O Segredo de Capivari Mountain

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Trocadilho proposital com o filme, mas sem intenções maliciosas, o título do texto visa compartilhar com os companheiros de plantão uma aventura sem perrengue, rápida, sem dificuldade, sem peso, sem litros e litros de água, sem neve, sem nevasca, sem gelo, sem greta, sem congelamentos, sem transporte 4×4, sem grande altitude (baixo até pra solo brasileiro), mas com MUITA beleza. Serra do Capivari, 69kms a norte de Curitiba, Paraná, em julho de 2012. Momento em que dois amigos montanhistas só buscam a beleza da montanha, e não a superação. Boa leitura, bom divertimento.

 

A estrada é longa e a rodoviária está gelada,
Mas mesmo assim se inicia a aventura.
Nada de extremo, nenhuma grande pernada,
Mas com o tempo descobririam que a pedra era dura.
 
Primeiro vamos ao que interessa
O que interessa em termos acadêmicos.
Pedro precisa de pedras, e tem pressa,
Fotos engraçadas e vídeo polêmico.
 
Macarrão esquentado na beira da estrada,
Nossa mãe que vida de bóia fria…
Pelo menos tínhamos companhia de uma piazada
Que sobre nós só fazia piadas e ria.
 
Horas de luta, marteladas na ponteira de aço,
Tentativas frustradas de um doutorando.
Que só renderam em roxo e inchaço,
Cada acerto na mão gritava e saía xingando.
 

O placar terminou em goleada.
No final não sobrou muita opção.
Pedro parte em busca de uma pedra já quebrada,
Seja pela mão do homem, seja pela erosão.
 
No final até que deu tudo certo,
Entraram no carro e levantaram poeira.
Agora o objetivo não estava tão perto,
Ir pra montanha é melhor que ficar de bobeira.
 
A montanha em questão na verdade lidera um conjunto,
Três ou mais cumes por ali.
Isolada, mas com um frio que tremia até defunto,
Rumo ao norte foram à Serra do Capivari.
 
Faltava pouco pra soneca do astro rei…
Foi só o tempo de encontrar lugar bom e armar a barraca,
Acalme-se, dois espadas, sem clima gay!
A idéia era SÓ fotografar e curtir a friaca.
 
E foi assim que aconteceu,
O céu mudou de cor diversas vezes.
Como a dança de uma noiva, mas sem vestido e véu.
Os cliques rolaram e foi de luva mesmo, como deu,
Pôr do sol tão belo, daqueles que se tira o chapéu…
O frio pegou, se viraram como deu
E com o vento a barraca quase foi pro bebeléu.
 

Mas estava tudo certo, tudo bem.
A manhã trouxe um frio mais ameno, tranquilo.
Antes de subir, fotos do nascer do sol também,
Parofes pulou da barraca rápido feito um grilo.
 
Não dava pra perder tamanho espetáculo…
Serração da manhã deixando a paisagem mística,
Mudança na temperatura do orvalho,
Fazendo uma nuvem esquisita.
 

Pedro de pé, partiram pro cume da montanha,
Lá chegaram uma hora depois,
Trilha aberta, marcada, não era nenhuma façanha.
Mas o que interessa é o que viram os dois.
 
Um Ibitiraquire belo, imponente e distante,
Uma visão quase angelical.
Ponto de vista diferente, nunca pelo Parofes visto antes,
Incrível, e tem gente que gosta de carnaval!
 

Bem, depois do registro e fotos é hora de voltar,
Como diz o ditado: tudo que é bom acaba rápido.
Pedro avisa ao Parofes “cuidado, não vá escorregar”
Mas não adianta, o dedo já estava cortado.
 
De volta ao acampamento bastava guardar tudo
Mas um último divertimento ainda cabia
Gozar das músicas do Tácio, vocal do pato bicudo
Pedro cantava enquanto Parofes filmava e ria
 

De volta ao carro, de volta à estrada
Uma parada pro café, um lanche “da hora”
O jantar já estava prometido, seria feijoada
E o cozinheiro o Parofes, já que prometeu se vira agora!
 
Principalmente agora que teriam convidados
Fiori e Solange viriam jantar conosco
E quando chegaram sentaram ao nosso lado
E comemos a meia feijuca com todo gosto.
Camila e Pedro, Parofes, Solange e Julio
Todos juntos naquele frio de julho
 
Aproveitando o frio da noite curitibana
Seguimos com piadas e papos variados
Mas o frio chamava mesmo é por cama
E cobertas pra cobrir os coitados
 
A manhã chegou, hora de voltar pra cidade maldita
Parofes fez a mochila, recolheu tudo que tinha
Quando o casal acordou, um café rápido.
Pedro deu a carona, Parofes foi despachado.
 
A idéia de Parofes era de ficar a priori
Pedro disse “troca a passagem, faz a permuta”
Mas o guichê da empresa é, como diria Júlio Cesar Fiori, 
Um lugar onde a criança chora e a mãe não escuta.
 
Chegando em São Paulo, a ladainha de sempre,
Trânsito, barulho, impaciência e gente incoerente.
No jornal as notícias são sempre ruins, até em Feira de Santana
Encontraram outra babá que espanca as crianças
Prende a doida, joga ela no xilindró
Polícia não pode ser conivente, não tenham dó.
Logo terão motivo, vão dizer que “a babá é X9”
Que dentro do xadrez ninguém se comove
Vai ter até couro de dentro da cela:
“Faca nas costas, faca na costela, mata ela!”
 
 
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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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