Caratuva – Taipabuçu – PP (10-12/abril/1998)

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Meu amigo Elcio me convidou para irmos ao Ferraria, Taipabuçu e/ou Guaricana. Ele tinha planos de colocar um caderninho no Guaricana, bem como no Taipabuçu. Mas, na véspera da viagem para Terra Boa, nossos planos mudaram: soubemos que o Saraiva e talvez o Márcio Muniz iriam para o Guaricana já na quinta dia 9 ( Quinta-feira Santa ). Assim, decidimos que iríamos até o Ferraria, passando antes pelo Taipabuçu, via Caratuva, e também acertamos que iríamos com o meu carro até a fazenda do Pico do Paraná. E assim fizemos. Na reunião da SPM da quarta-feira anterior eu tinha convidado o Eger e o Gnomo para irem conosco. Eles aceitaram, só que ficou combinado que eles iriam já na quinta-feira dia 9 à noite, e de ônibus. Isto porque eu não queria lotar demais o escort, e se eles deixassem para ir na sexta-feira e de ônibus, então nós quatro não nos encontraríamos a tempo de fazermos o trajeto Caratuva-Taipabuçu-Ferraria.


10 de abril, Sexta-feira Santa – O alarme do meu relógio tocou às 5:00h. O combinado tinha sido de eu pegar o Elcio na casa dele às 6:00h. Cheguei lá às 6:12h. Fui até o apartamento dele. Ele estava terminando de se aprontar. Me entregou o relato da travessia Bairro Alto-Estrada da Graciosa, e saímos. O céu estava um pouco nublado, mas logo vimos que o sol não tardaria a brilhar. Chegamos na Fazenda do PP por volta das 7:40h. Uma mulher cobrou-nos R$ 5,00 a diária para deixarmos o carro lá. O Elcio pagou R$ 10,00 e partimos às 7:50h. Já havia vários carros estacionados lá ( aproximadamente 6&nbsp, ).

Subindo a trilha que sai da fazenda, logo chegamos à clareira onde o pessoal do CPM costuma acampar para fazer um registro dos montanhistas que freqüentam a região. Nós tínhamos algo para fazer ali. Logo continuamos a subida. Ao final da “desistência”, já no descampado do Getúlio, avistamos caminhando mais à frente a Joelma, o Valter e a Sandra Skimel. Somente os alcançamos já na bifurcação do Caratuva. Conversamos um pouco, e nos despedimos. Eles iam para o Pico do Paraná.

Eu e o Elcio continuamos nossa caminhada subindo a trilha do Caratuva, e logo encontramos um rio. Mas como havia bastante água nele, deixamos para pegar mais adiante, onde o rio é apenas um córrego, que seca quando não chove muito por lá. Peguei 4 litros de água, e percebi que minha mochila ficara pesada demais. A partir daí o Elcio desapareceu na frente, e eu continuei subindo no meu ritmo. Depois de aproximadamente 45 minutos cheguei no cume. Fui recebido pelos colegas Márcio “Gnomo” e Pedro Paulo “Eger”, que me contaram terem chegado lá na noite anterior, pouco antes da meia-noite. Não havia mais ninguém no cume do Caratuva, com exceção do Elcio que já estava com sua barraca quase armada num pequeno platô, um pouco abaixo do cume da montanha. Eram mais ou menos 10 horas e 30 minutos.

O Caratuva, também conhecido como Caratuba, é a segunda montanha mais alta da região sul do Brasil, com 1850 metros de altura. É no entanto uma montanha fácil para se subir. Sua trilha frontal é relativamente larga, coberta por vegetação em praticamente todo o seu percurso, e a subida não é muito íngreme e nem cheia de obstáculos. No cume há algumas antenas de rádio-amador e um equipamento de captação e transformação de energia solar, que serve para manter os equipamentos de retransmissão de sinal operando ininterruptamente. No cume há espaço apenas para duas barracas de tamanho médio. Do cume do Caratuva temos uma visão deslumbrante das montanhas ao redor. Entre elas, o Pico do Paraná, o Itapiroca, o Taipabuçu e o Ferraria.

