Costa dos Coqueiros – De Arembepe à Mangue Seco- 5º e 6º dia

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5º DIA – DE SUBAÚMA A BAIXIOS – Sexta acordei as 6 hrs, sob céu nublado claro e s/ vento algum. Após rápido café, tento secar a barraca, levanto acampamento e dou inicio à pernada daquela manhã. Embora a margem de chão seja ampla, há muita areia fofa misturada à molhada, dificultando aquele começo de dia, junte-se a isso o peso extra do equipamento molhado. Paciência tinha q aproveitar q não havia sol p/ render pernada naquela manha.


Por quase 9km ando por uma praia deserta, acompanhado ora por mata de restinga c/ pequenas dunas, ora por mangues semi-secos, mas sempre c/ coqueirais por perto. Pra variar, ao caminhar me distraio pisando nas tocas dos siris ou tentando chegar perto dos elétricos quero-queros. E, após andar por um bom trecho de areia preta, a gradual presença de gente e de um pequeno farol indica q cheguei noutra vila q desperta pra mais um dia.

São 8:30 e estou em Subaúma, uma vila de pescadores c/ uma infra bem maior, lembra Guaraú (Peruíbe) + rústica.. Alguns bares e quiosques a beira mar estão recém começando a abrir, e é no chuveiro de um deles q tomo um banho refrescante, alem de repor meu estoque de água. Adentro na vila, com armazém, igreja, pequenas e simples pousadas, mas não há lanchonete alguma aberta. O jeito é reforçar o meu ´breakfast´ num ambulante, q alem do café me dá uma bela porção de leléu de milho, uma espécie de bolo q veio a calhar.

Pé na areia novamente, onde o movimento na praia aumenta razoavelmente, principalmente de pescadores artesanais de robalo. Não demorou, e logo surge mais um rio a transpor, o Rio Subaúma, q serpenteia um mangue ate desaguar numa gde e calma bacia onde se misturam água escura doce e clara salgada, onde crianças se divertem nos locais rasos. Aparentemente raso, me informam da melhor maneira e ponto de atravessá-lo, pois o lado onde estão os pescadores esta cheio de ostras e conchas alem de ser fundo. Seguindo conselhos, sigo um tiozinho (q ta s/ mochila) perpendicularmente o sentido do rio, mas logo percebo q desta vez o problema não é a profundidade do rio (água ate o peito) e sim a correnteza do mesmo, alem de sentir cãibra no pescoço por levar a mochila na cabeça, o esforço de ir contra corrente é muito desgastante! Volto pra margem a fim de esperar a maré baixar mais e descansar, enquanto o sol ameaça sair. Mas não consigo esperar nem 1hr, pois logo percebo q o melhor jeito de atravessá-lo é paralelo à corrente, após ver um cara c/ isoporzão cruza-lo s/ dificuldade alguma!

São 10hrs e após pouco esforço desta vez, me encontro do outro lado do Subaúma pronto pra continuar a pernada. No inicio desta praiona&nbsp, há alguns surfistinhas curtindo o mar agitado, alguns turistas caminhando e, mais adiante, alguns pescadores locais. Nem sinal do sol, embora permaneça aquela nebulosidade clara. Bastou 20 min de pernada pra me ver novamente só, numa faixa de praia diante de mim q parece infindável, onde a brisa leve e a maresia sacodem os coqueirais e abranda o mormaço do quase meio-dia. O chão é firme e calço os chinelos, principalmente pq há muitas conchinhas quebradas forrando a areia.

Após 12km de pernada constante, o tédio (e cansaço) já começam a se instaurar, embora a paisagem ao redor já valha a pena. Coqueirais alinhados indefinidamente eventualmente se alternam com mangues, onde pequenas lagoas a beira-mar propiciam a formação de ecossistemas completamente dispares convivendo lado-a-lado e separados apenas por uma pequena faixa de areia. E é numa destas lagoas, a Lagoa Verde, q paro pra descansar e fazer um breve lanche. O local é muito bonito, distante, a meio caminho das vilas + próximas, prova disso é marca de pneus (de bugge) e de cavalos na areia, confirmando q não deve ser qq um q vem aqui a pé. Divido meu lanche c/ umas gaivotas e uns siris q parecem ser amigáveis naquele local ermo, onde o silencio só é rompido pela arrebentação do mar.

