasileiros com mais de um cume na Grande Montanha.

CID FERRARI, se obtiver sucesso, completará os 7 Cumes (em 2011, ele tentou o Everest na companhia de Paulo Coelho e Helena Coelho, mas teve que desistir a 7500 metros por problemas de saúde).

FÁTIMA WILLIAMSON, cliente da Rainier Mountain (RMI), se obtiver sucesso, será a primeira mulher brasiliense a culminar.

ROMAN ROMANCINI, escalando com a Henry Todd Expeditions, vai em busca de seu primeiro 8000 (em 2010, tentou o Shishapangma, sem cume).

ROSIER ALEXANDRE, se obtiver sucesso, completará os 7 Cumes e será o primeiro nordestino a culminar o Everest.

b) SHISHAPANGMA & LHOTSE:

CLEO WEIDLICH divulgou, em primeira mão, que estará indo ao Shishapangma na primavera, para tentar a Rota Austríaca (ou o percurso original ou a variante Iñaki dependendo das condições de neve). Na sequência, se tudo der certo, ela rumará ao Lhotse. As duas montanhas estão na programação da alpinista em rumo a completar todas as 14 montanhas de 8000 metros (até o momento, Cleo detém oito).

OUTROS LATINO-AMERICANOS NO EVEREST

Além das expedições brasileiras, outros latino-americanos almejam conquistar o Everest.

É o caso da expedição argentina do Club Andino Mercedario, liderada pelo experimentado Aníbal Maturano, e composta, também, por Sebastián Aguiar, Fabricio Oieni, Javier Giuliani e Gabriel Faya. Os treinamentos ocorreram no Valle del Colorado, onde a equipe escalou Mercedario, Cerro Polaco, Cerro Mesa, Alma Negra e Cerro Ramada. O time tentará a rota tibetana, menos explorada e mais selvagem.

Outro a dar as caras no Everest é o chileno Roberto Moya, anestesista e aventureiro. Após realizar um skydive do cume do Aconcágua em 2011, se preparou intensivamente para tentar pisar no ponto mais alto do planeta.

Além deles, também tentarão o Everest o mexicano Orlando Castro, o peruano Victor Rimac, e os guias de expedição Willie Benegas (ARG) & Damián Benegas (ARG), da empresa Patagonian Brothers, e Joshua Jarrín (ECU), da Mountain Madness.

OUTRAS EXPEDIÇÕES INTERESSANTES NO EVEREST

O speed climber e base jumper americano JOBY OGWYN vai tentar o primeiro BASE Jump (com wing-suit) do Everest. Ele não sabe – ainda – exatamente qual será o ponto de decolagem, que vai depender das condições climáticas. Todavia, é grande a possibilidade de que ele venha a bater o atual recorde de altitude em salto em grandes montanhas (nota: o atual recorde pertence a Valery Rozov (RUS), que decolou de 7220 metros, de um ponto abaixo do cume do Changtse, em 2013).

O alpinista austríaco ANDY HOLZER, 45 anos, almeja ser o primeiro cego a fechar os Sete Cumes. Já obteve sucesso no Kilimanjaro (2005), Elbrus (2006), com descida parcial de ski!!!, Aconcágua (2007), Denali (2008), Carstensz (2009), Vinson (2010). Para 2014, o desafio final é no Everest.

A transexual MANOJ SHAHI MONIKA, de 35 anos, pode vir a se tornar o primeiro travesti a fazer cume no Everest. Se ela conseguir a façanha, vou ter que redesenhar integralmente todas minhas tabelas de cumes para acrescentar um campo extra relativo à sexualidade dela.

O belga JELLE VEYT acha que os aventureiros de hoje em dia estão muito comodistas: dormem em hotéis ou pousadas, viajam de avião até as montanhas, etc. Em sua opinião, a verdadeira aventura é alcançar as montanhas apenas com a força humana. Com essa filosofia, ele está tentando os 7 Cumes de uma maneira inédita. Assim, ele saiu de bike de sua terra natal (Golmud, Bélgica), atravessou a Europa e a Ásia por cinco meses até o Everest (13.000 quilômetros), que será tentado na presente temporada (ele já está em Kathmandu). No processo, deu uma “paradinha” no Elbrus, e culminou a montanha em agosto/2013. O arco atual do projeto ganhou o nome de Cycling 2 Himalaya.

