Escalando no Rio de Janeiro: uma nova experiência

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Sempre tive vontade de conhecer a cidade do Rio de Janeiro, e principalmente conhecer as montanhas de lá, as vias escalada. O que conheci foi realmente diferente do que imaginava

Pouco mais de um mês já faz, que estive a primeira vez no Rio, e antes de seguir para lá, tinha ouvido pessoas dizerem que o Rio era uma cidade perigosa. Em nenhum momento eu vi qualquer coisa que me fizesse sentir medo ou ameaçado. O calor tabém não era tão insuportável como imaginava.

Voltando as atenções agora à escalada, a primeira impressão que tive foi a facilidade de acesso aos principais locais de escalada, pra onde se olha tem morros com rocha exposta, e consequentemente inúmeras vias de escalada. Muitos locais não se leva nem cinco minutos do ponto que se deixou o carro até a base das escaladas.

O primeiro contato com uma parede lá foi no Morro do Cantagalo, que está espremido entre a Lagoa Rodrigo de Freitas e a praia de Copacabana. A caminhada até a base das vias é curta, cerca de cinco minutos. As escaladas neste local me chamaram a atenção pela parede com trechos bem verticais em muitos trechos e vias mais expostas, e principalmente a rocha quebradiça que não me transmitiu confiança em determinados momentos. Era o famoso Gnaisse, que já tinha ouvido falar, mas não conhecia ainda. O visual da parede é lindo, ao escalar se tem a lagoa nas costas, o Pão de Açucar na esquerda, mais ao fundo e o Corcovado ao olhar para a direita.

Logo na primeira via que fiz, no Cantagalo, antes da primeira parada, fiquei sem saber o que fazer quando uma agarra ficou em minha mão, em um lance que quase despensquei devido ao susto. Depois descobri que para os cariocas, escalar paredes com agarras que se quebram e vias expostas com proteções bem longe umas das outras é algo muito normal.

Em cada local de escaladas na cidade, a rocha e as vias se transformam completamente. No Morro da Babilônia por exemplo, tive a impressão de estar subindo uma aderência similar às que costumo escalar aqui perto de Curitiba, com alguns regletes, mas a rocha bem firme, passando bastante confiança. O Morro da Babilônia se localiza no na Urca, e a facilidade de acesso torna este um dos pontos de escalada mais frequentados do Rio de Janeiro. A praça General Tibúrcio e o Pão de Açucar ao fundo completavam o visual que era fantástico.

Em outros pontos também me deparei com “aderências” similares, como no Cabritos e até no Pão de Açucar, e sempre a diferença de rocha me chamando muio a atenção. Muito cristal em algumas formações, enquanto que algumas que com rocha quebradiça faziam da escalada uma aventura a mais. A escalada que literalmente mais me marcou foi sem dúvida as, agora sim, aderências do Contraforte do Corcovado. Estas vias do Contraforte são consideradas realmente aderências no Rio de Janeiro, sendo praticamente lisas, e se diferenciando muito do granito bem aderente ao qual me sinto mais familiarizado.

Foi engraçado o dia em que entrei junto com mais quatro mulheres para escalar nas aderências do Contraforte, no começo achei estranha a rocha, mas parecia boa e aderente, porém mais adiante, pouco antes da segunda parada, uma passagem “lisa” me derrubou, na verdade meu pé não ficava naquela passagem. Rolei 10 metros abaixo nas rampas “lisas”, e fiquei com o braço esquerdo todo ralado. Logo em seguida, já ancorado no grampo de baixo, vi a Adriana passando pelo lance como se fosse uma escada, tamanha a facilidade com que ela superou o lance. A via era um 6º SUP em aderência, e de nome bem sugestivo: Meu Ódio será a sua herança.

Algo que me chamou muito a atenção nestas escaladas no Rio, a quantidade de mulheres escalando, seja dem dupla com homens, em duplas de mulheres. Ser guiado por mulheres foi uma experiência nova pra mim, tanto pelas trilhas, como nas escaladas. Posso afirmar que foi ótimo e passou bastante confiança. Descobri que é muito comum se ver muitas mulheres escalando nas paredes do Urca, ou em qualquer outro local do Rio.

Uma coisa interessante se refere à graduação de vias, na sua maioria sobem meio grau se comparado ao que costumo fazer. Por exemplo um 4º geral geralmente acaba sendo um 4º SUP. As costuras que no Anhangava, em sua maioria normalmente são utilizadas curtas, 20cm, 30cm aproximadamente, no Rio são pouquissimo utilizadas nas vias tradicionais, onde se precisa de costuras longas, a partir de 60cm a 120cm, devido às proteções espaçadas e em posições que com costuras curtas iriam bloquear muito o escalador que estiver guiando a enfiada.

Muito bacana é o fato de não haver qualquer tipo de preconceitos entre quem escala, seja entre sexos, grau que escalam ou mesmo a origem do escalador, de onde ele é ou veio. Isso se reflete no fato de ser muito comum encontrar escaladores com muita experiência escalando junto com novatos numa via de 3º grau. É uma espécie de incentivo pra quem está começando no esporte. Quem chega na Urca num dia ensolarado, facilmente encontrará parceria para escalar por lá.
 
Agradeço a todos que me acolheram muito bem e me mostraram um aperitivo do sabor das escaladas e lugares incríveis que a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro é capaz de proporcionar.

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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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