A Conquista do Mariana – 1ª Parte

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O Marins, a Maria, a Mariana, o Marinzinho e o Itaguaré – 1ª Parte
A Marins-Itaguaré, com seus 21km percorridos por escarpada crista situados na divisa entre São Paulo e Minas Gerais, é tida como uma das mais tradicionais pernadas da Serra da Mantiqueira. Entretanto, o conjunto principal do Maciço do Marins guarda ainda outros dois cumes de pedra com mais de 2200m de altitude e centenas de metros de paredes rochosas que ninguém sequer ousa visitar. São o Pico da Maria e o Pico da Mariana, cujos respeitáveis cumes e vistas deslumbrantes são privilégio de poucos (ou nenhum) aventureiros devido à dificuldade de acesso q, em tese, demanda trechos de rapel pois estão separados do pico principal por um profundo vale cortado por cânions de pedra e vegetação cerrada. E foi com esse legítimo espírito explorador q incluímos essas duas montanhas tidas como “inacessíveis“ numa travessia completa de toda essa crista durante 3 dias bem intensos, com direito a cume de seus 5 picos principais. E sem corda alguma. Eis a “SuperMaringuaré“.

Já havia prometido a mim mesmo q não pisaria novamente no Pico dos Marins a menos q fosse pra realizar algo diferente do tradicional. Sempre optei por explorar a repetir alguma trip. A última vez q estive lá foi com o Augusto e o Ricardo num saudoso inverno de 2003 a fim de palmilhar a hj batida "Maringuaré". Mas bastou o Angelo me colocar a par de suas aloucadas (porém interessantes) idéias de exploração do Pico da Maria e Pico da Mariana q foi o suficiente pra renovar meu interesse de meter as caras outra vez pela região.


O próprio Milton Gouvêa, do Acampamento Base Marins (vulgo "Ranchonete"), guia e conhecedor daquelas bandas era reticente de não ter ciência de acesso aos picos supracitados ou quem o tivesse feito. Bem, não pelo menos sem corda. "Se vcs conseguirem, por favor me informem depois como se chega lá, ok?", nos disse como que tirando sarro. Alem da incerteza de acesso, o tempo seco e estiagem dos últimos meses faziam com q cada um tivesse q carregar, pelo menos, 5 litros do precioso liquido a fim de garantir o próprio sustento pra tds os dias q a empreitada demandasse na montanha. Pronto, tava lançado o desafio.

 ,O Marins

Dessa forma eu, Angelo e Wagner rasgamos o final da madrugada sentido a Via Dutra, e dali seguir ate o trevo de Lorena. Ah, sim.. nosso audacioso quarteto ainda contava com uma única integrante feminina, a espoleta Lucilene, q mostrou-se mto mais corajosa e determinada q mto marmanjo q conheço. A noite fresca não tardou a ceder lugar a um sabadão q nascia bastante promissor, despido de qq vestígio de nuvens, elevando as temperaturas no decorrer do dia. Uma vez na BR-459 e indo de encontro à imponente muralha da Mantiqueira q preenche o horizonte de norte a sul, de Piquete tomamos varias estradas laterais em meio a uma bucólica paisagem rural ate dar no Bairro dos Marins, as 9:30. A partir daqui é q começa uma árdua e sinuosa subida de serra através de uma precária estrada de chão, q faz o Ford Ecosport do Wagner patinar em mais de uma ocasião. O destaque desta subida alem do majestoso visual das montanhas despencando verticalmente á nossa frente, foi o de um pequeno veado saltitar pela estrada, como q já nos preparando pros dias selvagens q se seguiriam na Mantiqueira.