O conceituadíssimo guia sherpa PHURBA TASHI, líder (sirdar) da Himex, é o recordista atual de cumes do Everest (21), em conjunto com Apa Sherpa. Se for seguido o procedimento padrão dos últimos anos, nos quais Phurba é o chefe da equipe encarregada de instalar as cordas fixas até o cume do Everest, ele fará dois mais cumes na montanha (um liderando a instalação e um liderando os clientes da Himex ao cume), e terminará a temporada com 23 cumes, recorde absoluto e isolado. Em complemento, Phurba Tashi já escalou montanhas de 8000 metros em 35 vezes (outro recorde incrível).

Excetuando os guias sherpas, o alpinista que mais detém ascensões ao Everest é o norte-americano DAVE HAHN, líder guia da RMI. Se obtiver sucesso novamente este ano, Dave fará 16 cumes no Everest, recorde absoluto entre os “estrangeiros”.

No campo feminino, a mulher que mais cumes detém no Everest é a nepali Lhakpa Sherpani, esposa de Gheorghe Dijmarescu. Lhakpa estabeleceu o recorde – 6 cumes – em 2008. Este ano, a norte-americana MELISSA SUE ARNOT tem chance de igualar a marca, e se credenciar como a mais provável candidata a ser a primeira mulher a fazer 10 cumes por lá.

BILL BURKE, 72 anos, tentará ser o alpinista mais idoso a escalar o Flanco Tibetano do Everest (o recorde geral é de Yuichiro Miura, 80 anos, que escalou pelo Nepal).

Alguns poucos destemidos tentarão o Everest sem utilizar oxigênio suplmementar. É o caso, por exemplo, do romeno HORIA COLIBASANU e do eslovaco PETER HAMOR, os dois em busca de todos os catorze 8000 “noox”.

Por fim, os americanos MIKE MONIZ, pai, MATT MONIZ, filho (de apenas 16 anos), JOM WALKLEY pretendem realizar o segundo triple-header do Himalaia, ao encadear Cho Oyu, Everest e Lhotse em uma única temporada.

PRINCIPAIS ATIVIDADES EM OUTROS CUMES

Thulagi

O Thulagi (7059m), pico-satélite do Manaslu, é um dos raros 7000 que ainda permanece virgem (somente foi aberto pelo governo nepalês em 2003).

É um cume desafiador e difícil, com risco elevado de avalanche em ambos os flancos.

Após tentativas em 2008, 2010 e 2011, expedição russa, liderada por Andrey Golube, e integrada por Valery Shamalo, Ruslan Kirichenko e Denis Sushko está se dirigindo à montanha para tentar a cobiçada primeira ascensão.

Kangchenjunga – nova rota na Face Noroeste

Forte time internacional, composto por Denis Urubko (KAZ) [que tem todos os catorze 8000 no currículo, muitos por rotas novas, e dois invernais], Adam Bielecki (POL) [nova estrela polaca, com duas primeiras ascensões invernais a 8000], Alex Txikón (ESP) [que subiu dez 8000]; e Artem Brown (UK).

Considerando que todas as rotas no Flanco Noroeste do Kangchenjunga exploram as encostas mais à esquerda, evitando as inclinadas concavidades centrais, a equipe irá tentar criar uma rota à direita, por terreno extremamente íngreme e técnico. Se conquistada a via, será, sem sombra de dúvida, a rota mais difícil já realizada no Kang.

Observação: “Do outro lado do Kangchenjunga”, é bom ficar de olho na quantidade incrível de alpinistas renomados que vai tentar a rota normal: Carlos Soria (ESP), Samuli Mansikka (FIN), Marco Confortola (ITA), Marco Camandona (ITA), Emrik Favre (ITA), François Cazzanelli (ITA), Nicolini Franco (ITA), Jorge Egocheaga (ESP), Martín Ramos (ESP) entre muitos mais. Alguns não tão conhecidos também estarão por lá, caso da alpinista bengali Chhanda Gayen (IND), na companhia de Tashi Sherpa (NEP), seu companheiro no Everst ano passado.
Também teremos expedições importantes no Annapurna I, Makalu, Shishapangma e Lhotse.

Bhagirathi III

Os famosos irmãos espanhóis Iker Pou e Eneko Pou vão ao himalaia indiano em busca da primeira escalada “em livre” do Pilar Oeste do Bhagirathi III (6454 metros), por sua rota mais difícil (Estrella Imposible, de 1984) ou, quem sabe, por uma nova rota.

Thamserku

Também interessante, a dupla russa Alexey Lonchinsky e Alexander Gukov estará tentando nova rota técnica na Parede Sudoeste do Thamserku (6623 metros), um pico desafiador nas imediações do vilarejo Namche Bazaar (visível para quem percorre a rota até o campo-base do Everest).

Rodrigo Granzotto Peron
Finalização do texto: 14-04-2014

 

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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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