Bate-Volta Típico em Mogi

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Uma das poucas desvantagens de se embrenhar no mato sozinho é q a atenção esta tão grudada na navegação q muitas vezes a paisagem ao nosso redor passa despercebida e, mtas vezes, pouco apreciada. Foi o q aconteceu na ultima travessia pelo alto Rio Sertãozinho, em Mogi das Cruzes, na qual me privei de conhecer a fundo uma represa pelo qual passara apenas julgando ser mero &ldquo,acampamento de caçadores&ldquo,. Soube depois q o local atende pelo nome de Represa da Light e é detentora de uma bela cachu q nem sequer registrei. Na tentativa de sanar esta desfeita, retornamos ao planalto mogiano em busca de um acesso à dita represa menos demorado q da vez anterior, apenas pra ter mais um bate-volta bem mais perrengoso q o previsto. Com direito a perdidos, atoleiros, tartarugas, jararacas e muitos carrapatos.


O dia amanhecera terrivelmente nublado e nada promissor, mas ainda assim eu, Fernando e Wagner chegamos na Balança as 9hrs decididos a realizar o ultimo bate-volta do ano. Após mastigar brevemente uma coxinha e tomar um café, pusemos pé-no-asfalto e 2,5km nos vimos na tradicional saída à direita q leva a tantos pitorescos lugares deste vasto planalto verdejante de Mogi. Fomos recebidos pelo belo canto da saracura ao mesmo tempo em q o tempo ameaçava abrir, revelando um sol escaldante q imediatamente deixaria nossos rostos repletos de suor.

A caminhada pela velha e precária estrada de terra é apenas interrompida por uma breve parada na Casa do Seu Geraldo, q parecia recém estar acordando. Seu Geraldo é “o cara” de Mogi e foi através dele q tive ciência q um pequeno remanso do Rio Sertãozinho – a meio caminho da Represa Andes e Cachu Furada – chamava-se Represa da Light e q lá havia uma enorme cachu. Contudo, minhas lembranças do local limitavam-se apenas a uma clareira repleta de restos de acampamento do lado da mansa represa, cujas águas despencavam num patamar mais baixo através de lajotas inclinadas sucessivas. Mas ele então nos descreveu uma trilha bem mais curta q dava lá, instruções q memorizamos com atenção. Td parecia fácil, mas mal sabíamos dos perdidos q viriam depois.

Pois bem, de peito estufado demos continuidade à pernada pela antiga e precária estradinha, chapinhando brejos e atravessando vários trechos onde o mato parecia querer invadir a vereda. Parar, nem pensar em virtude da gde quantidade de inconvenientes mutucas ávidas por sangue fácil. Após subir e descer suavemente a larga picada e passar pelos dois enormes blocos de pedras q ornam sua margem esquerda, um tempo depois caímos na escorregadia pinguela de madeira q transpõe o Rio da Rola. Contudo, uns 100m antes dela adentramos numa discreta picada q mergulha na mata, à direita. E lá fomos nós, descendo suavemente uma escorregadia e estreita picada envoltos pela refrescante sombra da espessa vegetação ao redor. O destaque deste trecho foram as enormes pegadas de dois mamíferos seguidas, aparentemente um seguindo o outro e q imediatamente deduzimos ser de uma onça atrás de uma anta.

Às 11hrs desembocamos no Rio do Lobisomem (sim, aquele mesmo q passa na frente da casa do Seu Geraldo) q aqui é transposto com água até a altura da coxa. Na outra margem a trilha prossegue novamente em meio á sombra da mata por pouco tempo ate dar numa bifurcação em “T”, num trilha bem mais roçada q segundo as infos do Seu Geraldo era “a trilha principal q deveríamos tomar após o rio”. Contudo, após seguir pra direita pela mesma logo após uns minutos percebemos estar no sentido errado pois alem de não ouvir barulho da agua algum foi onde lembramos do velho matuto ter dito pra “seguir pra esquerda assim de entrar na mesma”. Retornamos então pra bifurcação, marcamos a saída da mesma (pra não passarmos batido na volta) e tomamos o ramo da esquerda q seguiu pra nordeste quase q ininterruptamente!

A pernada aqui prosseguiu num ritmo razoável, pois aqui tb não dava pra parar por razoes mais q obvias, as enormes mutucas haviam dado lugar a nuvens de pernilongos sedentos do nosso precioso sangue! Entretanto, a picada era bem larga, obvia com alguns vestígios de lixo escondido nas margens, traduzidos em garrafas pet jogadas aqui e ali. E assim fomos avançando sem declividade alguma picada adentro, desviando de mata tombada, alguns inconvenientes taquarais e atravessar inúmeras pinguelinhas decrépitas ate dar num enorme atoleiro onde so deu pra avançar enfiando o pé inteiro ora na lama ou num brejo q pareceu não ter fim.

