Os benefícios do Chimarrão!

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Depois de falar um pouco sobre a folha sagrada de nossos vizinhos Incas (Erythoxylon coca), chegou a hora de puxar a sardinha para uma tradição brasileira bem comum aos nossos amigos do sul. Vamos falar do bom e velho habito de matear, ou melhor; tomar o chimarrão!


“A entrega da cuia e o recebimento do mate devem ser feito com a mão direita. Se pega a cuia com a mão esquerda e o recipiente com a direita. Após, acomoda-se o recipiente e se troca a cuia de mão para matear ou oferecer o mate. Seguindo-se, sempre, pelo lado direito, o lado de laçar. O sentido da volta na roda de mate deverá partir pela direita do cevador ou enchedor de mate.”

Uma tradição belíssima e cheia de simbolismo, uma roda de amigos no fim de uma tarde de escalada, nada melhor para colocar a prosa em dia. É assim os finais de tarde em Diamantina, onde passo grande parte do meu tempo quando estou nas Gerais.

Piadas da gaucho a parte, aprendi a matear com meu pai, que de gaucho não tinha nada, um habito que herdou de amigos e acabou passando adiante. Dizia ele um dia que até tomara acento com o falecido governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola em uma rodada de chimarrão em uma reunião de sindicalistas, pouco provável, sabendo da lábia de meu velho para contar histórias nada reais.

Saindo um pouco de nossas fronteiras, a primeira vez que Marcio Araujo viajou comigo pela Bolívia, ele achou estranho o povo em bares e acampamentos mateando o chimarrão, para um carioca, o habito do chimarrão era coisa só de gaucho e argentinos, mas parece que essa tradição vai bem mais longe do que as fronteiras dos pampas. Os bolivianos do Sul também usam o chimarrão para fugir do frio e esquentar a prosa, no Atacama vimos às pessoas em São Pedro também mateando nas ruas, parecia bem comum por lá, assim como o chá de coca (lembrando que não da para atravessar a fronteira do Chile com saguinho de coca não industrializado na bagagem, a policia de fronteira é bem rigorosa). Depois de algumas explicações dadas ao Marcio, contei um pouco sobre a história do chimarrão e seus benefícios, e estas informações divido agora com os amigos em poucas linhas. Sendo assim vou me deter aos benefícios do mate, deixo as tradições gauchas para meus amigos do Sul, que mais tarde podem descrevê-las aqui no site.

O hábito atrelado à cultura sulista de tomar chimarrão diariamente, além de prazeroso, pode combater o nível de colesterol. Rica em flavonóides, que têm propriedade antioxidante e estão presentes nos chás verdes, a erva-mate pode reduzir os índices de gordura que se acumulam no sangue.

A hipercolesterolomia (índice elevado de colesterol) pode levar à doença coronária aterosclerótica, que é crônica e degenerativa. A oxidação da lipoproteína de baixa densidade, a chamada LDL, é um fator de formação da arteriosclerose, que á maior causa de morbidade e mortalidade no mundo ocidental. Substâncias antioxidantes combatem os radicais livres, que oxidam a LDL, e para esse vilão entra em cena o Ilex paraguariensis, a erva-mate.

A capacidade da erva nesse sentido é investigada no Laboratório Experimental de Produtos Naturais da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), sob a coordenação da pesquisadora e professora de Farmacologia, Ana Luíza Muccillo Baisch. A pesquisa se iniciou em 1998, quando foi observado que o extrato da erva-mate era uma substância que dilatava os vasos. O estudo foi feito com as artérias de ratos e depois testado em coelhos. Conforme Ana, o extrato é feito como se fosse um chimarrão: é calculada a quantidade de erva da cuia e o volume de água da garrafa térmica. A mistura é aquecida em 80 graus, filtrada e dada aos animais no lugar de água. Duas abordagens foram construídas – uma curativa e outra preventiva. “Tornamos os animais doentes, aumentando o colesterol e triglicerídeos, e depois de 30 dias administramos o extrato por um mês”, explicou Ana. No segundo caso, primeiro os ratos foram tratados com a erva e depois acrescentado colesterol na dieta. Em ambos os testes foi comprovada diminuição significativa do nível de colesterol no sangue.

