Documentação para viajar de carro pelo Mercosul e Chile

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Viajar com seu próprio veículo é bastante vantajoso devido à liberdade de locomoção, conforto e segurança. Se você for ainda dividir as despesas com amigos, viajar de carro acaba sendo também a alternativa mais barata e divertida de se conhecer outros lugares.

Por Pedro Hauck

Matéria publicada originalmente em 18 de junho de 2009.
Última atualização em 16 de abril de 2018.

O que pouca gente sabe é que viajar para fora do Brasil com seu próprio carro é permitido e é também a alternativa mais interessante e econômica. Entretanto, antes de pegar a estrada é preciso saber que existem alguns trâmites burocráticos para sair do país com seu veículo que não são muito claros nas informações consulares.

Patagônia – Uma das muitas viagens que a equipe fez a região Andina.

Nós do Altamontanha, de tanto irmos aos Andes, passando e sofrendo muito em aduanas e termos vivido em nossas peles as deficiências de comunicação das autoridades vamos explicar direitinho o que tem que ser feito para sair com seu carro do Brasil. As verdades e mentiras sobre documentação, regras de trânsito e dicas para que sua viagem de carro pela Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai seja tranqüila e sem imprevistos.

O que precisa?

A princípio, os documentos necessários para viajar de carro pelos países do Mercosul e Chile são:

1. CNH brasileira dentro do prazo de vencimento.
2. RG ou passaporte originais (O RG precisa ter menos de 10 anos)
3. CRLV do veículo no nome do condutor.
4. Seguro carta verde.
5. Dois triângulos e um kit de primeiro socorros.

As exigências parecem ser simples, entretanto podem surgir complicações, pois existem vários poréns que não são explicados pelas autoridades, como por exemplo, quando o carro que você dirige está no nome de outra pessoa.

Legalização
Em 2006 tive que aprender isso na prática quando estava indo para a Argentina pela primeira vez de carro.

O autor mostrando o documento no qual teve que dirigir 2000 km para conseguir.

Quando seu carro é emprestado ou está alienado pelo banco, você precisará fazer uma legalização. Este é um problema chato e burocrático, aconteceu comigo uma vez e eu quase perdi a viagem devido à falta de informação sobre o que proceder.

A legalização é feita através do Ministério das Relações Exteriores em Brasília. Não é necessário ir até lá, pois os trâmites podem ser feitos por correio, entretanto, por este método ele demorará no mínimo 20 dias e se você não der início no processo de legalização com bastante antecedência correrá o risco de perder a viagem.

A legalização consiste em uma autorização por escrito. Nela tem que constar os dados do proprietário e condutor completos, assim como todas as informações do veiculo: Fabricante, modelo, ano, cor, motor, número de chassi, código Renavam, placa, etc. O documento deve ser assinado pelo proprietário e ter firma reconhecida em cartório para depois ser enviado para este endereço:

Divisão de Assistência Consular (DAC)
Esplanada dos Ministérios
Bloco H – Palácio Itamaraty
Anexo I – Térreo
70170-900
Brasília, DF – Brasil
Tel: (0XX61) 3411-9713
Fax: (0XX61) 3411-8800

Quem tiver pressa em obter esta documentação dirija-se pessoalmente à este endereço, pois pessoalmente a legalização é feita em 2 dias. Em algumas capitais há escritórios regionais do MRE e lá você pode fazer o documento. Neste link você tem os endereços e telefones dos escritórios regionais do MRE.

Modelo de carta de legalização feita para Henrique Fonseca que está dando uma volta ao mundo de carro. Veja também as dicas dele sobre estes problemas burocráticos.

Seguro Carta Verde

Estrada nos pampas Argentinos

Estrada nos pampas Argentinos

Este é um item que todo mundo se confunde, afinal o que é este seguro Carta Verde?
O seguro Carta Verde é um seguro que cobre apenas acidentes com terceiros, ou seja, se você bater o carro, seu Seguro Carta Verde irá indenizar o condutor do carro que você bateu.