Mas ainda tem muita pernada pela frente e continuo minha romaria a passo firme, sem maiores interfencias, em meio a paisagem q parece não mudar nunca, se não fossem as varetinhas do TAMAR, dispersas ao longo da praia. E assim acrescento mais 10km àquele comecinho de tarde, onde agora sim o sol começa a despontar com forca total. Felizmente, a presença de pessoas (e de um barco encalhado na areia branca e fina) cada vez maior é indício q cheguei em Baixios, exatas duas e pouco da tarde!! Há ainda uma lagoa rasinha, repleta de garças e outros pássaros, q antecede a vila. &nbsp,

Q alivio! Já fui logo encostando no primeiro quiosque q achei, na entrada da vila, e mandando ver 2 geladas! Pela alegria do cara do quiosque, eu devia ser o 1º freguês do dia, e o cara me deu uma farta porção de carne de sol por conta da casa!! De fato, ali não havia quase ninguém, creio q somente os locais. Depois soube q isso era devido a precária estrada de areia q ligava a vila à Linha Verde. ´Posso ver as pulseiras q vc ta vendendo??´, o cara me pergunta, numa conversinha q me soa familiar, dose foi convence-lo q não era hippie nem vendia nada, afinal quem estaria caminhando pela praia com uma enorme cargueira nas costas??

Mas Baixios é uma vila bem simpática, sossegada e pouquíssima infra q merece uma visita! Diferentemente das d+ vilas, os quiosques (fechados) se localizam num quadrilátero perpendicular em meio à areia, quinem Trancoso, o q lhe confere um charme especial. No povoado ha pouca infra, apenas algumas casas de comércio, bares simples e as casas dos moradores em torno de uma simpática pracinha, onde uma igreja parece concentrar as atenções dos mais velhos. Aproveitei e me abasteci de água num chafariz q ali havia.

Após descansar e apreciar as águas azuis do mar contrastarem ao sol c/ a areia branca dali acabei acampando do lado do trailler do cara do quiosque, s/ problema algum! O banho consegui no chuveiro da única pousadinha dali, quase na frente do ´camping´: ´Posso tirar o sal do corpo?´, foi a minha deixa… O resto do dia foi reservado à descanso, conversa c/ locais e uma voltinha pela vila e pela costa de Baixios, q é de mar aberto. Notei q dez min ao norte havia mais um rio q teria q atravessar, o Rio Inhambupe, e procurei me informar da presença ou não de barqueiros pro dia seguinte, garantiram-me q haveria, o q revelou-se falso. Na barra do mesmo rio haviam alguns quiosques, tdos fechados, e algumas crianças brincando nas águas mansas nas beiradas + calmas.

O fim de tarde daquela sexta fui até a única padaria dali (apinhada de locais, parece q tem horários fixos em q abre) e estacionei definitivamente num dos banquinhos da pracinha, observando o vai-vem pacato e tranqüilo do local, assim como os enormes sapos cururus q circulam por lá. Ao escurecer, bares e traillers próximos a praça ligam o som ao máximo e pra minha infelicidade é aquele misto de axé-pagode-forró-sertanejo-brega q o povão adora!! Um dos quiosques servia tb de cabeleireiro (!?), onde o único atendente alternava drinkes e tesoura com certa destreza.. Mas o cansaço fala alto e vou deitar após lanche leve, já q comer alguma coisa é dolorido devido a meus lábios rachados de tão queimados q estavam.

