Fatos interessantes da temporada do Himalaia 2017

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Novas ascensões e alguns fatos de destaque da temporada de pré Monção no Himalaia 2017.

por Rodrigo Granzotto Peron
 
RECORDE FEMININO DE CUMES NO EVEREST
 
Quanto aos homens, o primeiro a fazer 10 cumes no Everest foi o lendário Ang Rita Sherpa, que alcançou a marca em 1996. Desde então, 58 montanhistas igualaram este patamar. Atualmente, o recorde (21 cumes) pertence a Appa Sherpa e Phurba Tashi Sherpa (Phurba pode superar a marca neste ano).
 
Quanto às mulheres, contudo, ninguém ainda fez dez cumes no EV.
 
A montanhista com maior número de cumes, Lhakpa Sherpani, de 44 anos, fez seu primeiro cume em 2000, pela rota nepalesa. Na sequência, na companhia de seu marido, fez outros cinco cumes pela rota tibetana, chegando a seis cumes no EV em 2006. 
 
Depois ela sumiu por uma década, por questões familiares: ela teve três filhos e passou por um divórcio muito difícil (ela era casada com o alpinista Gheorghe Dijmarescu). Nesse meio tempo, outras mulheres começaram a acumular cumes no Everest, a mais notável de todas a americana Melissa Sue Arnot, que pisou no cimo pela 6ª vez em 2016.
 
Mas Lhakpa Sherpani retornou disposta a ser a primeira mulher a conseguir dez cumes no Everest. Ascendeu pela sétima vez em 2016 e pela oitava vez neste final de semana. Já anunciou que retornará ano que vem e espera atingir seu décimo cume em 2019.
 
UMA EQUIPE DE “SHERPAS” FIXOU A ROTA TIBETANA?
 
Foi noticiado em todos os sites que uma equipe de “nove sherpas” instalou as cordas fixas na Rota Tibetana até o cume em 11 de maio.
 
Aqui cabe uma correção: infelizmente os portais de montanhismo chamam de “sherpa” qualquer habitante do Nepal, o que é muito errado. O Nepal é formado por dúzias de etnias, uma das quais são os sherpas.
 
Outra etnia importante para o montanhismo são os tamangs, originários do Vale do Kathamandu. O primeiro tamang a culminar o Everest foi Shambu em 1973.
 
Chamar um tamang de “sherpa” é uma gafe equivalente a chamar um brasileiro de argentino ou um gaúcho de baiano.
 
Por que essas explicações?
 
Porque um dos “sherpas” que participou da instalação das cordas até o cume foi o lendário Samduk Dorje Tamang, que chegou ao 9º cume no Everest. Samduk é o primeiro tamang a atingir essa marca e, se culminar ano que vem, será o primeiro montanhista nepalês de outra etnia que não a sherpa a fazer 10x Everest.
 
PRIMEIROS CHILENOS NO ANNAPURNA
 
Em 11 de maio, Sebastián Rojas e Juan Pablo Mohr fizeram cume no Annapurna, unindo forças com Romano Benet, Nives Meroi, Alberto Zerain e Jonatan García, que também culminaram.
 
Tratam-se dos primeiros cumes chilenos no Annapurna.
 
De se notar que os chilenos buscam há muitos anos fechar todos os 14 oitomil, mas não individualmente, e sim coletivamente. Em 2011, tentaram o Annapurna, mas tiveram que desistir por causa de problemas de saúde de um dos integrantes do time. Em 2017, finalmente conquistaram a montanha.
 
Para o Chile, agora, faltam apenas Kangchenjunga, Dhaulagiri, Broad Peak e Shishapangma.
 
“CUMES” NO MAKALU ?
 
Mais de vinte “cumes” foram anunciados no Makalu, no dia 10 de maio.
 
Por exemplo, no blog da Altitude Junkies, postaram: “Temos cumes! Detalhes amanhã”. Ou então, no site de um jornal de Andorra, “Domi Trastoy fez cume no Makalu”. Em seu blog, Masha Gordon colocou: “Time Grit&Rock culminou as 9 da manhã. Dani está ok. Josh é um herói. Eu sou a primeira mulher russa”.
 
Mas, na sequência, as coisas começaram a ficar estranhas.
 
Participando do ataque ao cume, a francesa Elisabeth Revol mencionou que ninguém fez cume, e que deram meia volta da antecima, pelo que foi elogiada por sua honestidade pelo famoso articulista alemão Stefan Nestler.
 
Outro alpinista no Makalu, o renomado Pawel Michalski, foi ainda mais incisivo: “O ataque ao cume terminou por volta dos 8000 metros. Junto conosco no ataque estavam mais ou menos 20 outros alpinistas. Na verdade, ninguém escalou até o cume. Todos deram meia volta na primeira antecima”. Suas palavras foram confirmadas por Thomas Laemmle: “Notícias falsas de cume! Até agora ninguém fez cume no Makalu na temporada! Nem a antecima foi atingida devido à ausência de 100 metros de cordas”.
 
Assim é que, aparentemente, as notícias foram MUITO exageradas. Não apenas ninguém fez cume (8485m), como na verdade ninguém foi sequer até a antecima (8390m). Pelo que tudo indica, o ataque ao cume terminou no início da aresta do cume, por volta dos 8000-8200 metros.
 
ATAQUE AO CUME EM OUTRAS MONTANHAS
 
Abriu uma janela de bom tempo entre 15 e 17 de maio, de tal forma que a maior parte dos times espera atacar os cumes das montanhas para aproveitar a oportunidade.
 
a) Kangchenjunga
 
Todos os times estão se posicionando nos campos altos da montanha. O time de Matthew Du Puy espera atingir o C4 em 15 de maio e atacar o cimo no dia 16, mas confessou nervosismo com esta estratégia, “por causa da possibilidade de congestionamento”, já que os outros times (incluindo as grandes expedições japonesa e da Seven Summits Treks) estão trabalhando com esse mesmo timing.
 
b) Dhaulagiri
 
Os eslovacos Peter Hamor e Michal Sabovnick iniciaram o ataque ao cume e atingiram o C3, a 7250m. Reportaram ventos fortes e muita neve. Se as condições permitirem, estarão partindo ao cume nas próximas horas. O cume, para Peter Hamor, significa a conclusão de seu projeto dos 14 cumes de oitomil metros.
 
Os outros times na montanha, incluindo Santiago Quintero, Adele Pennington, Parvaneh Kazemi, Marco Confortola e Carlos Soria parece estar seguindo os passos do time eslovaco, porém trabalhando com a possibilidade de cume nos dias 16 ou 17.
 
c) Shishapangma
 
Também é esperado ataque ao cume na menor das montanhas de 8000 metros, onde David Gottler e Hervé Bermasse pretendem abrir nova rota na Face Sudoeste.
 
EVEREST – JOGO DA ESPERA PERTO DO FIM
 
A tensão cresce no flanco nepalês do Everest pois a qualquer momento a instalação das cordas até o cume pode ser concluída e uma verdadeira multidão de alpinistas, guias, clientes e pessoal de apoio deve formar as famigeradas “linhas” ao longo da montanha nos próximos dias.
 
No flanco tibetano, os cumes devem prosseguir na presente janela de bom tempo. Até momento, já tivemos 32 cumes no Everest, todos de indianos, tibetanos e nepaleses.
 
 
por Rodrigo Granzotto Peron
texto finalizado em 14.05.2017
 
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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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