Do Asfalto a Pedra do Sapo

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Ao contrario do q possa parecer, a Serra do Mar q circunda Mogi das Cruzes não apenas nos brinda com fundos e verdejantes vales repletos de rios e cachus de água límpida. A região tb oferece uma contrapartida q aponta pro céu, de gdes alturas e bela vista do litoral. São picos e pedras q destoam do manto verde esmeralda no alto da serra. Um deles é a Pedra do Sapo q mediante uma trilha relativamente fácil, nos proporciona impressionante panorâmica de Bertioga do alto de seus 990m. Mas td q é fácil pode ser dificultado. Dessa forma, emendando varias picadas sucessivas completamos uma grande travessia de quase 20km q circunda o imponente monólito rochoso, q alem do visu oferece um agradável e diferenciado programa de fds, ideal prum belo dia de sol.


A manha de sábado esta radiante e bastante promissora, ideal pra um passeio na serra. Dessa forma, após nos encontrarmos em Mogi uma hora antes, saltamos do busão na “Balança”, tradicional pto de partida pra caminhadas dos arredores, às margens do km 77 da Mogi-Bertioga. Lá eu, Dom, Abade e Fernando nos juntamos à Katia, q perdera a hora e resolveu vir “motorizada” à nosso encontro. ” Perco a hora mas não perco a trip!”, disse ela. Entre goles de café fresco e pedaços de bolo, o Fernando nos colocou a par da aventura daquele dia: atingiríamos o alto da Pedra do Sapo partindo do asfalto, mais ao sul, atravessando boa parte da serra, cruzando rios e cachus no trajeto! Lá no alto encontraríamos o resto da trupe – Ana, Odécio, Leila e Claudio – q preguicosamente optaram subir ao topo pelo caminho tradicional, isto é, através de hora e meia numa picada partindo de uma fazendinha orbitando o bairro rural de Manoel Ferreira. Perfeito.

E vamu q vamu!
Após breve desjejum no simpático boteco, colocamos pé-no-asfalto sob o sol forte das 10hrs. A medida q avançávamos sentido Bertioga, íamos pondo a conversa em dia, principalmente das próximas trips programadas pela agência recém-formada pelo trio de rapazes (a “T2aventura”), especializada em rolês aventurescos pela região. No caminho, topamos com o simpático e pitoresco Seu Geraldo, figurinha carimbada e gde conhecedor desta região serrana de Mogi.

Mas por volta do km79 deixamos o asfalto em favor de uma precária estrada de terra à esquerda q, após uma cancela e guarita decrépitas, serpenteia morraria adentro em sentido leste! Esta estrada encontra-se já numa propriedade particular, apenas conhecida como “estrada da casa do Seu Geraldo”, onde logo de cara tropeçamos num enorme buraco provocado pelas chuvas. Contornado o obstáculo a pernada se mantém no mesmo compasso durante um bom tempo, sempre sentido leste, enqto uma revoada de coloridas borboletas contrasta da verdejante mata ao redor.

Após cruzar um riachinho, um breve descanso à sombra das ruínas de uma casinha, e numa bifurcação tomamos o ramo da direita, a caminhada prossegue com pouca variação de declividade. Assim, em suaves sobe-desces alternando trechos de charco, a estrada vai lentamente dando lugar a uma estreita picada cercada de mato de ambos os lados. Mas depois de 6km percorridos entramos num bosque, as 11:20, onde enormes rochas à nossa esquerda oferecem bom lugar de bivaque, mas logo na sequencia emergimos outra vez no aberto, com o sol matinal castigando nossas cacholas! O calor é quase palpável e logo nos vemos ensopados de suor, onde qq sombrinha era motivo de pit-stop pra descanso e tomada de ar.

