Diário do Everest

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Após um dia razoavelmente longo, chego ao lodge de Monjo e sou recebido com abraços, um delicioso prato de espinafre refogado e um generoso copo de rakshi de maçã, um destilado local pelo qual eu tenho uma fraqueza particular.


Mais uma vez, sinto que aqui, mais do que em qualquer outra parte do planeta, sinto-me em casa, entre amigos, em uma cultura que entendo, gosto e me sinto confortável. Os cuidados, os sorrisos fáceis e sinceros, o calor humano, tudo me dá um calor no peito que é recompensa para qualquer esforço que tenho para que nossos grupos tenham a melhor experiência possível neste maravilhoso país.

Após 15 dias de trekking guiando um grupo de 24 pessoas, uma experiência deliciosa, porém muito cansativa, finalmente estou a caminho do Everest. Há 4 dias estive no campo base pela quadragésima quarta vez mostrando minha “casa” pelos próximos 2 meses para meu grupo e não pude deixar de pensar em quão austero este campo base é. Os escaladores ainda não haviam chegado, mas os sherpas já estavam ocupadíssimos transformando uma superfície irregular de rochas e gelo em algo aceitável para montar as barracas, as cozinhas e as salas refeitórios. Vendo neste estágio de construção é difícil imaginar que este trecho de 500 metros abrigará em poucos dias ao redor de 300 escaladores mais sherpas de apoio, cozinheiros e auxiliares de cozinha, uma pequena cidade montada no gelo.

Hoje é minha última noite com o grupo em Monjo, um pequeno vilarejo a 2800 metros de altitude. Tenho certeza de que será uma despedida com muita emoção já que estes dias nos uniram de uma forma muito especial. Sendo um grupo tão grande achei que isso poderia não acontecer, mas se tenho que resumir o que passou nesses dias a palavra que mais me vem a mente é harmonia.

Amanhã pela manhã, sigo recomeço minha subida em direção ao campo base do Everest, mas antes de iniciar o Everest farei a escalada do Island Peak, uma montanha a 20 quilômetros ao sul com quase 6200 metros.

Já escalei esta montanha várias vezes sempre guiando meus clientes, mas desta vez a razão é outra, me aclimatar para o Everest e com isso evitar pelo menos uma viagem pela temida cascata de gelo do Everest (Everest Ice Fall). Vou escalar o Island Peak junto com meus 3 companheiros do Cho Oyu, Greg, Marco e Rob além de nosso guia Victor Saunders.

Estou muito feliz de reencontrá-los e dividir mais esta experiência com eles. A previsão é de fazermos o cume dia 10 de abril e em seguida seguir para o campo base do Everest e ao redor do dia 14 de abril realmente iniciar a escalada do Everest. Por muito tempo contava o tempo que me separava da grande escalada em anos ou meses. Agora são dias, muito poucos dias….

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Sobre o autor

Manoel Morgado é médico de formação, mas trabalha como guia de montanha há 20 anos, atuando em vários países ao redor do mundo. Há 15 anos é montanhista, tendo como ápice de sua carreira a conquista do Everest e também a realização do projeto 7 cumes. Ele nasceu no Rio Grande do Sul, se criou em São Paulo e dede 1989 não tem casa.

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