O Rio-Sem-Nome de Paranapiacaba

0

Quem desce pela tradicional &ldquo,Trilha do Rio Mogi&ldquo, (ou &ldquo,Raiz da Serra&ldquo, como tb é conhecida) na região serrana de Paranapiacaba, não pode deixar de reparar num sinuoso rio q acompanha a picada à distância em sua meia hora final, antes de alcançar a bucólica &ldquo,Prainha do Mogi&ldquo,. E sendo este riacho um dos gdes tributários do Mogi foi sempre minha intenção subi-lo e buscar descobrir suas nascentes. Além do mais, precisava lá retornar pra confirmar (ou não) o boato recente de fechamento da famosa vereda. Pronto, juntou a fome com a vontade de comer e assim arrumei mais um bom motivo pra retornar à vila inglesa prum programa p/ poucos, curto, tranqüilo e refrescante. Mas claro, longe da vista da nova fiscalização q policia a ilustre supracitada vereda.


Fiscalização na “Trilha do Rio Mogi”? Pois é, já havia ouvido algo do tipo, mas q eu soubesse era algo de cunho esporádico/provisório q rolava apenas durante eventos nababescos em Paranapiacaba, por exemplo, seu tradicional “Festival de Inverno”. É até compreensível, já q com número mto maior de turistas a trilha consequentemente fica sobrecarregada alem de sua capacidade, detonando as encostas ao redor. Entretanto, semanas atrás uma amiga tb me alertara dessa fiscalização agora tornar-se permanente por algum motivo obscuro q me deixou encafifado. E esta suspeita já se confirmou qdo conversei com o folclórico tiozinho do Caneco Verde enqto aguardava no pto de ônibus, em Rio Gde da Serra. “É, as fortes chuvas deste verão desbarrancaram vários trechos da trilha, e teve mto Zé Mané se perdeu quase td final de semana ou caiu na ribanceira, pra depois ser resgatado de helicóptero!”, dizia o indignado senhor enqto me entregava seu eterno folheto de trilhas ecológicas datado da época de Matusalém.

Bem, será q os desbarrancados era o real motivo desse fechamento? Fui lá conferir então, naquela manha de domingo nublada q lentamente ia revelando um céu desprovido de nuvens.

Saltei em Paranapiacaba as 9hrs já preparado pra contra-argumentar com os supostos guardinhas meu acesso à trilha ou tentar contornar pelo cemitério, na pior das hipóteses. Mas qual minha surpresa qdo me deparo com o começo da trilha livre e desimpedido, sem nenhum trailer ou veiculo da Fundação Florestal barrando o acesso? “Barra limpa!”, pensei, “Pelo menos não vou ser obrigado a varar mato pra chegar aqui!. E então me mandei trilha abaixo, descendo a encosta tranquilamente sem maiores dificuldades e envolto pelos aromas e frescor da mata.

Este trecho ate a Prainha já relatei detalhadamente noutras ocasiões, portanto vou apenas me apegar aos pormenores q em tese é o motivo do fechamento da vereda. Bem, a meu ver a trilha continua estando em bom estado sim, passível de ser percorrida numa boa. Pelo menos por quem já a conhece e tem o habito de andar no mato. Há pequenos desbarrancados e há mata tombada no caminho sim, mas nada q justifique a proibição de acesso pois é coisa fácil de ser contornada, à diferença da “Trilha do Itapanhaú”, na Mogi-Bertioga. O problema são na verdade os pequenos cursos e caminhos d´água q cortam a trilha, serra abaixo. Com as fortes chuvas estes aumentaram consideravelmente e se alargaram de tal forma q agora parecem “trilhas oficiais” qdo secos.

E aqui qq novato q desconheça q a trilha principal acompanha as torres de alta tensão serra abaixo se confunde em q caminho seguir qdo se depara com estes caminhos d´água. Outro problema q reparei é q a trilha continua bem larga e evidente apenas qdo está dentro da floresta, encosta abaixo, pois qdo emerge nas ultimas torres de alta tensão enormes voçorocas de lírios-do-brejo escondem a picada por falta de uso, forçando o avanço na raça. Em suma, como já disse pra quem conheça a trilha não há problema algum nas atuais condições da trilha, mas pra qq novato a coisa pode complicar.

Pois bem, como estava sozinho impus um ritmo forte à pernada e desci com certa pressa sem encontrar ninguém no caminho. Pelas frestas da mata via os vagões da Cremalheira rasgando a verdejante serra oposta, emoldurados por um céu azul claro impar, despido de qq nuvem. Após descer um tantão, engolir mta teia de aranha e passar pelas 4 primeiras torres a picada desce suavemente uma crista ininterrupta ate dar no primeiro riozinho, q é transposto saltando de pedra em pedra. Aqui acompanhamos&nbsp, o riozinho á distancia por um tempo qdo logo este se junta a outro maior, o tal Rio Sem Nome, uma vez q não consegui infos ou qq referencia dele. É aqui q busco um canto na encosta íngreme pra descer através da mata e apos fácil desescalaminhada alcanço o leito pedregoso do dito cujo, a exatas 10:30.

