Crônica da Temporada de verão do Karakoram 2017

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Para aqueles que acharam que a temporada do Karakoram/Paquistão 2017 já havia acabado e estavam acompanhando o início da temporada de outono do Himalaia, o texto apresenta algumas surpresas.

CUME INCRÍVEL NO NANGA PARBAT

O incansável dono de empresa e guia de alpinismo nepalês Mingma Gyalje causou furou em 2017, ao enfileirar várias montanhas de 8000 metros em curto espaço de tempo.
Não obstante, sua primeira investida ao Nanga Parbat, no começo de junho, foi malsucedida. Por um erro de navegação do trailbreaker Ali Raza, acabaram parando em uma antecima.
Na sequência, ele fez o K2 em uma temporada muito difícil.
Após, não se conformando com o insucesso, retornou em silêncio ao Nanga Parbat e dessa vez foi até o topo, seu 9º oitomil (ele contabiliza também os não comprovados Cho Oyu e Lhotse, o que daria 11 oitomil).
A escalada foi ainda mais impressionante por ter acontecido em 3 de outubro, tornando-se assim a escalada mais tardia de uma montanha de 8000 metros no Paquistão em todos os tempos (o recorde anterior, 2 de outubro, era de 2007, por Denis Urubko e Serguey Samoilov no K2).

CHOGOLISA (7665m)

Equipe espanhola composta por Patxi Goñi Lobera, Iñaki Garijo Erro, Jordi Bosch, Carles Figueras e Pep Permañé objetivava realizar o primeiro encadeamento dos dois cumes do Chogolisa: Sudoeste (7665m) e Nordeste (7654m).
Anteriormente, essa façanha havia sido tentada duas vezes (2006 e 2014), sem êxito.
Neste ano, o time escalou o árduo Esporão Nordeste e espetou o acampamento 2 no platô elevado (6500 metros) no dia 15 de julho. Em 16 de julho, Patxi, Pep e Carles acordaram para o ataque ao cume. Segundo Patxi Goñi, “enfrentávamos 1100 metros de escalada íngreme. Porém, nós supúnhamos que após terminar o esporão, a Face Norte do trapézio formado pelos dois picos do Chogolisa seria menos difícil. Não foi o que aconteceu. Quanto mais progredíamos na montanha, mais profunda a neve se mostrava. O fantasma das avalanches apareceu. E tivemos que admitir que não seria possível prosseguir com segurança naquelas condições”.

MUCHU CHHISH (7543m)

Os norte-americanos Graham Zimmerman, Steve Swenson e Christopher Wright almejavam a primeira ascensão absoluta a este gigante paquistanês.
A última tentativa havia sido britânica, em 2014, quando Phil De-Beger, Tim Oates e Peter Thompson foram até 6000m ao longo da Aresta Sul.
Neste 2017, o trio norte-americano avançou pela Aresta Oeste até 6800 metros, antes de desistir pela instabilidade climática e excesso de neve na montanha.

BAINTHA BRAKK – OGRE I (7285m)

Fortíssimo time composto pelos top climbers Alexander HuberMario WalderChristian Zenz e Dani Arnold buscava abrir nova rota pelo exigente e perigoso Pilar Oeste.
Utilizando escassas janelas de bom tempo, a equipe fez três tentativas de cume.
O líder da expedição – o alemão renomado Huber – explicou que “as condições de neve eram péssimas. Eram condições de escalada brutais. Certamente por causa do aquecimento global e as mudanças climáticas. Logo ficou claro para nós que dadas as circunstâncias não teríamos a menor possibilidade de chegar perto do cume. Além disso, avalanches ao longo da rota logo demonstraram que a montanha é problemática e muito perigosa”. E, assim, encerram as atividades no final de agosto.

SHISPARE (7611m)

O ponto alto da temporada foi sem dúvida alguma a histórica conquista da dificílima e íngreme Face Nordeste do Shispare, um paredão que hipnotizava os montanhistas há muitas décadas.
A dupla japonesa Kazuya Hiraide e Kenro Nakajima, escalando rota à esquerda desse flanco, alcançou o cume em 22 de agosto e forjou provavelmente a rota mais difícil e incrível em alta altitude nos últimos anos.

GREAT TRANGO (6287m)

Equipe russa compreendendo Ivan Temerev, Igor suzdaltsev e Anton Kashevnik abriu nova linha na Parede Noroeste do Great Trango, batizada de “Rota Inshallah”.
A conquista é uma das etapas do projeto “Siberianos nas Grandes Paredes do Mundo”.
No processo, também ascenderam o sub-pico Great Trango Norte e o Trango Pulpit.

NÚMEROS DA TEMPORADA NAS MONTANHAS 8000 *

K2 – 12 cumes
Nanga Parbat – 11 cumes
Gasherbrum I – 2 cumes
Broad Peak – 23 cumes
Gasherbrum II – 17 cumes
Antecima do Broad Peak – 12 “cumes”
Antecima do Nanga Parbat – 8 “cumes”
Além disso, houve o triste registro de duas fatalidades no Nanga Parbat, quando era tentada repetição da travessia da Aresta Mazeno, incluindo um dos alpinistas mais destacados de sua geração na América do Sul: Mariano Galván (ARG).
* Sujeitos a revisão nos próximos meses, à medida em que são checados dados com os líderes de expedições.
Autor: Rodrigo Granzotto Peron
Finalização do texto: 4.10.2017








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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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