Casa Grande 2 – O Retorno

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Nem deu um mês após nossa primeira incursão à pequena vila localizada nos cafundós de Biritiba-Mirim (Mogi das Cruzes), cujas inúmeras possibilidades de programas naturebas encheram nossos olhos logo de cara, q imediatamente agendamos visitação (após alguma burocracia) às dependências internas da mesma, um antigo complexo da Sabesp localizado num pto privilegiado no alto da Serra do Mar mogiana.


Leia:&nbsp, Bate volta em Casa Grande

Resultado: visitação ao Mirante, aos poços cristalinos do Rio Guaratuba e à Cachu do Poço Verde, uma das mtas quedas d´água do Rio Claro. Enfim, apenas mais uma pequena introdução à este belo e bucólico lugar ainda reservado pra poucos, porem cujas sementes de ampliação de visitação à população em geral já foram recém-lançadas.

Cientes da precária e escassa malha de transporte coletivo q dá acesso à Casa Grande em decorrência da gde perda de tempo em nossa 1ª visitação à região, desta vez resolvemos ir de carro ate lá, saindo bem cedo da capital paulista naquele dia quente, de céu azul e bastante promissor. O Nando havia conseguido contato com o Engº responsável da “parte ambiental” e consequente autorização pra adentrar alem dos portões e da cancela do Reservatório Rio Claro, lugar onde apenas conseguimos chegar até a porta de entrada na ocasião anterior. Pelo Google Earth já havíamos vislumbrado as maravilhas naturebas q o complexo tinha em seu interior e logicamente não pensamos duas vezes em aceitar o convite, mesmo sob as condições, data e horário impostas pelo tal engenheiro em questão.

Dessa forma, chegamos a Mogi das Cruzes as 7:16 cabeceando de sono, onde o breve desjejum com café preto numa padoca local nos ajudou a acordar, e tb lugar onde continuamos a longa jornada até o antigo complexo da Sabesp, localizado num bairro periférico de Biritiba-Mirim. E após chacoalhar mais 7km do ultimo bairro local (“Terceira”) através de precária e poeirenta estrada de terra, chegamos no dito cujo por volta das 9hrs, já com o sol a pino sob nossas cacholas! Passamos nossos nomes na guarita de entrada e adentramos, enfim, no maravilhoso mundo da Serra do Mar em território particular!

Como o engenheiro demoraria a chegar (pane no veiculo!), nos deram sinal verde pra zanzar nos arredores por conta. Assim, munidos de alguma info, nos lançamos pela estrada acompanhando a sinalização de uma lacônica placa “Estação Elevatória Guaratuba”! Apos passar a “Estação de Tratamento da Adutora Rio Claro”, edifício q guarda resquícios da antiga arquitetura de inicio do século passado, o caminho serpenteia sinuosamente 11km serra adentro, atravessando duas charmosas pontes metálicas pra dali tomar uma bifurcação à direita e se embrenhar cada vez mais na mata densa daquela região da Serra do Mar. No caminho, muitas arvores tombadas e varias saídas e aceiros laterais de manutenção, ate o momento em q acompanhamos um enorme duto à nossa direita, q desce a serra com pouca declividade.

Após passar por mais duas pequenas pontes chegamos, enfim, à “Estação Elevatória de Água Bruta Guaratuba”, as 9:45. Uma bela casa de maquinas ao lado de uma pequena represa marcam o local envolto no mais puro verde de mata primaria. O sopé da represa, o Rio Guaratuba marulha mansamente serra abaixo após singrar o planalto e juntar-se com outros tributários menores. Dali retrocedemos ate uma das extremidades da ultima ponte, onde uma picada obvia mergulha na mata com suave declividade serra acima. E lá vamos nós, passando por baixo do enorme duto pra depois subir e descer levemente em meio à trilha, cruzando dois pequenos córregos no caminho.

