Expedição brasileira conquista novo big wall no Monte Roraima

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Eliseu Frechou, Marcio Bruno e Fernando Leal logram escalar a proa do Monte Roraima em expedição cheia de aventura, perrengue e superação no coração da Amazônia. O resultado da expedição chama-se: Guerra de Luz e Trevas D6 6° VIIa A3 J4 / 650m.


A “proa” do Monte Roraima é uma ponta que tem a semelhança da frente de um navio. As paredes lá são gigantes e negativas. Apesar de todo o significado da montanha, da beleza e de ser um Big Wall no meio da maior floresta do planeta, o Roraima foi pouquíssimo explorado até hoje.

A “proa” do Monte Roraima. Foto Marcio Bruno.

O Monte Roraima, com 2875 metros de altitude, é a sétima montanha mais alta do Brasil. Situado no extremo norte do país, ela faz fronteira com dois outros países, a Guiana e a Venezuela. Lá é terra de muitos conflitos por conta dos litígios entre os países, índios, extrativistas etc..&nbsp, Lá perto fica a reserva indígena Raposa Terra do Sol, isso basta para dizer sobre os problemas da região e mostrar porque poucos são os corajosos de enfrentar a montanha.

Não foi a primeira vez que Eliseu e Marcio Bruno tentaram escalar o Monte Roraima. Na primeira, a expedição fracassou antes de começar por conta dos problemas da região, nem com helicóptero foi possível fazer a aproximação, pois o piloto teve medo de fazer as manobras para deixar os escaladores na base da parede.

A proa do Monte Roraima é a parte guianense da montanha. Esta parede é dividida em dois escalões. O primeiro, menor, é todo vegetado, e oferece muita dificuldade aos escaladores. O segundo é mais limpo e negativo, o que protege os escaladores das chuvas diárias neste rincão equatorial do planeta.

Como a caminhada até o Monte Roraima é praticamente impossível pelo lado do Brasil e Guiana, pois para se fazer isso, além dos vários dias abrindo mato no meio da floresta, é preciso contar com a ajuda dos índios que tem medo da montanha, pois segundo eles é a morada de Macunaíma, que na cultura deles é um deus maligno que mata os homens.

Por isso a equipe brasileira contou com a ajuda de um helicóptero, que fez uma manobra arriscada, deixando-os entre as duas paredes do Roraima, aonde eles só poderiam retornar à civilização chegando no topo.

A expedição durou 21 dias, 12 dos quais pendurados&nbsp, na parede. Foi a terceira rota estabelecida naquele enorme paredão, o maior do Monte Roraima, as duas outras haviam sido conquistadas por ingleses e americanos. O nome da via é Guerra de Luz e Trevas e o grau sugerido é de D6 6° VIIa A3 J4 / 650m.Veja a breve entrevista com Eliseu Frechou e saiba um pouco como foi a escalada:

Como foi a aterrisagem do helicopteto na base da parede?
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Foi um dos crux da escalada. O piloto é um cara muito experiente e de sangue frio. Conseguiu aterrissar apenas a parte da frente dos esquis em um bloco de 3x4m, logo abaixo de uma cachoeira, e nós pulamos. A operação durou segundos, e foi muito adrenante. Tudo era incerto e nunca ninguém havia pousado tão perto da parede. A questão de 6 anos, uma equipe americana construiu uma heliponto cerca de 2km perto da Proa para a descida do helicóptero que fez o apoio deles, mas nós não tínhamos tempo nem dinheiro para isso. Tínhamos apenas 1 chance de descer. Felizmente deu tudo certo… mas após descer, ficamos isolados, pois não havia possibilidade de volta.

Desde a base da parede, como foi a escolha da linha da via que vocês escolheram?

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Fomos andando pela base e procurando uma linha natural, que tivesse fendas visíveis. E mantemos uma distância razoável de onde achávamos estar as vias americanas e inglesa. Não queríamos de modo algum cruzar com essas vias.

Quantas enfiadas deu a via? Como foi a escalada?
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Foram 12 enfiadas, a maioria com corda de 60 metros. Fizemos 5 reboques com uma corda de mais de 100m. Calculamos que de escalada, a via ultrapassa os 650m.

O tempo não colaborou muito com vocês, conta aí os perrengues da chuva e da escalada?
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Tudo foi muito diferente do que eu havia visto até hoje. A chuva foi uma das maiores armadilhas da parede, pois nos deixou ilhados 4 dias num platô de 4m quadrados. E mesmo depois da chuva, a água não parou de pingar dos platôs. Há de se preparar muito bem para aguentar a umidade do local. Posso dizer que não houve um dia sequer que ficamos completamente secos. Outro problema é que a floresta invade a parede, por isso o J4. Havia também muitos trechos de rocha decomposta e com blocos soltos gigantes. O Márcio Bruno guiou duas enfiadas aterrorizantes no início, com mais de 20metros seguidos de rocha podre.
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Qual é a próxima?

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Ahahahaha a lista é grande. Mas agora quero processar tudo o que aprendi no Roraima para poder escolher a próxima com sabedoria. Existem muitos lugares e ambientes mágicos pelo mundo. E eu não gostaria de ir para um lugar onde não aprendesse algo novo. Portanto vou dar um tempo para meu corpo e minha cabeça escolherem a próxima trip de modo a não repetir o que eu já conheço.


Fernando, Marcio e Eliseu.

Fotos: Arquivo pessoal de Eliseu Frechou
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Sobre o autor

Texto publicado pela própria redação do Portal.

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