A desafiadora Travessia Bairro Alto x Marco 22: 2º Dia

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A travessia Bairro Alto x Marco 22 vai de Antonina até a estrada da Graciosa no Paraná, passando por 10 cumes, trilhas fechadas (e até locais onde ela não existe) e é uma das mais difíceis e bonitas do Brasil. Acompanhe o dia a dia desta pernada perrengosa feita por Luciana e seus amigos.

 
2º DIA: Quarta-feira 20/08/2014.
 
Acordamos em torno das 6:30, fazia um amanhecer muito bonito. Logo o Tiago saiu para fotografar o belo evento da natureza e a linda vista.
 
Tomamos o café da manhã e partimos para o cume principal para assinar o livro. Depois seguimos para o Taipabuçu. 
 
Para você entender o nosso trajeto do dia anterior e dos próximos dias. ::cool:: 
 
Subindo o Taipa, encontramos um casal indo para o Ferraria:
Mais uns desocupados fugindo para a montanha no meio da semana? 😆 
Brincou o homem.
O trabalho permite, né!
Respondeu prontamente o Tiago. Paramos por pouco tempo para conversar e contamos sobre a nossa travessia, de onde viemos e para onde estávamos indo. Eles nos desejaram boa sorte e cada grupo seguiu para seu rumo. 
 
Eu e o Tiago chegamos primeiro ao cume do Taipabuçu (1733 metros), ficamos aguardando os guris chegarem. Enquanto isso, muitas fotos.
 
Assim que chegaram, fomos assinar o caderno do cume por volta das 11:00, relatando sobre a nossa travessia. Para a minha surpresa, havia uma histórinha do Tom e Ana.
 
Depois seguimos para o Caratuva. Paramos para almoçar antes de chegar ao cume para aproveitar a agradável sombra do mato. 
 
Enquanto isso, ficava admirando a vegetação. Tinham bromélias lindíssimas que eu não cansava de olhar. 
 
Assim que almoçamos, continuamos a subida ao Caratuva, passando pela “Pedra da Faca”, que era uma pedra de formato diferente que obriga o montanhista a tirar a mochila, mesmo ela sendo pequena. Um trecho um pouco mais técnico é a canaleta no final da subida para o Caratuva. Tínhamos uma bela vista da parte que fizemos da travessia.
 
Chegamos ao cume do Caratuva (1862 metros), em torno das 14:00, assinando novamente o caderno com o relato do nosso trajeto. Dali havia uma belíssima vista para o PP, onde deveríamos chegar ainda no mesmo dia. Na verdade, o ideal seria chegar ainda no Itapiroca naquele dia, mas a coisa não estava rendendo até lá. Era muito mato fechado, e os guris foram com cargueiras enormes, o que fez com que eles virassem vítimas constantes das terríveis taquarinhas. 
 
Saindo do Caratuva, deveríamos pegar a “Trilha da Conquista” para chegar ao Pico Paraná.
 
Na verdade entramos ela, mas não conseguimos seguir na trilha já que estava quase fechada. O arquivo de GPS que o Tiago recebeu tinha erro de 80 metros da trilha original. Como pouca gente passa por lá, o mato tomou conta e foi uma “novela” para encontrar a trilha verdadeira. Subimos e descemos várias vezes, andamos de um lado para outro se embretando em mato cada vez mais fechado para tentar achá-la e nada. 
 
Resolvemos então seguir a escassa marcação por fita e chegamos em outra trilha. Não era a Trilha da Conquista, mas nos levava onde queríamos, até a água próxima do A1 (Acampamento 1). 
 
Chegando na água próxima ao A1, que preenchi os 3L do meu Streamer, fui seguindo rumo ao cume do PP (Pico Paraná), esperando que os demais me acompanhassem. Em seguida vieram.
 
Nessa parte da travessia, não “desgrudava” os olhos do PP, ficava admirando o gigante em todos os seus ângulos. Estava realizando um sonho, pois sempre nas minhas idas a Curitiba, quando planejava ir ao Pico Paraná a previsão do tempo marcava chuva. Mas naquele dia não tinha sinal de chuva. O sol ardia e o tempo estava muito seco.
 
O Tiago e eu fomos seguindo a trilha de modo empolgado, pois era a minha primeira vez no PP e a primeira dele com tempo bom. E assim fomos subindo pela trilha bem batida e admirando a vista, especialmente por onde já havíamos andado. 
 
O Fábio e o Marcelo estavam mais para trás. Quando atingimos a primeira via ferrata, eles estavam recém descendo para a via ferrata. 
 
O Marcelo estava no meio do trajeto entre o Fábio e nós dois. Quando avistamos o Marcelo, perguntamos o paradeiro do Fábio e ele nos avisou que ele decidiu acampar no A2 (Acampamento 2), devido à câimbra e iria fazer companhia ao amigo por ter pouquíssima água (lá tem uma bica d’água fraca).
 
