Alê Silva desabafa e rebate críticas sobre a Casa de Pedra

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Em Entrevista a nosso colunista/escalador Luciano Fernandes, Alê Silva, empresário, proprietário do Ginásio e lojas Casa de Pedra, comenta as críticas que lhe foi feita pela tomada de decisão que fez aumentar o preço das mensalidades de seu ginásio de escalada. Ele fala das criticas sobre como irá premiar o “Boulder Fest“ e da crise que quase o fez fechar o maior e mais famoso ginásio de escalada do Brasil.


Alê Silva já foi nome de destaque na escalada esportiva brasileira, hoje ele é empresário do ramo de escalada, dono de um&nbsp, dos ginásios mais conceituado de São Paulo e também de duas lojas de artigos de montanhas em São Paulo que mais investiu na escalada paulista na última década.

No ano passado os negócios de Alê sofreu um grande baque. Com dívidas e sem consegur fazer os ginásios renderem, ele teve que tomar uma decisão drástica, fechar uma das unidades. A comunidade da escalada reagiu e as duas Casas de Pedra ficaram com as portas abertas, entretanto com horários e funcionarios reduzidos e, mais cara.

Passado o pior, Alê Silva decide por conta própria organizar um campeonato em São Paulo, evento que está ficando cada vez mais reduzido, já que o paulista do ano anterior teve apenas uma etapa. Alê conseguiu, de maneira totalmente inédita, uma premiação de 17 mil reais para o vencedor, entretanto apenas para o máster masculino.

Alvo de críticas, seja pela premiação desigual, quanto pelo aumento das mensalidades e cortes com apoios, Alê Silva conta como é ser empresário do ramo de escalada em São Paulo atualmente. Ele dá um balanço da Casa de Pedra e sai em sua defesa e da Casa de Pedra.

Luciano Fernandes: A Casa de Pedra passou por um momento delicado ano passado. Pelo menos a academia. A loja casa de pedra reflete o mesmo?

Alê Silva: Não, muito pelo contrário. Acabamos de ampliar a loja do Shopping Morumbi e ainda abriremos outra no Shopping Villa Olímpia que será inaugurado em outubro deste ano. Ao contrário da academia, as lojas tem um leque de “consumidores” muito maior e diversificado.

L.F:&nbsp, A academia do Morumbi quase teve que se desativada, e houve uma reestruturação nos horários e funcionários. Em termos financeiros, o perigo do fechamento já passou?

A.S:
Ainda não. Por muito anos e por diversos motivos (inclusive forte desmotivação) o negócio deixou de ser economicamente viável, porém mantive por pura paixão pela escalada. Depois da re-estruturação de dias, horários e obviamente cortes, conseguimos baixar os custos consideravelmente, porém o mercado ainda está muito retraído. Pelo menos o buraco agora está menor e a vontade de fazer funcionar maior.

L.F:&nbsp, Muito se reclamou sobre as medidas econômicas para evitar o fechamento da academia Casa de Pedra. O aperto no cinto valeu a pena?

A.S: Como já adiantei na resposta anterior, o buraco está menor. Sem dúvida eu assumi publicamente boa parte dos “erros” da Casa de Pedra, mas também não adianta achar que baixando o preço vamos ganhar no volume, pois já fizémos isso no passado e praticamente não mudou o número de praticantes. A escalada é um nicho muito pequeno e qualquer ação é momentânea, a galera vem se diverte, mas a massa crítica, os escaladores de verdade, são muito poucos. A escalada nunca será um esporte de massa. Hoje a academia praticamente não tem mais diaristas, ou seja, pessoas brincando de escalar, mas sim escaladores que treinam duas ou mais vezes por semana. Se realmente valeu a pena, te direi daqui dois ou três anos.

L.F:&nbsp, A marca “Casa de Pedra” nasceu entre os escaladores, hoje com a loja em dois shoppings o quanto representa em termos de ganho os equipamentos de escalada?

A.S: Posso lhe dar duas respostas: As academias representam hoje talvez 10% do faturamento da marca Casa de Pedra. Nas lojas Casa de Pedra, os equipamentos técnicos de escalada não chegam a 1% das vendas. Mas vale lembrar que mesmo com tão baixa representatividade, a escalada é o que dá “alma” ao negócio.

L.F: A Casa de pedra sempre patrocinou eventos competitivos, e ano passado passou um período meio esquecido desta característica. Como surgiu a idéia do boulder fest? E como foi designada a premiação?

A.S: Desde o primeiro ano da Casa de Pedra realizamos inúmeros festivais, campeonatos paulistas, brasileiros, etc. porém a vontade e gás pra fazer acontecer veio caindo junto com todo o resto. Menor número de interessados, menos atletas, menos apoios ou patrocínios, muita reclamação… Infelizmente passamos por uma geração de novos atletas que parece que o primeiro esporte é reclamar, escalar vem em segundo plano. Lembro-me de campeonatos que participei com um terço da organização e estrutura do que vemos hoje, junto a atletas como Helmut, Pita, Fabinho Muniz, Linha, Pietro Sargenteli e tantos outros… e sempre foi pura curtição.

