Aucanquilcha 6176 metros – Parte II

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Acordamos com uma preguiça enorme…Fazia frio fraco de zero grau. Mesmo assim, sem opção de escolhe lá fui eu de novo pra fora pra emagrecer um pouco, comum pra mim ahahahah.


Leia a primeira parte do relato

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sobre a viagem de Parofes: Quanto mais, melhor!

Tomamos café ali mesmo na estrada, calmamente. Nosso plano era aproveitar a aclimatação e não se torturar muito com o frio, escalando já com sol. Por isso terminamos o café às nove em ponto. Começamos a subida as nove e quinze.

Absolutamente sem pressa, curtindo o visual e o sol constante, fomos progredindo sem pressa. A rota que pegaríamos era a própria estrada até onde desse, saindo dela para a esquerda assim que necessário. Seguimos o plano a risca e na cota dos 5700 metros saímos para a esquerda onde a linha da neve começou.

Havia bastante neve até, cerca de dez centímetros a vinte. Porém, em alguns pontos chegava a meio metro. Fiquei surpreso, pois não esperava tanto. Quando olhei a montanha pela primeira vez observamos a parede sul (foto na parte 1) e como a rota normal e pela parede norte, esperava quase nada, me enganei!

Na primeira parte eu disse que a mina ficava a 5600 metros, mas isso e a informação que o Wikipédia dá. No GPS verifiquei que a mina ficava a 5800 metros de altitude, realmente uma altura excepcional para se trabalhar. Imagino como deveria ser duro o trabalho por lá, pior, tendo que sentir o cheiro de enxofre durante o trabalho. O Aucanquilcha é um vulcão considerado ativo, volta e meia a fumarola acorda e faz fogo o que não aconteceu desta vez.

Pois bem, na mina resolvemos colocar crampons pra ter mais segurança e prazer na escalada é claro. Combinamos outra coisa também, sempre manter uma certa distancia um do outro de 25 ou 30 metros, isso facilitaria as fotos espontâneas. Sempre que desse na telha, um fotografava o outro. Tem coisa melhor? Acho que noventa por cento das fotos ficaram lindas…

Não existe dificuldade técnica grande na escalada da montanha pela rota normal. Em algumas partes a inclinação chega a 50 graus, nesses pontos e importante fazer o tradicional zig zag pra não se cansar muito evitando assim que a bota maltrate os pés, sempre alternando a posição do piolet pra parte mais alta da montanha e obvio.

O engraçado é que justamente nas partes mais inclinadas havia mais neve. Que coisa, parece um jeitinho da montanha de te colocar a prova. Ainda bem que minha boa aclimatação me deu forcas suficientes pra subir sem nenhuma dificuldade, nenhum contratempo, nada.

Avançávamos com grande facilidade, curtindo o visual sempre que parávamos por um ou dois minutos, já com vista pro Salar de Uyuni e montanhas bolivianas bem próximas!

Um vídeo desta parte:

A essa hora fazia calor, uns 3 ou 4 graus positivos. Por isso estou sem luvas. Raramente estou assim, pois sinto muito frio nas mãos e orelhas. A balaclava estava lá é claro kkkk. Continuamos depois de uma parada pra uma barra de cereal e ver as fotos! Eu estava o tempo todo com a máquina do Christian e ele com a minha. Isso facilitou muito as coisas…

Quando chegamos na cota dos 5950 metros a montanha mudou novamente. A frente víamos um anfiteatro belíssimo que proporcionaria fácilmente várias vias de escalada em rocha de quinto ou sexto graus. Nele havia algumas pequenas cascatas congeladas. Pequenas demais para serem escaladas, mas o visual era lindo.

Ali tivemos que virar para a esquerda para contornar o paredão aproximadamente quinhentos metros adiante. Neste ponto a neve estava forte, algumas vezes eu pisava e meu pé afundava até o joelho, duas vezes foi ate a coxa!

O vídeo abaixo mostra esse pedaço, e o Christian ainda me sacaneava no final dizendo que estava fácil kkk. Pior é que ele virou a câmera durante a filmagem ahahahaha

No vídeo é possível ver a esquerda da tela o paredão, e a rampa de gelo logo a minha esquerda tinha muita neve, afundávamos até a coxa e por isso contornamos próximo às pedras onde passo, onde a neve se limitava a ficar nas canelas.

Passamos por aí, uma rapida parada de uns 3 minutos pro descanso e continuamos. Avancamos muito, muito rápido levando em consideração que começamos a caminhar a 5150 metros e depois de apenas 3 horas estávamos a 5950 metros. O cume estava próximo e queríamos garantir chegar lá cedo para descer cedo e conseguir chegar a San Pedro antes do pôr do sol.

Demos a volta contornando o paredão de rocha, e quando chegamos lá na frente, já a seis mil metros, atrás de nós estava um cume dos quatro da montanha. Desinteressados por ele, passamos direto, contornando a direita já vendo a rampa final para o cume que agora estava bem próximo.

Agora tudo que nos separava do cume era a rampa final, uns 500 metros de rampa que ganham só os 170 metros finais ate o cume, ai estava um pouquiiiinho cansado, mas nada de segredo, é só se concentrar nas passadas como um relógio e evitar paradas.

A essa altura a neve não era fofa, e claro pela altitude e maior incidência de frio, a neve não derrete facilmente, se torna gelo. Caminhar ai estava mais dolorido para os pés, mas melhor para estabilidade, no vídeo e possível ver o visual animal que se tem quando se esta próximo ao cume:

Sem muita demora, apos exatamente 3h e 59min chegamos ao maior cume do nevado Aucanquilcha, a 6.176 metros. O engraçado e que o GPS marcava 6.169 metros e depois de vinte minutos olhei novamente e adivinhem? Marcava EXATAMENTE 6.176 metros.
Agora a parte triste. Estava louco pra assinar o livro de cume. Onde estava o livro? Cavamos quase um metro de gelo e neve no contorno das pedras que marcam o cume, nada, andamos ao redor cobrindo uma área de uns 25 metros quadrados furando o gelo e nada…Christian me disse que as vezes andinistas meio farofas roubam caixas de cume. O lance é enviar uma mensagem ao Banco de Chile avisando que a caixa fora furtada. Eu queria muito assinar e ver as assinaturas! Uma pena… Depois de uma meia hora procurando desistimos.

Completamos a sessão de fotos e começamos a descer. A descida é claro, muito rápida. Em apenas 55 minutos chegamos ao carro, pé na estrada de volta a San pedro. Incrível, foi chegarmos na marca dos 5600 metros e o tempo mudou acima, o céu ficou negro e nevava no cume. Sorte!

Chegamos a San Pedro depois de longas seis horas de carro. Fiquei de novo no La Florida onde já fui recebido com farra pelo pessoal que lá trabalha, felicitaciones daqui e dali, tomei um banho e sai pra comer meu tradicional lomo comemorativo!

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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