Morro do Pavão – Parque da Cantareira

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O Pque Est. da Cantareira é a maior reserva florestal urbana do mundo, q abre pro público uma variedade enorme de trilhas e atrativos em ótimo estado de conservação. Exceto seu pto culminante, situado no alto dos 1220m do Morro do Pavão, onde tb se aloca a pouco conhecida unidade do parque q leva o mesmo nome, a Pavão/Pau Furado. O motivo deste desconhecimento é mais q óbvio: além de figurar como limite serrano oeste, aqui o parque sobre com constantes invasões e o acesso ao morro se dá através duma favela. Este é o relato de nossa jornada ao pto mais alto da Cantareira, detentor duma das vistas mais bonitas da cidade de São Paulo e q emendou uma agradável caminhada de crista até Caieiras.

Foi por pouco q não consegui me desvencilhar do empurra-empurra q toma conta diariamente dos vagões da Linha Rubi da CPTM. O fato é q somente distribuindo cotoveladas consegui saltar da composição entupida de gente, as 9:30hrs, na Estação Pirituba. Respirando mais aliviado, me dirigi ao Terminal de ônibus de Pirituba, situado a menos de 100m dali. Lá encontrei o Nando e, após mastigar um salgado, nos prostramos à espera da condução q nos levasse o mais próximo do nosso destino.
 
Não tardou pra embarcar no “9023 – Parque Taipas”, q assim q deixou o terminal se embrenhou numa sucessão de quebradas e vielas da Vila Brasilândia, tocando morosamente na direção norte. O veículo só ganhou velocidade qdo caiu numa avenida maior, onde já era possível avistar a silhueta da Cantareira no horizonte. Suas corcovas elevando-se elegantemente a noroeste tomavam conta daquele quadrante, dando destaque a um punhado de antenas q coroavam o pto máximo daquele serrote urbano. E era pra lá q nos dirigíamos naquela manhã de sol, tempo aberto e brisa fresca soprando no rosto.
 
Não sei se vcs já andaram por esta região, mas a medida q o veículo se aproximava da Cantareira me senti como se tivesse chegando em La Paz. O microônibus começou a subir em ziguezagues a suave encosta q precede a serra, por sua vez repleta de casebres se empilhando uns sobre os outros, em meio a estreitas ruas com mta gente dividindo pouco espaço. Só faltavam as “cholas” pra completar aquele panorama emoldurado pela janela da lotação. Se serve de consolo, o veículo ganha um bom desnível durante td esse trajeto indo pouco além da metade da altura da serra.
 
Saltamos do buso no pto máximo q ele alcança daquela encosta da Cantareira, por volta das 10hrs, pra depois observá-lo se pirulitar morro abaixo em meio a estreitas quebradas. Pois bem, ali na esquina da “Rua do Amor” (pelo q depois nos informamos) começamos a subir a estreita viela q ganhava a suposta crista da serra, buscando ganhar altitude. Não demorou pro asfalto dar lugar a terra e pras casas cederem espaço pra barracos. Estávamos adentrando na favela Vista Alegre. Logicamente q este trecho foi bem “adrenado” pq td olhar na sua direção parece suspeito, da mesma forma do rolê no “Montanhão”, em Sto André. As pessoas nos encaravam pq visivelmente éramos forasteiros ali, e a necessidade de parecer “natural e espontâneo” falou mais alto. Em tempo, como sabíamos q este trecho seria inevitável, fomos com poucos valores, bem esculachados e sem mochila, pra não despertar suspeitas ou chamar demasiado a atenção.
 
E assim fomos ganhando mais e mais altitude. Logo nos vimos numa trilha erodida q serpenteava barracos e construções irregulares morro acima e respiramos mais aliviados qdo vimos até uma viatura da polícia próxima. O caminho, repleto de degraus de terra compacta em meio a pequenos matacões, foi a maneira dos moradores de aceder o morro naquela visível ocupação (invasão), uma vez q ali é região q pertence ao Pque Estadual Cantareira, em tese. A medida q vencíamos desnível, as vistas ao sul se ampliavam generosamente, descortinando uma São Paulo q realmente poucos tem privilegio de apreciar.
 
Ao ganhar um colo serrano, o caminho toma rumo em nível e abandona de vez as casas de alvenaria. Uma placa indica “Rua José Lopez” q basta tocar morro acima, bordejando a encosta restante de serra, agora cercada de farta e exuberante vegetação. Agora sim a paisagem ganha realmente contornos q lembram a Cantareira. Mas não deixa de ser estranho aqui, sendo um núcleo do Pq Estadual, estar cercado de terrenos, invasões e propriedades irregulares. No entanto, a bucólica pernada em meio ao frescor da mata e muitos rochedos mal lembra q estamos subindo um pto culminante.
 
Não demora e damos numa bifurcação, onde ignoramos a continuidade do estradão (q toca indefinidamente pela crista, em nível) em favor de sua variante, q dá continuidade ao restante da subida do morro. Aqui a declividade aperta um pouco, bordejando o q parece ser uma propriedade abandonada. Mas não dá nem 11hrs q finalmente chegamos ao alto dos 1220m do Morro do Pavão. No cume há várias antenas de transmissão, provavelmente de telefonia, cercada de floresta densa. Há tb uma estação repetidora da Sabesp. Td devidamente cercado, diga-se de passagem. Conhecido tb como Alto do Vista Alegre, o Morro do Pavão é desconhecido da maioria justamente pelo fato de não ser pto turístico. É aquela coisa: o q não está na mídia não existe. 
 
