Nhangussu: O Cipó Guarulhense

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Campos varridos pelo vento. Rochas cristalinas e pontiagudas emergindo do solo feito mísseis direcionados pra oeste. Vista deslumbrante separando o firmamemto do horizonte. Conceição do Mato Dentro? Cipó? Lapinha? Q nada. Esta é mais uma nova faceta dos arredores da conhecidissima Guarulhos, extremo norte da maior Metrópole da America Latina. E o “point” em questão é Morro do Nhangussu, serrote modesto se comparado a outras montanhas mais notórias, uma vez q sua altitude não vai alem dos 900m. Contudo, esta elevação de fácil acesso se destaca por possuir em seu largo e abaulado topo não apenas sedimentos vulcânicos similares aos da Serra do Espinhaço como tb uma bela panorâmica da cumeada q faz divisa da cidade com Mairiporã, Nazaré Paulista, Santa Isabel e Arujá. Um roteiro sussa, breve e tranquilo, ideal pruma manhã ou final de tarde pelas redondezas de Sampa.


Estes dias me vi subitamente com uma tarde livre e, sem nada programado, fui conferir por conta um pico situado no extremo norte da “Terra da Garoa” do qual já tinha ouvido comentar faz um tempão. Fuxicando na net atrás de infos acabei no simpático e interessante blog da guarulhense Thays Faccin Borazanian (http://guarulista.wordpress.com), onde coletei com a própria autora as coordenadas q faltavam pra “empreitada” solo pra este “cartão postal não oficial da cidade”, segundo ela. Quem me conhece bem sabe q apesar de ter bom senso de direção e saber me virar mto bem em mata fechada e ambientes selvagens, sou um zero a esquerda no que se refere a translados de transporte coletivo público (intermunicipal, principalmente) aqui mesmo, dentro da selva urbana paulistana. E assim, após umas últimas bisbilhotadas no site da Transurb apenas como garantia, la fui eu e me mandei pros cafundós de Sampa!

Já eram quase 8:40hrs qdo tomei o busão no pto dos intermunicipais abaixo da passarela do Terminal Tietê, ainda conferindo as infos no “GPS” da vez (no caso, o “Guia 4 Rodas de Ruas de Sampa”) e torcendo pra não ter tomado o coletivo errado. Felizmente não estava equivocado, pois o “271 – Guarulhos – Terminal Taboão” assim q fez a rotatória pela ponte Cruzeiro do Sul, embicou pela Castelo Branco e depois se pirulitou pela Dutra rumo o destino desejado. Ufaaa! Viagem rápida, o cinza urbano logo deu lugar ao verde rústico da perifa da cidade, onde consegui identificar logo de cara o recorte escarpado da Cantareira emoldurado na janela ao meu lado.

Após rodar um tanto e cruzar praticametne td centro de Guarulhos, as 9:20hrs saltei no pto final, ou seja, no Term. Taboão. Dali poderia perfeitamente tomar outro busão sentido o Term. São João, mas a impaciência em aguardar um novo latão e o escorpião q habita meu bolso fez com q fizesse este trajeto a pé, dando inicio assim a uma pernada por este trecho urbanóide q basicamente bordeja o Aeroporto de Cumbica. Pois bem, ajeitei a mochilinha e me mandei, colocando pé no asfalto da Av. Marginal do Rio Paquirivu, cruzar o fétido córrego q empresta o nome a via, pra depois andarilhar um tempão pelo acostamento da Rodovia Helio Smidt rumo norte, apreciando o vai-vem dos aviões do Aeroporto Internacional de Sampa, bem a minha direita.

Após um tempo tocando pra leste pela avenida supracitada e abandona-la na sequencia, deixava enfim o burburinho do aeroporto pra trás. Comecava então a adentrar noutro bairro guarulhense, o São João, e dessa forma cabei dando no Terminal homônimo por volta das 10:20hrs. Aproveitei a deixa e fiz meu desjejum numa lanchonetinha próxima antes de embarcar no coletivo sgte, mandando ver um pingado com um delicioso pão na chapa. Aquela manhã nascera preguiçosa e quente, envolta numa nebulosidade bem clara q perduraria pelo restante do dia e so se dissiparia mesmo no decorrer da tarde.

Embarquei no microônibus “880 – Agua Azul” pontualmente as 10:45hrs e pedi pra jovem cobradora me avisar qdo estivesse na metade da Avenida Miami. Pra minha surpresa ela não sabia nada do trajeto e tive q fazer esta solicitação aos demais passageiros, q por sinal mostraram-se bem mais prestativos e solícitos. Dessa forma o latão deixou aquele bairro periférico de Guarulhos pra afastar-se cada vez mais do mesmo pro norte, tocando pelo asfalto retilíneo da estrada q o interliga a Nazaré Paulista. Qq vestígio de “civilização” já se foi a um bom tempo e a impressão q se tem é estar rodando nalguma via sentido interiorzão mesmo,  tendo roças, chácaras, morros e bosques como a paisagem recorrente por td trajeto.