Depois que armei minha barraca, combinamos os quatro amigos de preparamos uma mochila de ataque com o mínimo indispensável, e às 11:30h partirmos rumo ao Taipabuçu, para depois seguirmos até o Ferraria. Nosso plano era de colocarmos uma guarnição nova para o caderno de cume do Taipabuçu, fazermos um ataque ao cume do Ferraria ( 3 horas só de ida ) e voltarmos pelo mesmo caminho até o Caratuva, se possível, antes do anoitecer. Mas infelizmente a instalação da guarnição ( tubo de PVC montado num parafuso de fixação à rocha ) no cume do “Taipa” foi bem mais difícil e demorada do que imaginávamos, e, para não nos arriscarmos à toa caminhando em locais perigosos à noite, decidimos não irmos mais até o Ferraria.

Foi uma pena. Seria a 1a vez para o Gnomo e o Eger, e a minha segunda subida a esta linda montanha. Minha primeira subida ao Ferraria foi em 26 de dezembro de 1995, quando eu, o Elcio e o Valter tentamos fazer a travessia Bairro Alto – Estrada da Graciosa. Instalada a guarnição do caderno de cume, depois de todos assinarem este caderno, iniciamos nosso retorno do Taipabuçu.

O “Taipa”, como é conhecido pelos mais íntimos, é uma montanha muito interessante. Seu cume está a uma altitude de 1734m acima do nível do mar. Assim como as demais montanhas citadas neste relato, ela também pertence à Serra dos Órgãos e ao conjunto de montanhas chamado Ibitiraquire, e é considerada uma montanha de difícil acesso, pois suas encostas são muito íngremes e a caminhada de aproximação até o que seria sua base é razoavelmente longa. Uma das particularidades do “Taipa” é que ele possui três corcovas, como se fossem três cumes. No cume verdadeiro há muito pouco espaço, e a trilha que sai dele e leva até o Ferraria é bastante fechada e difícil de andar nela.

Nosso retorno foi relativamente tranqüilo, uma vez que, quando de nossa vinda, amarramos várias fitas azuis nos pontos mais duvidosos da trilha. Mesmo assim, quando chegamos no cume do Caratuva o sol já estava se pondo. Era por volta das 18 horas e 20 minutos. Para aumentar nossa felicidade em contemplarmos um pôr-do-sol tão lindo, encontramos lá outros amigos, de outras aventuras na serra. Entre eles, estava o Anderson “Batista”, que iria nos acompanhar até voltarmos para casa, no domingo à tarde. Uma vez mais sofri para tirar fotos com minha câmera nova. Ainda não aprendi bem a usá-la, uma vez que ela é cheia de “frescuras” e eu não tenho o seu manual. A noite foi maravilhosa. Temperatura agradável, sem vento, e sem chuva. A lua cheia e o céu estrelado iluminavam até dentro da minha barraca. Dormimos logo, cada um na sua barraca.
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11 de abril, Sábado de Aleluia – Às 6 e pouco da manhã o Elcio me chamou, pois como é de seu costume, ele queria tirar fotos do nascer do Sol:
&nbsp,&nbsp,&nbsp, – Anderson? Anderson? Levante e venha ver este nascer do Sol maravilhoso!
Depois que saí da barraca, já com a câmera na mão, percebi que o Sol nem despontava ainda no horizonte, e que o céu estrelado formava com o mar de nuvens um cenário deslumbrante. Logo, o Sol começou a aparecer, por trás do horizonte formado pelo mar de nuvens, que cobria todos os vales e montanhas mais baixas ao nosso redor. Se eu tivesse levantado na hora em que o Elcio me chamou, teria talvez podido fotografar a Lua cheia que se escondeu no horizonte oposto. O Elcio disse que ela estava muito linda. Depois disso entrei de novo na minha barraca e fiz o meu “breakfast”, que consistiu de um pouco de granola, algumas bolachas, um pouco de chocolate e suco de mamão que eu havia preparado na noite anterior. Então comecei a arrumar tudo dentro da mochila e a desarmar a barraca. Às 7:30h partimos em direção ao Pico do Paraná. Eu, o Elcio e o Batista. O Eger e o Gnomo decidiram que iriam tentar algo diferente, a Janela da Cotia.