Chegamos então no Acampamento Base Marins (ex-"Ranchonete") por volta das 10hrs, onde somos recebidos pelo sempre simpático e falador Milton, q nos informa das condições tanto climáticas como da trilha nos últimos dias. Ali, na cota dos 1562m, damos os últimos ajustes nas cargueiras assim como coletamos um pouco de água, afinal bastou descer do veiculo q o sol começou a fritar nossa cachola sem dó! Particularmente estava com certo receio, pois estreava uma nova mochila (presente do fotografo de aventura Andre Dib), mas no decorrer da trip estes receios foram infundados, pois a dita cuja se ajustou perfeitamente a minhas costas.

Começamos a andar efetivamente meia hora após ter chegado, mergulhando no frescor de uma florestinha sem gde variação de altitude e num ritmo bem compassado, até q desembocar numa estradinha de terra maior q bastou acompanhar ate o final, agora sim subindo suavemente uma crista serrana ascendente. A cada passada e cada curva na montanha, o visual lentamente se ampliava de forma deslumbrante, renovando nosso fôlego q teimava em sempre nos lembrar do enorme peso nas costas.

A subida aperta mesmo qdo estrada termina após uma pequena porteira e dá lugar a uma estreita trilha q ziguezagueia, por meio de degraus e calombos, montanha acima através de altos arbustos. Não demorou a dar nos 1795m (1608?) do largo cocoruto plano forrado de capim e rocha q serve de mirante e atende pelo nome de Morro do Careca, as 11:10. A vista daqui nos dá um preview do q nos aguardaria lá em cima em dose anabolizada. A beleza da geografia do Vale do Paraíba , – pontuada por Piquete, Aparecida, Guará e Lorena – e do sul de Minas com suas montanhas verdejantes escondendo as cidades de Itajuba, Delfim Moreira e Marmelopolis. O maciço do Pico do Marins à nossa frente se agiganta diante do Careca destacando seus outros dois picos não menos imponentes, o Maria e Mariana, q lá de cima pareciam nos desafiar ate seus cumes.

A picada à esquerda nos leva novamente ao frescor da sombra de um arvoredo, onde uma clareira marcada tanto por restos de fogueira como por uma didática placa nos dizem q ali é o inicio de fato da ascensão ao Marins, assim como são dadas orientações e avisos aos visitantes. Contudo, seguimos descendo mais um pouco pela estrada ate um local encravado na mata onde é possível abastecer de água num pequeno córrego, q devido à estiagem limitava-se a um pequeno filete q demandou paciência pra encher nossos cantis. Já cientes da impossibilidade de obtenção do precioso liquido no alto e considerando q o pouco q há é de origem duvidosa, cada um levou em média uns 5L pra garantir o próprio sustento. Peso extra este q se fez sentir nas costas, pelo menos nas minhas.

Voltamos à clareira e começamos oficialmente a ascensão ao Marins, subindo suavemente por uma óbvia crista florestada q sai do lado da placa. Mas logo emergimos da mata pra ganhar, em curtos ziguezagues, o capinzal esvoaçando ao vento da primeira gde e íngreme encosta ate vencer o primeiro cocoruto dos mtos q se seguirão. A trilha é nítida e se desenvolve pela crista dos morros sgtes de forma bem acentuada, o q vai nos distanciando uns dos outros. A subida é relativamente fácil em termos de orientação, pra quem ta acostumado a pernar por ai. Tótens e setas pintadas na rocha estão sempre presentes pra auxiliar no rumo a seguir. No entanto, "Ha sempre uns manés q confundem as pessoas colocando totens fora da rota", reclama Milton.

Ao longo da picada há alguns mirantes rochosos onde se pode parar para descansar e tirar belas fotos dos arredores, e olhando por sobre o ombro já temos uma bela vista do Morro do Careca, q vai ficando lá atrás pequenino. Em contrapartida, o maciço principal do Marins mostra-se sempre à nossa direita, imponente, cada vez mais próximo.