Ao entrar na barraca, um calor dos infernos, já q ali não corre vento algum! Já não podia + ver a cor de miojo na minha frente e me desfiz de 2 pacotes. Como se não bastasse, havia um razoável vai-vem de pessoas bem à minha porta, mas o pior eram uns burricos soltos no povoado q eu tinha a toda hora q espantar qdo eles ameaçavam enfiar a cabeça na minha barraca! Como q por vingança à minha pouca animosidade, parece q eles derrubaram um latão de lixo próximo apenas pra q alem do calor, eu dormisse c/ mau cheiro o resto da noite. Mas td bem, eu tava morto de cansaço e dormi s/ muita dificuldade.

Durante a noite não houve nada digno de nota, apenas o som do povoado q parecia ofender meus ouvidos, alguns veículos q focavam c/ os faróis na minha direção e um bêbado q por pouco não mija na entrada da barraca, já q eu tava num local pouco iluminado. Lá pela meia-noite o silencio parece reinar em Baixios, mas ate lá eu já to no meu 13º sono.

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6º DIA – PELA BARRA DO ITARIRI E O SITIO DO CONDE – Levanto antes do amanhecer, apenas p/ dar uma voltinha pela areia e ver os primeiros pescadores iniciarem seu dia, fazendo altas manobras p/ adentrar nas arrebentações do mar. O corpo esta dolorido, porem recuperado do cansaço acumulado. Belisco algo e levanto acampamento assim q a escuridão lentamente se dissipa. Não tinha muita pressa, pois precisava esperar o povoado levantar pq dependia de barco a seguir.

Sem pressa alguma, chego na barra de rio q verificara o dia anterior. Esse rio consta nos mapas como Inhambupe, mas aqui ninguém sabia o nome dele, era o ´Rio Sem Nome´!? Bem, já havia clareado e permaneci, do lado dos quiosques fechados, aguardando aparecer algum barqueiro q me levasse na outra margem do rio. O tempo vai passando e nada. É sábado e era de se supor q houvesse movimento desde cedo, mas nada. E agora? Uns locais aparecem pra rebocar um barco, mas não pra colocá-lo ao mar, enquanto uns quiosques já começam a abrir. Preocupado, pergunto pra uns guris num quiosque se haveria barco ou pescador disponível. Eles me dizem q quiçá nem haja barcos devido a maré. Mesmo assim, aguardei um tempão, já ficando impaciente.

O dia estava nublado claro, porem quente e não queria andar c/ sol a pino + tarde. Foi ai q um dos guris veio negociar um barco comigo: eram dois, o menorzinho era o intermediário do maior, q tomava conta do quiosque. Claro q meteram a faca no preço (R$12), mas mesmo assim pexinxei, e olha q o menorzinho ainda queria comissão por estar ´mediando a transação´. Sem opção, acabei me rendendo ao ultimo lance daqueles mercenários-mirins por R$7, + caro q a passagem de bus! O maior saiu em busca de barco enquanto o outro tomava conta do quiosque, pra logo voltar pelo rio, lentamente. Subi no bote, e o guri mal conseguia mover o pesado remo de tão raquítico q era, mas conseguiu chegar na outra margem. Paguei e me mandei, resmungando e estendendo o dedo médio.

Bem, já estava caminhando e era isso q importava. Deviam ser quase umas 8hrs, e a praia mostrava-se levemente inclinada, c/ areia dourada, porem grossa. Difícil de andar, mas como sempre, em frente a areia parece ficar + firme e batida. A faixa interminável de coqueiros baixos na praia deserta é indescritível, mas o destaque ficou por conta de 2 tartarugas na areia, indiferentes a minha presença. E assim prossegue minha andança ininterrupta, c/ direito ate a um ´caranguejo arretado´, q ficou todo em posição de ataque diante minha passagem. No caminho, varias piaçabas de coqueiros estão encravadas na areia servindo de guarda-sóis improvisados. A maresia matinal forma uma leve nevoa esbranquiçada e a paisagem ao norte fica mais opaca, alem de deixar meu cabelo estilo ´dreadlock´, mesmo com banho tomado.