Descendo por trás do Caratuva, por uma trilha que eu não conhecia, íamos os três em ritmo rápido. Paramos somente uma vez para tirarmos fotos. Fotografei o Caratuva, que deixávamos para trás, o “Taipa” e o Ferraria à nossa esquerda, o Ciririca e o Agudo da Cotia à nossa direita e o grandioso conjunto do PP à nossa frente. O Elcio e o Batista iam na frente, andando muito rápido. Alcancei os dois quando já chegávamos no Abrigo 1, aproximadamente 1 hora depois de partirmos do cume do Caratuva. Passamos “batido” pelo Abrigo 1, e seguimos imediatamente para o Abrigo 2, onde cheguei por volta das 10 horas da manhã. Eu estava tremendamente cansado, e decidi que não subiria ao cume do PP sem descansar bem primeiro. Assim, enquanto o Elcio e o Batista subiram para o Abrigo 3 e posteriormente o cume, eu armei minha barraca num local protegido do vento e dentro dela dormi por quase uma hora. Depois saí para buscar água e conversar com o Valter, a Joelma e a Sandra.

O Mickey estava com eles. Fiquei sabendo que nenhum dos quatro havia conseguido chegar ao cume. A Sandra tinha se machucado logo no início. Uma distensão muscular na altura da virilha. A Joelma e o Valter subiram até quase o falso cume, e então chegaram em uma pedra bem grande, na qual foi colocada há pouco tempo uma escada de metal fixada na rocha. Acontece que são poucos degraus, um bem longe do outro, e eles não conseguiram passar por ali!?!

O Abrigo 2 estava cheio de gente. Não tinha espaço para mais nenhuma barraca. Depois de comer o que sobrou do almoço deles ( macarrão e cenoura ) e depois de buscar 4 litros de água e preparar um pouco de suco, deitei dentro da barraca e descansei mais um pouco. Por volta das 3 da tarde o Elcio aparece querendo saber por que eu ainda estava ali e não tinha subido até o cume, pois tínhamos combinado de escalarmos em algumas vias que existem no cume do Pico do Paraná. Arrumei uma mochila de ataque com um pouco de comida, um pouco de suco, meu anorak, uma lanterna frontal, os equipamentos de escalada e minha câmera fotográfica. E lá fomos nós subindo o Pico do Paraná…

Chegando no cume, armamos um “top-rope” e rapelamos até a base da via. Esta via de escalada é relativamente curta, acredito que tem cerca de 13 metros de altura. Ela fica no enorme bloco de rocha que compõe o cume da montanha. Há a possibilidade de se guiar, entretanto as chapeletas e grampos estão em péssimas condições ( até hoje ). Mas se você escala bem um 7b então é diversão garantida. Enquanto escalávamos, dois rapazes que estavam por lá pediram para escalarem também. Um deles, o Rodrigo, ainda vejo com freqüência quando vou escalar. Depois de escalarmos a via frontal e curtirmos um pôr-do-sol magnífico, nós nos despedimos e eu comecei a descer até o abrigo 2, onde estava minha barraca. Chegando lá preparei uma refeição e dormi tranqüilamente até o dia seguinte.
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12 de abril, Domingo de Páscoa – Como é gostoso acordar de manhã, dentro da barraca… COM GRITOS TE CHAMANDO E ALGUÉM CHACOALHANDO A TUA BARRACA&nbsp, QUE NEM LOUCO. Pois é! Pensei que ia acordar com ovos de Páscoa ao meu redor, mas que nada! Só o Elcio e o Batista me chamando pra irmos embora. Eu comi um pouco, desarmei a barraca e comecei a caminhada de retorno pra casa. Pra variar o Elcio e o Batista se mandaram na frente, me deixando bem pra trás. Na trilha me encontrei com o Mickey, e então viemos juntos, até a fazenda do PP. Lá, nos esperando, estavam minha irmã, Joelma, o meu cunhado Valter, o Elcio e o Batista. Ainda passamos no Posto Tio Doca para comermos risólis.

Texto de Anderson José Nogueira
Fotos de arquivo: Julio Cesar Fiori

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