O latão então deixa o asfalto pra então se enfiar numa precária e sacolejante estrada de terra q serpenteia vedejantes morros e fundos vales, parando vez ou outra pra deixar ou arrebanhar mais passageiros. Felizmente a senhora idosa q ficou de me avisar o ponto continua senil o bastante pra se lembrar disso, e dessa forma desembarco nalgum pto da Avenida Miami naqueles cafundós rurais de Guarulhos. Observo o busao se perder na curva sgte, onde deve tomar a Estrada do Morro Gde e dar no pto final, alguns “quarteirões” dali. São exatamente 11:30hrs e estou na beira de um enorme e belo lago, q depois me informei ser o tal “Lago Azul” q nomina o bairro. Na verdade estou no fundo de um suave vale, cercado de morros onde reconheço (de fotos) aquele q é meu objetivo naquele dia, pois o cume abaulado do Nhangussu era perfeitamente inconfundivel da cumeada do entorno.

A partir daqui a “navegação” é estritamente visual, pois uma vez reconhecido o pico basta tocar pelas vias, devidamente sinalizadas, q vão de encontro ao mesmo. Do lago e da Av. Miami basta subir esta última até o pé do morro, basicamente marcado pelo cruzamento com a Av. Monte Carlo. Em tempo, “avenida” aqui é modo de falar pois aqui nocaso as vias são tds estradas de terra, empoeiradas ou enlameadas. Vale destacar q o clima daqui é de roça total. Leiteiro passando deixando seus galões de casa em casa, tiozinhos de charrete ou cavalo aqui e ali, e por ai vai.

Uma vez na Av. Monte Carlo basta tocar por ela sempre (leste),  subindo com forte declividade, ignorando as saídas laterais. Esta precária e íngreme via q basicamente irá subir a maior parte do pico em questão. Em tempo, o Morro da Nhangussu basicamente é um serrote doméstico baixo q se espicha pro norte em formato quase de “S”, tendo ainda um pequeno espigão q deriva sinuosamente pra leste no seu extremo sul. E é ate sua crista suave no extremo sul q as estradas de terra conseguem chegar o mais próximo do topo, totalizando assim quase 80% da subida do morro mediante estrada de chão, q pode ser feita de carro com boa tração. O restante ate o cume se dá por trilha propriamente dita.

No caminho há algumas chácaras e sítios, mas o q me chama a atenção são vários crentes voltando (ou indo, sei la) pro culto bem vestidos. Isso numa estrada íngreme, parcialmente enlameada e escorregadia. Se eu já tava me equilibrando pra não carimbar a bunda imagina eles. Uma breve garoa fustiga meu rosto ameaçando piorar mais a condição da estrada, mas por sorte td não passa mesmo de ameaça, pq depois o tempo estabiliza novamente. Embora no fundo estivesse doido pra ver td aquela gente de saia, calça, sapato e bíblia na mão deslizar morro abaixo feito tobogã..

Pois bem, tocando reto por essa via ignoramos as Avenindas Cannes, Bariloche e San Gothard, saindo pelas laterais, até q finalmente damos num primeiro cocoruto serrano, mais precisamente a Rua Monte Blanco, onde tocamos pra esquerda, isto é, norte. A partir daqui a ascensão é suave pois basicamente já vencemos a maior parte da montanha, e o restante dela é perfeitamente visível de onde estamos pois as vistas começam a se abrir descortinando generosas paisagens de ambos lados. O vento fresco soprando do sul turbina a caminhada, apressando o passo.

Passando pelo lado de algumas antenas (de retransmissão?) cercadas de pinnus e araucárias finalmente damos no final da rua, onde um tal de Sitio Paraiso assinala ser a única propriedade particular dali. Na frente dele, porem, haverá uma cerca e uma trilha obvia saindo dela, e por ela basta seguir ate completar o restante da crista ascendente ate o cume. A picada é bem batida, não mto íngreme e nem mto extensa. Notamos tb q a alta e verdejante mata ao redor dá lugar a vegetação arbustiva e rasteira, permitindo belos visu do entorno. Mas a empolgação de andar por trilha não dura nem 10 minutos pois bem menos q isso já estamos praticamente no cargo e abaulado cume do Nhangussu.