O tempo passa qdo percebo o céu lentamente ficando escuro, a minha frente. Vem chuva ai. Puts, e agora? To no meio do nada e lugar nenhum, felizmente qdo a chuva vem, me protejo na única palmeira anã rente a orla. A pancada não dura nem 20min e torno a bater perna novamente. As 11hrs a maré dá uma recuada deixando a praia bem larga e fácil de andar, assim como a nebulosidade e mormaço dão lugar a um sol brilhante e um calor dos infernos.
Meio-dia e 18km depois chego na Barra de Itariri, cujo rio homônimo de águas semi-salobras divide um imenso manguezal numa margem e praias rasas e bancos de areia na outra. Encontro-me na área do manguezal, c/ muita lama escorregadia. Felizmente a maré ta baixa e o rio razoavelmente raso são atravessados numa boa, c/ água ate a cintura. Do outro lado, apinhado de turistas&nbsp, e alguns quiosques. To cansado e procuro um lugar pra me esparramar.

A vila ta quase do lado do rio e me lembrou muito Subauma, muitas casinhas, pousadas simples e comércio. Ate polícia havia. Dou uma voltinha rápida e acho um ´chuveiro´, uma bica despencando atrás de um bar onde dou uma refrescada geral, alem de lavar o cabelo e coletar água (1,5L). Em seguida mando ver 1 cerveja e um PF (miojo não!) de carne de sol, enquanto pondero se passo a noite ali ou não. Tá muito muvucado ali, embora pareça ser agradável pelo vilarejo, deve ter camping, mas como ainda é cedo posso adiantar uns kms mais.
Após descansar bastante e ver o vai-vem do povoado, coloco a mochila nas costas e encaro o forte sol das quase 14hrs. Dali ate Sitio do Conde me informaram q seriam 13km, distância q duvido completar.

A praia é larga e extensa, muito bonita à aquela hora da tarde. O mar então, nem se fala: águas q vão do azul-turqueza a um verde intenso! No entanto, o sol torra minha cabeça, me obrigando a improvisar um turbante c/ uma camiseta. Ando, ando e ando. Praia deserta, apenas garças, siris e gaivotas dão ar da graça. A presença humana é lembrada qdo passam raros buggies de passeio, q deixam as marcas na areia.

Apesar do lugar lindo, já começo a dar sinais de cansaço após um tempo, já de olho num local pra encostar a barraca. Na orla há uma faixa de dunas q separam a praia dos coqueirais. O q haveria alem delas? Subo desajeitadamente e constato q alem delas há uma larga faixa de restinga e algumas casinhas isoladas aqui e acolá. Se é propriedade particular ou não to nem ai, é aqui mesmo q vou acampar, na sombra de altos coqueirais, protegido do vento pela duna! Felizmente, os locais daqui são muito cordiais nem se importando c/ uma barraca perto deles, e o tiozinho de uma das casas ate me disse q tinha uma bomba d´água, onde completei meu estoque d´água alem de tomar um refrescante banho. Q sorte!!

O final de tarde fiquei ali, observando a bela paisagem das dunas e avaliando o qto faltava pra Sitio do Conde, uns 4..5km talvez. Andara 9km ate ali e tava exausto, alem de bastante queimado nos ombros. Não sentia muita fome pois almoçará bem, apenas tomei uma sopa Maggi – q + parecia água com sal -engrossada c/ pão. A seguir me entoquei na barraca de onde não arredei pé. Dormi muito bem, o céu se coalhou de estrelas e ventou razoavelmente toda noite.

Costa dos Coqueiros – De Arembepe à Mangue Seco – 7º e 8º dias
Costa dos Coqueiros – De Arembepe à Mangue Seco – 5º e 6º dias
Costa dos Coqueiros – De Arembepe à Mangue Seco – 3º e 4º dias
Costa dos Coqueiros – De Arembepe à Mangue Seco – 1º e 2º dias

Texto e fotos de Jorge Soto
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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