Mas não demora à mesma logo embicar com força morro acima, onde um trecho de mata caída apenas serve de pretexto de primeiro obstáculo do dia. Contornado este trecho e mais algumas arvores tombadas, não demora nem 10min pra vislumbrarmos a proximidade do céu azul ampliar nossos horizontes e anunciar já estarmos no alto dos 820m do topo da serra, isto é, o tal “Mirante”. O local é realmente cênico apesar da necessidade urgente de um facão no entorno em virtude do “desuso”, o mato cresceu consideravelmente obstruindo parcialmente a visibilidade pro litoral, mas isso não impediu q algumas frestas na vegetação nos brindassem com bela paisagem da faixa dourada de areia reluzente de Bertioga, da praia de Boracéia e até da Riviera!

A picada por sua vez se espicha em ambos os sentidos, provavelmente palmilhando a crista do alto da serra, mas o capim-navalha em profusão tomando conta da picada inibe qq tentativa maior de exploração desse entorno. Quem sabe numa próxima, mais bem equipados. Ali tb havia um marco, muitas varejeiras e tb sinais de passagem de um mamífero de gde porte em meio ao alto capinzal amassado, provavelmente uma anta ou capivara! Opa, sim.. isso mesmo, e onde tem esses bichos tem também carrapatos, maledetos q encontramos ancorados já em nossas roupas e pernas, pra nosso desgosto!

Apos algum descanso e muitos cliques, retornamos pra “Estação Guaratuba” desta vez pra explorar o rio do mesmo nome. Assim, descemos o rio através de seu leito pedregoso principalmente pela sua margem esquerda, bem mais segura, passando por vários trechos encachoeirados, pequenos poços e algumas prainhas fluviais. Entretanto, isso era apenas o aperitivo pro q estava por vir, pois não deu nem 300m de caminhada rio abaixo sem gdes dificuldades q o mesmo nos levou a um mega piscinão, um enorme lago represado pelas mansas águas do Guaratuba de dimensões superlativas q giravam em torno de mais de 300m de diâmetro, com convidativo gramado ao redor!

Logicamente q no calor do sol do meio-dia foi ali mesmo q tivemos uma breve parada pra tchibum como donos absolutos do lugar! Enqto o Nando descansava nas pedras, ainda tive disposição para descer o rio um pouco mais, indo alem dos limites do mega piscinao! Uma discreta picada acompanha o rio pela direita, mas eu optei por seguir pelo rio mesmo, com água ate o joelho, me firmando nas pedras à disposição, ora seguindo pela mata da encosta, à esquerda. E não tarda logo adiante, coisa de 600m, mais precisamente onde o rio deixa de ser manso, q ele inicia sua abrupta descida de serra numa seqüência de furiosas cachus emparedado por muralhas verticais de pura rocha, à semelhança da “Garganta do Diabo” (no “Vale da Morte”, em Paranapiacaba). Aqui era o maximo q podia chegar e q meu bom senso permitia, embora vontade de desescalaminhar o rio abaixo no sentido&nbsp, do litoral reverberasse insistentemente na minha cachola. Bem, fica pra próxima, claro!

Voltei pro piscinão e junto c/ Nando retornamos pra “Estação Guaratuba” quase as 13hrs, onde fizemos um lanche à sombra refrescante nas margens da represa, com direito ate a cochilo. Pois bem, foi ai q finalmente apareceu o engenheiro q supostamente seria nosso “anfitrião”, e com quem tivemos uma animada prosa. Como o tempo dele tava já bem curto, o resto da tarde optou por nos levar conhecer uma tal de “Cachu do Poço Verde”, enqto nos contava seu plano de ampliação da visitação controlada da Estação a seus atrativos naturebas. Na verdade, ele anda atrás de parceiros (empresas, ONGs, etc) q toquem um projeto deste naipe de forma sustentável, q tb é do interesse da Sabesp. Noutras, vontade de abrir a estação ao povo e torná-la visitável há, só falta iniciativa privada q se interesse tb por isso.

Pois bem, tomamos então a estrada e retornamos por chacoalhantes 11kms ate a ultima bifurcação da 2ª ponte, onde desta vez tomamos o ramo da esquerda por quase sinuosos e trepidantes 7km. Após passar a “Estação Biológica da Boracéia”, onde um pessoal da Usp faz estudos na bicharada, estacionamos à beira da estrada próximo do q parecia ser mais um dos inúmeros aceiros espalhados por lá, mas q na verdade é a entrada da trilha pra cachu, uma das vedetes da região, segundo nosso “anfitrião”. Tomando a picada, larga e bem roçada, logo adentramos na mata em suave declividade contornando um enorme morrote, visivelmente descendo ate um vale não mto fundo.