A pernada ignora as bifurcações sgtes, nos mantendo sempre na trilha principal, visivelmente o q restou de uma antiga estrada de manutenção. Por sobre pequena e rústica pinguela de troncos carcomidos cruzamos o Rio das Rolas e, mais adiante, o Rio das Pedras, indo de encontro ao sopé de um serrote à nossa frente no qual um enorme cocoruto rochoso se destaca no alto, a nordeste. É este morro q nos servirá de referencia de agora em diante.
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As 12:30 deixamos a trilha principal (q prossegue pra nordeste) pra tomar uma discreta picada à esquerda q se enfia na mata pro norte, contornando assim o morrote q guia nossa jornada. Algumas enormes pegadas de anta chamam nossa atenção, mas a pernada se mantém no mesmo ritmo, agora no frescor da mata fechada. Contudo, o sobe-desce torna-se mais freqüente (principalmente subidas, pra sufoco da Katia!), e não raramente nos vemos andando por suaves encostas ou cristas florestadas, com mato caindo de ambos os lados. No entanto, água não é problema, pois sempre cruzamos algum córrego no caminho assim como nuvens de pernilongos, q inviabilizam qq parada mais prolongada.

Por volta das 13:10, abandonamos a trilha q percorre a encosta em nível, pra descer em meio à mata e ir de encontro ao som de água abundante, logo abaixo. Não demora e logo topamos num simpático córrego q corre serra abaixo na forma de pequenos poçinhos e cachus. Estacionamos então ao sopé da maior queda d´água próxima, a Cachu do Sapo, onde água fresca e cristalina despenca de uma enorme laje vertical, ao lado de uma área plana ideal pra acampamento. Pausa pra descanso e lanche, acompanhados de um simpático sapinho chifrudo e xereta, mimetizado na folhagem próximo da gente! Sandubas, bolachas, sucos e td sorte de guloseimas foram degustadas à exaustão, com direito até um breve cochilo!

Mas td q é bom dura pouco e havia q prosseguir a jornada. Assim, as 14hrs retornamos à trilha subindo ao q parece ser um selado florestado, onde um “aceiro” percorria td a crista da serra perpendicularmente. No entanto, a gente passa batido pra começar a descer aos pouco pro outro lado, sempre com mata densa ao redor. Cruzamos teias-de-aranha q mais pareciam obras de arte, muitas carcaças de cigarras nas arvores, um enorme bloco de pedra lembrando o casco de um navio e um trecho repleto de enormes fendas no chão, q nos obrigou a redobrar a atenção e examinar bem onde pisávamos!

Após topar com mais alguns pequenos córregos na frente, desembocamos numa estradinha maior q bastou acompanhar pra oeste, a exatas 14:50hrs! Quebra ali e quebra aqui, havia chegado a hora de novamente subir a serra, mesmo com suave declividade, pra desgosto de uma ofegante Katia! “Devagar, porém sempre!”, dizia ela, determinada. Assim, ganhamos altura aos poucos por uma estrada parcialmente tomada pela mata, em meio a um enorme reflorestamento de eucaliptos ate esbarrar com uma discreta picada à nossa direita, as 15:22hrs. Esta era a picada q nos levaria finalmente à Pedra do Sapo!

Entretanto, esse era o trecho de maior declividade de td pernada, apesar de curto, com uma inclinação superior a 60 graus q nos distanciou consideravelmente uns dos outros e testou o fôlego-resistência da galera! Lógico q os meninos dispararam na dianteira enqto eu fiquei dando apoio à uma relutante e orgulhosa Katia, ate conseguir convencê-la a pelo menos carregar sua mochila. Gradativamente fomos vencendo aquela íngreme piramba por um chão folhado e escorregadio, nos agarrando eventualmente no arvoredo disponível, ate dar num largo “aceiro” bem roçado q indicava ser a crista definitiva daquela serra, onde os meninos nos esperavam, esparramados no chão.

Dali bastou tomar à direita e seguir em frente, sentido oeste, através da abaulada crista florestada, onde alguns marcos de cimento dispostos sequencialmente, tal qual totens! Não tardou e caímos num cocoruto rochoso q serve de mirante, as 15:50, onde já tivemos nosso primeiro contato visual com a Pedra do Sapo, bem ao lado, assim como somos recompensados com largas vistas ao redor! Pausa pra fotos, claro, mas o melhor ainda esta por vir!

