Gigantes do Ibitiraquire

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Tudo começou com uma troca de e-mails na semana retrasada entre eu e o Pedro que infelizmente não resultou em uma data que servisse pra nós dois. Também troquei e-mails com o Julio mas acabamos aguardando uma boa previsão de tempo. Conhecer montanhas como o Pico Ferraria (1.754 m) e Taipabuçú (1.732 m) era desejo tanto meu quanto do Pedro, então, pretendíamos ir juntos e a idéia era ir com o Julio, que ficou ocupado com trabalho.


Por Parofes

Os dias foram passando e a vida vai se mostrando mais e mais desafiadora a medida que os problemas pintam e, é preciso se virar pra fazer acontecer. Sofri mais um revés na semana passada e estava muito chateado. Qual é a melhor ferramenta pra um montanhista lutar contra isso? Ir pra montanha. Como que adivinhando o acontecido, o Pedro me mandou um e-mail curiosamente NO MOMENTO em que eu recebia a notícia desgraçada me convidando pra partirmos pro 37° Jantar de Montanha e em seguida pra Serra. Pensei uma meia hora antes de responder com cifrões passando pela minha vista até que pensei novamente “quer saber, pro caralho, vamos pra montanha curtir. Pra quem tá cagado um peido é merda!”. Respondi o e-mail.

Acertamos tudo e na sexta-feira dia 14.05 às 10:00h da manhã eu estava encontrando com o Pedro no Brooklin e lá fomos nós depois do café da manhã pra estrada. Só paramos pra comer um lanche na estrada mesmo, que aliás era junkie food, porém muito melhor e mais barato que McDonalds. Chegamos em Curitiba já no final da tarde, não pegamos trânsito nenhum.

Passamos no mercado pra completar as provisões de montanha. O Pedro compartilha comigo de que não importa como esteja a situação, comer bem na montanha é muito importante. Ele deu idéia de levarmos pizza de frigideira, molho, queijo, orégano e fazermos pizza lá em cima! Completei a idéia com outra de levarmos arroz e carne seca pra um jantar mais elaborado, saindo da trivialidade.

Como esse mundo de montanha é pequeno mesmo. No mercado uma figura me para e pergunta “Cara, qual é o seu nome?”. Bastou eu olhar e reconhecer pelas fotos: Era o Anderson Stein, namorado da Vivian. Trocamos muitas idéias nas épocas que eu tinha orkut. Tentamos diversas vezes marcar de caminhar juntos pela Serra do Mar mas nunca rolou por diferença de agenda. Fomos nos conhecer pessoalmente no mercado que ele trabalha! O mundo de montanhista é mesmo uma cabeça de alfinete. Anderson, fica aqui mais um abraço e um beijão pra Vivian!

Gastamos só R$ 36,00 de comida e seguimos pra casa do Pedro. Chegando lá o Hilton ligou combinando o horário de nos encontrarmos pro 37° jantar de montanha. Desde a 35ª edição eu era curioso para ver como era este evento!

Arrumamos as mochilas, deixando tudo com peso balanceado e preparado para acordarmos, tomarmos café e sairmos pra Serra. Sem pressa e sem crise já que a previsão era ótima para o sábado e domingo. Quando a hora chegou, saímos pro jantar.

Chegamos no horário correto do evento, 19:30h. Ainda estava meio vazio mas isso mudaria com o passar das horas. Finalmente conheci o Hilton Benke pessoalmente, abraço cara!

Aliás, este evento foi sensacional de meu ponto de vista por diversos motivos. Conheci pessoalmente um baita pessoal que geralmente só vejo pela telinha de 22” de meu monitor. Dentre eles o Hilton Benke; Natan Lima, Juliano Santos e Willian Augustynczyk (Nas Nuvens Montanhismo); Fabiula Puglia; Até mesmo o figuraça e super gente fina também Nelson Luiz Penteado Alves (farofa), autor do livro “As montanhas do Marumbi”. Também conheci o Vitamina que era socorrista da Serra do Mar e conseguiu fazer a união da galera que escalava (marumbistas) com os socorristas!

O jantar foi realmente Histórico, mas senti falta de umas figurinhas que tenho muito apreço como por exemplo o Julio Fiori, que teve de ir a Posadas a trabalho. Seria muito legal também rever o Moisés e a Eliza, pessoal também dez que não pôde comparecer. Fica aqui um abraço a todos (quem vi, revi, e quem não vi)!

O que dizer sobre o jantar? Foi o máximo e eu e o Pedro nos lamentávamos a cada dez minutos por termos deixado as câmeras na casa dele, não fotografamos nada! Cerca de 400 pessoas, todas relacionadas ao montanhismo, andinismo, alpinismo e marumbinismo. Sensacional! O ar era comum e respirado por todos com o mesmo sentimento, e me arrisco a dizer que não só eu, mas todos lá presentes desfrutaram do jantar em uma atmosfera diferenciada de pessoas que normalmente só se vêem na rocha, trilha ou gelo. Eu achei realmente majestoso. A comida não era grande coisa mas ninguém se importou com isso. Respirar toda aquela troca de experiências, “causos” pra cá e pra lá dos mais velhos, marumbistas dos anos 40, 50! Incrível! Certamente estarei na próxima edição do jantar!