Alternando trilha q nada mais é um sulco de terra em meio a tufos de capim e largos trechos de aderências por lajotas de pedra, ganhamos altitude rapidamente, onde o visual do maciço principal descortinado a cada passo dado é simplesmente arrebatador e nos motiva a subir mais e mais. Mas qdo nos aproximamos das partes mais rochosas e íngremes a trilha vai se dirigindo para a esquerda e deixando de passar pelas cristas, onde alem de nos espremermos entre gdes pedras e mto capim alto, as escalaminhadas tb aumentam. Nesta condição o Marins deixará de ser avistado e o visu q temos de um lado é de paredões e maciços e de outro, geralmente à esquerda, as montanhas das MG. O destaque deste trecho foi uma cobra pelo qual o Angelo passou desapercebido, mas q a sempre atenta Lucilene alertou da presença.

Após bordejar uma muralha enorme da crista por inclinadas lajotas onde destoam belos lírios vermelhos, a subida aperta através de uma seqüência de aderências rochosas íngremes, q demandam uso tanto dos pés como das mãos nos trechos mais verticais.Mas contornado este ultimo maciço q se interpõe entre o sul de MG e o Marins logo desembocamos no enorme platô de rocha e capim q serve geralmente de base aos campistas, onde voltamos a avistar ao sul o cume do Marins cada vez mais próximo. À leste de nossa posição há um morro rochoso e atrás dele o Pico do Marinzinho, ou tb conhecido como Pico Leste ou Pico do Piquete.

É daqui q em tese sai a rota ate o Itaguaré, contudo como nosso objetivo é o cume do Marins atravessamos o platô, ignorando as clareiras próximas da "Água Amarela", nome popular como é conhecida a nascente do Ribeirão Passa Quatro. Ali uma lacônica placa do Clube Montês Itajubense alerta da enorme qtidade de coliformes fecais existentes nesse q seria o único pto de água da montanha, o q não deixa de ser lamentável. Qdo estive aqui 7 anos atrás esta água era potável e abasteceu meu cantil em mais de uma ocasião, mas infelizmente tem sempre aquele montanhista detentor dos "três i´s" (imbecil, ignorante e irresponsável) q resolve cagar próximo da água, tornando seu consumo inviável. Enfim, são coisas resultantes de qdo um lugar fica conhecido demais, batido e farofado. Em tempo, estamos na cota dos 2250m, pelo GPS do Angelo.

Pois bem, da base do Marins nos deparamos com impressionante paredão de quase 150m de extensão, q vencemos através de uma seqüência interminável de escalaminhada e trepa-pedra pelas aderências e lajotas íngremes. E tome tração nas mãos e pés! A esta altura o cansaço começa a pegar ainda mais em virtude do peso extra nas costas, dando a impressão q estou carregando halteres cada vez mais pesados. Contudo, a vista q se descortina por sobre o ombro – tanto do platô de capim da base como do Marinzinho e Itaguare – nos dá um fôlego extra pra chegar no cume.

Alcanço finalmente os 2421m cume do Marins a exatas 14:30 e literalmente desabo no chão. Minhas costas doem e o cansaço nas pernas é intenso, mas a sensação de ser o primeiro da trupe a chegar me conforta nem q seja por poucos momentos. No alto a vista é de 360 graus: de leste para oeste temos o Pico do Itaguaré com a inconfundível crista da Serra Fina logo atrás, alem das cidades de Cruzeiro, Cachoeira Paulista, Canas, Lorena, Guaratinguetá, Aparecida e Roseira, à noroeste vemos o Morro do Careca e td a crista percorrida vislumbrando tds os maciços e algumas das pedras que encontramos pelo caminho, à nordeste temos o Pico do Marinzinho, ao norte temos toda a região do Sul de Minas Gerais tudo o que se vê são as suas belas montanhas e a estrada que conduz aos municípios de Marmelópolis e Passa Quatro, para terminar, à sudoeste temos nosso objetivo do dia sgte, os maciços do Pico da Maria e da Mariana desabando em cristas menores q se esparramam vertiginosamente em varias direções do Vale do Paraíba. Fantástico! Uma curiosidade referente ao Marins diz respeito ao seu nome, batizado em homenagem a um bandeirante q passava mto pela região, Luiz Martins. Como os tropeiros q desciam a serra transportando mercadoria do sul de MG ao porto de Paraty tinham um vocabulário pobre, sertanejo e rude, pronunciavam o nome do pico de forma equivocada, q acabou pegando ate os dias de hj.

