Família de escaladores pela América do Sul, parte 9

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Acordamos no dia 06/01 de manhã com um céu azul limpinho, arrumamos um farto café da manhã e fomos tomar um banho de torneira (no camping não tinha chuveiro). A água, apesar de gelada, estava muito boa, estávamos sujos do dia anterior, íamos escalar e depois seguir viagem, por isso o banho foi muito bem vindo.

Acordamos no dia 06/01 de manhã com um céu azul limpinho, arrumamos um farto café da manhã e fomos tomar um banho de torneira (no camping não tinha chuveiro). A água, apesar de gelada, estava muito boa, estávamos sujos do dia anterior, íamos escalar e depois seguir viagem, por isso o banho foi muito bem vindo. 
 
Arrumamos a barraca e saímos do camping com um sorriso nos lábios da proprietária e um simpático: “Te vaya supeeer”, um superlativo de: “Te vaya bien” (ou qualquer coisa assim) que eu achei muito legal. De volta no El Manzano, encontramos uma galera no “campo-escola” mas seguimos por uma trilhazinha que dava em uns boulders que tinham nos indicado no dia anterior. O bloco é muuuito legal, não sei qual é o tipo de rocha, mas tem agarras boas que não machucam as mãos, uns 4m de altura por uns 12m de largura, uma base um pouco negativa e uma barriguinha para domínio. Quando chegamos lá encontramos uns escaladores que tínhamos conhecido no dia anterior no bloco e aproveitamos para escalar com eles.
 
Os boulders eram bem no nível que a gente estava, tinham vários boulders de V3 a V5, todos MUUUITO legais. Tinha uma grande variedade, alguns mais de regletes, outros de abaulados, alguns mix, e todos com uma saída negativinha. Nos divertimos muito antes do almoço que rolou por ali mesmo, com alguns sanduíches, e o mesmo bloco também garantiu a diversão da tarde, quando paramos para “lanchar” e discutir o que iríamos fazer no dia seguinte. Eu estava ansiosa por acampar uma noite no lugar mais lindo de toda viagem, o primeiro setor do Choriboulder, e para ajudar ainda estávamos muito curiosos para conhecer seu outro setor e isso significaria ficar mais dois dias por lá, uma vez que eu sentia que precisava me recuperar para voltar a escalar… estava esgotada, mas agora o tempo estava contra nós, estávamos a poucos dias do fim da viagem, a poucos dias dos dias de volta. 
 
Esta também foi outra decisão muuuuito difícil, não tínhamos feito muita coisa para o Luca até agora e eu me sentia em dívida com ele, por ele decidimos tocar viagem e decidimos aproveitar uma terma. Eu sentia que minha climbing trip estava acabando, eu tinha visto e vivido tantas coisas boas, tantas novas experiências, agora tudo estava terminando e esta decisão só aumentou esta sensação, só eu sei o quanto me arrependeria depois. Na estrada encontramos um destes restaurante/lanchonete e paramos para jantar, só fiquei um pouco “preocupada” com a placa que dizia: “Água de Riego Tratada” e tiramos uma foto animada. Brincadeiras a parte comemos um sanduíche e pé na estrada. 
 
O objetivo era chegar por perto de Villa Rica, Pucón, onde iríamos fazer uma parada para dormir em algum lugar no meio da estrada, mas chegando em Curicó já era tarde, estávamos cansados e paramos para dormir, o hotel de lá foi o melhor custo benefício de toda viagem. Todos os hotéis até agora tinham ótimas camas independente da qualidade ou categoria do hotel, diferente do Brasil que quanto menos você paga pior o colchão em que você dorme, chegando a, muitas vezes, ser preferível o chão com um bom edredom. Mas este hotel tinha um quarto enorme, um banheiro enorme (dava para a família ter dormido dentro do banheiro) e um box decente com um bom chuveiro. A noite de sono seria boa.
 
Quando acordamos em Curicó, no dia 07/01, tomamos um bom café da manhã e saímos, a cidade tem uma lanchonete famosa por suas tortas e fomos conferir. No início fiquei meio desconfiada, mas o Léo comprou uma para provar, ele perguntou se eu queria um pedaço e eu provei ainda sem dar muita credibilidade, mas a torta era realmente boa e acabamos comprando mais 2 para a viagem. As tortas realmente são excelentes e eu me arrependi de não ter comprado mais algumas para viagem. 
 