Bem, onde estava mesmo? Serra! Isto. Chegamos na casa do Pedro pouco antes de 01:30h da manhã. Caimos rápido pra dormir pois na manhã de sábado sairíamos direto pra Serra sem paradas. Acordamos tarde, tomamos café da manhã tarde e saímos mais tarde ainda! Passamos no McDonalds, compramos sanduíches pequenos e baratos só pra colocar alguma proteína e caloría pra dentro antes de começar a andar. Seguimos pra Fazenda Pico Paraná onde chegamos ao meio dia.

Muitos carros, cerca de 15 ou 20. Sabíamos que veríamos bastante gente na trilha por isso nem adiantava ter pressa pra começar. Comemos o lanche, pegamos água e começamos a subida do Getúlio meia hora depois de nossa chegada à Fazenda.

Fazia muito calor, sol sobre nossas cabeças. Eu como sempre suava horrores. Eu me desgasto muito quando faz calor. Mesmo assim, passamos dois grupos que subiam mais lentos que nós e alcançamos dois casais que estavam no morro apreciando a vista. Sofri pra chegar no topo da trilha do morro do Getúlio. Já cheguei lá como que saído da piscina vestido mesmo. Banhado em meu próprio suor. Fizemos fotos, rápido papo com o pessoal que lá estava, depois colocamos o pé na trilha bastante erodida seguindo adiante para finalmente adentrar à floresta rumo ao Caratuva, nosso primeiro objetivo.

A subida do Caratuva com peso e calor também não foi muito fácil. Na outra vez em que estive lá não fez tanto calor como desta vez. Pedro chegou antes e já batia papo com um pessoal. Cheguei mais tarde uns 2 ou 3 minutos depois de parar uma vez pra fotografar (desculpa de velho decrepto pra descansar). Lá encontramos um pessoal do CPM que vimos no jantar de montanha na noite anterior.


Vídeo que mostra o lindo Taipabuçú e as nuvens represadas pelo colo que o separa do Caratuva

Não podíamos ficar ali muito então só assinamos o livro pra não perder tempo, uma ou outra foto e pronto. Demoramos cerca de três horas pra chegar lá em cima por causa do calor e a hora já beirava 16:00h. Nosso objetivo era chegar ao Taipabuçú, montanha ainda inédita para nós dois, e dormir lá para atacar o Ferraria na manhã seguinte. Nos despedimos do pessoal que já começou a descida e fomos embora descendo pro colo entre as duas montanhas.

A princípio olhando do Caratuva parece ser longe, mas a trilha é bastante batida, muito bem marcada, e a floresta nebular no colo propriamente dito dá um clima muito agradável estilo “The Shire” de um conto de Tolkien. Nuvens represadas pelo canion do Taipabuçú tentavam passar pela montanha a nossa direita. A nossa esquerda ficava uma fazenda sobre um morro bem próximo. Que lugar incrível…

Chegamos no primeiro cume do Taipabuçú já às 17:19h. Não sabíamos onde ficava a fonte de água. Havia um rapaz descendo do cume, fizera de ataque desde o Caratuva. Nos disse que havia água no terceiro cume mas não foi preciso na informação. Assim que chegamos no segundo cume, mais alto, assinamos o caderno do cume. Pedro conseguiu ligar pro Hilton pra pegar informações melhores sobre a água e camping. Ótimo! Voltei sozinho pro primeiro cume enquanto eles se falavam. Minutos depois o Pedro se juntou a mim e decidimos que ele iria atrás da água e eu prepararia nosso acampamento, que na verdade se limitaria a um bivaque.

Lá foi o Pedro, já com as últimas luzes de dia por volta de 17:45h. Eu tirei tudo fora das mochilas, preparei meu bivaque, o do Pedro, fogareiros, separei comida, deixei tudo pronto. Os minutos foram passando, o sol se pôs, fiz mais algumas fotos e me comuniquei com lanterna com os outros acampamentos. Havia gente no A2 do Pico Paraná, no cume do Pico Paraná e também havia gente no cume do Caratuva.

A noite veio e com ela a escuridão total, Pedro não voltava. Comecei a ficar preocupado e avaliar a possibilidade de ir atrás dele. A hora avançou e quando deu 19:00h pensei comigo mesmo “vou dar mais dez minutos, se ele não vier vou lá procura-lo”. Coloquei a bota, me agasalhei, preparei a lanterna e fiquei contando os minutos. Pouco antes de eu ir a lanterna do Pedro despontou no segundo cume do Taipa. Ufa! Gritei perguntando se estava tudo bem e ele respondeu positivamente.

O problema é que a água fica muito mais abaixo do cume, metade do caminho que segue até o colo entre o Taipabuçú e o Ferraria, e como o terreno é bem íngrime e o Pedro já estava desgastado assim como eu, levou mais tempo do que esperávamos, mas no final deu tudo certo.

Fizemos a 38ª edição do Jantar da Montanha! Feijoada com repositor energético SUUM. Como sempre, a feijoada descia a garganta passando antes pelas papilas gustativas deixando um sabor de vida adentrar o corpo…Que coisa boa. Céu estrelado, bastante cansados já, depois do jantar cada um entrou no seu saco de dormir antes das 20:00h. Ao contrário do que eu esperava, dormir rápido, conversamos por umas duas horas e meia, estrelas cadentes cortavam o céu como magia, o papo fluia como água de rio, o sono foi embora.

Finalmente quase onze da noite o papo foi dormir e com ele o Pedro. Eu ainda fiquei acordado fitando o céu do Ibitiraquire, pensando na vida. A última vez que olhei o relógio era por volta de uma da manhã, depois acordei e olhei de novo, era perto das três. Não dormi mais!

O novo dia veio e com ele novos objetivos…

(continua na segunda parte) 

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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