Dicas para escalar nos 3 Picos

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Gente perdida na parede, nas trilhas, dormindo no meio de alguma via ou no cume do Pico Maior não é novidade, até acidente fatal já ocorreu. As causas são as mais variadas, começar a escalar tarde, falta de preparo físico e resistência, falta de informação, cordadas mal entrosadas, má alimentação.
Por isso aqui vão algumas dicas para quem quer escalar o Pico Maior e Capacete, ou em qualquer outra grande escalada do Brasil que podem ajudar a realizar uma escalada mais tranqüila, rápida e segura.

Para ganhar tempo
 
Se possível faça o reconhecimento da trilha com antecedência, ela costuma ser bem definida, mas é comum bifurcações feitas por animais, que não levam a lugar nenhum e trilhas que levam para as outras vias e montanhas. 
 
Durante a escalada tenha em mãos o croqui da via (eu costumo estuda-lo antes), junte o maior numero de informações possíveis sobre o local, converse com quem já escalou a via que pretende fazer, existe o guia de escalada dos 3 Picos que é muito bom.
 
Comece a escalar cedo, o ideal é estar na base (já equipado) na hora em que o sol começa nascer as 5h:30m, 6h:00m, dependendo época do ano.
 
Evite cordadas de três, pois mesmo uma bem entrosada não escala tão rápido quanto uma boa cordada de dois.
 
O mesmo escalador pode guiar varias enfiadas seguidas, da ultima vez que escalei o Pico Maior guiei toda via até a primeira chaminé da Leste e meu parceiro guiou o resto. Dessa forma se evita que o escalador que vem de segundo e que esta mais cansado saia direto para guiar a enfiada seguinte, assim se permite que os dois descansem mais.
 
Monte as paradas rapidamente, como as proteções são fixas podem ser feitas em menos de dois minutos. Cinco minutos para montar cada parada são quase uma hora e meia a mais na parede. Deixe fitas e mosquetões mestres já preparados para isso, com 2 mosquetões simples, uma fita e um mosquetão de rosca é possível levar a parada pronta no bauldrier.
 
Tenha o material ordenado dentro da mochila, procure deixar a água, comida e agasalho mais por cima, deixando as coisas que provavelmente você não vai precisar usar no fundo.
 
Mochila de ataque pequena (Tipo a Leste ou Grande Leste da Equinox) com uma bolsa de água são o ideal para escalar no local, procure repartir o peso das mochilas por igual evitando perder tempo em cada parada trocando de mochila.
 
Procure escalar rápido, escalar em simultâneo (à francesa) é uma ótima forma de ganhar tempo, pode se fazer, base x cume pela Leste com quatro horas de escalada, Decadence com umas cinco horas, mas lembre-se escalar a francesa não é nada seguro, se o participante cai puxa o guia junto com ele, na via Maria Nebulosa na Maria Comprida, aconteceu um acidente assim ano passado, felizmente não resultou em nada muito grave, a não ser um pé torcido e varias escoriações. Se for usar esse recurso o ideal é que o escalador menos apto (se existir algum) vá na frente.
 
O que precisar levar na parede
 

– Agasalho, não esqueça do gorro (20% do calor do corpo se perde pela cabeça).

– Anorak, de preferencia desses bem leves e compactos, que faça pouco volume e peso na mochila.

– Lanterna, com pilha nova. 

– Manta de sobrevivência. 

– Água (mínimo 2 litros por pessoa), uma garrafa de isotônico é legal para beber na primeira chaminé, no verão o ideal é pelo menos 2.5 litros de água pôr pessoa.

– Kit de primeiro socorros básico, atadura, gaze, esparadrapo, algo para dor e um anticéptico.  

– Telefone celular (com carga na bateria).

– Canivete

O que comer durante a escalada
 
Se alimente bem nos dias anteriores e no café da manhã. Consuma carboidratos de preferência uma boa pasta, mas evite molho muito gorduroso. Procure levar: power bar e power gel (ou similares), barras de cereal, ou um mix com castanha do Pará, de caju, uva passa, damasco, banana passa, um sanduíche de queijo tipo minas ou ricota que tem menos gordura com mel ou geléia, como a digestão dele é mais lenta deixe para comer no cume. Chocolate é legal, mas é também é de digestão mais difícil, deixe para o cume. 
 