O Seguro Carta Verde foi implementado na criação do Mercosul e é uma exigência para todos os países que fazem parte deste bloco econômico. O Chile não exige este documento, entretanto se você quiser ter a segurança de ter um seguro como este válido por lá é possivel conseguir.

Este seguro NÃO está incluído nos seguros normais de carro que temos, mesmo que eles tenham validade no Mercosul e no Chile. Geralmente, para acidentes fora do Brasil, os seguros normais só cobrem o seu veículo e os cuidados com você. Mas mesmo assim vale a pena revisar as condições gerais de sua apólice, pois muitas seguradoras garantem o seguro apenas para eventos ocorridos no Brasil.

O Seguro Carta verde mais famoso é o Sulamérica, e o que tem cobertura no Chile mais fácil de achar é o HSBC. Entretanto fama e acessibilidade não quer dizer que sejam os mais baratos, existem muitos outros, é só perguntar em uma corretora de seguros. Os custos oscilam bastante, pesquise!

Você poderá fazer este seguro nas cidades fronteiriças. Ele é feito rápidamente. No lado argentino, inclusive, o seguro é consideravelmente mais barato e mais fácil de fazer, sendo que até mesmo os postos de gasolina fornecem este serviço.

Equipe AltaMontanha se preparando para iniciar uma escalada após 3 dias de viagem.

Há também a opção de fazer o seguro pela internet para receber depois pelos correios. Para tanto você deverá procurar em um “buscador” (Google), um site especializado neste tipo de seguro.

Vale lembrar que o seguro Carta Verde é somente obrigatório no Mercosul. Dessa forma, países como Chile, Peru, Bolivia e demais não fazem obrigatoriedade da apresentação deste. Na Bolívia se faz um documento chamado “Declaración Jurada” na aduana para entrar com seu veículo. Fique atento, se este documento vencer a validade, seu carro será nacionalizado!  No Peru a carta verde é substituida por outro seguro chamado SOAT, que você contrata na fronteira.

Carteira de motorista internacional

A carteira internacional de motorista é um livrinho que traduz para 8 idiomas aquilo que está escrito em sua habilitação. Para ter este documento é preciso apenas ter sua carteira de motorista em ordem. Ele é usado se você for dirigir em países de lingua distinta da sua, mas para viajar pela América do Sul, a proximidade do português com o espanhol não criam impecilhos para que os policiais dos outros países entendam o que está escrito em seu documento brasileiro.

Me disseram que a carteira de motorista internacional substitui a Carta Verde e talvez por isso estes documentos são muitas vezes confundidos. Não é necessário ter a carteira internacional para viajar pelo Mercosul e Chile (tão pouco para outros países da América espanhola), pois a CNH brasileira é válida nestes países. Muita gente sem informação acaba viajando com os dois documentos sem necessidade e acaba tento um gasto inútil.

Precaução com combustível lá fora

Não custa nada dizer, mas fora do Brasil não existe Álcool. A gasolina lá fora é muito boa, e por que incrível que pareça isto pode ser um problema. Isto por que nossa gasolina é bastante diluída com álcool, o que a deixa um pouco mais fraca em relação com as gasolinas de outros países. Por isso não é bom abastecer com gasolina aditivada lá fora, pois os motores brasileiros foram feitos para uma gasolina mais fajuta. Na Argentina e Chile os combustíveis têm nomes diferentes, mas são a mesma coisa que os nossos. Observe a tabela abaixo e veja o que equivale cada combustível.

Brasil

Gasolina

Diesel

Argentina

Nafta

Gasoil

Chile

Benzina

Diesel

 

Na Argentina dê preferência aos postos da rede YPF que segundo o povo de lá é o combustível mais confiável. Assim como aqui, não confie em qualquer posto “mequetrefe”. Na Argentina há três tipos de gasolina: a Normal, Super e Fangio XXI. Nunca abasteça com a Fangio, pois esta gasolina é boa demais para nossos motores, prefira sempre a Super.