O resto do povo só começou a chegar meia hr depois, assim como um grupo de jovens q se acomodou confortavelmente nas varias clareiras disponíveis e bem protegidas por tufos de capim q há no amplo e espaçoso cume. O resto da tarde nos resignamos simplesmente a descansar o esqueleto, apreciar as belas paisagens ao nosso redor e papear sobre os planos sgtes. E claro, a racionar parcimoniosamente nossa preciosa água. Após vários cliques do astro-rei pousando no horizonte dando lugar às primeiras estrelas pipocarem pelo firmamento, começamos o sagrado ritual da janta. Wagner e Angelo comeram suas comidas liofilizadas e naturebas, enqto eu e a Lu nos fartamos com um sopão de feijão engrossado c/ um miojo e atum apimentado q nunca esteve mais delicioso. Mas não tardou pro cansativo e longo dia cobrar seu tributo q nos enfurnamos em nossas respectivas barracas pra cair imediatamente nos Braços de Morpheus. Ao contrario do q supúnhamos, a noite na montanha não fora rigorosa e sim bastante fresca, com algum vento seco. Nessas condições, desnecessário dizer q dormi feito pedra sem nenhuma interferência. Entretanto, minha colega de barraca, apreensiva com barulhos insistentes fora de sua chiquérrima Nepal, levantou e surpreendeu os minúsculos e atrevidos ratinhos de altitude fuxicando sua mochila!
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Maria e Mariana

Levantamos antes do amanhecer a fim de apreciar o belo espetáculo da alvorada prum dia q prometia ser tão limpo qto o anterior. Mas bastou o Astro-Rei emergir lentamente atrás da silhueta escarpada de Serra Fina, à leste, tingindo o firmamento de tons escarlates ate findar num azul definitivo q o tempo literalmente parou e tds só quiseram saber de registrar esse momento espetacular em inúmeros cliques. Após os raios do sol tocarem as barracas, cujo sobreteto não estava nem um pouco umedecido por conta da noite seca, é q começamos de fato a ajeitar as tralhas pro programa daquele dia.

Mesmo com água escassa e sendo racionada de forma sagrada, o Wagner consumiu boa parte da dele já gerando uma certa apreensão referente ao precioso liquido. O dia seria bem quente e qq esforço demandaria um consumo maior, portanto a partir de agora teríamos q ter bom senso em consumir o pouco de água q nos restava. Ainda assim, conseguimos preciosos 500ml extras com a galera q tb estava no cume e q retornaria naquele dia. Solidariedade montanhista é isso ai.

Antes de andar ainda demos uma avaliada visual no terreno q teríamos pela frente, sempre comparando com um xerox da carta q tínhamos à disposição. Afinal, não dejavámos ter o mesmo fim do escoteiro Marco Aurélio, q desapareceu misteriosamente nessa mesma região em meados da década de 80.

Pois bem, mochilas nas costas e assim zarpamos pontualmente as 8hrs rumo o Pico da Maria, vizinho do Marins. Da beirada deste ultimo basta avaliar quais são as lajotas menos íngremes e avançar por elas, alternando com o mato ao redor, e assim ir perdendo altitude. Não tem mto segredo, pois qdo a declividade nas lajotas aumenta basta se enfiar no mato e, segurando firmemente nas caratuvas e no capim a disposição, desescalaminhar ao patamar sgte ou lajedo menos íngreme. E assim sucessivamente. Como não há trilha o jeito é avançar na raça mesmo, sempre atentando bem a consistência de onde se pisa.