Outras recomendações
 

– Não consuma toda sua água e toda sua comida no cume, pode ser que tenha problemas na decida e se tiver que passar a noite na parede é bom ter alguma reserva.

– Beba um pouco de água em cada parada. Faça uma parada de uns dez minutos na primeira chaminé para descansar e comer.

– Consulte a meteorologia, mas lembre-se que ela não é 100% confiável, a margem de erro é de uns 15%. 

– No Pico Maior a Frente fria (tempestade, chuva) costuma entrar pelo sudoeste e quem esta na face Leste só vê que o tempo virou quando já é tarde demais. De novembro a março chove muito e o deus do trovão não economiza raios. Outono e inverno são as melhores épocas, mas lembre-se a temperatura cai facilmente abaixo dos 0°, podendo chegar a – 5° ou menos principalmente entre junho e agosto.

– Se for escalar as vias Mateus Arnaud, Decadence ou Arco da Velha, cuidado com as abelhas no platô de mato no inicio da parede, uns 20 metros acima da base.

– Como no inverno os dias são mais curtos e no Maximo se vai ter 12 horas de luz, o limite para se fazer uma escalada segura e descer de dia seria: sete horas de escalada, no maximo oito, e mais uma hora e meia ou duas para rappel (descida pela Cidade dos Ventos ou Silvio Mendes), três ou mais horas descendo pela Leste.

– Tem muita gente que se perde no retorno da base da Leste (quem desce por ela de rappel) para os abrigos/acampamentos, pôr isso o ideal é que o faça ainda de dia.

– Estabeleça um tempo limite para fazer a escalada e respeite-o. 

– Rapelar pela Leste leva umas três horas (se a corda não agarrar), tenha isso em conta. O rappel  pela Cidade dos Ventos ou pela Silvio Mendes é mais rápido e pode ser feito em uma hora e meia, no Maximo em duas, o problema no rappel da Cidade dos Ventos é achar o primeiro grampo, para isso é preciso descer quase 100 metros de costão (exposto), e alem disso se a corda agarrar vai ser problemático, pois alem da graduação da via ser alta, existem muitas enfiadas que são guiadas usando proteção móvel.  

– Não esqueça os cordeletes de prussik, se a corda agarrar vai precisar deles.        

 
As escaladas no Capacete são “menores” (em termos de 3 Picos) a maioria das vias com mais de 400 metros podem ser feitas a vista (com um bom croqui) em umas 5 ou 6 horas, por isso é possível começar a escalar um pouco mais tarde as 8:00h ou 9:00h. 
 
No entanto as demais considerações: planejamento, alimentação e segurança são as mesmas sugeridas para o Pico Maior, desconsidere a necessidade de se escalar em simultâneo para ganhar tempo. A descida do Capacete pode ser feita rapidamente pela via Sergio Jacob, mesmo com uma corda.
 
Como na descida a tendência é de se estar mais cansado, procure tomar todos os cuidados na hora de rapelar, usando de todas as medidas de segurança recomendadas, como usar nó blocante, fazer nó na ponta das cordas e etc…
 
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Sobre o autor

Alex e Cris se conheceram na escalada já faz 4 anos, desde então realizaram varias escaladas e conquistas juntos pelo pais. Alex escala e faz montanhismo a 23 anos, já praticou todos os estilos, Boulder, esportiva, artificial, big wall, clássica, mas seu tipo de escalada preferido são as clássicas, de preferência as paredes longas. Já conquistou algumas coisas por ai e por ali. Cris começou a escalar a cerca de 4 anos, e foi numa festa do grupo de escalada que conheceu Alex, Cris gosta de vias clássicas e de conquistar. Junto com seu marido Alex tem conquistado varias vias pelo Brasil. Website: http://aberturadevias.blogspot.com.br/

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