PATI, A TRAVESSIA DA CHAPADA – 2

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Toda subida tem sua descida, no caso um ziguezague por carreiro de terra aplainada e pedras soltas, cercado de muita samambaia. A camelagem parecia não ter fim, subida brava, descida pior, agravada c/ o dedão batendo na ponta da bota! A medida q perco altitude, noto bem próximas algumas casinhas esparsas e lonas inconfundíveis de barracas nos pequenos quintais. E as 15hr chego na casinha simples do seu Wilson & Dna Maria, bem do lado da trilha, q ainda desce vale abaixo. Havia lugar sobrando no quintal inclinado dele, embora este fosse formado basicamente de terraços p/ acomodar uma dúzia de barracas, metade dele tava ocupado. Negociei meu pernoite (R$3) e foi lá q joguei definitivamente minhas tralhas, exausto. Seu Wilson é um dos vários ´pousos´ daqui, pois os locais tão habituados a hospedar forasteiros. Meus vizinhos de barraca eram ripongas de passagem p/ Capão, pra variar. Uns estavam já de saída e levavam crianças a tiracolo, nas costas!!!


Só depois de montar barraca fiquei sabendo q não havia água em função da estiagem q assolava a região, nem mesmo pro grupo&nbsp, hospedado na casa. As torneiras tavam sequinhas. O jeito era continuar descendo pela trilha ate chegar no Rio Pati. Foi o q fiz, pois já não me agüentava de suado q tava. Em menos de 10min cheguei ao fundo do vale, onde o Pati se limita a um módico riachinho, correndo tortuosamente vale adentro, no meio da mata. Embora nada fundo, me acomodei em alguns lajedos e fiquei semi-submerso a fim de relaxar na minha banheira improvisada, merecidamente. Ali tb encontrei um grupo da Pisa Trekking indo pra gruta do Morro do Castelo. Tivemos uma breve prosa, já antevendo q os reencontraria nos dias sgtes.

Na seqüência retornei p/ casa do Seu Wilson, munido de água, claro! Faminto, preparei minha janta ainda de dia. P/ isto havia um anexo-cozinha da casa, um tipo de casa de farinha, feita de pau-a-pique, onde alem de dispor de um fogão a lenha parecia tb q ali se guardava td sorte de tralhas. E a duras penas,&nbsp, naquela rústica cozinha tropeira consegui fazer meu miojão. Como sobremesa, comprei um suculento pastel de palmito de jaca de Dna Maria, iguaria q já havia provado no Capão. Foi qdo reparei um letreiro presente por todos os cômodos da casa, avisando os turistas de ´Não falar palavrão, não usar drogas, não falar alto, não andar s/ roupa e não pentear cabelo na cozinha´.

Os demorados crepúsculos diamantinos são um show a parte, isto pq o sol se esconde brevemente atrás da cadeia montanhosa, mas brilha ainda um bom tempo na amplidão do horizonte. De bucho cheio, me restou bater papo c/ os demais ´hospedes´ na soleira da casa, principalmente um holandês q fazia tb a trilha só q com roupas formais. Dna Maria era + simpática q Seu Wilson, q parecia bem + reservado. O papo tava bom, mas como foram quase 24 km de pernada naquele dia, assim q a noite debruçou-se sobre o Pati me recolhi, sob um clima extremamente agradável. Naquela noite, alem de ventar razoavelmente, o vale foi iluminado por uma&nbsp, lua cheia q ´prateava´ os enormes rochosos q nos cercavam. A escuridão por si só um convite p/ contemplar as zilhões de estrelas q cravejam o céu noturno. Mas o cansaço falou mais alto, claro, e dormi feito neném.

2º DIA – EXPLORANDO A GRUTA DO CASTELO
Levantei as 6 da matina sob fina serração, refeito e bem disposto afim de explorar os arredores. Enquanto ela cedia vagarosamente tomei meu mirrado cafezinho. O céu tava nublado claro, porem sem sinal algum de chuva. Muita gente já tava de pé, ainda mais qdo vi Seu Wilson trazer água p/ jogar depois numa tigela, q obviamente seria nossa ´pia´. Coletei infos da Cachoeira do Funil com Adilson, o filho de seu Wilson, q me garantiu q tava pertinho.