A vontade de fazer eventos não acabou, o que acabou foi a motivação com tanta gente reclamando. Depois desse baque do ano passado, em que quase fechamos uma unidade, da APEE não ter lançado nenhum evento no ano, dessa crise ter minguado ainda mais todo mundo, achei que era a hora de fazer uma evento legal.

Claro que hoje também com a loja, nossa força e argumentação com as empresas do meio é muito maior. Compramos centenas de milhares de reais por ano dessas empresas. Conseguir alguns equipamentos para premiação está mais fácil hoje. O que o escalador preconceituoso deve entender é que antes de sair falando mal dos “playboyzinhos” de fim de semana, dos trekkers, ou galerinha de estação de esqui, saibam que são esses caras que gastam e fazem o mercado “outdoor” rodar, pois quem é escalador mesmo manda o amigo trazer na mala quando vai pra fora.

A premiação foi a melhor que conseguimos dividida nas categorias. Recebi diversas críticas pela diferenciação da premiação por sexo, porém a coisa é muito simples. Vão ter 20, 30 caras disputando uma passagem pra França, enquanto as meninas se muito serão 10. Essa diferença sempre existiu, e não é só na escalada. A real é que mais uma vez tem muita gente que reclama por esporte. O fato é que não vou dispensar tempo, trabalho e muitas horas de conversas com fornecedores para realizar um evento pra 5 meninas.

L.F:&nbsp, Quem poderá participar?

A.S:
São duas categorias, uma só pra se divertir onde serão sorteados alguns equipos e o próprio atleta preencherá sua ficha de pontuação, e outra de competição propriamente dita. Participa quem quer, sem restrição alguma. Talvez o evento seja válido pelo paulista mas como o Ricardo Leizer (presidente da APEE) passou por problemas sérios pessoais, acabamos não conversando sobre o assunto.

L.F: Quem serão os route-setters e staff do evento? É veridico o boato de que até os “route setters” do evento também irão participar?

A.S: O staff é o pessoal residente da casa mesmo, como sempre foi e deu certo… Quanto ao boato, é pura maldade de quem reclama por esporte. O Route setter em questão é o Belê, que sim abrirá todos os boulders da categoria de diversão, e sem dúvida alguma competirá na outra categoria. Exatamente por isso que as etapas serão em unidades distintas, ele abrirá os boulders em Perdizes enquanto a competição será na Chácara. Provavelmente o Rout Setter da competição será o Paulo Gil, mas mesmo que ele não confirme, temos outros nomes possíveis para abrir os boulders.

Ainda sobre o comentário maldoso, o Belê nestes 10 anos de Casa competiu em quase todas as provas sempre sem problema algum, hora ganhando, hora perdendo. Assim como o Cezinha já participou e ganhou eventos na 90 Graus, o Anderson na Via Aventura, ou mesmo a Janine, que durante 8 anos foi minha esposa, e praticamente ganhou todos os eventos na Casa de Pedra. A quantidade de atletas é mínima, tirar o Belê só por que ele trabalha na Casa de Pedra é uma injustiça com alguém que se esforça tanto nos treinos.

São 20 atletas na segunda fase, acho que tratar o Belê como um “pré-classificado” não é injustiça alguma, uma vez que ele estaria facilmente entre os 2 ou 3 primeiros.
Tenho certeza que a briga será muito bonita nesta segunda fase. Os boulders serão escalados em rodadas eliminatórias, ou seja: 20 &gt, 15 &gt, 10 &gt, 5 e o último com apenas 2 atletas disputando o título.

L.F: A loja da unidade Morumbi foi ampliada, o mesmo se pode esperar da loja do shopping Villa Lobos?

A.S: Não, a loja do Morumbi foi a primeira e portanto apostamos numa metragem menor, pra ver como a coisa iria. Agora, depois de quase 3 anos, sentimos a necessidade de aumentá-la. A do Villa Lobos já é bem grande e não sofrerá alterações. Este ano ainda abriremos outra no Shopping Villa Olímpia que está em construção.

L.F: Os horários de funcionamento da academia Casa de Pedra serão alterados quando a vazante de prejuízos diminuir?

A.S: É difícil dizer… Tenho recebido pedidos para voltar a fechar as 23:00h. isso não aumenta muito os custos, e sim influencia na segurança, pois nosso galpão está numa área ainda muito industrial, escura e de fácil acesso a Marginal Pinheiros. Porém se o bairro continuar a crescer, como tem sido nos últimos anos, pode ser que eu volte ao horário antigo. Já o fim de semana, é muito complicado com escala de pessoal. Agora, se a coisa realmente melhorar não tem porque abrir só dias por semana. Tudo depende da quantidade de alunos.

L.F: A academia “Casa de Pedra” de muito bem equipada, como poucas academias do Brasil, e ainda com vários extras (Biomecênica, musculação e personais). Como é hoje administrar tudo isso?

A.S: Depois de uma fase “obscura” da Casa de Pedra, eu estou novamente motivado a “tentar dar certo”. As lojas estão crescendo e manter as academias funcionando é um orgulho e prazer pra mim. A motivação é a base da boa administração, nada como trabalhar fazendo o que amamos. Se o panorama continuar assim, com certeza será bem mais fácil levar tudo isso.
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Luciano Fernandes é escalador, mora em São Paulo e escreve o “blog de escalada

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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