Aclimatando no Cerro Toco

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Nesse momento escrevo com grande alegria na mente! Cheguei a San Pedro ontem e já combinei com o guia de subirmos uma montanha hoje, apenas 14 horas após minha chegada.

Nesse meio tempo, comi feito louco, bebi uns bons 5 litros de água pra ajudar na aclimatação, e partimos…

Eu sei, alguns vão ler esse texto e falar “ta doido cara?”, mas me senti apto a ir, então fui!

Fiquei atento a todos os sinais que meu corpo me dava, e respeitei seus desejos ate o final, ele me deixou continuar por isso continuei… hehe.

Agora sim revelo o primeiro objetivo, Cerro Toco.

Essa montanha e uma das mais fáceis aqui nos arredores de San Pedro. Mas vejam bem, fácil no sentido meio que figurado da palavra, pois como toda alta montanha, o oxigênio oferecido a mais de 5000 metros de altitude é uma piada para os padrões de nossas unidades de carbono.

Mesmo assim fui.

Quando o guia me pegou cedo disse que iríamos de carro ate 5000 metros e dali iniciaria a subida. Eu disse “no way man!”. Não teria graça nenhuma subir a pequena diferença. Então o convenci a iniciarmos a subida a 4600 metros de altitude, o que ele concordou meio relutante.

Apesar de ter levado apenas 4 horas de subida, não foi fácil. Fazíamos paradas de cerca de dez minutos para observar como eu estava indo, pois qualquer indicativo sério apresentado por meu corpo, eu iria abdicar da subida.

Conosco também vieram mais três pessoas, assim fica fácil de pagar o guia e o transporte. Um casal de noruegueses (Knut e Bridget) e um espanhol chamado Nicolas.

Subimos em um passo absolutamente de tartaruga para que não recebêssemos nenhum sinal do corpo pedindo nível do mar…

Cerro Toco e um extratovulcao de 5.604 msnm. Porém, a cratera dele fica consideravelmente mais abaixo, algo como 5.200 metros de altitude. Inclusive, serve de extração de enxofre pelos nativos para indústria de rodas de carros.

A subida foi fácil, mas a respiração de fato era uma porcaria… Primeiro pela altitude (foi maravilhoso respirar ar rarefeito após dois anos sem essa estranha, porém deliciosa, experiência), segundo pela falta de umidade no ar, o que dificulta mais ainda a investida.

Enfim, sem muitos rodeios, consegui! Por isso estou radiante, meu primeiro cinco mil, e subi com certa facilidade. Lembro o fato de ter encarado somente pouco mais de 1000 metros de desnível, a altitude é a questão. Não e nada fácil, mas foi uma maravilha chegar ao cume e observar vários outros vulcões, além do próprio Licancabur mais a frente e o Juriques, ambos lindos e nevados, o que é particularmente difícil de ver nesta época do ano e, é claro, pela própria natureza do local: deserto!

Já sei que quem ler este texto (não tenho muitos leitores mesmo rsrs) deve estar tentando imaginar “poxa, mas será que ele não sentiu nada???”. Claro que sim, mas só quando cheguei ao cume. Leve dor de cabeça… Nenhuma tontura, nenhum vomito, nenhum “blackout”. A dor de cabeça ainda persiste um pouco, mas pelo desnível absurdo de mais de 3000 metros em algumas horas, é incrível que eu ainda esteja bem!

Tiro o resto do dia para descansar, beber muita água, comer bem. Amanhã o mesmo. Talvez depois de amanhã ocorra nova investida. Só vou esperar para ver como meu corpo reage.

Por enquanto, 5604 metros cumpridos do projeto! Estou muito feliz!

Cerro Toco: Chile, logo atrás do Licancabur e do Juriques
Altitude: 5.604 msnm
Temperatura experimentada: No cume sem vento: 0 graus Celsius, com vento, sensação térmica em torno de -5 graus Celsius.

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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