Era um dos tantos vales do Rio Claro, cujo mata fechada nos brindava com seu agradável frescor naquele calor sufocante de inicio de tarde. Uma fresta na mata permite belo visu da extensão dos verdejantes contrafortes serranos salpicados com ipês-amarelos e quaresmeiras lilases! A medida q perdíamos altitude aumentava o som de água á nossa volta, e após um trecho final de brejo bastante íngreme, desembocamos finalmente nos largos e enormes lajeadões q pontilham o sopé da tal “Cachu do Poço Verde”! A cachu realmente é muito bonita e tem seu charme: um paredão rochoso e largo de onde despencam as águas do Rio Claro num enorme poção, pra depois as mesmas escorrerem livremente por vastos lajeadões e caldeirões ate um segundo poção maior, mais abaixo, q é o tal “poço verde”, q tem este nome por refletir através de um esmeralda intenso td vegetação ao redor! Claro q teve tchibum, pelo menos do Nando, já q eu me limitei apenas a descansar e apreciar aquele belo lugar escondido de td e todos.

Iniciamos o retorno meia-hora depois, já prometendo visitação à continuidade da estrada, mais especificamente à “Barragem do Ribeirão do Campo” e do “Poço Preto”, distantes quase 10km dali! O engenheiro disse q a região da barragem ta repleta de cachus naturebas escondidas e de fácil visitação, mas isso é programa pra outra ocasião. O dia já quase findava e ainda tínhamos uma longa jornada de volta. Não fosse por isso, pois haviam nos oferecido hospedagem numa casa (abrigo) reservada pra esta finalidade, mas esse convite de pouso já foi devidamente anotado pra outra ocasião mais oportuna, claro!

Voltamos então à Estação Guaratuba onde ficamos no relax, as 15hrs: o Nando mandava mais um tchibum na represa enqto eu bebericava uma garrafa de Cambuci, a cachaça local, e tirava mais um cochilo! Zarpamos dali somente depois das 16hrs, no exato momento em q baixou um espesso nevoeiro ameaçando virar o tempo com alguns respingos de chuva. Alarme falso, pois mal choveu de leve q o tempo novamente abriu-se com td seu esplendor! Melhor assim, na volta ainda paramos num boteco a beira de estrada, no bairro da “Terceira”, onde bebemoramos o dia produtivo em Casa Grande, ao som estridente de um forrozão local.

Se bem q bebemoramos até em demasia, pois a mistura pinga + cerveja e estomago vazio não é das mais salutares e ate cogitamos acionar o seguro do veiculo ir nos buscar naqueles cafundós e fazer jus aos seus caros serviços. Mas felizmente não houve necessidade disso, pois lá pelas 18hrs ainda conseguíamos distinguir um cachorro dum boi e, aos trancos e barrancos, retornamos à “paulicéia desvairada” antes das 22hrs, sãos e salvos, ainda removendo carrapatos pelo corpo!

E dessa forma etílica finalizamos esta 2ª incursão à Casa Grande, um enorme local “particular” na Serra do Mar mogiana q ainda guarda muitos outros recantos ainda a descobrir, como gdes descidas de rio ou de serra rumo litoral. Mas td q venha em seu devido tempo. Por ora resta torcer pra q este belo remanso de paz e natureza consiga uma parceria satisfatória da iniciativa privada e abra suas portas tb ao gde publico, disponibilizando td este “paraíso proibido” a qq um e não apenas a gatos-pingados como nós, q conseguem acesso mediante alguma cavucada de infos, pré-agendamento e alguma tediosa burocracia formal.

Até lá, esse ainda parece ser o único jeito de acesso e, quem sabe, de preservação q mantém incólume a este rincão privilegiado da nossa maravilhosa e sempre surpreendente Serra do Mar.

Texto e fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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