Saindo de Curicó a estrada era de plantações e pequenas montanhas, paramos em um posto de combustível para almoçar debaixo da sombra de uma árvore em estilo pic-nic. Demos sorte, tinha um carro estacionado debaixo da sombra com uma galera fazendo sua refeição, mas exatamente no momento em que chegamos eles estavam saindo, infelizmente acabamos descobrindo que tinha uma água de esgoto que passava em um encanamento por perto que deixava um cheiro desagradável no ar, mas era a única árvore por ali e o dia estava quente, não rolava ficar no sol. De volta à estrada, a vegetação começa a mudar novamente e a estrada fica muito bonita com grandes árvores dos dois lados, passamos por Villa Rica e fomos até Coñaripe, onde o Guia nos indicava uma boa Terma com boas atrações (uma das indicadas pelo guia com melhor infra-estrutura, a melhor custo x benefício).
 
A região é de lagos e as estradinhas cheias de campings, paramos em um qualquer perto das 9h da noite e decidimos ficar por lá mesmo. Montamos acampamento, ajeitamos uma janta à la camping e fomos dormir.
 
Dia 08/01 acordamos em Coñaripe, ao abrir o zíper da barraca nos deparamos com uma forte neblina bem baixa cobrindo quase tudo a nossa volta, eu tinha a impressão de que o tempo iria abrir, TINHA que abrir. Descemos 800k para garantir um mínimo de diversão, que não fosse escalada, para o Luca… o tempo tinha que colaborar. No farto café da manhã, capuccino, cereal e um bom sanduíche a la Chile, com salsicha e palta regada a uma paisagem linda, como não podia ser diferente, uma combinação perfeita de mata e água, vales verdes com lagos GELADAMENTE cristalinos. Saímos para a Terma ainda cedo e quando chegamos à Terma de Coñaripe o dia já estava bem aberto, o sol estava forte e já dava para sentir que iríamos aproveitar bem as piscinas. A Terma não era barata, mas este seria nosso dia de “folga” e resolvemos pagar o preço de um pouco de luxo nessa nossa viagem perrengue e compramos um pacote que dava direito à Terma e garantia um bom lanche da tarde. Eu nunca havia me interessado por termas, prefiro montanhas à água e por este motivo nunca tinha estado em uma destas. Quando entramos no complexo, fomos nos trocar e o Luca acabou perdendo o óculos de sol enquanto esperava brincando com o Léo do lado de fora, eu terminar de guardar nossas roupas. Depois do procurar um pouco os óculos fomos entrar nas piscinas e eu fui logo colocando o pé na piscina mais próxima pensando na agradável sensação de uma água bem temperada, mas dei um pulo gigante quando meu pé tocou a água. Nunca imaginei que as pessoas pagassem para ficar cozinhando em um grande caldeirão de pedra, meu pé formigava, é uma sensação parecida com a de formigar em águas geladas, mas ainda pior porque você parece que vai pegar fogo. 
 
O Léo conseguiu entrar de boa, mas eu e o Luca precisamos de um tempo maior. Depois disso comecei a tomar mais cuidado olhando as temperaturas, mas mesmo nas menos quentes tínhamos que entrar beeem aos poucos e, ainda assim, bastava a gente se mexer um pouco que parecia que a temperatura aumentava, o lance é ficar meio parado, não curti muito e logo saí de lá. Eu me adaptei melhor nas piscinas naturais, que estavam beeem frias, mas não cozinhavam a gente. Havia também um riozinho que passava pelo meio da Terma, mas nem parecia água natural, enquanto as piscinas aquecidas pelo vulcão queimavam a gente e as piscinas naturais esfriavam nosso corpo de forma bem eficiente, o riozinho parecia que iria nos congelar. O esquema era entrar devagar na quente por alguns minutinhos e correr para a fria para dar um mergulho, no riozinho mesmo eu só tive coragem de entrar duas vezes, o Léo uma e o Luca não quis nem experimentar. Quando estávamos em uma das piscinas quentes (menos quentes), enquanto o Luca se divertia muuuito, uma pequena argentinazinha ficou nos olhando e foi se aproximando aos poucos. Percebi que ela queria participar da nossa brincadeira e no meu melhor portunhol perguntei se ela queria brincar. A menina era a coisa mais linda, simpática e educada, estava nas Termas com sua grande família e pediu para os pais para ficar com a gente. 
 
A comunicação era bem difícil, mas ela não desistiu e a gente se deu super bem, ela nos levou às piscinas de lama onde só eu e ela tivemos coragem de entrar. Eu estava quase levando ela para casa quando a mãe dela chamou para lanchar, fomos lanchar também e quando voltamos ela já estava indo embora, ficou com a gente até os pais a arrastarem para o carro. Nos despedimos e eu, o Léo e o Luca voltamos para a piscina não “tão” quente. O dia estava terminando e a piscina estava praticamente só para nós. Nos divertimos muito ainda e só saímos com as vassouras nos nossos pés. No caminho de volta para o camping, o vulcão Villa Rica aparecia de frente para a estrada com a forma de um sorvete gigante. 
 