Neste atoleiro houve duvida em relação ao sentido a tomar pois a agua e lama cobriam td terreno não permitindo visualizar bem a trilha ate q demos no q pareceu ser uma bifurcação. Pois bem, aqui fomos pra esquerda q pareceu a principal (a direita era uma picada mais fechada) e como o velho matuto havia dito pra aqui nos mantermos na principal ignoramos essa saída pra direita. Só não sabíamos q o Seu Geraldo havia esquecido de mencionar esta bifurcação, importantíssima por sinal e foi a causa de andarmos em círculos quase o dia todo.

Continuamos pela trilha um tempão ate q duvidas de estar no sentido correto começaram a pairar nossa cabeça tal qual os pernilongos q esperavam alguma pausa em nossa caminhada pra dar vazão ao seu apetite voraz por sangue novo e fresco. Pois bem, Seu Geraldo havia mencionado q da bifurcação não dava nem uma hora ate a tal represa só q nos andávamos já a quase duas horas, e esse foi o motivo real das duvidas começarem a nos incomodar. Crentes q estávamos no sentido equivocado retornamos td q andáramos a passo apressado ate uma trilha q o Fernando havia visto antes do rio, saindo pra esquerda. No caminho, destaque pra uma tartaruguinha minúscula cujo casco se mimetizava com o ambiente q a rodeava, principalmente folhas caídas.

Atravessamos outra vez o Rio do Lobisomem e num piscar de olhos topamos com a bifurcação vista pelo Fernando saindo da principal, pela esquerda. E la fomos nos, avançando na raça e agachados pois esta vereda tava mto mais fechada q a anterior, denunciando ser mais uma picada de antas q de gente, o q foi comprovado não só pelo gde numero de pegadas do enorme mamífero como tb gdes bolos de fezes do mesmo no caminho. Ai, ai, ai..e onde tem anta tem carrapato aos montes! Dito e feito, não tardou a sentir aquela típica coceirinha pelo corpo q nada mais eram os danados buscando o melhor lugar pra encostar as garrinhas. Mas após este curto vara-mato terminamos desembocando, por incrível q pareça… na ponte do Rio da Rola, as 13:20!!

“Putaqueopariu! Andamos atrás do próprio rabo td este tempo!”, falei pros meus amigos pra depois cairmos juntos na gargalhada da volta em círculos.

Após fazer um breve lanche na pinguela sobre o riacho, decidimos refazer td trajeto chegando a conclusão de q no final estávamos no rumo certo, so bastava ter paciência ainda na trilha. E la estamos nos novamente na picada, atravessando o Rio do Lobisomem e caindo outra vez pela trilha à esquerda, refazendo td o parágrafo um pouco mais acima. E la fomos nos apressando o ritmo picada adentro, desviando da mata tombada, dos inconvenientes taquarais e as varias pinguelinhas detonadas. Antes de chegar ao atoleiro um susto ao Vagner (ultimo da fila) dar um berro q faria acordar ate os mortos anunciando termos passado por cima de uma enorme jararacuçu no meio da trilha!

“Caralhomeu! Uma cobra aqui, porra!” gritou ele enqto dava um salto ninja pra não pisar na bichinha, q deixou a trilha e aninhou-se num mato ao lado. De fato, havia uma enorme cobra e bem sarada, por sinal, na beirada da trilha encarando a gente ate de forma bem ousada! “Meu, ces passaram por cima dela e qdo foi minha vez quase pisei nela!”, emendou o rapaz, ainda se recompondo do susto, enqto o Fernando louvava Alguém la em cima por sairmos ilesos desse susto. Mas não parou por ai, qdo a bichinha pareceu avançar na gente afastamos ela com um pau pra depois ela se perder no meio do mato. “Anota o q to dizendo, na volta ela vai estar ai nos esperando!”, vaticinou um assustado Vagner. Mas ainda assim marcamos bem o local pra ficar atentos na volta, já q provavelmente a peçonhenta tava tomando sol no único local onde não havia charco nem sombra, ou seja, na trilha!