Estudos sobre a erva-mate têm revelado uma composição que identifica diversas propriedades nutritivas, fisiológicas e medicinais no produto, o que lhe confere um grande potencial de aproveitamento. Na constituição química da erva-mate, aparecem:

Alcalóides (cafeína, metilxantina, teofilina e teobromina), taninos (ácidos fólico e cafeico), vitaminas (A, Bi, B2, C e E), sais minerais (alumínio, cálcio, fósforo, ferro, magnésio, manganês e potássio), proteínas (aminoácidos essenciais), glicídeos (frutose, glucose, rafinose e sacarose), lipídeos (óleos essenciais e substâncias ceráceas), além de celulose, dextrina, sacarina e gomas.

Assim a erva- mate é considerada um alimento quase completo, pois contém quase todos os nutrientes necessários ao nosso organismo. Também é extenso o rol de propriedades terapêuticas da erva-mate, de modo especial em razão da presença de alcalóides, como a cafeína, na sua composição.

Destaca-se principalmente que o mate é estimulante da atividade física e mental, atuando beneficamente sobre os nervos e músculos eliminando a fadiga. Observa-se também que estimulante do mate é mais prolongada que a do café, sem deixar efeitos colaterais ou residuais como a insônia e irritabilidade. Por outro lado, o chimarrão atua sobre a circulação, acelerando o ritmo cardíaco e harmoniza o funcionamento bulbo-medular. Age também sobre o tubo digestivo, facilita a digestão e favorece a evacuação e mictação. É considerada ainda um ótimo remédio para pele e reguladora das funções do coração e da respiração, além de exercer importante papel na regeneração celular.

O chimarrão, segundo institutos de pesquisas internacionais, é um tônico estimulante do coração e do sistema nervoso: elimina os estados depressivos, conferindo ao músculo maior capacidade de resistência a fadiga, sem causar efeitos colaterais. Após estudos realizados sobre os efeitos fisiológicos exercidos pela erva-mate concluíram: O emprego da infusão aumenta as forças musculares, desenvolve as faculdades mentais, tonifica o sistema nervoso, regulariza e regenera as funções do coração e respiração, facilita a digestão e determina uma sensação de bem estar e vigor no organismo, sem acarretar depressões ou qualquer efeito colateral no organismo, como a insônia, palpitações ou agitações nervosas provocadas por outras bebidas similares, permite como bom alimento (natural) que sejam suportadas as fadigas e a fome.

A erva-mate contém altas proporções de vitamina E, efetiva na regulação das funções sexuais, além de ser um elemento indispensável para a pele. As análises feitas com as folhas de erva-mate mostram que esta planta possui vitaminas, aparecendo em maior escala as do complexo B; possui também cálcio, magnésio, sódio, ferro e flúor, minerais indispensáveis a vida. O chimarrão é rico em ácido pantotênico, encontrado em menor escala na tão propalada geléia real das abelhas, muito procurada pelas características medicinais que possui.

Para quem procura um alimento não industrializado e com propriedades tão magníficas e só os encontra em bulas de remédios manipulados, esta na hora de confiar em uma receita tão antiga e 100% natural.

Para os amigos de regiões mais quentes que usam a desculpa do mate estar fervendo na cuia e não conseguir beber coisa tão amarga fica minha pergunta; dês de quando pinga pura de alambique tem gosto de cocada? Pode estar fazendo 38° graus na sombra, mas tem gente que não nega a danada da cachaça, os escaladores aqui de Minas Gerais que o digam. E sem querer defender velhos hábitos, o mate é muito mais saudável.

Força sempre e boas escaladas!
Atila Barros

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Sobre o autor

Atila Barros nasceu no Rio de Janeiro, e vive em Minas Gerais, cidade que adotou como sua casa. Escalador (Montanhista) há 12 anos, é apaixonado pelo esporte outdoor. Ele mantem o portal Rocha e Gelo (www.montanha.bio.br)

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