Sem perder tempo, continuamos pela crista e logo desembocamos na base rochosa do paredão leste da Pedra do Sapo, q bastou contornar pela esquerda em meio ao arvoredo. Na sequencia, vem uma escalaminhada num trecho rente à rocha onde raízes e tocos servem de degraus e pronto, já estávamos no primeiro e estreito platô de capim do lado da Pedra do Sapo, as 16hrs! Mas seguindo em frente logo caímos finalmente no largo topo rochoso onde estava o resto do pessoal, isto é, Odécio, Ana, Leila e Claudio, q haviam chegado ali pela trilha oficial, 4hrs antes! Donos absolutos do cume, ficamos jogados ao ócio mais do q justificado, ora descansando, beliscando algo ou simplesmente saboreando a bela paisagem q se descortina em 360 graus: o litoral norte e Bertioga, à sudeste, a Mogi-Bertioga, ao sul, o planalto florestado entremeado de morros e espelhos d´água, à noroeste, e outros picos destoando na crista da serra, como o Pico do Garrafão (1060m) e Pedra da Esplanada (1047m), à nordeste, próximas aventuras q prometem!

O longo tempo q passamos ali no alto passou voando, mas nesse ínterim cada um deu um jeito de matar o tempo com tiros de fuzil: Fernando se recuperava de uma inconveniente enxaqueca, Katia relaxava, vitoriosa, Dom resolveu rapelar a pedra, e o resto simplesmente proseava naquele final de tarde de céu claro e sol forte!

Com tempo de sobra, eu e Abade ainda escalaminhamos ao alto da “cabeça do sapo”, com auxilio de uma corda disposta na pedra pra essa finalidade. A “cabeça” é alcançada rapidamente e de lá se tem outra perspectiva de td, seja da paisagem como dos nossos amigos, esparramados na pedra ao lado. A tarde derrama sombras sobre as encostas cobertas de mata, descendo até a base das montanhas. Na volta, um pequeno susto ao esbarrar com uma cobra q cruzava os arbustos em meio às pedras.

As 17:40 pusemos pé-na-trilha retornando pela picada oficial, q desce pela crista da serra à sudoeste e depois vira pra oeste. Após um trecho de capim e lajes, mergulhamos na mata fechada pra perder altitude num piscar de olhos. A volta fora incrivelmente rápida e 40min depois já nos encontrávamos no gramado da fazendinha onde o pessoal estacionara o veiculo! Como estávamos em 9 pessoas e ainda havia q buscar o carro da Katia, eu, Dom, Abade e Fernando resolvemos descer o resto da estrada a pé enqto o resto ia buscar o veiculo. Por sorte conseguimos uma carona q nos poupou 6km tediosos e saltamos no bairro de Manuel Ferreira, as 18:30, onde esperamos o pessoal num boteco. Claro q antes deles darem às caras já começamos a calibrar nas brejas, bebemoração q se estendeu qdo o resto chegou e teve direito a mais loiras geladas, td sorte de porção, conversa fiada e muita risada na cia de um “bambi” capiau, q não largou do nosso pé! Aff!

A bebemoração se estendeu ate a hora em q tivemos q partir, por volta das 20hrs. Nos despedimos e com a galera devidamente distribuída num comboio de apenas 2 veículos, voltamos pra Sampa sem maiores intercedencias. Dessa forma, concluímos mais uma aventurinha diferenciada pela sempre surpreendente Serra do Mar mogiana. E como pudemos constatar, a Pedra do Sapo é apenas um dos diversos picos passiveis de fácil acesso. Existe ainda o Pedra da Esplanada e o Pico do Garrafão, assim como outros picos de acesso menos conhecidos, como o Itaguacira e a Pedra da Boraceia. Ou seja, as possibilidades são inúmeras. Mas essa é outra historia claro. Portanto, programa nas alturas é o q não falta pela região. E q enqto houver disposição e disponibilidade desvendar novas pernadas é mera questão de tempo. Afinal, são caminhadas longe do mar, porem mais próximas do céu.

Texto e fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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