Dando continuidade à pernada andamos ainda um tempo pela floresta após o atoleiro, agora com atenção redobrada ao chão, ate q começamos a descer rumo um enorme curso d´água, ainda sentido nordeste. Qual minha surpresa q estávamos as margens do alto Rio Sertãozinho, as 14:40, lugar onde estivera duas semanas antes! Porem não estávamos na tal represa e sim, pelo q me recordava daquela outra ocasião, bem acima dela! Pois bem, daqui bastava apenas acompanhar o rio abaixo pela estreita e confusa trilha q o margeia pela mata. E foi o q fizemos, avançamos ora pela trilha na margem ora atravessando verdadeiros pântanos nos meandros q a entrecruzavam, e assim sucessivamente.

Mas por volta das 15:20 e percebendo q ainda faltava um tantão ate a tal represa, novamente duvidas pairaram na nossa cachola qto a se prosseguíamos ou não, sob risco de retornar á noite naquele trecho de mata bem confuso. Pois é, nossa rota não era a trilha descrita pelo Seu Geraldo, pois a havíamos perdido nalgum trecho, so não sabíamos onde. Estávamos apenas quebrando galho por outra picada q dava uma volta bem maior e desnecessária. E assim decidimos sensatamente retornar td o caminho feito ate ali, pois afinal andar á noite tava fora de cogitação e nenhum de nos tinha equipamento pra pernoitar. E pernoitar em verdadeiros ninhos de carrapatos ninguém merece, decisão cunhada de razão assim q começou a chover..

Voltamos assim então td o trajeto feito rio acima, as vezes perdendo a trilha pra depois encontra-la mais adiante. De fato, andar aqui a noite é pedir pra se perder! E aos trancos e barrancos quase as 16hrs chegamos na trilha q abandona o rio e se embrenha mata adentro, subindo suavemente a morraria. E tal qual nossa surpresa ao constatar q a jararacuçu tava de fato esperando pela gente, ao passar pelo lugar marcado por nos. Claro q desta vez nos passamos com cajados na mão, cutucando o terreno q pisávamos, e tal previsão fez do Vagner nosso eterno salvador e com mto mais credibilidade q a Mãe Dinah. A peçonhenta tava ali, numa boa, jogada na trilha encarando a gente, embora eu jurasse q ela tava ate sorrindo pros nossos cliques.

Após afastar o ofideo-celebridade com um pau pra longe da trilha, demos continuidade á pernada e assim um tempo depois atravessávamos o Rio do Lobisomem pela quarta vez, pra logo na sequencia desembocarmos na estradinha de terra principal, as 16:50, no memento em q a chuva dava lugar a um sol com mormaço desgraçados! Cansados, sujos, ralados e com corpo td dolorido e coçando de carrapatos, o resto da caminhada pareceu interminável e não víamos a hora de esganar o Seu Geraldo pelas infos meio desencontradas. Eu parecia ter dois chifres latejando na minha testa, resultantes de duas picadas de pernilongos tamanho-familia!

Chegamos no asfalto e os kms finais ate a Balança foram ate q rápidos, tendo em vista nosso estado. La encontramos, claro, Seu Geraldo e explicamos nossas desventuras daquele dia, tentando compreender onde foi q havíamos errado na trilha, já q aquele caminho enorme q fizéramos não correspondia á descrição dele. “Pô, esqueci de mencionar q depois de um atoleiro ao sopé de um morro tem uma bifurcação, q ai vcs tomam a direita e em 10min chega na represa! Se pega a esquerda vai dar no rio, bem mais acima!”, disse o tiozinho enqto mandava ver uma Itaipava gelada. Pois é, a gente havia pego justamente a esquerda, mas agora essa roubadinha já mais nos incomodava e sim era mais um motivo pra altas risadas. E la ficamos ainda mais um pouco comendo, bebendo e principalmente ouvindo os pitorescos e deliciosos causos do Seu Geraldo, q segundo ele as cobras dali são vingativas justificando nosso duplo encontro com a jaracuçu.

Na sequencia, qdo o corpo dolorido pedia arrego, um bom banho e uma cama aconchegante nos mandamos prometendo retornar o ano q vem. E a Represa e Cachu da Light? Bem, ela vai continuar ali e não deve sair de onde atualmente se encontra por mto tempo. E apesar de já conhece-la prometi a mim&nbsp, mesmo q retornaria pra chegar desta vez pela maldita picada q nos fugira nesta ocasião. Afinal, depois de ir e voltar quase umas quatro vezes já temos uma certa intimidade e conhecemos cada detalhe escondido nela. E ela, guardando td sorte de surpresas e perrengues para conosco, tb já deve estar farta dessa intimidade. Esse é o típico e rotineiro bate-volta pelo planalto mogiano.

texto e fotos Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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