O Último Bife e o Córdon Del Plata

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Estou de volta a civilização por alguns dias, pelo menos ate me recuperar de uma gripe muito sem graça que me acometeu, depois conto com calma, pois o relato vai em partes.


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mais sobre a viagem de Parofes: Quanto mais, melhor!

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as aventuras de Parofes

Passamos na rodoviária, compramos as passagens para Potrerillos para as 12:50h e voltamos ao albergue. O Edson estava com muito sono e não pegamos o de 08:40h.

Depois disso, ele descansou mais e então saímos rumo ao nosso ônibus, lá mesmo na rodoviária comemos o ultimo bife com fritas, pois planejávamos ficar no cordon del plata por pelo menos 15 dias, quiçá 20.

Pegamos o ônibus e já fomos inundados pela excitação pré escalada! Mas, assim que chegamos à vila de Potrerillos, ao passar do lado do lago Potrerillos, o Edson deu a idéia de descermos ali mesmo e passarmos a noite no lago para fazer algumas fotos. Ótima idéia, concordei no ato e descemos ali mesmo!

Assim que descemos, começamos a procurar um lugar para acampar. Chegamos ao topo de um morrinho onde havia uma casa grande aparentemente abandonada. Ali deixamos as mochilas, 4 delas, totalizando quase 70 quilos, para caminhar pelos morros e fazer fotos.

Mas, ao chegarmos no limite deste morro em que estávamos, o Edson disse que queria ir alem, um morro bem distante, pelo menos uma meia hora de caminhada entre espinhos perversos na vegetação Arida do local. Preocupado com a possibilidade de sermos furtados abandonando as mochilas por tanto tempo, voltei e ele se foi por quase uma hora e meia.

Foi a decisão correta voltar, assim que cheguei nas mochilas, 3 chicos muito estranhos começaram a me sondar, dando voltas pelo mesmo terreno em que eu estava, me observando e logo vieram falar comigo, dizendo que era proibido caminhar por ali pois era propriedade privada de um hotel. Agradeci o aviso, mas continuei ali, como iria descer a encosta com 70 kgs sozinho?

Logo depois veio um segurança armado me dizendo que era propriedade privada, disse que já sairia, que só estava esperando por meu amigo. Ele compreendeu e me deixou quieto.

Pouco depois disso o Edson chegou suado e com sede. Contei tudo a ele e antes que eu pudesse terminar, um carro da policia parou ao longe e com um megafone nos pediu que deixássemos o local. “OK” dissemos, e começamos a descer o quanto antes de volta para o lago. Fiquei p da vida porque estávamos ao ponto de fotografar um marimbondo que tinha o tamanho de um celular! Nunca vi igual!

Passei na vendinha local, comprei uns lanches prontos e umas garrafas de água, salada de frutas e ali ficamos, fotografando e curtindo a tranqüilidade do local.

Um pouco de Historia: O lago foi criado em 2003 com a construção de uma represa, ate então, a cidade de Potrerillos ficava ali, onde é o lago! Por isso é possível ver uma estrada asfaltada que desce para dentro do lago. A cidade esta lá, abaixo do lago! Com o passar dos anos subseqüentes a cidade foi reconstruída mais acima, onde hoje esta. Que loucura não?!

Quando deu umas 20hs, montamos a barraca do Edson e depois de algumas fotos mais, fomos dormir ali mesmo, na beira do lago, de frente para a estrada a apenas 30 metros de onde estávamos!

Amanheceu um dia lindo, perfeito. Nascer do sol deixando cores belas sobre o Córdon Del Plata, fizemos mais fotos e levantamos acampamento, pois as 10:00h passaria um ônibus para mais acima, perto de Las Vegas (sulamericana rs) onde tentaríamos uma carona para vencer os 18kms extras e 1400 metros de desnível ate a estação de esqui Vallecitos.

Quando o ônibus veio, cheio, ninguém subiu! Que furada…Pedimos informação a umas pessoas e nada promissor, próximo ônibus só as 14h. Ok, decidimos pegar qualquer um que nos deixasse um pouco acima. Pegamos outro onibus que nos ajudou por mais uns 2 kms. Descemos ali mesmo na estrada, pedimos informação a um carro da policia, o mesmo que nos convidou a sair da propriedade. Também nada promissor, decidimos avançar mais alguns metros na estrada e tentar carona.

Cinco minutos depois, o mesmo carro da policia parou e nos ofereceu carona ate mais acima. Que beleza! Lá se foram mais 4kms acima! De pouco em pouco estávamos avançando.

Agora estávamos a 12kms da estação de esqui, sentados na estrada fazendo um totem de pedra de um lado da estrada, e do outro tentávamos acertar o pequeno totem apostando sanduiches kkk.

Depois de uma hora fazendo isso e sem sucesso com caronas, perdemos a paciência e decidimos por começar a andar. La fomos nós…

Eu com 32kg, Edson com 37kg. Os dois completamente sozinhos na estrada com um sol infernal, subindo a passos lentos…Passava um carro a cada vinte minutos, ignoravam completamente nossa suplica por carona.

Depois de andarmos por 2,5 ou quase 3 kms, chegamos a uma vendinha na estrada, onde compramos uma coca cola e pedimos informação. A dona da venda e da casa disse que havia um serviço de jipe que poderia chamar pra nós. Claro, obrigado mesmo! Ela chamou, veio um cara gente boa. A essa hora conhecemos um figura de Montevidéo, maltrapilho, fedendo feito mendigo, que deixara sua casa ha algumas semanas e vinha só de carona e sem banho, sem dinheiro, mochilando por ai onde o vento o levasse.

Senti pena do cara, ter que subir todos os 9 ou 10 kms faltantes ate lá em cima…Tudo que ele tinha era arroz, algumas frutas e um papelão como isolante térmico. Uma barraca vagabunda e nem sei se tinha saco de dormir…Estava terrivelmente magro e comia feito um ogro um tomate. Resolvi pagar pelo transporte de nos 3 ate lá em cima, e lá fomos nos, a um custo negociado de 90 pesos pros 3.

Continua…

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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