Autoridades do vale de Chamonix solicitam restrição de acesso ao Mont Blanc

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A avalanche no Mont Blanc de Tacul reabriu a discussão sobre a limitação do acesso ao Mont Blanc. As autoridades de governo locais julgam insustentável a situação, avisando que 30.000 pessoas em 3 meses é muito mais do que a montanha pode aceitar, comprometendo o meio ambiente e a segurança


“Isto não é um Parque de Atrações, mas o Mont Blanc se transformou na Space Mountain de Disneylandia”. Estas são as palavras de Jean-Marc Peillex, prefeito de Saint Gervais, que lidera um grupo de prefeitos do vale que pedem para restringir de uma vez por todas o acesso a esta montanha. Alegam motivos de meio ambiente, mas principalmente de segurança. A frequência no verão é tremenda, e até 30.000 pessoas acabam tentando subir o Mont Blanc entre final de junho e final de setembro. E muitos deles, como afirma Jean-Marc Peillex, não deveriam estar aí: “Vemos alguns subindo mal equipados, calçados não apropriados. E pensam que se houver algum problema, não acontece nada, basta chamar para serem resgatados.”

82 mortos e 1.400 feridos

Estas são as cifras de mortos e feridos dos dois últimos anos no Mont Blanc, tendo em conta que no ano passado foram 37 mortos, e neste, sem ter terminado a temporada, já são 45. O prefeito de Saint Gervais afirma que é necessário estabelecer um limite de ascensões por temporada, o que aumentaria muito significativamente a segurança: “milhares de pessoas passando por setores expostos a quedas de seracs sugerem um risco de acidente com muitas vítimas, e muito maior se são centenas as pessoas que cruzam por ele.”

“Isto se parece mais com um banheiro ao ar livre que com um glaciar”

Para ele, o número de pessoas que podem subir, deveria ser o número de pessoas que cabem nos refúgios. Uma vez cheios, ninguém pode subir. Se eliminariam as milhares de pessoas que bivacam livremente na região, apesar de estar proibido, e que conseguem provocar problemas ambientais sérios. Recordando que há dois anos este mesmo prefeito propôs cobrar um pedágio para limitar o acesso, depois de ver como um pequeno glaciar havia sido tingido de amarelo devido à urina dos milhares de montanhistas que acampavam ilegalmente em sua parte superior, perto do Gouter. E no verão de 2003, as altas temperaturas derreteram a neve e o gelo acima do refúgio, deixando à mostra os excrementos humanos acumulados. “Isto se parece mais com um banheiro ao ar livre que com um glaciar”, afirmou então o prefeito (opinião compartilhada pelo guarda do refúgio) que também afirmou que em um vôo de reconhecimento puderam comprovar como o glaciar tinha sido tingido de amarelo. “A rota está trufada de excrementos e lixo”.

Nesta notícia de setembro de 2006, a revista Barrabes afirmava o seguinte:

“Talvez tenha passado o tempo de solucionar estes assuntos com uma simples apelação da responsabilidade individual, já que (seja de quem for a culpa), em determinadas montanhas, as mesmas não estão servidas de nada, vistos os graves problemas que afetam muitos lugares massificados, a conservação da montanha e do ecossistema deve vir na frente da liberdade individual? Provavelmente sim. Nenhum montanhista duvidaria na resposta ao se tratar de proteger um espaço natural de milhares de turistas. Mas sim, colocaria em dúvida quando se trata de salvá-lo de milhares de montanhistas que estão produzindo um impacto irreparável, como se a natureza soubesse distinguir entre uns e outros. Se o método da taxa é o correto, terá que ser feito, já que evidentemente tem um alto componente econômico que favorece a cidade de Saint-Gervais. Uma solução não econômica seria vista com melhores olhos por todos, embora sua organização seja muito complicada. De qualquer forma, é difícil que a idéia prospere, ao estar contra os poderosos lobbies dos guias de Chamonix, frente aos quais a atitude um tanto romântica do líder do vilarejo de Saint Gervais não tem muito que fazer.”

Os opositores da medida, como Jean Louis Verdier, guia e vereador de Chamonix, afirmam que as montanhas devem ser um espaço de liberdade e de beleza compartilhada acessível a todo mundo. Porém o prefeito replica que, na sua opinião, a beleza e o livre acesso à montanha não se encontram certamente nas filas e engarrafamentos de alpinistas, nem nos montes de merda que há na rota.

As vezes parece que os alpinistas e escaladores estão acima de tudo, e que nosso direito de escalar e fazer montanha seja mais importante que outras questões éticas, como a conservação do meio ambiente, e que tudo vale quando se trata de montanhismo. Como montanhistas e escaladores também pedimos, é claro, controle para os turistas, alegando que danificam o meio ambiente por massificação. Mas as vezes não são os turistas, somos nós os que criamos a massificação e os problemas, e então não sabemos estar tão de acordo com as restrições, o que torna nosso famoso espírito de liberdade em algo egoísta e de certa forma consumista. Em lugar de respeitar profundamente a montanha, até o ponto de renunciar a ela se for verdadeiramente necessário para sua sobrevivência, as vezes parece que alguns a empregam principalmente para satisfazer seus prazeres, acima de qualquer consideração.

Em lugares tão massificados (ainda existem poucos no mundo, desde então, nos quais seria necessária esta medida), quem sabe tenha chegado o momento de regular, que não é proibir, para proteger a montanha da pressão dos milhares de montanhistas que a assediam.

Texto extraído de Barrabes – Revista de Montanha

E você, qual seria a sua opinião, de que lado ficaria, se uma medida similar fosse cogitada. Defender que seja mantido o direito ao acesso, apesar de restrito, mediante uma nova regulamentação, mesmo que significasse o impedimento de se atingir determinadas áreas, como já é corrente em alguns parques do Brasil. Ou que seja totalmente proibida a entrada a fim de preservar permanentemente para as gerações futuras, aceitando de boa vontade o impedimento de realizar as atividades que exercia nestes ambientes?

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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