Então nós continuamos a subir ao cume racionando água. Como o ar estava seco demais, me descuidei e bebi água demais. Cada um de nós dois tinha um pouco mais de 1L para a janta e café da manhã. Além disso, na manhã do dia seguinte, faríamos ainda os cumes União e Ibitirati.
 
Em meio ao caminho, encontramos mais 4 pessoas de Santa Catarina. Eles também iriam acampar no cume. Como estavam em ritmo mais lento, ultrapassamos eles e chegamos primeiro ao cume para escolher um local bem protegido para o nosso acampamento, visto que não levamos o dormitório da barraca, apenas o sobreteto e o footprint (em função da diminuição de peso e volume na mochila). 
 
Quando chegamos ao cume, ainda pudemos aproveitar o pôr-do-sol. Escolhemos o canto para o nosso acampamento e fomos tirar fotos do entardecer de cima do ponto mais alto do sul do país. A sensação de estar ali no topo e ver o sol se pondo, as luzes das cidades lá longe são belíssimas.
 
Depois da sessão de fotos, voltamos ao nosso cantinho para montar o acampamento. Logo que terminamos, chegou o grupo catarinense.
Muito prestativo, o Tiago foi ajudar o pessoal a encontrar espaço confortável para suas barracas:
– Aqui é um bom lugar, ali também tem…
– Mas é só uma barraca! Respondeu um dos catarinenses. 😯 
 
Eu, que estava na porta da barraca, espichei a cabeça para fora para dar uma olhada na barraca que serviria de abrigo para os quatro marmanjos. Era uma pequena iglu de tamanho máximo de 3/4 pessoas! Tive que fazer um esforço extra para não largar uma sonora gargalhada. ::lol4:: 
 
O Tiago voltou e fomos assinar o caderno do cume e tirar mais umas fotos. Naquela noite ventava bastante e a temperatura baixou para 4 ºC. Fiquei insistindo para voltar para a barraca devido ao frio. ::Cold:: 
 
Voltamos ao nosso acampamento e ficamos fechados dentro da barraca para nos proteger do vento. Ficamos batendo papo, lendo o planejamento da pernada do dia seguinte e contabilizando o que ainda havia de água. Além da janta e café da manhã, “sobrou” uma justa quantia para fazer chá para os dois. Tirei as botas, que já apresentava um rasgo na biqueira do pé esquerdo, mas nada para se preocupar, pois a estrutura interna se encontrava boa. O direito ainda estava intacto, por enquanto…
 
Enquanto isso, lá fora, nossos vizinhos faziam a maior festa, com muita conversação, álcool e até maconha. Quatro marmanjos bêbados em uma pequena barraca era a legitima festa do sagu, só bola! ::lol4:: 
 
Assim que começaram a organizar a janta, eles receberam uma “visita” e ouvimos um deles: 
Olha, um “rato da montanha” mexendo na nossa comida!
– Não, é um gambá!
 
Ouvindo isso, tratamos de proteger nossa comida. De repente ouvi um barulho de animal se movimentando e da barraca se movimentando.
– Tiago, cuidado! Tem um bicho ali fora. Espanta ele, senão ele vai na nossa comida.
 
O Tiago levantou-se para tentar afastar o bichinho e acabou derrubando a panela com o chá quente. Foi uma confusão! Era o Tiago abanando nas frestas da barraca e eu tentando levantar a panela Virou um pouco de água no footprint e o saco de dormir. Molhou um pouco na parte externa, mas foi apenas em um canto. Logo ele secou por completo por conta da baixa umidade do ar.
 
O animalzinho voltou a perturbar nossos vizinhos, que passaram a dar comida para ele. Comida e pão com uísque para ele inclusive. O que além de prejudicar o animal ainda acostuma a fauna local a ir em busca de mais comida nas barracas. ::toma:: 
 
Colocamos tudo dentro dos sacos estanques, até o lixo, para impedir que o cheiro atraísse a desagradável visita. Deixamos para fora somente o material do preparo da janta. 
 
Assim que começamos a fritar a calabresa, apareceu pela fresta da barraca uma carinha marrom muito bonitinha. Era o gambá, que depois fomos descobrir que, na verdade, era uma Cuíca. O Tiago voltou a afastá-la. Terminada a janta, viramos a panela para baixo e guardamos o resto do alimento. 
 
Durante o sono, qualquer barulho acordava achando que fosse a Cuíca fuçando nas nossas coisas, mas não, era o vento. Acho que o animalzinho foi dormir, graças ao trago que nossos vizinhos deram. Imagina a ressaca que o bicho teve depois! ::lol3:: 
 
Aquela foi uma noite longa, os vizinhos fazendo festa, o vento forte. Sonhei até com a Cuíca foi dormir conosco no saco de dormir. 😀 
 
Dados do 2º dia da travessia:
Distância: 11,24 Km a pé.
Altimetria: 1343 metros de aclive acumulado e 1210 metros de declive acumulado.
 
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Sobre o autor

Luciana Gomes Moro

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