Janta?
 
Depois de tanta água, estávamos cansados novamente, voltamos para o camping e fomos dormir.
 
Dia 09/01 foi mais um dia de despedida, acordamos com a paisagem linda do lago na porta de nossa barraca, desmontamos nosso acampamento e aproveitamos um pouco do lago antes de partir.  No final das contas descobrimos que o lago não era tão gelado como imaginávamos, mas já estávamos de saída e ficamos satisfeitos só colocando os pés na água. Desta vez tínhamos que começar o caminho de volta para o Brasil, o tempo estava se esgotando e a agente ainda não sabia exatamente por onde voltar, por isso pedimos algumas informações para a dona do camping, ela nos disse que havia um passo onde se atravessava de balsa. Ficamos interessados neste passo, mas ela nos orientou a pegar maiores informações em um centro turístico de Coñaripe. Na cidade passamos no centro turístico e descobrimos que no passo da balsa tem dias e horários restritos e que o ideal era agendar, mas como precisávamos passar neste mesmo dia nossa melhor opção era o Passo Mamuil Malal. 
 
Tomamos um suco muuuito bom em uma barraquinha de sucos qualquer, comemos umas empanadas em uma lanchonetezinha e seguimos para o passo, já estava ficando tarde. No caminho do passo fomos conhecendo um pouco mais da cidade, a vista do vulcão Villa Rica foi nos acompanhando, andamos um pouco pela cidade de Villa Rica turistando, onde conhecemos o lago da cidade, um lugar muito agradável com muitas pessoas aproveitando o dia nas suas margens, fazendo pic-nic, caminhando e se divertindo. No caminho para Mamuil Malal outros lagos assim como as “gigantes maravilhosas” foram aparecendo, incluindo uma rochosa particular que me chamou muuuito a atenção, linda e aparentemente escalável. Chegamos à fronteira NA HORA, outros dois carros chegaram logo depois da gente e houve alguma conversa antes que eles conseguissem passar.  Pela estrada encontramos um rio com um camping e chegamos a pensar em acampar por lá, já estava ficando tarde, mas ainda queríamos aproveitar um outro point de boulders  e para isso tínhamos que nos adiantar na nossa viajem e decidimos tocar até Neuquén. A paisagem foi mudando conforme a Cordilheira foi ficando para trás. Chegando a Junin de Los Andes resolvemos jantar, estávamos com fome. Logo na entrada da cidade encontramos uma Pizzaria, estacionamos mas como SÓ tinha pizza e eu estava afim de comida mesmo, acabamos voltando para o carro e parando um pouco mais a frente em um restaurante. Na rua do restaurante não encontramos vaga para estacionar o carro, a cidade parecia estar lotada, então paramos em uma rua lateral e fomos comer uma Parrija. Na mesa ao nosso lado sentaram uns Argentinos em férias, muuuito simpáticos, e começamos uma conversa bem divertida sobre lugares turísticos na Argentina e Brasil. A comida chegou e a conversa durou toda a janta. Saímos do restaurante e… quando fomos chegando perto do carro, percebi que havia algo de errado. Corri para o carro… um dos vidros de trás estava quebrado, quando o Léo chegou eu já estava procurando pela minha mochila que tinha ficado no banco de trás, o desespero não me deixou enxergar o que estava na frente o meu nariz e quem a encontrou foi o Léo. Não tinham levado nada, nada MESMO, mas tinham deixado um prejú e o pior… adiado ou, na melhor das hipóteses, atrasado nossa viagem. Sem o vidro tivemos que ficar em Junin, encontrar um lugar para ficar foi complicado, a cidade estava realmente cheia, mas no fim encontramos um Hotel bem legal, nos acomodamos e quando fomos pegar nossas roupas adivinha… o porta-malas foi forçado e não abria. Tomamos banho, colocamos umas roupas não tão sujas que estavam dentro do carro e fomos dormir. Deste lado dos Andes estava fazendo um calor ANIMAL, não precisamos de muitas roupas e ao invés de aquecedor, tivemos que ligar o ar condicionado. No dia seguinte íamos perder um tempo limpando e dando um jeito no carro. UMPFF… seria um dia a menos, um dia perdido… um dia que DEVERÍAMOS ter acampado no Choriboulder.
 
 
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