As 7 subi um tanto pela trilha por onde viera o dia anterior, e em pouco tempo notei uma trilha discreta q saia pela direita. Esta descia o vale em meio a muita samambaia úmida pelo sereno matinal e logo cheguei ao Rio Pati, só q bem mais acima. Dali foi só seguir pela margem, ora de um lado ora pelo outro, ou saltando de pedra em pedra cuidadosamente. Meia hora depois alcancei a Cachoeira do Funil, uma cachoeira larga de onde pouca água despencava através de uma serie de lajedos dispostos um sobre o outro, formando degraus. Se fosse meio-dia certamente ali seria um bom local p/ tchibum, mas me limitei somente a descansar e apreciar a paisagem, ao som angustiante das arapongas, q pareciam ter acordado dispostas tb p/ este novo dia.

Uma hora depois retornei à casa do Seu Wilson, enquanto o dia continuava não parecer se definir, e nuvens cobrindo o topo dos enormes paredões não resolviam se deixavam o céu limpo ou não. Ainda cedo, colhi infos da Gruta do Morro do Castelo, q me garantiram era bem fácil de chegar. Desci novamente ao Rio Pati, no mesmo local q me banhara ontem, atravessei o rio e do outro lado havia uma picada q seguia mata adentro.
A trilha sobe suavemente, p/ depois tornar-se cada vez mais acentuada, uma piramba forte. Logo estava escalaminhando pedras, agarrando em galhos, raízes e troncos p/ manter equilíbrio. A trilha é bem nítida e é fácil notar qdo se toma caminho errado.

A medida q se ganha altitude e suando já em bicas, alcanço o ´quase-topo´ do Morro do Castelo. Na verdade, este morro se esparrama p/ sudeste na forma de uma enorme parede, sendo q no meio há um mini platô, onde agora me encontrava. Ainda na trilha, vou de encontro à base da parede propriamente dita, em meio a bromélias, candombás e arbustos, já avistando uma enorme fenda rochosa, de onde conseguia ouvir vozes próximas.

As 9:30 cheguei na boca da enorme gruta, onde esbarrei c/ a galera da Pisa, q tomava seu café da manha pois haviam pernoitado ali. Aqui se pode dizer q é uma ´janela´ com vista panorâmica privilegiada p/ Gerais do Vieira, a 1450m de altura! O corpo gritava de cansaço, mas a paisagem já valia a pena! E descansei brevemenete enquanto coletava infos do interior da gruta. E munido de lanterna e maquina fotográfica, me enfiei no frescor da escuridão da caverna, cujo trecho inicial é suave descida em terreno arenoso.

Diferente das do PETAR, aquela gruta não era totalmente rochosa e sim composta de sedimentos e quartzito. Felizmente o caminho era mão-única, haviam alguns sobe-desces fáceis, contornava ou saltava algumas pedras, e sempre q chegava num salão maior memorizava o trajeto ou deixava algum totem de sinalização. Não tardou e logo cheguei no outro lado, a outra boca da caverna. Uma pedra quase pendurada da montanha oferecia uma vista espetacular da porção nordeste do Vale do Pati, aqui sendo singrado pelo Rio da Lapinha.

Após um rápido descanso retornei pelo mesmo caminho. Aí não é q a pilha lanterna pifou? Felizmente lembrei-me das pilhas do flash. Não bastasse isso, numa das galerias me confundi, não achei um totem deixado e não encontrei a passagem pra varar a caverna. Perdi um tempinho procurando, mas ate q finalmente achei a direção correta e consegui voltar à entrada da caverna (ufaaa!), exatamente no momento em q a galera da Pisa se preparava p/ descer do morro, quase as 10hrs. Claro q aproveitei a carona e desci junto.

Pra descer td santo ajuda, mas td cautela é pouca. Eu teria ate descido rápido, mas acabou sobrando p/ mim dar uma mão p/ garotas do grupo, composto basicamente de psicólogas e analistas de sistema paulistas. Despedi-me deles assim q chegamos no Rio Pati, lá embaixo, quase as 11:15, e dali já me mandei p/ casa do Seu Wilson, pois queria dar continuidade à travessia. Desarmei acampamento, tive uma rápida conversa com Seu Wilson, q tinha a companhia de um tropeiro da região. Despedi-me de td mundo e pé na trilha again.

Continua…

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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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