Em menos de 20min, já quase no final da descida, um gde barranco nos separa do fundo do pequeno vale q interliga o Marins e Maria. Mas da mesma forma q antes, avaliamos os trechos mais firmes onde pisar (e se agarrar) q desescalaminhamos esta piramba com segurança ate o fundo de uma espessa florestinha de altitude. Daqui não tem mais erro, pois bastou atravessar um túnel de bambus q terminamos emergindo, as 8:30, nos lajedos cercados de capim q forram a base do Pico da Maria.

Daqui em diante não tem erro, pois é td aberto e suavemente inclinado. Há tb uma oportuna clareira de capim q pode comportar duas barracas confortavelmente, se for o caso. Fezes de algum pequeno carnívoro e um rústico totem repleto de liquens marcam o local, indicando q a visitação é bem rara, praticamente nula. Mas o melhor é a vista privilegiada q se tem tanto do Marins e sua face sul debruçando-se serra abaixo!

Largamos as cargueiras com a Lu, q preferiu descansar na base do Maria, enqto o resto foi de fato atingir o cume do pico, não mto distante. Tal qual a subida do Marins, este curto trecho foi vencido facilmente na base de aderências e escalaminhando pedras, e assim atingimos os 2392m do topo do Pico da Maria, as 8:40!!! Daqui de cima o Mariana surgia como um dedo rochoso apontando pro céu, à noroeste, assim como uma vertiginosa crista descia espetacularmente estreita rumo o bairro dos Marins. À sudeste a vista tb não deixava a desejar com duas outras cristas bem escarpadas se debruçando pro Vale do Paraíba. Futura travessia? Quem sabe. Após inúmeros cliques deixamos um totem registrando nossa presença e descemos de encontro à Lu, q tirava um cochilo ao sol daquela manha quente. Íamos agora tentar a conquista do Mariana.

Pois bem, caminhando por lajes e capim bastou seguir sentido a borda oeste da base do Maria. Contudo, antes de dar no abismo de uns 50m q nos separava do estreito selado rochoso q interliga com o Mariana, o bom senso nos sugeriu tentar algum possível acesso pela encosta direita. Descendo degraus rochosos não tão íngremes, perdemos altitude suficiente pra ficar quase no mesmo nível do almejado selado. Bastou então ir de encontro a ele. Esprememos-nos por uma estreita canaleta pedregosa q ladeava a encosta ate q deu num patamar firme de capim alto e cortante. Porem dele percebemos q nos separava agora do selado era algo de 30m de um paredão vertical à nossa esquerda, passível de ser transposto somente com técnicas de rapel! Abaixo um gde abismo jogava uma pá de cal em nossas pretensões de ganhar o Mariana por aquele lado. Decidimos retornar pra estudar melhor q estratégia adotar, mas difícil foi escalaminhar a estreita canaleta rochosa munido de uma pesada cargueira.

Novamente na "proa" oeste da base do Maria e lá avaliar novamente as possibilidades de acesso. Debruçamos-nos na rocha e vimos q um pouco abaixo havia uns matos de encosta q davam noutro patamar mais amplo, bem mais abaixo. Eu e o Angelo então desescalaminhamos ate onde poderíamos descer por esta rota, mas logo ela revelou-se ineficaz, pois tb deu num trecho onde não dava pra prosseguir sem a ajuda de corda. Daqui o cobiçado selado devia estar apenas a uns 30m abaixo da gente! Contudo, daqui pudemos ver algo q de cima era impossível e q reascendeu nossas esperanças: uma estreita canaletinha rochosa descia bordejando a encosta vertical do Maria ate bem próximo do tal selado, e a presença de mata alta nela significava q devia ter piso firme pra agüentar e dar apoio suficiente a um adulto. Só bastava descobrir de onde partia essa tal canaletinha e eu tive já uma boa idéia de onde poderia ser.