Pois bem, e a vista do alto? Pois bem, pelo fato do cume ser cercado de mato a vista do entorno é parcial. Mas felizmente qdo ali estávamos havia um pessoal fazendo manutenção das antenas q permitiu nosso acesso ao alto das mesmas. Subindo cautelosamente a escadaria das torres, é possível ter uma magnífica panorâmica de td ao redor. A vista se assemelha ao do Pico do Jaraguá (embora seja 80m maior q este), onde se aprecia td região da Zona Norte e Central da cidade, assim como praticamente todos os municípios da Grande São Paulo e outras regiões próximas, além da Serra do Mar, Jundiaí, Santana de Parnaíba, Cotia, São Roque, Atibaia, Bragantina e Mogi das Cruzes. Até o extremo Sul de Minas (os altos de Toledo e Extrema) aparece no horizonte. Sob seus pés, os bairros de favela Estância Jaraguá e Vista Alegre (assim como o Jardim Paraná), na extrema Zona Norte, q estão agarrados na Serra da Cantareira e invadindo área de preservação.
 
Após contemplar o belo visu descortinado lá do alto, prosseguimos a pernada. Como não pretendíamos voltar pelo mesmo caminho, decidimos dar continuidade a pernada pelo alto. Retornamos então até a bifurcação anterior, e continuamos pela via principal (ou seja, a tal Rua José Lopez, lembra?) q se mantém pela crista tocando na direção leste, cercado dum belo bosque. Logo de cara há uma picada q leva a uma ruínas duma construção, na verdade uma construção q não terminou a ser finalizada. As paredes e fundações foram erguidas, só faltou o acabamento. Disto deduzo q foi algo embargado por conta de estar em área florestal.
 
Mais adiante a pernada prossegue em nível e cai no aberto, serpenteando a crista em meio a suave morraria. Uma chácara abandonada surge pela esquerda, deixando entrever pastagens q tem Atibaia ao fundo, enqto um picadão erodido surge pela direita e desce ingreme o vale ao lado. Vejo a carcaça de duas kombis alojadas na encosta e me pergunto como elas foram parar ali. Bem, melhor nem imaginar isso. Mas fica a duvida de onde deve terminar esse picadão bem íngreme, na direção sul. Quiçá um vale encravado no miolo da Cantareira. Fica pra próxima visita.
 
Ainda na crista não demora pra estrada começar a descer imperceptivelmente, entre sulcos erodidos, e a paisagem abre-se a esquerda revelando a bela cumeada do Pico Olho D´água, em Mairiporã. O sol martela a cachola sem dó qdo passamos, na sequencia, ao lado duma simpática capelinha abandonada. Sem mochila e, consequentemente, sem cantil algum, o fantasma da sede paira sobre a gente. Mas não deu nem mais 10min de estrada q o som de água correndo se materializa numa oportuna bica, q despeja seu precioso liquido na encosta a direita, em meio aos arbustos.
 
O restante da pernada transcorre sem nenhuma intercedência, sempre descendo imperceptivelmente em meio a trechos abertos e outros cercados de mata secundaria (e, na sequencia, reflorestamentos de pinnus) perdemos algo de 200m de desnível num piscar de olhos. Vez ou outra surgia alguma casa abandonada ou engolida pelo mato, a margem da vereda, mas no geral a caminhada foi feita sem esbarrar com nenhuma vivalma local. E assim, as 13hrs finalmente a estradinha desembocou no asfalto da Estrada de Sta Inês. Uma placa escancara termos deixado os domínios da Fazenda São Pedro, mas em linhas gerais deixávamos  Sampa pra agora pisar em Caieiras. 
 
Na Estrada Sta Inês começamos a descer, sentido Vila Suíça (Mairiporã), qdo resolvemos fincar bandeira num boteco beira de estrada, pra ser exato numa curva da estrada. Era o boteco do “Chicão do Bigode”, onde o horário avançado nos obrigou a sentar um pouco, beber umas brejas e solicitar infos. E assim passou o tempo de espera de conduça, entornando umas e outras enqto nos divertíamos ora com os causos do Chicão como com as estripulias do Negão, o cãozinho do bar. Isso td ao som da “Top FM”, q tocava o ultimo sucesso dos Tritões do Forró. Somente la pelas 14hrs q conseguimos vazar numa lotação até o Bairro da Pedra Branca, onde depois de mais uma breja tomamos condução pro centro de Sampa. Uma jornada q parece interminável, diga-se de passagem.
 
E essa foi nossa breve e adrenada aventurinha semi-urbanóide pelo pto mais alto da Serra da Cantareira. Já deixo avisado q é possível acessar o Morro do Pavão sem precisar passar pela Favela Vista Alegre. Pra isto basta iniciar o rolezinho em Caieiras, refazendo este relato ao contrário pela Rua José Lopez. Este tb é um roteiro q pode muito bem ser otimizado numa magrela, mas somente através de Caieiras, pq começar por Sampa seria pedir pra voltar sem as calças. De resto, fica apenas o lamento de ver este belo trecho da Serra da Cantareira, q em tese é reserva florestal pertencente ao Parque Estadual, largado ás moscas e entregue a apropriação ilegal de particulares. E o Morro do Pavão, q bem poderia ser mais um atrativo relevante dessa unidade de conservação, ser relegado ao anonimato mesmo ostentando um título significativo (e uma vista, principalmente) q não deve em nada ao Pico do Jaraguá.
 
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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