Como já foi dito, o topo da Nhangussu é largo e se espicha pro norte em formato de “S”. Em seu extremo sul há um espigão q deriva sinuosamente pra leste, acessível tb por outra picada q nasce da cerca acima mencionada. Mas prefiro seguir adiante,  galgando as suaves ondulações q marcam seu amplo e largo cume, pipocado por varias rochas brilhantes aflorando do solo q apontam pra oeste. São estas lajotas q fazem o diferencial do Nhangussu e lhe conferem um quê do charme típico do Espinhaço. E parece q o próprio nome”Nhangussu” tem algo a ver com a formação geológica do lugar, datada da era mesoproterozoica! Tristeza mesmo é constatar q boa parte destas pedras remanescentes de antigas eras geológicas está pixada, servindo de painel religioso com os mais esdrúxulas frases. Inscrições “burrestres” do naipe de “Cristo está voltando” ou “Jesus esta te contemplando” teimam em macular aquele q deveria ser um ambiente natureba isento de td e qq intervenção humana. Qq semelhança com o Morro do Saboó (São Roque) será mera coincidência, com a diferença q aqui o lixo inexiste ou é mínimo. Olha, sou a favor de td e qq pratica religiosa, mas é esse tipo de atitude imbecil e desrespeitosa com a natureza q me indigna com esse povinho evangélico xiita.

 Os macumbeiros são outros q deveriam ter seu nome na boca de um sapo bem grande, pq acredito q td ou “Deus” qq q o valha duvido q ia querer ter uma legitima obra sua, a natureza, emporcalhada por estes fieis falsos e hipócritas. Portanto, se eu for fulminado por um raio já saberão qual foi o motivo.

São exatamente 12:30hrs e fico ali prostrado, sentado numa das belas rochas q coroam aquele morro apreciando a paisagem enqto belisco uma fruta. Munido duma cópia da carta (1:50) de Itaquaquecetuba procuro identificar os acidentes geográficos e vilarejos q a belíssima panorâmica de 360 graus descortina aos meus olhos. Ao sul, ao longe, consigo observar as feições geométricas dos bairros de Guarulhos; o quadrante oeste é preenchido pela verdejante Serra do Bananal e, logo atrás, por Mairiporã; as vistas pra leste revelam as baixas cumieiras q preenchem Arujá e Sta Isabel; e ao norte temos a imponente muralha da Serra de Itaberaba (com o pto culminante de Sampa) parcialmente encoberta de nuvens, separando Guarulhos de Nazaré Paulista, assim como o recorte escarpado da Serra da Pedra Branca, ao fundo. Vale mencionar q no meio da cumeada do Nhangussu há uma espaçosa clareira gramada, ideal pra pernoite, donde devem caber confortavelmente varias barracas. No lugar tb há um marco de cimento, um “mini-fogão” formado com pedras e algum vestígio de fogueira. Lixo? Quase nenhum, q foi o q me chamou a atenção.

Fui embora 40 minutos após ter chegado ao pico, retornando pelo mesmo caminho. Num piscar de olhos me vi no pto onde o latão havia me deixado a espera do mesmo buso (“Term. São João”), mas antes disso passei na padoca bem na frente do posto afim de bebericar minha sussa, longa e ao mesmo tempo curta empreitada. Longe de ser algo aventureiro e perrengoso, o Nhangussu é um passeio breve e agradavel, ideal pra td família. É verdade q sai mto mais em conta vir aqui de carro pela praticidade e rapidez, já q so cheguei em casa um pouco antes das 17hrs, após as trocentas e demoradas conduções necessárias. Mas não q seja impossível vir de bus, pelo contrario.

Além do mais, se tiver mais tempo é bom conversar e interagir com os locais pois estes podem fornecer mais dicas e sugestões valiosas de passeios pelos arredores. Por exemplo, na volta de bus tomei conhecimento duma cachoeira no bairro q havia recém-deixado, atração q podia ter perfeitamente complementado minha visita ao morro. E por ai vai. Resumindo, foi dessa forma descompromissada q matei prazerosamente um dia com tiros de trezoitão visitando este “cartão postal não oficial da cidade de Guarulhos”, numa trip sussa e tranqüila recompensada com um visual arrebatador e de perder o fôlego. E assim como o Pico do Jaraguá (SP), a Pedra dos Estudantes (Suzano), a Pedra do Elefante (Rib. Pires) e tantos outros “points” de fácil acesso, o Morro do Nhangussu desponta como uma boa opção natureba prum dia claro e sol radiante. E isso aqui bem pertinho de Sampa, reafirmando algo q venho dizendo faz tempo: só fica em casa quem quer.

Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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