No Chile a gasolina é vendida pela octanagem: 93, 95 e 97 octanos, siga a mesma dica dada para a Argentina e abasteça com a do meio.

Hilton Benke e Pedro Hauck na Bolívia em 2009.

Atenção para quem pretende viajar para a Bolívia: O governo local está impondo restrição a compra do combustível à estrangeiros. São poucos postos de combustível em que é permitido vender gasolina para veículos estrangeiros. E ainda assim, o preço para estrangeiro é bem mais salgado.

Quem tem kit gás Brasileiro e for abastecer na Argentina e Chile, deve trocar a válvula onde encaixa o bico injetor de gás, pois na Argentina o tamanho é diferente. O problema é comprar este adaptador. Ele geralmente é vendido em lojas de “repuestos” ou nas proprias oficinas “Talleres” de GNC, como é chamado o GNV lá na Argentina. Esta peça custa apenas uns 40 Pesos, não sejam enganados!

Um problema é que nas cidades fronteiriças com o Brasil você não encontrará esta peça, pois não existe posto com GNC nestas cidades. Outro problema que encontrei viajando com gás é que lá é obrigado ter um adesivo colado no vidro do carro que é o certificado de que seu kit gás está OK. Este adesivo chama-se “Oblea” e muitos frentistas sem cérebro não conseguem entender que a tal Oblea é um documento argentino e que nosso certificado do Inmetro é válido lá e então eles não te abastecem com o gás.

Estrada precária na Argentina. Pelo menos não faltará combustível…

Para evitar qualquer problema, visite o site oficial do Mercosul e consulte a resolução que trata sobre o abastecimento de GNV. Para facilitar sua busca, clique aqui para ir direto à página da tal resolução em português e aqui para espanhol.

Para evitar problemas nos postos de gasolina, imprima esta resolução e quando o frentista cabeça de vento não quiser abastecer seu carro com gás, chame o “encargado” e mostre a resolução à ele!

Pedágios

Em todos os países há pedágios. O Chile especialmente é o país dos pedágios, pois além de ter muitos, eles são caros, lá a moeda é bastante valorizada em relação ao dólar e isto pesa muito (no Chile se paga por tudo, até por informação!).

Estrada rumo ao Paso de Jama, na Argentina

Já na Argentina os pedágios são super baratos e não chegam a incomodar. Os hermanos argentinos possuem poucas autopistas modernas como os chilenos, mas suas estradas de pista simples são também excelentes, com pavimentação de qualidade e sinalização padronizada em todas as quase todas as Províncias e estradas (há excessões em pouquíssimos lugares).

A Bolívia me surpreendeu recentemente pela quantidade de pedágios existentes nas estradas de lá. Existem pedágios até em estradas de terra. Me surpreendeu também a maneira como eles funcionam, pois ao parar, os funcionarios pedem seus documentos e muitas vezes obrigam você a se registrar no local! O valor do pedágio é proporcional ao tanto que você vai andar na estrada, por isso você tem que dizer de onde vem e para onde vai. O estranho é que não existe uma tabela clara destes valores.

No Paraguai e Uruguai também há pedágios, mas somente perto de suas capitais. As estradas nestes países são também muito boas e bem sinalizadas. Quem for dirigir nestes dois países tomem apenas uma precaução: Abasteçam antes de pegar a estrada, pois o interior do Uruguai e Paraguai é muito pouco povoado, quase não há cidades e tão pouco postos de combustível.

Corrupção Policial

Corrupção Policial é uma realidade tanto no Brasil quanto em nossos países vizinhos, menos no Chile. Ao ser abordado neste país cometendo alguma infração, não tente subornar os Policiais. Os Carabineiros, como são chamados os policiais no Chile, são muito corretos e disciplinados, não aceitam propina e punem quem tenta corrompê-los. Então, não tente ser malandro no Chile…

Estrada? Que estrada?

A Polícia no Paraguai e na Argentina tem uma fama terrível de ser exatamente o contrário da Polícia chilena. Isso não deixa de ser verdade, mas também não é regra.