Novamente na base do Maria, retrocedemos o suficiente pra ficar numa espécie de "selado" entre o cume e a base. Dali vimos uma canaleta (quase uma greta) rochosa íngreme q descia forte na direção desejada e q provavelmente interceptava aquela q havíamos visto logo adiante. Pois bem, ate lá já eram quase 11:30 e havíamos perdido a manha td naquele processo de "tentativa e erro" de acesso ao Mariana. Agora seria o ataque derradeiro. Bem, se não desse, pelo menos poderíamos nos vangloriar e dizer q tentamos. Retroceder do nada, jamais.

Como o ataque era exploratório e relativamente pauleira, a Lu e o Wagner decidiram permanecer alí tomando conta de nossas cargueiras. O Wagner tb preferiu não se desgastar alem da conta pq tava consumindo muita água e a dele já tava quase no talo. Pois bem, eu e o Angelo então começamos a descer a canaletinha nos agarrando firmemente no mato ao redor ate q mergulhamos numa florestinha baixa. Ali serpenteamos pequenas arvores retorcidas ate cair num patamar rochoso no aberto, de onde avaliamos o rumo a seguir. A canaletinha seguia piramba abaixo, mas daqui tínhamos q seguir pela beirada vertical do paredão onde estava a outra canaleta avistada.

Desescalaminhamos o patamar nos firmando no capim e em duvidosas raízes podres ate ganhar a tal canaleta. Uhúúú! Agora bastava seguir por ela, sempre colado ao paredão principal! No entanto, o q parecia fácil revelou-se um vara-mato de bambuzinho infernal! O Angelo foi na dianteira abrindo passagem e eu fui logo atrás, repetindo o processo de baixar o mato de modo a facilitar o retorno. As vezes tínhamos q "nos jogar" sobre o mato pra conseguir baixá-lo, e assim avançar! O processo inicialmente foi lento, mas constante. Não tardou a cair num trecho não tão obstruído de bambus onde o caminhar/escalaminhar não teve maiores dificuldades, alternando subidas e descidas. Era evidente q onde estávamos ninguém havia estado pq não havia marca de facão e mto menos rastro de trilha. Éramos os primeiros naquele cafundó do Marins!

Seguindo em frente no mesmo compasso, logo pudemos ver o tal selado cada vez mais próximo, e assim aumentamos nosso ritmo, cada vez mais contentes. E assim às 12:30, após um ultimo lance de escalada, chegamos enfim no estreito selado q nos tomara td a manhã em chegar! Estávamos eufóricos por estar ali, pois agora ate o cume do Mariana era brincadeira de criança! Empolgados, subimos os lajedos e paredões q se seguiram e meia hora depois atingimos os 2310m do cume do Pico da Mariana, pelo GPS do Angelo. A vista dali de cima é deslumbrante!!! O Marins, Maria e seus respectivos contrafortes ganham nova e impressionante perspectiva! De onde estávamos, pudemos tb ver gente no cume do Marins q parecia espantada com nossa presença ali, naquele local aparentemente inatingível! Depois soubemos q era o Milton levando turistas ao topo do pico principal.

No entanto, a comemoração foi breve pois nuvens começaram a tomar conta de td Vale do Paraíba e ameaçavam subir ate o alto das montanhas, nos obrigando assim a retornar ate nossos colegas. A volta foi bem mais rápida q a ida, lógico! Havíamos deixado praticamente uma "avenida" em nossa passagem, q se não for utilizada ira fechar em breve. Uma vez na cia do resto do pessoal iniciamos a volta ao Marins, as 14hrs, refazendo td trajeto daquela manhã, agora em árdua em vigorosa escalaminhada de mato e rocha. O calor daquele inicio de tarde era palpável e nos tentava a td momento a beber água alem da conta. Aliás, a demanda pelo precioso liquido foi um fator critico, pois havíamos subestimado nosso consumo.

::Continua na segunda parte…


Jorge Soto

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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