A partir daqui é só seguir rio acima, coisa fácil ora chapinhando pela água ora subindo pelas gdes pedras, q felizmente estão bem secas e cuja aspereza tem boa aderência ao meu calçado. Enqto subo sinuosamente não tiro os olhos da linha de alta tensão, q por coincidência acompanho a distancia e sei q é minha referencia no caso de alguma rota de fuga. Não preciso de carta nem bussola, basta não desgrudar os olhos da linha de alta tensão, pois é minha garantia de retorno à trilha principal.

Apesar da pouca declividade, a caminhada é agradável e sem gdes dificuldades, pra espanto das pequenas pererecas q saltam à minha presença. O rio tem pouco volume d´água, as vezes se alarga e estreita, mas sempre tem água represada algum poção ou piscina cristalina no caminho. De repente, numa curva o rio se estreita e aumenta de declividade, havendo necessidade não apenas de caminhada e sim escalaminhada, mas é escalaminhada fácil. Os poços e piscinas de cor esmeralda aumentam, e naquele sol e calor de rachar é convite bem tentador. Mas deixo pra saciar essa vontade pra depois, pois quero aperfeiçoar a subida de rio.

Hora e meia após adentrar no Rio Sem Nome encontro uns jovens desfrutando de um dos vários remansos represados e com quem troco algumas infos. Disseram-me q haviam chegado ali através de uma picada rio acima, próximo de um desbarrancado. Tb não sabiam o nome daquele rio mas ficaram principalmente pasmos ao saber q eu tava ali sozinho, subindo o rio. Peguei algumas infos e me despedi deles, dando continuidade á subida do rio, sempre passando por enormes piscinões e mini-cachus.

Meia hora depois o rio estreitou-se mais e mais, o leito era dominado por enormes muralhas com sinais de deslizamentos e arvores tombadas. Numa delas vi uma marcação de trilha, supostamente por onde os jovens chegaram. Como reparei q dali em diante o rio se embrenhava na mata, sem gdes atrativos, resolvi estacionar numa das gdes lajes à disposição e me presentear com um refrescante tchibum, ao sol e calor causticante do meio-dia e meia. Na seqüência e dono absoluto daquele pequeno pedaço de paraíso, fiquei lagarteando á toa, belisquei algo e descansei.

Mas por volta das 13:30 resolvi retomar o rumo de volta, voltei á marcação na arvore e toquei encosta acima. E tome encosta íngreme, quase vertical, onde as mãos foram tão importantes qto os pés ao ter de se agarrar tanto em pedras como raízes. Minutos depois estava de volta à trilha principal e dali foi só voltar td novamente, subindo devagar e sem pressa, agora envoltos num calor abafado quase palpável q me fez suar em bicas. Os piores trechos foram ao transpor as torres de alta tensão, onde alem de varar mato parecia q o calor emanava do chão!!!

Após vencer mais de 500m de desnível, cheguei no alto da serra as 14:30 com a camisa totalmente encharcada de suor. Pra minha surpresa desemboquei justamente no trailer da fiscalização, q agora se encontrava no começo da trilha. Imediatamente me dirigi a ele pra conversar com os guardinhas e pedir mais explicações e tal. Enfim, me disseram q extraordinariamente naquele dia haviam chegado tarde (pra minha sorte!), mas q comumente estão ali das 7hrs às 19hrs barrando qq um q tente acessar a “Trilha do Mogi”, com ou sem guia. Eles confirmaram as infos do Caneco Verde referentes aos desbarrancados e gente perdida na trilha.

Falaram de um casal q entrou à noite (pra burlar a fiscalização)e despencou num trecho íngreme, e só foi resgatado de helicóptero no dia sgte, entre outras patacoadas. Mas acrescentaram q a picada está fechada pra, alem de evitar mais acidentes, ser feito um trabalho de manutenção q consumirá uns 3 meses, e somente depois será liberada novamente, porém com controle de visitação. Disseram q nesta semana ainda será colocada uma guarita na entrada e q haverá limite de numero de pessoas na trilha, justamente pra evitar q grupos numerosos detonem o trajeto, no qual não se vê mais nenhum bicho mais.

Devidamente esclarecido, me mandei pra vila de Paranapicaba pra bebemorar com umas brejas geladas o restante daquela tarde agradável e extremamente calorenta daquele dia. Resumindo, o Rio Sem Nome vai continuar com seus plácidos e acessíveis remansos esperando banhistas, q com estas novas medidas vão terminar denominando-o tb de “Rio Sem Nome Nem Freqüentadores”. Mas isto tb irá se estender à Prainha do Mogi e até à famosa travessia ate Cubatão, a “Raiz da Serra”. Até q a situação se normalize os gdes atrativos do Vale do Rio Mogi continuará sendo privilegio apenas de quem tiver minimamente ousadia em “pular a cerca” e arcar com as conseqüências, naturalmente. É sempre aquela ladainha já bastante conhecida: por causa de meia dúzia de irresponsáveis tds terminam pagando o pato.

Texto e fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos

Compartilhar

Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

Deixe seu comentário