Eu mesmo já tive problemas, principalmente com os policiais provinciais, que estão fardados de azul escuro. Então, tenha todos os documentos obrigatórios e também seu carro em perfeitas condições com pneus bons e extintor dentro do prazo de vencimento, não esqueça dos dois triângulos e do kit de primeiros socorros para não ter problemas.

Quando me pararam na Argentina tentando me multar, os guardas provinciais de Misiones inventaram um documento chamado “Revision Técnica”, que não existe. Não caia nesta lorota de Revisión Técnica!

Antes de viajar veja as resoluções sobre a documentação para transitar com veículo brasileiro na Argentina no site do Mercosul. Imprima a resolução e mostre para um policial se ele for inventar algum documento inexistente para te multar. Nunca perca a esportiva para não ter problemas com desacato!

Problemas com bagagem na fronteira

Há coisas que não podem atravessar a fronteira, como alimentos perecíveis (Frutas, carnes, leite). Caso queira levar alimentos do Brasil, o é permitdo industrializados. Uma boa dica são os alimentos liofilizados.

Também não pode levar qualquer tipo de plantas e animais vivos. Se você for viajar com um animal de estimação, terá que obter permissão no ministério da agricultura da aduana onde você irá atestar que seu animal é sadio e recebeu todas as vacinas.

Se você tem equipamentos eletrônicos de valor, declare-os para não ter problemas na volta. Levar cópia da Nota Fiscal dos eletrônicos que esteja carregando também pode ajudar em caso de problemas com a Receita. Isso geralmente não tem muito problema na Argentina, mas no Paraguai é levado à sério, nem precisa falar porquê.

Não seja louco de tentar passar a fronteira com armas de fogo ou drogas, você será indiciado por tráfico internacional e isso é gravíssimo. Aliás, não use drogas…

Regras de trânsito

As regras de trânsito diferenciam de país em país, mas em geral no que tange os “bons modos” é tudo igual. O que muda na realidade é a flexibilidade com que o motorista encara a lei e o rigor que o estado pune o infrator. Para o motorista brasileiro que já está acostumado com radares eletrônicos, fiscalização dura e punições, verá que nossos vizinhos, com exceção do Chile, têm o trânsito igual ao que tínhamos há 20 anos atrás, ou seja, com motociclistas sem capacete, motoristas sem cinto de segurança, carros velhos sem segurança circulando, gente dirigindo em alta velocidade, etc… Mas cuidado! Agindo como eles, você vai acabar descobrindo se a fama da Polícia destes países é mesmo verdadeira. E não recomendamos testar!

Ps. Alguns leitores me perguntaram da obrigatoriedade do porte do cambão e outros equipamentos de reboque. Pois bem, eles não são mais obrigatórios. Se por um acaso um policial argentino pedir, ele está querendo na verdade outras coisas… Não caia no golpe!

Problemas com leis na Bolívia

Equipe do AltaMontanha na Estrada da Morte – Bolívia.

Cuidado ao entrar na Bolívia em veículo próprio. Existe uma lei naquele país que faz com que, caso você não saia do país até a data limite no passaporte (ou guia de entrada), seu veículo será apreendido em definitivo. Assim, se ainda assim quiser viajar àquele país, sempre solicite o máximo de tempo de permanência possível, pois é comum as greves e manifestações bloquearem as estradas, incluindo as fronteiras, por dias. E tenha certeza que eles vão querer “muito” aplicar esta lei se você ultrapassar o prazo permitido…

 

Dicas de Roteiros Andinos

O site abaixo possui alguns roteiros que nossa equipe já fez de carro pelos países andinos. Fique de olho, pois estaremos atualizando em breve.

:: Roteiros Andinos

Este texto te ajudou? Prepara-se também para enfrentar o clima dos países andinos:

:: Roupas de frio para viagens aos Andes masculinas

:: Roupas de frio para viagens aos Andes femininas

 

Já que chegou até aqui, veja como o autor destruiu o carro dele nos Andes!

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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